Sunday, January 09, 2011

Em uma semana de Setembro de 2007

- O que foi que aconteceu com ela?- perguntou o garoto moreno com traços indianos.
- Alguém a colou aqui, sabe que é semana das repúblicas...Qual o nome dela?- quis saber o garoto loiro.
- É a Leonora Ivashkov. Droga! Ela está congelada. Deve ter passado a noite toda aqui fora...- disse a menina loira.
A garota tremia tanto, que não conseguia falar, seus lábios estavam roxos e ela estava desnorteada.
O garoto alto e forte pra idade, pegou sua varinha e procurou se lembrar do feitiço de desfazer, mas a menina loira junto com o indiano ficaram impacientes, pegaram suas varinhas e disseram ao mesmo tempo:
- Diffindo...- e conseguiram soltar a garota, que quase caiu ao chão mas os dois meninos a seguraram a tempo.
- Nossa, ela é pesada.- resmungou o moreno e a loira disse:
- Não reclama Von Hoult, mexam-se, temos que leva-la para dentro.
- Talvez...precisem... de desenho...são garotos, Parvati...- a garota disse enquanto batia os dentes e a menina loirinha disse sorrindo:
- Até a menina picolé, está pensando mais rápido que vocês. – então os dois carregaram a garota para dentro e a levaram para o quarto indicado, colocaram cobertores em cima dela, e o menino indiano correu até a cozinha e logo voltou trazendo uma xicara cheia de chá fumegante:
- A cozinha de vocês é um horror, mas consegui fazer este chá para você se aquecer, não encontrei nada alcóolico, então isso terá que servir. Aliás eu sou Robert, sou da Osiris e ele é Marcus Finnegan, da Kratos.
- Não é melhor chamarmos algum adulto? Ela pode ficar doente...Pegar uma pneumonia...- disse o garoto loiro.
- Quem fez isso com você, meu bem?- disse Robert ajeitando os travesseiros da garota:
- Algumas garotas da Atlantis...
- Precisamos denunciá-las...- disse Finnegan e Leonora se agitou:
- NÃO! Não vamos fazer nada, quando eu parar de tremer eu mesma cuido disso.-e a garota de nome Parvati disse:
- É o que você quer? Porque eu posso botar a boca no mundo e eles vão me ouvir, te garanto.
- Sim, é o que quero. É a semana das repúblicas, e cada um resolve seus problemas não é? Além do mais, a responsável por isso foi a minha irmã e ela não espera que eu vá reagir, mandando um presente bem fedorento a ela. - e as duas garotas trocaram olhares maldosos e o menino moreno disse:
- Bem, seja o que for que fizer conte conosco, afinal somos os seus salvadores. Alguém ja avisou à vocês, que nem todo abajur da Tiffany combina com estas cores frias? – Robert disse olhando horrorizado ao redor do quarto e se pôs a dar ordens: - Finnegan, busque comida e bebia, Leonora fique na cama quentinha e Parvati, vamos redecorar este quarto! Preciso de um desafio e este é dos grandes. Começava ali umas da amizades mais estranhas daquela escola.

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Véspera de Natal 2014

Após o jantar em minha casa, onde tivemos uma troca de presentes constrangedora, pedi licença e fui para meu quarto. Minha avó já havia se retirado mais cedo com dor de cabeça após mais um dos rompantes de minha mãe e minha irmã, a respeito dos presentes que haviam recebido de minha avó.
Deitei-me usando o suéter novo que ganhei de Parvati e enquanto saboreava meus caramelos favoritos lia e via fotos de uma biografia não autorizada de um artista famoso que tinha ganhado de Robbie, quando ouvi um baulho na minha janela.Levantei-me e descobri que era o Finn. Estávamos meio estremecidos desde as Olimpiadas, mas me preocupei quando o vi escalar a treliça, ao lado da minha janela.
- Você enlouqueceu? Poderia cair e se machucar sériamente. –e ele riu:
- Faço isso há tempo demais para me deixar cair, Leo. Relaxa. Vai me deixar entrar ou eu vou ficar aqui morrendo de frio? Seja boazinha, é Natal.- olhei para ele, mas era dificil ficar zangada. Abri a porta de vidro e ele entrou, enquanto eu voltava para minha cama.
- Já deitada? Porque não está la embaixo festejando? Sabe que esta é a melhor época do ano para se estar com a familia.
- Finn, nesta casa não costumamos recriar o clima de ‘filme de sessão da tarde com a familia feliz’ , então não enche...- Joguei um caramelo para ele que o apanhou rápido.
- Ok, ok, não vim aqui para brigar. Vim te buscar para ir até a minha casa.
- E eu iria até a sua casa, porque?
- Porque minha mãe já perguntou por você umas quinze vezes, meu pai adora seus comentários sobre os jogos na tv, e ah ia me esquecendo: você é minha amiga e quero te dar o meu presente, nesta ordem.- disse e eu ri:
- Você poderia ter trazido e me dar agora...
- Não teria graça, tem que ser na manhã de Natal.
- Ah, claro e aposto que você vai colocar biscoitos e leite para o Papai Noel também?- o provoquei porque Finn adorava estas tradições, e ele ficou vermelho, mas não respondeu a minha pergunta.
- Você vem?Por favor?Por favor?- e eu sorri com a sua insistência e fiz que sim. Deixei um bilhete avisando aonde estava indo, apenas por força do hábito. Meus pais não iriam me procurar de qualquer forma.

A casa de Finn, era um sobrado e estava decorado com muitas luzes, e havia até mesmo um boneco de neve na entrada, usando um cachecol e segurando um taco de hóquei, e os pais dele pareciam felizes por me ver ali.
A mãe de Finn estava tão acostumada comigo em sua casa, que ela não agia como os outros pais, que proibiam garotas e garotos de ficarem no mesmo quarto de portas fechadas. Eles confiavam em seu filho e em mim. E eu procurava estar à altura desta confiança.
Depois de beber, comer e conversarmos seus pais se despediram, e eu e Finn fomos para seu quarto e ficamos conversando até muito tarde, jogando video game, enquanto bebiamos cervejas amanteigadas. Dava para ouvir que nas casas vizinhas havia música sendo tocada, e nós acabavamos cantarolando juntos.
Acordei com alguém me beijando de leve e não evitei um suspiro, mas continuei de olhos fechados. Queria continuar sonhando...
- Leonora acorda..É Natal!- abri os olhos e ele estava a centímetros de meu rosto sorrindo.Ficamos nos olhando e ele até começou a abaixar o rosto novamente, mas ouvimos sua mãe gritar o nome dele, e ele se afastou:
- Vamos abrir os presentes...- ele me puxou e não houve outro jeito de não segui-lo.
O engraçado era que Finn lembrava um daqueles garotos de filme de sessão da tarde, que ficam de olhos arregalados quando encontra a árvore cheia de presentes. Ele estava realmente alegre por ser manhã de Natal e era uma sensação contagiante. Ajudei a mãe dele a fazer o café da manhã, e fiz uma das receitas de minha avó para rabanadas, e passamos a manhã aproveitando os presentes trocados. Depois fomos patinar no lago perto de sua casa e foi muito divertido. Algumas garotas olhavam para Finn e sorriam animadas, ele até olhava para algumas delas, mas não saía de perto de mim, sempre segurando a minha mão quando patinávamos, levantando a gola de meu casaco quando começava a fazer frio, ou tirando uma mecha do meu cabelo do rosto. Em um destes momentos, ele me beijou.
Quando nos separamos nos olhamos e sorrimos um ao outro, e tornamos a nos beijar. Não estávamos começando um namoro ou algo do tipo, eram apenas duas pessoas que se gostavam e queriam passar um tempo juntos, era nisso que eu acreditaria hoje e talvez, só talvez...O dia de Natal, torne-se o meu dia favorito do ano.

I can't fight this feeling any longer
And yet I'm still afraid to let it flow
What started out as friendship has grown stronger
I only wish I had the strength to let it show

And even as I wonder I'm keeping you in sight
You're a candle in the window on a cold dark winter's night
And I'm getting closer than I ever thought I might


N.Autora: Can’t fight this feeling, Glee

Wednesday, January 05, 2011

As Olimpíadas na Austrália haviam terminado e voltamos a nossa rotina diária, mas pra mim as coisas estavam um pouco diferentes. Piores, eu diria. Por ter perdido a aposta do Triatlo para Parvati, estava sendo obrigado a ser seu elfo doméstico por uma semana inteira. A semana escolhida foi a última de aula. Foi um verdadeiro inferno ter que segui-la pra todo lado carregando livros, arrumando o quarto delas (que era o quarto mais bagunçado do mundo) e fazendo chá de todos os tipos, só para ela falar que estava ruim e me mandar fazer de novo.

Já era fim de tarde do último dia de escravidão. Ela estava na sala da Atena conversando com Leo, Robbie, Alec, Julie, Penny, Jude e Flora. Alec, aquele traidor, agora estava amiguinho do inimigo, tudo graças ao namoradinho que ele arrumou. Estava sentado no balcão da cozinha ouvindo a conversa de longe. Eles falavam sobre a final do tênis, onde Parvati e Robert, ou Parvesh, como chamavam a dupla, derrotaram os canadenses com tanta disposição que até assustaram os adversários.

Jude dizia alguma coisa sobre não deixar que pegassem uma raquete outra vez quando levantei e subi as escadas sem ser notado. Estava planejando uma despedida da semana de escravidão em grande estilo e nada melhor que a noite onde teríamos uma festa promovida pelo grêmio para isso. Fui direto para o quarto de Parvati e peguei seu secador de cabelo na cômoda. Estava tão concentrado que não percebi que Julie me viu sair da sala e me seguiu até lá.

- O que pensa que está fazendo? – Julie entrou no quarto bem na hora.
- Nada – tentei esconder o talco, mas ela já tinha visto.
- Você estava colocando talco no secador de cabelo?
- Vai me dedurar?
- Não preciso, ela vai saber que foi você – Julie me olhava com seu habitual ar de reprovação – Ozzy, não faça isso.
- Relaxa, é só uma brincadeirinha.
- Não, não é. Isso vai desencadear uma série de “brincadeirinhas” que vão terminar mal.
- Está exagerando – desdenhei – Claro que ela vai revidar e eu vou fazer algo de volta, mas são brincadeiras inofensivas.
- Você não sabe onde está se metendo. Parvati não tem limites, ela não vai parar até que tenha realmente o atingido.
- Ela não vai conseguir me derrubar, posso garantir isso.
- Não subestime uma Karev.
- Fique tranqüila, Jules. Não vamos nos matar.
- Bom, depois não venha dizer que não avisei – ela bateu no meu ombro antes de caminhar até a porta – Está por conta própria.

Continuei o que estava fazendo e limpei a bagunça antes de sair, deixando tudo onde estava quando entrei. Tive que ficar de plantão na sala mais uma hora, e quando a aposta expirou, sai bem depressa. Não fiquei para ver o show, mas Alec ainda estava na Atena quando ela saiu do banho e foi se arrumar no quarto, ligando o secador com o corpo ainda molhado. Ele chegou à Kratos dizendo que ela ficou parecendo um mímico com a cara cheia de pasta d’água, que foi o que o talco virou em contato com a água.

Sabia que ela ia querer revidar, já que era óbvio que tinha sido eu, mas não estava me importando. Ia embora pra casa para um natal muito mais feliz que os dos últimos anos.

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- Foi difícil não rir – Alec comentou rindo - Robbie me olhou alarmado quando viu que ia deixar escapar uma gargalhada e sai correndo da republica.
- Queria ter visto a cara dela, daria uma excelente foto pro álbum do ano! – joguei os pés em cima da mesa satisfeito e minha mãe bateu no meu tênis.
- Saiam daqui, vão esperar lá fora ou não consigo terminar de arrumar a mesa!

Ela nos expulsou da sala e voltamos para o quintal, onde Oleg e Edgar conversavam animados. Era véspera de Natal e já era tradição as duas famílias comemoraram a data juntas. Sempre foi assim, não é a toa que conheço os gêmeos desde que ainda usávamos fraldas. Quando sentamos ao lado deles no banco, Oleg estava dando dicas a Edgar de como chamar uma garota para sair.

- Opa, quem é a vitima? – perguntei animado.
- Você está mesmo fazendo essa pergunta? – Alec me olhou como se eu fosse idiota – É claro que é a Alexis.
- Mano, sério, o que você vê naquela garota? – resmunguei. Não me conformava que meu irmão fosse tão ligado a irmã da Parvati – Você não pode unir nossa família com a dela.
- Unir famílias? Está maluco, Ozzy? – Oleg me olhou assustado – Quem está falando em casamento? Ele só quer dar uns pegas na garota e pronto!
- Ei, olha como fala dela! – Edgar protestou – Ela não é qualquer uma.
- Olha ai, ele está apaixonado pela irmã do capeta! – dei um tapa na cabeça dele – Eu não vou deixar você se envolver mais do que já está envolvido com aquela garota!
- Você não pode me dizer o que fazer, não é o papai! – Edgar retrucou irritado – E ela não é como a irmã, pare com essa implicância idiota! Você nem conhece a Lexie direito pra julgá-la.
- Se ela tem os genes da irmã, conheço o suficiente.
- Parem com isso! – Alec interveio – Ozzy, a Parvati nem é tão horrível assim. Na verdade, vocês dois são muito parecidos, por isso não se bicam – fechei a cara, mas ele não me deixou interromper – Se seu irmão gosta da irmã dela, isso não é da sua conta. Deixe que ele viva a vida do próprio jeito, não do jeito que você acha que deve ser! Conhece a campanha pela vida? Não? Cada um que cuide da sua!

Alec levantou do banco arrastando Edgar pela manga da camisa para dentro de casa e me deixou sozinho no quintal com Oleg. Ninguém falou mais nada sobre o sermão, mas Alec podia falar o que quisesse, que pra mim não importava. Eu não ia permitir que meu irmão namorasse a irmã daquela coisa.

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Natal na família Karev era sempre a mesma coisa. Todo ano a família se reunia na casa dos meus avôs paternos, e isso incluía os meus avôs maternos e seus filhos. O resultado dessa mistura era sempre a mansão lotada de tios e primos pra todos os lados.

Eu me dava bem com todos os meus primos, na medida do possível. Era criança e adolescente demais para socializar. Eu tentava, mas no fim acabava sempre na mesa conversando com Jack, e de vez em quando, Julie. Esse ano não fugiu à regra, e estava em uma das mesas do jardim com os gêmeos e minha irmã. Jack lia um grosso livro de Alquimia, totalmente alheia a conversa.

- Jack, esse livro é da turma de Alquimia Avançada? – perguntei e ele assentiu – Pode me emprestar depois?
- Claro, mas pra que? A matéria dele não cai nos exames normais, só pra turma avançada mesmo.
- Eu sei, mas não teve um aluno que desistiu das aulas? Quero tentar a vaga dele.
- Você? – Julie riu descrente e aquilo me irritou – Não faz o perfil.
- Está me chamando de burra?
- Não, só dizendo que não faz o perfil de alguém que freqüente aula avançada de qualquer coisa.
- Eu não sou burra, só fico com preguiça de estudar.
- Então você tem MUITA preguiça de estudar.
- Ok, parem – Jack agarrou meu pulso na hora que ele ia acertar um soco em sua irmã – Parv, tem certeza disso? Essas aulas são muito diferentes das aulas normais de Alquimia. O professor Reno é ótimo, mas ele sabe ser estúpido quando percebe que alguém não está interessado na matéria como ele acha que deveria estar.
- Não vou lá pra brincar, eu gosto de Alquimia. Minhas notas são ótimas, eu sei que posso entrar pra turma.
- Se tem certeza que é isso que quer, pode ficar com o livro – ele me empurrou o pesado exemplar de Alquimia Avançada e comecei a folhear – Vou dizer a ele quando voltarmos que você está interessada na vaga.

Julie não me perturbou mais quanto a minha capacidade de entender alquimia avançada tão bem quanto eles e o assunto mudou para a vida amoroso na escola. Resolvi ignorar e ler alguns capítulos do livro, mas minha concentração foi pro espaço quando eles começaram a falar da minha irmã. Não que eu não quisesse que ela tivesse um namorado. O problema era quando esse namorado que ela já tinha em vista era irmão do idiota do Ozzy.

- Por Merlin, o que você vê naquele garoto esquisito? – entrei na conversa – Ele é problemático demais.
- Eddie não é esquisito, você nem o conhece pra falar assim – Alexis o defendeu, enfezada.
- Não acho que ele seja a pessoa certa pra você, tem muitos garotos melhores na escola e que não precisam de medicamento pra não sair por ai socando as pessoas.
- Você é ridícula! – Alexis se levantou furiosa, mas não me abalei. Ela precisava ouvir aquilo, aquele garoto não ia entrar pra nossa família – Não se meta na minha vida, eu namoro quem eu quiser e ninguém vai me impedir!
- Você devia cuidar mais da sua vida antes de querer controlar a de outras pessoas. – Julie levantou também – Sabe por que vocês dois se odeiam tanto? Por que são igualmente presunçosos e arrogantes, que se acham donos do mundo. É muita prepotência pra pouco espaço, por isso precisam brigar pelo território.

Antes que eu pudesse responder, ou quem sabe voar no pescoço dela, Julie já estava caminhando atrás da minha irmã e as duas sumiram pela porta de vidro que dava para a sala de estar. Jack me olhou com a cara de sempre quando eu estava reclamando do amigo dele, e sabia que ia vir mais sermão.

- Julie tem razão, sabe? – ele falou cauteloso – Eu não falaria com as mesmas palavras, mas a idéia seria a mesma.
- Sua irmã é uma idiota, odeio ela.
- Odeia nada. Assim como no fundo você não odeia o Ozzy. Tenho certeza que um dia vocês ainda vão se entender, e rir disso tudo.
- Sinto lhe informar que você não vai viver para ver esse dia, primo querido.

No instante em que disse isso, uma rajada de vento bateu no jardim e varreu tudo que tinha em cima da nossa mesa, menos o livro. As paginas passaram depressa e pararam em um capitulo que falava sobre imortalidade. Olhei para Jack assustada, mas ele ria.

- Não deboche – disse séria – Não gosto quando essas coisas acontecem.
- Acontecem com freqüência? – ele parou de rir.
- Não muita, mas o suficiente para me impressionar.
- Imortalidade – ele puxou o livro pra si e leu o titulo do capítulo – Estou ansioso para chegar nessa parte da matéria.
- Existem famílias de Imortais... Você conhece alguma?
- Sim, ouvi falar delas, mas não conheço nenhuma – algo me dizia que ele estava mentindo, mas não quis entrar em detalhes.
- Deve ser horrível – ele me olhou sem entender e completei – Ser imortal, não morrer nunca. Não deve ser agradável.
- Por que não? Deve ser ótimo viver sem medo de morrer de repente, sem explicação. Imagine não envelhecer nunca? Você não ia precisar se preocupar com rugas.
- E viver pra sempre, enquanto as pessoas que você ama morrem? Isso também é ótimo? – vi que ele ficou pensativo.
- Talvez as famílias de Imortais só possam se relacionar com outros Imortais, isso facilitaria muito.
- Imagino que sim, já que eles não podem sair por ai dando imortalidade a pessoas comuns.
- Como sabe disso?
- Já disse que não sou burra, eu leio – ele fez uma careta – Não sei como funciona, mas só quem tem o sangue de um Imortal pode viver pra sempre. Uma pessoa comum com imortalidade nunca seria a mesma coisa. É como se eu casasse com um Rei. Eu ia ser uma Rainha, mas não teria o “sangue azul”. Seria um deles, mas não como eles.
- Meio preconceituoso isso, não acha?
- Suponho que sim, mas é uma maneira de controlar as coisas. Imagine se o mundo inteiro tivesse esse dom? Íamos ter uma superlotação no planeta! – falei num tom divertido, quebrando a seriedade do papo.
- Bom, eu gostaria de não morrer nunca, mas você pelo visto não.
- Eu posso ter muitas dúvidas na vida, e eu tenho, mas de uma coisa eu tenho certeza, nunca ia querer viver para sempre.

Tive a sensação de que Jack ia dizer alguma coisa, mas nunca soube o que era. Um dos nossos primos apareceu na varanda com uma bola de vôlei na mão, dizendo que precisa de mais duas pessoas para completar seu time. Quando soube que Julie já estava no time adversário, fechei o livro e corri com eles até a quadra. Era Natal e estava com a minha família toda reunida, não era hora para nenhum assunto sério tomar o lugar da diversão.