Monday, May 28, 2007

Maio de 1998

Todos os alunos do Instituto Durmstrang dormiam um sono pesado em suas republicas e o único movimento fora delas era o de tochas acesas, caminhando em fila da direção do castelo. Mais de 40 figuras encapuzadas com longos mantos negros e máscaras brancas andavam enfileirados com suas tochas erguidas, e fechando o cortejo, 10 figuras menores com as cabeças cobertas por um manto, vinham escoltadas. Eram os novatos. Nenhum deles poderia saber a localização do santuário sagrados dos Reis & Sombras até que fossem reconhecidos como cavaleiros.

‘Agravain, tire o capuz dos calouros’ a voz de Artur, o líder, ecoou no lugar e o menino de cabelos enrolados fechou os olhos quando a claridade, mesmo que fraca, bateu em seu rosto.

Ele não sabia onde estava, mas sem duvida era um lugar bonito. Estavam em uma sala redonda, as paredes feitas de pedra e a ausência de janelas denunciavam que era uma masmorra. O chão era gravado com o emblema da Irmandade e todos os cavaleiros estavam posicionados em círculo. Os demais novatos como ele estavam ajoelhados no centro e olhavam a tudo com receio. O menino de cabelos enrolados sentia-se tonto, e imaginava se seus colegas também estavam assim. Estavam todos embriagados, foram forçados a beber cada um deles uma garrafa de whisky de fogo e ele duvidava que fosse capaz de andar sem o auxilio de outra pessoa.

‘Obrigado Breunor’ Artur parou diante dos calouros e abriu a urna que Breunor trouxera ‘É chegada à hora do desafio final. Somente cinco de vocês poderão entrar para a Irmandade, e quem determinará isso serão vocês mesmos’ os meninos se entreolharam curiosos e Artur deixou escapar uma risada rouca ‘Cador irá separar vocês em duplas e duelarão pela vaga. Os cinco que se mantiverem de pé serão merecedores de se tornarem Reis e Sombras’

Artur afastou-se e os meninos puderam ver espadas dentro da urna. Todas brilhavam muito e aparentavam ser pesadas. Cador empurrou os calouros para que ficassem de pé e os dividiu em 5 duplas, ordenando que cada um apanhasse uma espada. O barulho de um tiro ecoou pela sala e logo o lugar se encheu com o som das espadas se chocando uma com as outras.

O garoto de cabelos cacheados mal conseguia manter-se de pé e estava muito machucado. Seu oponente, um garoto loiro de cabelos até o ombro, estava vencendo sem dificuldades. Ele sentia o peso da espada de seu oponente atingir a sua e seus braços doíam com a força que fazia para não desabar. Seu pai era um membro da Irmandade e permitir que ele fizesse parte do processo de seleção talvez fosse a única coisa boa que ele lhe daria na vida, ele não desistiria agora.

Todas as outras duplas já tinham um vencedor e aguardavam pelo 5º e ultimo. O garoto loiro desferiu um golpe violento, mas o moreno conseguiu amparar a espada e evitar que ela se chocasse com sua cabeça, mas não conseguiu evitar que ela atingisse sua barriga. O corte causado pelo golpe do garoto loiro foi tão forte que ele deixou sua espada cair, levando a mão ao corte e vendo ela cobrir-se com o sangue no mesmo instante. Gauvain fez menção de socorrê-lo, mas Boors o impediu. Ele escolhera aquilo, teria que ir até o fim.

‘Acabe com ele!’ Artur ordenou e o garoto sentiu a lâmina gelada da espada de seu oponente encostar-se a seu pescoço ‘Vamos, termine com isso!’

Os olhos verdes do menino de cabelos loiros brilhavam. Seu rosto estava machucado e sujo de sangue, e ele sabia que o garoto estava apenas tomando fôlego e reunindo coragem para cravar a espada em seu pescoço. Mas em uma ação que ele não esperava, o menino loiro largou a espada no chão e estendeu a mão para ele. O menino de cabelos cacheados estava surpreso com o ato, mas aceitar sua mão era sinal de que ele havia perdido a única chance de entrar para a Irmandade. O garoto loiro tornou a estender a mão e ele a agarrou, puxando ele para o chão e lhe acertando um soco.

Todos os cavaleiros ao redor se agitaram e Artur ordenou que ninguém se movesse. O menino loiro, pego de surpresa pelo ataque, foi ao chão. O outro garoto saltou em cima dele e, com as mãos cheias de sangue do corte feito pelo loiro, desferia socos sem intervalos em seu rosto.

‘Nunca estenda a mão a um inimigo’ ele falou quando desferiu o ultimo soco, o soco que apagou o adversário.

‘Muito bem, temos um vencedor!’ Artur caminhou até os dois garotos e se certificou que o loiro estava desmaiado ‘Calouros, reúnam-se no centro do círculo’

Os cinco vencedores caminharam cansados para o centro do círculo formado pelos encapuzados e Artur andava por eles carregando uma espada. O menino de cabelos cacheados não conseguia se manter de pé e ajoelhara diante de todos, esperando sua vez.

‘Diga seu nome, para que seus companheiros o conheçam’ ele ouviu Artur falar ao primeiro garoto

‘Gareth’ o garoto de cabelos castanhos respondeu, e o nome foi abafado pelo seu grito. Um grito de dor. Ele fora marcado.

O garoto continuou ajoelhado, esperando. Seus olhos estavam inchados e ele mal conseguia mantê-los aberto. A fraca luz que iluminava a masmorra era suficiente para lhe incomodar. O corte em sua barriga sangrava cada vez mais e ele começava a se sentir tonto quando viu o vulto de Artur parar em sua frente. A espada pesada que ele carregava atingiu sem ombro com força e ele cedeu com o golpe, quase indo ao chão.

‘Um cavaleiro Rei e Sombra nunca se ajoelha diante de ninguém! Erga-se!’ O garoto apoiou as mãos no chão e com muita dificuldade ficou de pé. Suas pernas não eram confiáveis e tremiam violentamente, mas ele era mais forte e não ia cair ‘Você demonstrou ser o mais bravo guerreiro dos dez candidatos e o mais merecedor do titulo esse ano. Agora diga seu nome, para que seus companheiros o conheçam’

‘Mordred. AAAAAAHH’ Um pedaço de ferro em brasa foi imprensado contra suas costas e Mordred não resistiu à dor, se deixando cair. O chão gelado da masmorra fazia o corte em sua barriga doer ainda mais, mas nada se comparava à dor de ser marcado como um cavaleiro Rei e Sombra. Ele tornou a apoiar as mais no chão para se levantar, mas a carne viva que queimava em suas costas o impedira de continuar fazendo esforço e Mordred mais uma vez se deixou cair no chão, vendo os cavaleiros encapuzados sumirem um a um à medida que seus olhos iam se fechando.

Wednesday, May 23, 2007

Outubro de 1992

Desde a fundação da escola há mais de mil anos, as pedras cinzentas e frias daquele pedacinho do mar do Norte, abrigavam mistérios. Tanto os bons quanto os sombrios. E masmorras faziam parte desse mistério. Vultos encapuzados, usando máscaras de cor branca caminhavam com tochas acesas e lentamente o cortejo ia aumentando.
Havia um jovem que tinha a cabeça altiva e postura arrogante, ele devia ser o líder, pois os outros o obedeciam com apenas um levantar de dedos. Seu manto além de negro como o dos outros exibia um desenho de uma cruz nas costas. Os outros exibiam os mesmos desenhos em tamanho menor, ao lado direito do peito, como se fosse o emblema da escola, mas havia alguns entre eles que não exibiam nada em seus mantos. Estes eram os novos iniciados. Um deles tinha um andar vacilante, como se estivesse indo em direção do abismo. Talvez estivessem mesmo, mas para outros caminhar por ali significava apenas mais um obstáculo na vida a ser ultrapassado para ser aceito como um "igual".
Chegaram num local parecido com uma cripta á primeira vista, mas após um olhar atento e tochas acesas ao simples estalar de dedos do líder, via-se que se tratava de um salão de reuniões, muito parecido com um salão comunal de uma escola qualquer, mas ali havia bebidas, quadros de antigos membros, e num lugar elevado havia um pequeno palco, para onde os novatos foram encaminhados. Nesta noite seriam avaliados os desempenhos dos novos membros e se eles teriam o direito de pertencer àquele mundo ou não.
- Hoje é uma noite muito especial, pois saberemos se mais cinco honrados cavaleiros se juntarão a nós em nossa humilde jornada. – disse o líder e arrancou risadas e aplausos dos outros.
- Caro Arthur, nossa jornada pode ser descrita como tudo, menos humilde. - disse um dos membros antigos. - e ergueu um cálice de prata para confirmar seu ponto de vista.
- Não seja petulante Accolon. Nosso líder tem razão, é uma noite especial. – respondeu um outro e o líder continuou como se não houvesse sido interrompido:
- Estes nobres cavaleiros, passaram por vários testes ao longo de sua iniciação e agora é chegada a hora de fazerem o juramento de fidelidade ao seu líder e seus companheiros. Eu vos pergunto: Algum de vocês quer desistir?
- Não! - responderam em uníssono.
- Dispam suas vestes. É hora de receberem a marca que nos diferencia dos comuns. - mandou o líder.
Os cinco olharam uns para os outros e obedeceram. A um sinal do líder, o mascarado chamado Accolon aproximou-se com outros quatro, cada um trazendo um ferro de marcar em brasa. Ao entender o significado daquilo, ficaram apreensivos, mas se mantiveram firmes. Afinal o que era um pouco de dor, em vista do mundo novo que se descortinava à sua frente.
O líder sorriu. Eles haviam passado por mais um teste e superado. Os ferros de marcar foram devolvidos ao braseiro e o Líder, após apontar a varinha fez surgir uma tatuagem negra nos braços dos garotos, aumentou a voz enquanto olhava para o último deles:
- Agora com esta marca vocês estão ligados a nós. Quando eu a tocar, vocês terão que vir até aqui e se reunir com seus companheiros ao meu comando. Somos uma irmandade e temos nossas próprias regras. Somos Reis e Sombras, e nada pode nos separar, mesmo que sacrifícios sejam exigidos. Agora digam seus nomes alto para que seus irmãos saibam que vocês acabam de nascer para nós. – naquele momento outros mascarados seguraram os novatos pelos braços, sem que eles pudessem resistir enquanto outros se aproximavam.
- Galahad. – foi um dos nomes ouvidos quando o cheiro de carne queimada invadiu as masmorras.

Tuesday, May 15, 2007

We got everything we need right here
and everything we need is enough
Just so easy
When the whole world fits inside of your arms
Do we really need to pay attention to the alarm?

Banana Pancakes – Jack Johnson

‘Vamos Evie, levanta’ Evie sentiu seu cobertor ser puxado e o puxou de volta

‘Não, vão embora, está frio e chovendo’ a garota respondeu escondendo o rosto

‘E desde quando isso é desculpa em Durmstrang?’ Com um puxão forte, Milla arrancou o grosso cobertor da amiga e o atirou longe ‘Sai já dessa cama!’

Evie ainda tentou se enrolar em um lençol e ignorar as amigas no quarto, mas Vina já tinha escondido ele também. Elas já estavam prontas, de uniforme, esperando por ela. Evie fitou as duas de braços cruzados por alguns segundos e percebendo que aquela era uma batalha perdida, se arrastou para fora da cama.

As duas semanas de suspensão terminavam hoje, e embora Evie soubesse que passar duas semanas sem aulas haviam a deixado atrasada em relação aos outros alunos, ela não queria voltar para as salas de aula e encarar o resto da escola. “Estava tão bom aqui, escondida”, ela falou baixo quando passou pelas amigas e foi tomar banho.

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Quando se acorda com o pé esquerdo, a melhor coisa a se fazer é não sair da cama. E Evie se arrependia de não ter enfrentado as amigas e continuado dormindo. Era uma manhã de segunda-feira muito fria, e a chuva forte que caía obrigava os alunos a permanecerem dentro do castelo nos intervalos entre as aulas. Durante todo o dia, Evie percebeu o quanto as duas semanas afastada das aulas a deixaram para trás. Nem mesmo tendo copiado as matérias das amigas adiantou, ela sabia que para conseguir ótimas notas em seus N.O.M.s, teria que correr atrás do prejuízo. E começaria chegando no horário para a orientação vocacional com a diretora da Berkana, Ivana Mesic.

‘Está vendo, Evie? Ninguém nem lembra mais o que aconteceu’ Vina tentou animar a amiga

‘Os alunos podem não lembrar, mas sei que nosso professor de Aritmancia se recorda perfeitamente bem do desastre que foi a minha campanha’

‘Você devia se importar menos com o que seu avô pensa, sabia?’ Milla falava sério enquanto caminhavam pelo corredor ‘Você se esforça tanto para agradá-lo, e ele nem ao menos reconhece isso’

‘Eu sei disso’ ela disse triste ‘Acha que já não tentei mudar? Queria ser mais relaxada, queria por um dia poder não me importar com ninguém, ser egoísta, mas não consigo’

‘Não adianta Milla, é o jeito dela’ Vina parou na entrada da sala de Transfiguração ‘Eu também não conseguiria viver sem os meus remédios, embora tenha consciência que algumas vezes seja exagero meu’

‘Não gosto dos meus defeitos, mas o que posso fazer? Não podem dizer que nunca tentei mudar’

‘Claro que você não gosta dos seus defeitos, ninguém gosta’ Milla falou rindo ‘Se gostassem, não seriam defeitos, né? Boa sorte na entrevista! A gente se vê mais tarde’

Milla e Vina continuaram andando no corredor e Evie entrou no escritório da professora, sem muita certeza do que diria a ela.

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‘Então quer trabalhar no Deptº de Cooperação Internacional em Magia?’ Ivana tinha os óculos na ponta do nariz e lia uma ficha ‘O que exatamente pensa em fazer lá, Srtª Parvanov?’

Evie estava sentada de frente para a professora de Transfiguração e acabara de lhe dizer em que pretendia trabalhar quando se formasse. Ela não sabia exatamente em que se especializar, mas sabia que queria trabalhar com bruxos de outros países. Ivana parecia interessada na profissão escolhida e Evie não conseguia esconder o sorriso de satisfação. Ela era sua professora predileta.

‘Não sei em que área poderia trabalhar. Talvez algo ligado a eventos entre os países, como a organização do Torneio Tribruxo’

‘Sabe que para fazer isso, precisa falar no mínimo quatro idiomas, não é?’ Evie confirmou com a cabeça e ela continuou ‘Quantas sabe falar?’

‘Bem, só búlgaro e espanhol... Mas posso aprender outras, claro!’

‘Então sugiro que aprenda inglês, que é indispensável, e se me permite uma opinião pessoal, aprenda o francês’ Ivana pôs os óculos direito no rosto e sorriu saudosa ‘É um idioma lindo de se falar, Paris é magnífica’

‘E que matérias posso desistir no próximo ano?

‘Eu nunca aconselho aos alunos da Berkana desistir de matérias. Independente da profissão escolhida, nós não sabemos o dia de amanhã e pode ser necessário usar o conhecimento em todas elas. Mas se quer mesmo desistir de alguma, indicaria adivinhação. Boris sabe que não aprecio seu dom’ ela riu e voltou a abaixar os óculos, encarando Evie séria ‘E mais importante, a Berkana tem uma tradição em Durmstrang, meus alunos são sempre os mais aplicados e sempre se formam com excelentes notas em todos os exames. Não admito que a reputação de minha casa seja arruinada com episódios como as eleições, portanto procure alcançar seus amigos nas aulas e continue com todas as matérias até o 7º ano. Compense o ocorrido não decepcionando mais seus colegas de casa’

Evie não conseguiu responder, então apenas assentiu com a cabeça e saiu da sala com as mãos enterradas no bolso. O dia havia sido tão corrido e tudo estava dando tão errado que ela havia esquecido completamente da carta que recebera de manha cedo de Josh. Ela puxou a carta amassada do bolso do casaco e sentou no pátio vazio por causa da chuva para ler. Ao menos um momento do dia daria certo.

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‘Oi!’

Milla e Vina sentaram uma de cada lado de Evie e a cumprimentaram animadas ao mesmo tempo. A chuva ainda insistia em cair, cada vez mais forte, mas elas pareciam alheias ao vento gelado que atravessava o pátio. Evie levantou a cabeça devagar e tentou sorrir, mas o papel molhado em sua mão denunciava que ela havia chorado.

‘O que aconteceu?’ Milla olhou para ela preocupada

‘De quem é a carta?’ Vina tinha um tom de voz receoso ‘Más notícias?’

‘Não, é do Josh’

Evie não estava mais chorando, mas sua voz ainda era vacilante quando estendeu a carta para Vina. Ela leu em voz alta para que Milla ouvisse e quando acabou se virou para Evie.

‘Não entendo... O que tem de errado? Ele parece feliz na carta’

‘É exatamente esse o problema’ quando as amigas continuavam sem entender, ela continuou ‘Deveríamos estar felizes juntos, não? Mas ele parece estar bem, mesmo longe’

‘Você queria que ele estivesse em prantos?’ Milla perguntou querendo rir

‘Não, claro que não. Mas ele nem mesmo cita que está com saudades, e para ser sincera, eu também não estou. Não deveria ser o contrario?’

‘Você ama o Josh, Evie?’ Milla falou sem rodeios

Ela hesitou. E ao hesitar, se surpreendeu. Evie nunca havia sido questionada sobre isso, nem mesmo por Josh, mas sempre pensou que se um dia fosse, responderia sem pensar. O tempo que ela demorou para conseguir responder a deixou espantada. Milla e Vina já começavam a rir da sua expressão de choque quando conseguiu falar outra vez.

‘Não sei’ ela falou baixo ‘Eu realmente não sei. Josh e eu nos conhecemos desde bebês, sempre fomos melhores amigos’

‘Pois é, acho que você gosta dele do mesmo jeito que gosta do Chris’ Vina não se conteve e citou o garoto, mesmo com a careta de Evie ‘Vocês também se conhecem desde crianças, não?’

‘Acho que você precisa é de um namorado mais próximo’ Milla continuou o assunto ‘Um que possa abraçar e beijar quando quer, e não só nas férias. Tem tanto menino bonito em Durmstrang, como o Chris, por exemplo’

‘Parem com esse assunto do Chris, por favor!’ as duas riram e Evie acabou rindo também ‘Vamos sair daqui, estou congelando. Depois penso nesse assunto, hoje não consigo mais raciocinar!’

‘Isso, vamos até a cabana, o pessoal está lá hoje fazendo fogueira’

A cabana era a antiga casa dos guarda-caças de Durmstrang, quando eles ainda dormiam dentro da floresta. Mas desde que Karkaroff saiu, eles foram acomodados em uma republica vazia. E desde então, Evie e os amigos a usavam como refugio do castelo, era um lugar só deles para conversar e esquecer os dias ruins na escola. Nina havia selado a porta com um feitiço e apenas as varinhas deles eram capazes de abrir a fechadura. Milla usou a dela para abrir, e encontraram Nina, Elizabeth, Michael, Victor, Ricard, Annia e Reno acendendo uma fogueira para espantar o frio.

‘Noite boa para uma bate papo, não?’ Evie falou mais animada quando entrou

‘Os meninos ficaram de trazer alguns marshmallows para assarmos, mas não sei onde vão conseguir isso’ Annia se largou em uma das poltronas cansada ‘Porcaria de dia que tive hoje, não seria nada ruim se eles realmente conseguissem alguns’

‘Quem está disposto a assar alguns marshmallows hoje?’ a porta tornou a se abrir e Max, Chris e Iago entraram cada um com um pacote do doce na mão

‘Trouxemos alguns gravetos também, vi isso em um filme trouxa’ Iago jogou os pedaços de madeira no tapete e sentou no chão, abrindo o primeiro pacote

Na mesma hora todos se acomodaram em volta da fogueira e imitaram seu gesto, espetando o doce no graveto e colocando no fogo. Viver como os trouxas às vezes era bom.

‘A professora Ivana quase arrancou meu fígado hoje’ Chris falou rindo ao engolir um marshmallow inteiro ‘Disse que não admitiria que eu manchasse a reputação da Berkana outra vez’

‘Ela falou a mesma coisa pra mim’ Evie não achava a mesma graça que Chris na bronca ‘O que disse a ela que quer fazer depois da escola?’

‘Medibruxo, claro. Não me imagino fazendo outra coisa’ ele espetou outro pedaço no graveto e tornou a falar ‘O único ruim disso é que não posso desistir de praticamente nada, mas ela também não me aconselharia a desistir mesmo que quisesse ser faxineiro, então não faz muita diferença’

‘Também disse ao professor Nicolai que quero ser medibruxa, vamos trabalhar juntos, Chris!’ Vina falou animada ‘E também não vou desistir de nada’

‘Também não pretendo largar nenhuma matéria, e nem sequer posso cogitar isso!’ Ricard falou sério ‘Quero ser um Inominável, então não sei o que vou precisar’

‘Perfeito!’ Victor estava tão empolgado que todos pararam para ouvi-lo ‘Eu vou ser um obliviador, então você pode contar todos os segredos do departamento dos mistérios pra gente, e depois apago a memória deles!’

‘E quem vai apagar a sua?’ Ricard riu da tentativa do amigo

‘Ah, bom, o mundo não é perfeito... Você vai ter que confiar os segredos a mim’

‘Pode deixar que eu sou um bom obliviador, apago a memória dele’ Max falou rindo, frustrando os planos de Victor ‘Eu disse ao professor Mikhail que quero seguir carreira de auror. Acho o trabalho deles o maior barato!’

‘Pensava que você seria jogador de quadribol’ Iago interrompeu ‘Foi o que escolhi ano passado, na minha orientação vocacional’

‘Acho que ser auror é mais emocionante que jogar quadribol’ foi a vez de Reno falar ‘Mas vou seguir os passos da minha mãe e do meu avô mesmo, alquimia está no sangue da família’

‘Não está no meu sangue, mas também quero ser uma alquimista’ Annia concordou com Reno ‘O professor Nicolai se espantou, mas me deu apoio’

‘Definitivamente não tenho o dom da alquimia!’ Milla falou irônica e todos riram ‘Acho que vou trabalhar no departamento de controle de criaturas mágicas. Só espero que não pegue nada muito burocrático’

‘É por isso que queria ser medibruxa, para fugir da burocracia!’ Nina sacudiu seu graveto indignada e o marshmallow caiu no fogo ‘Mas meus pais querem que eu me torne ministra, e não estão inclinados a mudar de idéia. Quer coisa mais burocrática que isso?’

‘Nina, se você for Ministra, promete que vai forçar o diretor da escola a acabar com essa regra idiota de que namoros são proibidos?’ Milla pediu em tom de desespero, arrancando risadas dos outros

‘Prometo que essa será minha primeira lei como nova Ministra da magia búlgara!’

‘Então meu voto já é seu!’ Evie falou rindo ‘Pelo bem estar e sanidade mental dos nossos filhos, vote em Nina Olenova para Ministra da magia!’

Todos bateram palmas em apoio a Evie e Nina ficou de pé, agradecendo os votos já garantidos em sua futura campanha forçada. A chuva continuava a cair cada vez mais forte e violenta do lado de fora, mas naquele momento, ninguém tinha pressa de sair dali. Tudo que eles precisavam por hora estava ali dentro, e a vida pós-formatura parecia ser a coisa mais simples do mundo. Enquanto estavam ali, eram capazes de tudo, até se elegerem a ministros da magia.

Monday, May 14, 2007

- Não acredito que estou fazendo isso. Devo ter desmaiado e acordado num universo paralelo.
- Não reclama Evie, não é tão ruim assim. É só um jogo pela vaga na semifinal. - eu disse.
- E também porque Iago quer se exibir pra você não é Milla? Ouvimos o jeito que ele pediu para você vir ao jogo. Tão bonitinho... – disse Vina.
- É, e ela até sabe que é pela semifinal, antes ela nem saberia explicar porque este jogo é importante. - disse Annia , e começou a rir com as outras.
- Há, há muito engraçado, suas tontas. – respondi de bom humor e tornei a olhar para o alto. O jogo estava acirrado, a Ansuz precisava vencer se quisesse uma chance de disputar a copa das casas e um dos times havia pedido tempo.
- Recomeça o jogo. E a goles está com Oblonsky, que faz uma jogada ensaiada com Kerenin e é ponto da Berkana. - e a metade do estádio vaiou e a outra metade aplaudia. Logo a Ansuz recuperava a goles. O narrador se empolgou:
- E os artilheiros da Ansuz estão mostrando garra: a posse está com Ivanov, ele está jogando com força total, lançou para Parvanov que desviou de um balaço lançado por Karkaroff, mas o batedor da Berkana Zagrev chegou a tempo e rebateu o balaço, que desequilibrou o artilheiro da Ansuz e ele soltou a goles. Vejam Dimitrov recuperou e parte com tudo pra cima do seu adversário, o goleiro Dolohov.
É agora, é agora, arrreeeeeee o goleiro salvou o aro, e a Berkana tem a posse da goles novamente, mas por pouco tempo vejam como Ivanov roubou a goles e dá uma volta para escapar de Karkaroff, lá vem um balaço lançado por Zagrev, Tolstoi da Ansuz rebate o balaço com força e quase acerta Medved que desvia. É, o jogo vai ser longo, e ninguém quer desistir, é a vaga para a semifinal.
De repente o apanhador da Ansuz viu alguma coisa e começou a descer rápido, o apanhador da Berkana foi atrás, e logo estavam emparelhados de braços esticados, e a arquibancada prendia o fôlego.
- Eles vão bater. - disse Vina apavorada.
- Eles não, só o nosso apanhador vai se dar mal nesta. – respondi automaticamente percebendo que a vassoura dele não iria frear e levantar vôo antes da pancada.
Não deu outra. Logo o narrador gritava:
- E VENCE A BERKANA! Medved pega o pomo e encerra partida: 250 a 100, este é o placar. A Berkana vai disputar a semifinal... - e continuou falando. Eu e minhas amigas começávamos a sair da arquibancada, enquanto os dois times se reuniam no campo. Um para comemorar e o outro para superar a decepção, quando ouvi uma menina do meu lado:
- É briga! Aposto que foi o Karkaroff...
- Porque ele iria brigar? Ele venceu. – respondeu Evie, não parei para ouvir mais nada, já descia rápido em direção ao campo. Logo os professores entravam e apartavam a briga, mas de onde eu estava já dava para ver alguns narizes sangrando. Consegui chegar perto de Iago e ele não era exceção. Parecia ter levado um bastão no rosto, o nariz sangrava e um hematoma já se formava no seu queixo. Luka tinha o lábio e o supercílio sangrando, além de um olho que ia ficando roxo. Ambos ainda se encaravam de punhos fechados. Ao ver o estado dos dois assim tão de perto, fiquei assustada. Só ouvi as ultimas palavras que trocavam:
- Da próxima vez controle a boca do seu apanhador Luka...
- Sabia que isso não ia durar muito. Você não resiste a uma pancadaria...
- Iago o que houve?- perguntei e tentei por a mão em seu braço, tentando acalmá-lo.
- Nada. Deixe-me sozinho. – ele se esquivou do meu toque e saiu do campo rapidamente. Fiquei ressentida e ameacei ir atrás dele, Luka me segurou:
- É melhor deixar ele esfriar a cabeça.
- Porque estavam brigando? O jogo já tinha acabado, e você nunca briga – disse irritada enquanto puxava meu braço.
- Talvez antes eu não tivesse um motivo real para brigar com ele, Milla. - e me encarava sério. Seu olho direito começava a fechar e antes que eu dissesse mais alguma coisa o professor de vôo o mandou para a enfermaria. Encontrei minhas amigas e após verificarmos na enfermaria que Max, o irmão de Evie estava bem, eu disse:
- Quero saber onde o Iago está. Ele não veio para cá e está machucado.
- Ele deve ter voltado para a república dele. Para onde mais ele iria?- respondeu Vina enquanto íamos para nossa casa. Ao passar em frente da Chronos, disse a elas para continuar que logo eu voltaria para casa. Entrei e estava tudo silencioso. Ouvi uma movimentação na parte de cima e resolvi subir até os quartos. Aproximei-me e bati na porta antes de entrar.
Iago estava deitado na cama coberto com um lençol, de olhos fechados e uma pasta alaranjada estava em cima do seu queixo. O amigo dele Riven, estava terminando de amassar alguma coisa numa tigela.
- Oi Milla. Estava me perguntando quando você chegaria aqui. - sorriu.
- O que você está fazendo? - perguntei me aproximando da cama e notando as vestes sujas de sangue jogadas no chão. Iago parecia dormir e marcas azuladas estavam em volta do seu nariz.
- Já consertei o nariz dele, agora estou fazendo este ungüento para a dor. Ele vai ter dificuldade para respirar por um tempo, depois que acordar. Tive que sedá-lo, a pancada foi feia.
- Riven, sei que sua intenção é boa, mas ele estaria melhor sendo tratado por um curandeiro de verdade e não por um aluno. Pode haver seqüelas...
- As poções que uso foram ensinadas pelo meu pai, curandeiro chefe em Glasgow. Sei o que estou fazendo, e não é a primeira vez que cuido dos ferimentos dele.
O amigo do Iago era tão cuidadoso no preparo da poção, e parecia tão confiante que relaxei:
- Desculpe duvidar de você. Vai ser bom termos um auror curandeiro no Ministério. O que faço para ajudar?- ele após pensar um momento no que eu havia dito, sorriu e me entregou uma bacia com água limpa e antisséptico. Enquanto Riven espalhava o medicamento no rosto dele, eu limpava os outros vestígios de sangue com uma esponja molhada. Em dado momento eu comentei:
- Queria entender porque houve esta briga idiota. Era só um jogo.
- O Volchanov, disse que a Berkana estava roubando e quando Iago o chamou de mau perdedor, ele perguntou se Iago ia exibir a marca negra para assustar, aí ele perdeu a cabeça. O Iago odeia ser comparado ao pai.
- Como vocês ficaram amigos?- perguntei.
- Havia uma turminha aqui que adorava espancar os alunos e os roubava. Um dia, ele sem me conhecer comprou briga com eles. Era uma turminha que achava serem os donos da escola, mas tinham certo respeito por ele, pois Iago já tinha fama de ser violento. Deixaram-me em paz, mas no fim daquela semana, Iago voltou para casa todo machucado e eu percebi o que tinha acontecido. Peguei meu kit de poções e lembrei de tudo que meu pai havia ensinado e cuidei dele. Nunca falamos sobre isso, mas começamos a andar juntos. – eu olhava com admiração para Iago e via sua respiração se tornar mais suave, a expressão de dor havia sumido.
- Fico feliz porque ele pode contar com você Riven.
- Ele é meu amigo. Vai poder contar comigo sempre. - ele respondeu sério. Ficamos cuidando dele até tarde. Depois Riven me acompanhou até a Avalon e ao me deitar agradeci a Odin, pelos bons amigos que surgiam em nosso caminho.

Riven acabou se tornando um medibruxo, Iago se machucava demais nos jogos.


Thursday, May 03, 2007

‘Como todas as campanhas, é uma luta dura e sei como é difícil para um candidato perder, e também para sua família. Mas podem sair fortalecidos como homens em conseqüência da derrota desde que não se deixem abater’

Richard Nixon

A semana que se seguiu após as descobertas de ambos os lados na disputa pela presidência do conselho estudantil foi movimentada. Evie se recusava a desistir de sua candidatura e recebia o apoio das amigas, enquanto Georgia estava decidida a fazê-la abandonar a disputa. E a divergência de opiniões acabou por fazer as coisas saírem do controle.

Como prometido, Georgia espalhou cópias do jornal trouxa pela escola, e Nina entrou em pânico. Logo ela bolou uma estratégia para que o professor Andrei, avô de Evie, não colocasse as mãos em nenhum exemplar, e seu plano de guerra foi bem sucedido. Mas Nina não conseguiu evitar que suas amigas se vingassem pelo ataque gratuito. No dia seguinte, todos os murais da escola amanheceram decorados com fotos da infância oculta de Georgia. Os alunos riam ao olharem as fotos e apontavam para ela nos corredores, despertando a fúria da garota e desencadeando uma verdadeira guerra pelo poder.

Por duas semanas seguidas, Evie e Georgia se defenderam com as armas que possuíam, e sempre contando com a ajuda de sua equipe eleitoral. Nenhum truque era baixo demais, nenhum insulto era suficiente. Logo, porém, as coisas começaram a se tornarem pessoais. E Evie logo entendeu o significado da política em Durmstrang: não se tratava de ganhar uma eleição, mas sim de destruir o adversário.

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O dia do debate entre os candidatos havia finalmente chegado e Evie deveria enfrentar Georgia diante de toda a escola no auditório, e supostamente fazer um discurso de campanha e responder perguntas dos alunos. A idéia, simples do ponto de vista de Nina, tinha uma outra proporção na cabeça de Evie. A perspectiva de ficar em frente a mais de 200 alunos e discursar era, no mínimo, assustadora. E nem mesmo um discurso pronto ela tinha. Nina se recusara a fazer um, pois segundo ela, Evie era perfeitamente capaz de escrever o que pretendia fazer em seu mandato.

‘Já terminou seu discurso?’ Nina sentou ao lado dela na aula de Poções ‘Pois presumo que já tenha começado, estou certa?’

‘Estou trabalhando nele’ Evie respondeu sem olhar para a amiga

‘Discurso de Campanha, por Evie Parvanov... Isso é o seu discurso??’ Nina arrancou um papel da mão de Evie, onde não tinha nada além de desenhos, e no alto da folha, o titulo.

‘Eu disse que estou trabalhando nele, não disse que terminei. Se você parasse de frescura e fizesse por mim...’

‘Não, já disse que não vou ajudar a trapacear. Os candidatos devem escrever seus próprios discursos’

‘A Nina pode não querer ajudar, mas nós sim... Abra, vamos’ Milla chegou com Vina, Annia, Max e Chris e entregou um papel amassado para Evie

‘O que é isso?’ Mas Evie sabia o que era, só queria ter certeza

‘O discurso da Georgia. Annia roubou da mochila dela e copiou’ Vina estava empolgada com a aparente virada de mesa ‘Se você falar antes dela, não vai ter problema’

‘Você não vai usar isso, não é?’ Quando Evie não respondeu, Nina lhe lançou um olhar reprovador ‘Merlin, você vai fazer isso, não acredito!’

‘O que deu na Nina?’ Chris perguntou quando a garota esbarrou nele e em Max

‘Ela perdeu o controle da campanha da Evie, e vocês sabem como a Nina detesta não saber o que fazer’ Milla respondeu rindo

‘Bom, que seja... Nós temos a solução para esse debate ser todo seu, mana!’ Max puxou uma caixinha do bolso e Chris riu

‘O que é isso?’

‘Bombinhas fedorentas. Vamos soltá-las no meio do auditório na hora do discurso da Georgia, assim ninguém vai ouvir o que ela tem a dizer’ Chris falou orgulhoso do plano

‘E dessa forma, ninguém vai saber que os discursos são iguais’ Max concluiu sorridente

‘É bom que esse plano funcione’ Evie foi taxativa

‘Vai funcionar, confie em mim’

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Todos os alunos do Instituto Durmstrang já estavam acomodados no auditório da escola, aguardando o debate. Como de costume, os adversários já estavam no palco, junto de seus gerentes de campanha. Nina estava séria sentada ao seu lado e Evie sabia o motivo, mas não conseguira escrever seu próprio discurso e não tinha mais controle de nada. Tudo que ela queria era massacrar Georgia até o limite, pois sabia que a garota desejava a mesma coisa.

‘Boa tarde alunos, professores’ O vice-diretor falou no microfone e todos fizeram silencio ‘Nosso debate começará com cada oponente fazendo um discurso individual, vocês terão chance de fazer perguntas, e por fim, um debate entre as duas candidatas. Vou chamar a aluna Nina Olenova para apresentar sua candidata. Srtª Olenova, por favor’

Nina levantou da cadeira e antes de caminhar até a bancada, olhou pela ultima vez para Evie, implorando em silencio que ela não prosseguisse com aquilo, mas não parecia funcionar.

‘Evangeline Parvanov é uma garota direita. Ela é legal, leal aos amigos e honesta. E eu escolhi apoiar sua campanha porque sei que ela faz as escolhas certas. Porque sei que se ela for eleita, será da maneira justa’

Enquanto Nina falava diante dos alunos, Evie ia se encolhendo na cadeira. Tudo que ela queria naquele momento era saber aparatar e desaparecer dali. Chris e Max sacudiam a caixinha com as bombinhas e apontavam para ela, para que Evie pudesse ver. Talvez fosse uma boa idéia eles estourarem elas, mas ao invés de fazerem isso no discurso de Georgia, poderiam fazer um favor a Evie e solta-las em seu próprio discurso.

Evie percebeu que era sua vez de ir até a bancada e começar a discursar e não viu outra saída senão ir até lá. Georgia cochichava alguma coisa com sua gerente de campanha e ria debochada. Evie parou de frente a todos os alunos, abriu o papel amassado com o discurso de Georgia e encarou Nina. O papel estava ali, em sua frente, e lê-lo sem duvida lhe garantiria a presidência do conselho estudantil, mas na hora H, Evie recuou. Aquilo não era algo que ela faria. Ela não era assim, não sabia trapacear para se dar bem em alguma coisa. Nina tinha razão, Evie se desviara do real motivo da campanha e só queria humilhar Georgia. E então, sem pensar duas vezes, ela sabia o que tinha que fazer.

‘Caros alunos, professores, eu-’ Evie viu Chris apontando para a bombinha mais uma vez e desviou o olhar dos amigos ‘eu renuncio a minha candidatura’

O auditório se encheu com o falatório dos alunos diante da atitude inesperada de Evie. Ela podia ver Milla, Vina e Annia olhando para ela em choque, Nina tinha uma expressão que misturava surpresa e satisfação, e Georgia não poderia estar mais espantada. Mas a reação que causou de fato algum impacto foi a de Chris. Max levantou de repente ao ouvir a renuncia e esbarrou em Chris, fazendo com que ele derrubasse a caixa com as bombinhas. Elas estouraram no instante em que se chocaram com o chão.

‘Bombinha fedorenta!!’ Max gritou olhando para o liquido escorrendo em seu pé

A cena que seguiu o grito seria engraçada se o momento não fosse quase dramático. Todos os alunos levantaram juntos e começaram a gritar, correndo para fora do auditório com os cachecóis enrolados nos rostos. Evie continuou parada no palco, olhando a tudo estarrecida. Nina também ainda estava sentada na cadeira, e só restavam as duas no lugar. Olhando para os últimos alunos correndo na direção da porta, Evie só comprovou o que sempre soube: política fedia.

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Dois dias depois, toda a escola votou em quem queria para presidente. Georgia ganhou disparado, com mais 60% dos votos, Nina levou 15% deles mesmo sem concorrer, alguns alunos não votaram e outros anularam seus votos escolhendo personagens de desenhos. Evie não teve sequer seu próprio voto, mas ela não se arrependeu por ter concorrido a presidente do conselho estudantil. E nem pelas duas semanas de suspensão que se seguiram. Na verdade, de muitas formas, ela se tornara uma pessoa melhor graças a tudo aquilo. Evie aprendeu que não é passando por cima dos outros que se chega a algum lugar na vida, mesmo tendo perdido as eleições até para o pato Donald... De qualquer forma, estava na hora de deixar a política para os políticos.