Maio de 1998
Todos os alunos do Instituto Durmstrang dormiam um sono pesado em suas republicas e o único movimento fora delas era o de tochas acesas, caminhando em fila da direção do castelo. Mais de 40 figuras encapuzadas com longos mantos negros e máscaras brancas andavam enfileirados com suas tochas erguidas, e fechando o cortejo, 10 figuras menores com as cabeças cobertas por um manto, vinham escoltadas. Eram os novatos. Nenhum deles poderia saber a localização do santuário sagrados dos Reis & Sombras até que fossem reconhecidos como cavaleiros.
‘Agravain, tire o capuz dos calouros’ a voz de Artur, o líder, ecoou no lugar e o menino de cabelos enrolados fechou os olhos quando a claridade, mesmo que fraca, bateu em seu rosto.
Ele não sabia onde estava, mas sem duvida era um lugar bonito. Estavam em uma sala redonda, as paredes feitas de pedra e a ausência de janelas denunciavam que era uma masmorra. O chão era gravado com o emblema da Irmandade e todos os cavaleiros estavam posicionados em círculo. Os demais novatos como ele estavam ajoelhados no centro e olhavam a tudo com receio. O menino de cabelos enrolados sentia-se tonto, e imaginava se seus colegas também estavam assim. Estavam todos embriagados, foram forçados a beber cada um deles uma garrafa de whisky de fogo e ele duvidava que fosse capaz de andar sem o auxilio de outra pessoa.
‘Obrigado Breunor’ Artur parou diante dos calouros e abriu a urna que Breunor trouxera ‘É chegada à hora do desafio final. Somente cinco de vocês poderão entrar para a Irmandade, e quem determinará isso serão vocês mesmos’ os meninos se entreolharam curiosos e Artur deixou escapar uma risada rouca ‘Cador irá separar vocês em duplas e duelarão pela vaga. Os cinco que se mantiverem de pé serão merecedores de se tornarem Reis e Sombras’
Artur afastou-se e os meninos puderam ver espadas dentro da urna. Todas brilhavam muito e aparentavam ser pesadas. Cador empurrou os calouros para que ficassem de pé e os dividiu em 5 duplas, ordenando que cada um apanhasse uma espada. O barulho de um tiro ecoou pela sala e logo o lugar se encheu com o som das espadas se chocando uma com as outras.
O garoto de cabelos cacheados mal conseguia manter-se de pé e estava muito machucado. Seu oponente, um garoto loiro de cabelos até o ombro, estava vencendo sem dificuldades. Ele sentia o peso da espada de seu oponente atingir a sua e seus braços doíam com a força que fazia para não desabar. Seu pai era um membro da Irmandade e permitir que ele fizesse parte do processo de seleção talvez fosse a única coisa boa que ele lhe daria na vida, ele não desistiria agora.
Todas as outras duplas já tinham um vencedor e aguardavam pelo 5º e ultimo. O garoto loiro desferiu um golpe violento, mas o moreno conseguiu amparar a espada e evitar que ela se chocasse com sua cabeça, mas não conseguiu evitar que ela atingisse sua barriga. O corte causado pelo golpe do garoto loiro foi tão forte que ele deixou sua espada cair, levando a mão ao corte e vendo ela cobrir-se com o sangue no mesmo instante. Gauvain fez menção de socorrê-lo, mas Boors o impediu. Ele escolhera aquilo, teria que ir até o fim.
‘Acabe com ele!’ Artur ordenou e o garoto sentiu a lâmina gelada da espada de seu oponente encostar-se a seu pescoço ‘Vamos, termine com isso!’
Os olhos verdes do menino de cabelos loiros brilhavam. Seu rosto estava machucado e sujo de sangue, e ele sabia que o garoto estava apenas tomando fôlego e reunindo coragem para cravar a espada em seu pescoço. Mas em uma ação que ele não esperava, o menino loiro largou a espada no chão e estendeu a mão para ele. O menino de cabelos cacheados estava surpreso com o ato, mas aceitar sua mão era sinal de que ele havia perdido a única chance de entrar para a Irmandade. O garoto loiro tornou a estender a mão e ele a agarrou, puxando ele para o chão e lhe acertando um soco.
Todos os cavaleiros ao redor se agitaram e Artur ordenou que ninguém se movesse. O menino loiro, pego de surpresa pelo ataque, foi ao chão. O outro garoto saltou em cima dele e, com as mãos cheias de sangue do corte feito pelo loiro, desferia socos sem intervalos em seu rosto.
‘Nunca estenda a mão a um inimigo’ ele falou quando desferiu o ultimo soco, o soco que apagou o adversário.
‘Muito bem, temos um vencedor!’ Artur caminhou até os dois garotos e se certificou que o loiro estava desmaiado ‘Calouros, reúnam-se no centro do círculo’
Os cinco vencedores caminharam cansados para o centro do círculo formado pelos encapuzados e Artur andava por eles carregando uma espada. O menino de cabelos cacheados não conseguia se manter de pé e ajoelhara diante de todos, esperando sua vez.
‘Diga seu nome, para que seus companheiros o conheçam’ ele ouviu Artur falar ao primeiro garoto
‘Gareth’ o garoto de cabelos castanhos respondeu, e o nome foi abafado pelo seu grito. Um grito de dor. Ele fora marcado.
O garoto continuou ajoelhado, esperando. Seus olhos estavam inchados e ele mal conseguia mantê-los aberto. A fraca luz que iluminava a masmorra era suficiente para lhe incomodar. O corte em sua barriga sangrava cada vez mais e ele começava a se sentir tonto quando viu o vulto de Artur parar em sua frente. A espada pesada que ele carregava atingiu sem ombro com força e ele cedeu com o golpe, quase indo ao chão.
‘Um cavaleiro Rei e Sombra nunca se ajoelha diante de ninguém! Erga-se!’ O garoto apoiou as mãos no chão e com muita dificuldade ficou de pé. Suas pernas não eram confiáveis e tremiam violentamente, mas ele era mais forte e não ia cair ‘Você demonstrou ser o mais bravo guerreiro dos dez candidatos e o mais merecedor do titulo esse ano. Agora diga seu nome, para que seus companheiros o conheçam’
‘Mordred. AAAAAAHH’ Um pedaço de ferro em brasa foi imprensado contra suas costas e Mordred não resistiu à dor, se deixando cair. O chão gelado da masmorra fazia o corte em sua barriga doer ainda mais, mas nada se comparava à dor de ser marcado como um cavaleiro Rei e Sombra. Ele tornou a apoiar as mais no chão para se levantar, mas a carne viva que queimava em suas costas o impedira de continuar fazendo esforço e Mordred mais uma vez se deixou cair no chão, vendo os cavaleiros encapuzados sumirem um a um à medida que seus olhos iam se fechando.