Outubro de 1992
Desde a fundação da escola há mais de mil anos, as pedras cinzentas e frias daquele pedacinho do mar do Norte, abrigavam mistérios. Tanto os bons quanto os sombrios. E masmorras faziam parte desse mistério. Vultos encapuzados, usando máscaras de cor branca caminhavam com tochas acesas e lentamente o cortejo ia aumentando.
Havia um jovem que tinha a cabeça altiva e postura arrogante, ele devia ser o líder, pois os outros o obedeciam com apenas um levantar de dedos. Seu manto além de negro como o dos outros exibia um desenho de uma cruz nas costas. Os outros exibiam os mesmos desenhos em tamanho menor, ao lado direito do peito, como se fosse o emblema da escola, mas havia alguns entre eles que não exibiam nada em seus mantos. Estes eram os novos iniciados. Um deles tinha um andar vacilante, como se estivesse indo em direção do abismo. Talvez estivessem mesmo, mas para outros caminhar por ali significava apenas mais um obstáculo na vida a ser ultrapassado para ser aceito como um "igual".
Chegaram num local parecido com uma cripta á primeira vista, mas após um olhar atento e tochas acesas ao simples estalar de dedos do líder, via-se que se tratava de um salão de reuniões, muito parecido com um salão comunal de uma escola qualquer, mas ali havia bebidas, quadros de antigos membros, e num lugar elevado havia um pequeno palco, para onde os novatos foram encaminhados. Nesta noite seriam avaliados os desempenhos dos novos membros e se eles teriam o direito de pertencer àquele mundo ou não.
- Hoje é uma noite muito especial, pois saberemos se mais cinco honrados cavaleiros se juntarão a nós em nossa humilde jornada. – disse o líder e arrancou risadas e aplausos dos outros.
- Caro Arthur, nossa jornada pode ser descrita como tudo, menos humilde. - disse um dos membros antigos. - e ergueu um cálice de prata para confirmar seu ponto de vista.
- Não seja petulante Accolon. Nosso líder tem razão, é uma noite especial. – respondeu um outro e o líder continuou como se não houvesse sido interrompido:
- Estes nobres cavaleiros, passaram por vários testes ao longo de sua iniciação e agora é chegada a hora de fazerem o juramento de fidelidade ao seu líder e seus companheiros. Eu vos pergunto: Algum de vocês quer desistir?
- Não! - responderam em uníssono.
- Dispam suas vestes. É hora de receberem a marca que nos diferencia dos comuns. - mandou o líder.
Os cinco olharam uns para os outros e obedeceram. A um sinal do líder, o mascarado chamado Accolon aproximou-se com outros quatro, cada um trazendo um ferro de marcar em brasa. Ao entender o significado daquilo, ficaram apreensivos, mas se mantiveram firmes. Afinal o que era um pouco de dor, em vista do mundo novo que se descortinava à sua frente.
O líder sorriu. Eles haviam passado por mais um teste e superado. Os ferros de marcar foram devolvidos ao braseiro e o Líder, após apontar a varinha fez surgir uma tatuagem negra nos braços dos garotos, aumentou a voz enquanto olhava para o último deles:
- Agora com esta marca vocês estão ligados a nós. Quando eu a tocar, vocês terão que vir até aqui e se reunir com seus companheiros ao meu comando. Somos uma irmandade e temos nossas próprias regras. Somos Reis e Sombras, e nada pode nos separar, mesmo que sacrifícios sejam exigidos. Agora digam seus nomes alto para que seus irmãos saibam que vocês acabam de nascer para nós. – naquele momento outros mascarados seguraram os novatos pelos braços, sem que eles pudessem resistir enquanto outros se aproximavam.
- Galahad. – foi um dos nomes ouvidos quando o cheiro de carne queimada invadiu as masmorras.