Tuesday, May 15, 2007

We got everything we need right here
and everything we need is enough
Just so easy
When the whole world fits inside of your arms
Do we really need to pay attention to the alarm?

Banana Pancakes – Jack Johnson

‘Vamos Evie, levanta’ Evie sentiu seu cobertor ser puxado e o puxou de volta

‘Não, vão embora, está frio e chovendo’ a garota respondeu escondendo o rosto

‘E desde quando isso é desculpa em Durmstrang?’ Com um puxão forte, Milla arrancou o grosso cobertor da amiga e o atirou longe ‘Sai já dessa cama!’

Evie ainda tentou se enrolar em um lençol e ignorar as amigas no quarto, mas Vina já tinha escondido ele também. Elas já estavam prontas, de uniforme, esperando por ela. Evie fitou as duas de braços cruzados por alguns segundos e percebendo que aquela era uma batalha perdida, se arrastou para fora da cama.

As duas semanas de suspensão terminavam hoje, e embora Evie soubesse que passar duas semanas sem aulas haviam a deixado atrasada em relação aos outros alunos, ela não queria voltar para as salas de aula e encarar o resto da escola. “Estava tão bom aqui, escondida”, ela falou baixo quando passou pelas amigas e foi tomar banho.

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Quando se acorda com o pé esquerdo, a melhor coisa a se fazer é não sair da cama. E Evie se arrependia de não ter enfrentado as amigas e continuado dormindo. Era uma manhã de segunda-feira muito fria, e a chuva forte que caía obrigava os alunos a permanecerem dentro do castelo nos intervalos entre as aulas. Durante todo o dia, Evie percebeu o quanto as duas semanas afastada das aulas a deixaram para trás. Nem mesmo tendo copiado as matérias das amigas adiantou, ela sabia que para conseguir ótimas notas em seus N.O.M.s, teria que correr atrás do prejuízo. E começaria chegando no horário para a orientação vocacional com a diretora da Berkana, Ivana Mesic.

‘Está vendo, Evie? Ninguém nem lembra mais o que aconteceu’ Vina tentou animar a amiga

‘Os alunos podem não lembrar, mas sei que nosso professor de Aritmancia se recorda perfeitamente bem do desastre que foi a minha campanha’

‘Você devia se importar menos com o que seu avô pensa, sabia?’ Milla falava sério enquanto caminhavam pelo corredor ‘Você se esforça tanto para agradá-lo, e ele nem ao menos reconhece isso’

‘Eu sei disso’ ela disse triste ‘Acha que já não tentei mudar? Queria ser mais relaxada, queria por um dia poder não me importar com ninguém, ser egoísta, mas não consigo’

‘Não adianta Milla, é o jeito dela’ Vina parou na entrada da sala de Transfiguração ‘Eu também não conseguiria viver sem os meus remédios, embora tenha consciência que algumas vezes seja exagero meu’

‘Não gosto dos meus defeitos, mas o que posso fazer? Não podem dizer que nunca tentei mudar’

‘Claro que você não gosta dos seus defeitos, ninguém gosta’ Milla falou rindo ‘Se gostassem, não seriam defeitos, né? Boa sorte na entrevista! A gente se vê mais tarde’

Milla e Vina continuaram andando no corredor e Evie entrou no escritório da professora, sem muita certeza do que diria a ela.

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‘Então quer trabalhar no Deptº de Cooperação Internacional em Magia?’ Ivana tinha os óculos na ponta do nariz e lia uma ficha ‘O que exatamente pensa em fazer lá, Srtª Parvanov?’

Evie estava sentada de frente para a professora de Transfiguração e acabara de lhe dizer em que pretendia trabalhar quando se formasse. Ela não sabia exatamente em que se especializar, mas sabia que queria trabalhar com bruxos de outros países. Ivana parecia interessada na profissão escolhida e Evie não conseguia esconder o sorriso de satisfação. Ela era sua professora predileta.

‘Não sei em que área poderia trabalhar. Talvez algo ligado a eventos entre os países, como a organização do Torneio Tribruxo’

‘Sabe que para fazer isso, precisa falar no mínimo quatro idiomas, não é?’ Evie confirmou com a cabeça e ela continuou ‘Quantas sabe falar?’

‘Bem, só búlgaro e espanhol... Mas posso aprender outras, claro!’

‘Então sugiro que aprenda inglês, que é indispensável, e se me permite uma opinião pessoal, aprenda o francês’ Ivana pôs os óculos direito no rosto e sorriu saudosa ‘É um idioma lindo de se falar, Paris é magnífica’

‘E que matérias posso desistir no próximo ano?

‘Eu nunca aconselho aos alunos da Berkana desistir de matérias. Independente da profissão escolhida, nós não sabemos o dia de amanhã e pode ser necessário usar o conhecimento em todas elas. Mas se quer mesmo desistir de alguma, indicaria adivinhação. Boris sabe que não aprecio seu dom’ ela riu e voltou a abaixar os óculos, encarando Evie séria ‘E mais importante, a Berkana tem uma tradição em Durmstrang, meus alunos são sempre os mais aplicados e sempre se formam com excelentes notas em todos os exames. Não admito que a reputação de minha casa seja arruinada com episódios como as eleições, portanto procure alcançar seus amigos nas aulas e continue com todas as matérias até o 7º ano. Compense o ocorrido não decepcionando mais seus colegas de casa’

Evie não conseguiu responder, então apenas assentiu com a cabeça e saiu da sala com as mãos enterradas no bolso. O dia havia sido tão corrido e tudo estava dando tão errado que ela havia esquecido completamente da carta que recebera de manha cedo de Josh. Ela puxou a carta amassada do bolso do casaco e sentou no pátio vazio por causa da chuva para ler. Ao menos um momento do dia daria certo.

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‘Oi!’

Milla e Vina sentaram uma de cada lado de Evie e a cumprimentaram animadas ao mesmo tempo. A chuva ainda insistia em cair, cada vez mais forte, mas elas pareciam alheias ao vento gelado que atravessava o pátio. Evie levantou a cabeça devagar e tentou sorrir, mas o papel molhado em sua mão denunciava que ela havia chorado.

‘O que aconteceu?’ Milla olhou para ela preocupada

‘De quem é a carta?’ Vina tinha um tom de voz receoso ‘Más notícias?’

‘Não, é do Josh’

Evie não estava mais chorando, mas sua voz ainda era vacilante quando estendeu a carta para Vina. Ela leu em voz alta para que Milla ouvisse e quando acabou se virou para Evie.

‘Não entendo... O que tem de errado? Ele parece feliz na carta’

‘É exatamente esse o problema’ quando as amigas continuavam sem entender, ela continuou ‘Deveríamos estar felizes juntos, não? Mas ele parece estar bem, mesmo longe’

‘Você queria que ele estivesse em prantos?’ Milla perguntou querendo rir

‘Não, claro que não. Mas ele nem mesmo cita que está com saudades, e para ser sincera, eu também não estou. Não deveria ser o contrario?’

‘Você ama o Josh, Evie?’ Milla falou sem rodeios

Ela hesitou. E ao hesitar, se surpreendeu. Evie nunca havia sido questionada sobre isso, nem mesmo por Josh, mas sempre pensou que se um dia fosse, responderia sem pensar. O tempo que ela demorou para conseguir responder a deixou espantada. Milla e Vina já começavam a rir da sua expressão de choque quando conseguiu falar outra vez.

‘Não sei’ ela falou baixo ‘Eu realmente não sei. Josh e eu nos conhecemos desde bebês, sempre fomos melhores amigos’

‘Pois é, acho que você gosta dele do mesmo jeito que gosta do Chris’ Vina não se conteve e citou o garoto, mesmo com a careta de Evie ‘Vocês também se conhecem desde crianças, não?’

‘Acho que você precisa é de um namorado mais próximo’ Milla continuou o assunto ‘Um que possa abraçar e beijar quando quer, e não só nas férias. Tem tanto menino bonito em Durmstrang, como o Chris, por exemplo’

‘Parem com esse assunto do Chris, por favor!’ as duas riram e Evie acabou rindo também ‘Vamos sair daqui, estou congelando. Depois penso nesse assunto, hoje não consigo mais raciocinar!’

‘Isso, vamos até a cabana, o pessoal está lá hoje fazendo fogueira’

A cabana era a antiga casa dos guarda-caças de Durmstrang, quando eles ainda dormiam dentro da floresta. Mas desde que Karkaroff saiu, eles foram acomodados em uma republica vazia. E desde então, Evie e os amigos a usavam como refugio do castelo, era um lugar só deles para conversar e esquecer os dias ruins na escola. Nina havia selado a porta com um feitiço e apenas as varinhas deles eram capazes de abrir a fechadura. Milla usou a dela para abrir, e encontraram Nina, Elizabeth, Michael, Victor, Ricard, Annia e Reno acendendo uma fogueira para espantar o frio.

‘Noite boa para uma bate papo, não?’ Evie falou mais animada quando entrou

‘Os meninos ficaram de trazer alguns marshmallows para assarmos, mas não sei onde vão conseguir isso’ Annia se largou em uma das poltronas cansada ‘Porcaria de dia que tive hoje, não seria nada ruim se eles realmente conseguissem alguns’

‘Quem está disposto a assar alguns marshmallows hoje?’ a porta tornou a se abrir e Max, Chris e Iago entraram cada um com um pacote do doce na mão

‘Trouxemos alguns gravetos também, vi isso em um filme trouxa’ Iago jogou os pedaços de madeira no tapete e sentou no chão, abrindo o primeiro pacote

Na mesma hora todos se acomodaram em volta da fogueira e imitaram seu gesto, espetando o doce no graveto e colocando no fogo. Viver como os trouxas às vezes era bom.

‘A professora Ivana quase arrancou meu fígado hoje’ Chris falou rindo ao engolir um marshmallow inteiro ‘Disse que não admitiria que eu manchasse a reputação da Berkana outra vez’

‘Ela falou a mesma coisa pra mim’ Evie não achava a mesma graça que Chris na bronca ‘O que disse a ela que quer fazer depois da escola?’

‘Medibruxo, claro. Não me imagino fazendo outra coisa’ ele espetou outro pedaço no graveto e tornou a falar ‘O único ruim disso é que não posso desistir de praticamente nada, mas ela também não me aconselharia a desistir mesmo que quisesse ser faxineiro, então não faz muita diferença’

‘Também disse ao professor Nicolai que quero ser medibruxa, vamos trabalhar juntos, Chris!’ Vina falou animada ‘E também não vou desistir de nada’

‘Também não pretendo largar nenhuma matéria, e nem sequer posso cogitar isso!’ Ricard falou sério ‘Quero ser um Inominável, então não sei o que vou precisar’

‘Perfeito!’ Victor estava tão empolgado que todos pararam para ouvi-lo ‘Eu vou ser um obliviador, então você pode contar todos os segredos do departamento dos mistérios pra gente, e depois apago a memória deles!’

‘E quem vai apagar a sua?’ Ricard riu da tentativa do amigo

‘Ah, bom, o mundo não é perfeito... Você vai ter que confiar os segredos a mim’

‘Pode deixar que eu sou um bom obliviador, apago a memória dele’ Max falou rindo, frustrando os planos de Victor ‘Eu disse ao professor Mikhail que quero seguir carreira de auror. Acho o trabalho deles o maior barato!’

‘Pensava que você seria jogador de quadribol’ Iago interrompeu ‘Foi o que escolhi ano passado, na minha orientação vocacional’

‘Acho que ser auror é mais emocionante que jogar quadribol’ foi a vez de Reno falar ‘Mas vou seguir os passos da minha mãe e do meu avô mesmo, alquimia está no sangue da família’

‘Não está no meu sangue, mas também quero ser uma alquimista’ Annia concordou com Reno ‘O professor Nicolai se espantou, mas me deu apoio’

‘Definitivamente não tenho o dom da alquimia!’ Milla falou irônica e todos riram ‘Acho que vou trabalhar no departamento de controle de criaturas mágicas. Só espero que não pegue nada muito burocrático’

‘É por isso que queria ser medibruxa, para fugir da burocracia!’ Nina sacudiu seu graveto indignada e o marshmallow caiu no fogo ‘Mas meus pais querem que eu me torne ministra, e não estão inclinados a mudar de idéia. Quer coisa mais burocrática que isso?’

‘Nina, se você for Ministra, promete que vai forçar o diretor da escola a acabar com essa regra idiota de que namoros são proibidos?’ Milla pediu em tom de desespero, arrancando risadas dos outros

‘Prometo que essa será minha primeira lei como nova Ministra da magia búlgara!’

‘Então meu voto já é seu!’ Evie falou rindo ‘Pelo bem estar e sanidade mental dos nossos filhos, vote em Nina Olenova para Ministra da magia!’

Todos bateram palmas em apoio a Evie e Nina ficou de pé, agradecendo os votos já garantidos em sua futura campanha forçada. A chuva continuava a cair cada vez mais forte e violenta do lado de fora, mas naquele momento, ninguém tinha pressa de sair dali. Tudo que eles precisavam por hora estava ali dentro, e a vida pós-formatura parecia ser a coisa mais simples do mundo. Enquanto estavam ali, eram capazes de tudo, até se elegerem a ministros da magia.