Thursday, June 30, 2011

- Robbie!

Ouvi a voz de Lenneth e parei no meio do jardim. Ela vinha correndo esbaforida atrás de mim, sacudindo um pedaço de papel. Quando me alcançou, apoiou as mãos na cintura e tomou alguns segundos para recuperar o fôlego. Seu rosto estava vermelho e não era do frio.

- Você anda depressa demais e é meio surdo – finalmente falou, a voz ainda soando cansada – Estou correndo atrás de você e gritando seu nome desde a rua das republicas.
- Desculpe, estava ouvindo algumas coisas pro ensaio – e tirei o fone do ouvido, mostrando a ela – Onde é o fogo?
- Encontrei a música pra audição – e me estendeu o papel que vinha sacudindo. Estava todo amassado.
- Você foi mesmo fundo quando disse pra procurar algo que não era a sua cara – disse ao ver a música que havia escolhido – Kanye West não é o tipo de música que escolheria pra você, mas sim pro Oleg.
- Fiz o dever de casa. Podemos fazer uma versão só com o piano dela? – perguntou esperançosa. Devia ter gasto todo o tempo livre procurando uma música que servisse.
- Acho que podemos fazer isso. Acompanhe-me até o teatro, temos algum tempo livre antes dos outros chegarem.

Estendi o braço e ela o segurou, me acompanhando até o teatro. Se conseguíssemos mudar toda a melodia daquela música, sua apresentação seria uma das mais bonitas das audições. Pensava que o teatro ainda estaria vazio, mas fomos pegos de surpresa (e um pouco de choque) ao nos depararmos com Parvati e Ozzy no palco. Eles estavam sentados ao piano e Parvati arriscava algumas notas, no que me parecia uma tentativa de ajudar Ozzy com a afinação.

- Você é bom – Lenneth comentou em voz baixa. Eles ainda não tinham notado nossa presença – Acha que consegue manter esse suborno até a formatura?
- Pode ter certeza que vou procurar um meio de estender o acordo – chegamos até o palco e bati palma, assustando os dois – O amor é lindo, o que mata é a falsidade.
- Não estamos brigando – Ozzy já se defendeu e ri.
- Eu sei, estão sendo muito obedientes, mas não deixa de serem falsos – agora eles que riram – O que estão fazendo aqui? Ainda falta uma hora pro ensaio.
- Já escolhi minha música! – Parvati saltou do piano, animada – Queria que você ouvisse e me ajudasse com a melodia, porque mudei ela toda.
- Claro que você mudou. Qual é a música?
- Baby It’s You, dos Beatles. Vai me ajudar, não é?
- Claro, mas primeiro vocês vão me ajudar – expulsei Ozzy do piano e tomei meu lugar – Temos que fazer dessa música algo bonito e tocado no piano.
- Kayne West? – Ozzy pegou o papel e riu – Boa sorte.
- Já tenho uma idéia de como pode ser o refrão – Lenneth sentou ao meu lado no piano – Algo mais ou menos assim.

Ela começou a tocar e cantar a estrofe que tinha criado e todo mundo reagiu igualmente surpreso. Primeiro porque não sabíamos que ela tocava piano e segundo porque ela havia criado sozinha uma melodia linda. Quando parou de tocar, parecia tímida ao ver nossas reações.

- Não sei tocar e cantar ao mesmo tempo – ela encolheu os ombros – Ficou bom?
- Ficou ótimo! E você pode cantar e tocar ao mesmo tempo perfeitamente bem. Sua apresentação vai ficar muito melhor se for você mesma ao piano.
- Mas eu não toco tão bem quanto você, sei apenas o básico.
- Não tem problema, temos duas semanas para ensaiar. Se você conhece todas as notas, pode tocar a música. Vamos criar o resto da melodia e então você vai aprender a tocá-la.

Lenneth concordou, embora ainda parecesse incerta de que conseguiria, e começamos a trabalhar no arranjo da música. Com todo mundo dando palpite, antes dos outros chegarem já tínhamos ele todo pronto. Deixei Ozzy a ajudando a escrever a partitura e comecei a ajudar Parvati no arranjo da sua música. Quando ela começou a cantar o que tinha criado percebi que teríamos que começar do zero, mas mais uma vez quatro cabeças pensam melhor que uma e quando todo mundo finalmente chegou, já tínhamos uma boa idéia de como poderíamos fazer. Anotei o progresso que fizemos e prometi que ficaríamos depois do ensaio para finalizar.

- Ei Robbie, temos uma aluna nova! – Oleg vinha arrastando Julie pela mão.
- Pensei que ia pensar durante o verão.
- Todo mundo falou tão bem do primeiro ensaio que acabaram me convencendo a me inscrever logo.
- Ótimo! E já tem alguma idéia do que quer fazer?
- Nenhuma – e todo mundo riu.
- Fique pensando um pouco então e já presto socorro. Leo, já decidiu sua música?
- Ainda não, são tantas tão boas! – e sacudiu a mão cheia de partituras.
- Então também fique ai de castigo pensando um pouco. Alguém já escolheu o que quer fazer?

Liseria levantou a mão empolgada e a chamei pro palco. Tinha escolhido cantar Let It Be, e como a música já tem um arranjo perfeito, tudo que tivemos que fazer foi ensaiar e acertar a afinação. Finn foi o próximo e como ele sabia tocar piano, já tinha uma boa noção de como ia se apresentar. Escolheu Dream a Little Dream of me e tudo que tive que fazer foi instruí-lo em uma ou outra nota. Oleg continuava sem saber o que cantar, mas quando descobri que ele tocava violão consegui convencê-lo a cantar Elvis, Can’t Help Falling in Love with You. A versão só com o violão ficou muito bonita e mostrava um lado de Oleg que não estávamos acostumados a ver.

Quando ele desceu, chamei Julie. Ela ainda não sabia o que podia cantar, mas já tinha pensado em alguma coisa por ela. Sugeri uma música do No Doubt chamada Don’t Speak. Por sorte ela já conhecia a música, então foi só se assegurar de que sabia a letra completa e acompanhar o arranjo sem sair do tom. O resto do ensaio foi pra acertar o tom com quem já tinha escolhido a música no anterior e às 21h todo mundo começou a ir embora, menos Parvati e Leo. Parvati já estava comigo no piano terminando de criar os arranjos da música que tinha escolhido quando vimos Leo saltar da poltrona de repente.

- Robbie, Robbie! – ela subiu correndo no palco – Já sei o que cantar! – e me atirou a partitura.
- Anyway? – me surpreendi – Ótima escolha, essa música é linda e Martina McBride arrasa.
- Eu arraso mais – disse convencida e rimos – Quero só o acompanhamento do piano, sem banda. Acho que fica melhor assim, não concorda?
- Sim, muito melhor. Vamos começar – bati no banco do meu lado e ela se acomodou.

Sem precisar alterar melodia, em um instante tínhamos a apresentação montada. Leo tinha uma boa potencia vocal e usou e abusou disso no refrão, alcançando notas altas com uma perfeição de dar inveja. Ela e Parvati tinham um jeito diferente de cantar, mas eram igualmente potentes. Enquanto Parvati fazia mais o tipo de uma mistura de jazz, blues e rock, com uma voz meio rouca, Leo fazia mais o estilo diva, com canções que a permitiam atingir as notas mais altas possíveis.

Ficamos no teatro até quase 23h, só nós três. Parvati ensaiou a música, agora com o arranjo pronto, pelo menos cinco vezes até julgar que estava perfeita. E estava. Era uma coisa que admirava nela, aquele comprometimento com o que estava fazendo. Ela se envolvia tanto com a música que nos fazia acreditar nas palavras ditas.

Depois de repassar suas apresentações milhares de vezes, elas me ajudaram a ensaiar e aperfeiçoar a minha. E era importante que nada desse errado, afinal, a música tinha um grande significado pra mim. Depois acabamos deixando as apresentações de lado e engatamos um papo animado sobre nossa viagem à Nova York. Íamos apenas nós três para uma viagem de compras, na segunda semana de férias, e eu já estava desesperado para respirar um pouco do ar da cidade que nunca dorme. As férias iam começar com o pé direito.

Thursday, June 23, 2011

Acordei animada naquela quinta-feira. Os simulados eram história. Passado, tinham acabado, e não ouviria mais falar deles. Todo o terrorismo e pressão para não ficarmos para o curso de verão tinham ficado para trás. As notas sairiam naquela tarde, mas não estavam mais tirando meu sono.

Ainda tinha meia hora antes da aula de Alquimia e fui para a biblioteca encontrar Leo e Robbie. O diretor havia avisado que pregaria no quadro de lá os resultados. A biblioteca estava abarrotada de gente, todos espremidos em frente ao pequeno mural. Parei ao lado de Leo, que observava aquela aglomeração com cara de quem não ia encará-la, e Robbie saiu todo amarrotado do meio das pessoas, abrindo caminho para que passássemos.

- Ai, para de empurrar! – resmunguei quando levei uma cotovelada – São só notas, não estão distribuindo ouro!
- Já viu sua nota? – Leo perguntou irritada para uma menina da nossa turma e ela fez que sim – Então sai daqui, está atrapalhando os outros!
- Se tirou menos que A não adianta ficar plantada na frente do mural, a nota não vai mudar com magia e livrar você do curso de verão – empurrei a menina pra trás e ela saiu chorosa, com um papel com suas notas medianas rabiscadas.
- Aqui, achei nossos nomes! – Robbie apontou pro meio do pergaminho – Adivinhação O, Alquimia O, DCAT O, Feitiços O... – ele correu o dedo pelo resto das matérias – É, parece que tiramos O em tudo. Nada de curso de verão!
- Que maravilha! – Leo disse cínica, e sorri debochada pra ela. Um garoto do nosso lado estava com os olhos marejados encarando um T em Poções.
– Sinto muito, Stevie. Devia ter feito como nós e estudado mais, mas boa sorte nas aulas em Julho! – disse dando-lhe um tapinha nas costas e ele não conseguiu evitar que começasse a chorar.
- Vamos embora – Robbie agarrou nossas mãos e nos rebocou pra longe da multidão. Só quando já estávamos sozinhos Ele parou – Não fiquem fazendo graça, alguém pode ter nos visto e dedurar.
- Deixe de ser cagao, Robert! – o repreendi e ele fez uma careta – Ninguém viu. Se tivesse visto, já teriam dedurado.
- Sim, que agente secreto de meia tigela é você? – Leo engrossou o coro – Relaxe um pouco! Está livre desse curso idiota e já de férias. As melhores notas estariam isentas das provas, esqueceu?
- Não, não esqueci, foi o que me motivou a ir adiante com isso.
- Já terminou de preencher a pasta roxa, Mira? – ouvimos a voz da professora Ferania e ao ouvir “pasta roxa”, minha reação automática foi puxar os dois para trás da estante mais próxima – Ainda não terminei a avaliação da última aula e o diretor a quer de volta até amanhã.
- Ai, desculpe! – agora era a professora Mira que falava – Terminei hoje cedo, mas esqueci na minha gaveta. Estava preenchendo um relatório nela sobre alguns aborrecimentos na minha aula com alguns alunos, especialmente a garota Karev.
- A loirinha? – Robbie apontou pra mim e bati em sua mão. Sabia que estava falando de mim antes de ouvir “loirinha” – Ela não é fácil mesmo, tenho muitas anotações destacadas, mas a sua fiel escudeira também está emparelhada no topo das reclamações – Robbie tapou a boca para não rir, apontando para Leo. Ela fez uma cara feia.
- Vamos até minha sala e lhe entrego a pasta. Ele vai fazer um relatório para cada aluno se baseando nas nossas anotações e ler para os pais. Essa reunião vai ser longa... – e as vozes foram diminuindo, até sumirem da biblioteca.
- Fiel escudeira? – Leo praguejou quando saímos de trás da estante – Eu vou dizer a ela quem é fiel escudeira!
- Se acalma, braço direito da Rainha Parvati – Robbie debochou e Leo lhe acertou um tapa no braço – Ai! Isso doeu!
- Calma, Leo. Temos problemas maiores do que ela achar que eu comando alguma coisa. Se nossos pais ouvirem esses relatórios, podemos dar adeus às nossas férias. Eu diria até que podemos dar adeus às nossas vidas fora de Durmstrang.
- E o que você sugere, Vossa Graça? – Leo falou em tom de deboche, ainda irritada. Robbie soltou uma gargalhada.
- Temos que pegar essa pasta, antes que ela chegue às mãos do diretor.

Leo perdeu o ar irritado e passou a assumir um pensativo, como se estivesse rapidamente maquinando um plano para que tivéssemos a pasta em nossas mãos. Robbie, que é bem moreno, foi perdendo a cor aos poucos e nada falou. Era arriscado, inconseqüente e poderia nos levar à expulsão, mas eu preferia morrer tentando a deixar que me fuzilem enquanto estou confortável no meu esconderijo. Aquela pasta tinha que ser destruída.

ººººº

Não prestamos atenção em nenhuma aula que se seguiu depois que saímos da biblioteca. Sequer sei o que o professor Reno falou na aula de Alquimia, e menos ainda sei o que era a planta que a professora Neitchez estava mostrando a turma na aula de Herbologia. Tudo que Leo e eu conseguíamos pensar era em como íamos tirar a pasta das mãos da professora Ferania. Ainda não tínhamos um plano bolado, mas duas certezas: isso tinha que acontecer ainda hoje e dessa vez deixaríamos Robbie de fora. Enquanto discutíamos a idéia a caminho das masmorras ele vinha pálido ao nosso lado, repetindo em voz baixa que íamos ser expulsos da escola e seu pai ia matá-lo. Pela bem na nossa amizade, ele ia ficar longe de toda a ação.

Quando o sinal tocou nos liberando para o jantar saímos em disparada da estufa. Eram 17h. Tínhamos até as 18h para estar com aquela pasta nas mãos, antes de encontrarmos o resto do pessoal para outro ensaio com o Robbie no teatro. Dispensamos ele assim que saímos, e ele agradeceu ainda pálido, sumindo na direção do salão principal para o jantar. Podia apostar que ele ia vomitar a primeira coisa que tentasse comer, de tão nervoso que estava. Decidimos que não daria tempo de bolar algum plano bem arquitetado, então marchamos rumo ao 4º andar. A sala da professora Ferania ficava lá, e sabíamos que estava dando aula, então só podia estar lá dentro.

Espiamos pela porta e vimos uma grande confusão dentro da sala. Ela dava aula para uma turma do 2º ano que estava fazendo uma verdadeira bagunça. Enquanto a turma quase destruía tudo, ela se dividia entre controlar a confusão e preencher a maldita ficha. Continuamos em pé do lado de fora vigiando. Depois de um tempo ela parecia ter terminado de preencher tudo e fechou a pasta. Abriu a gaveta para guardá-la, mas antes que o fizesse alguns alunos levantaram e correram até a mesa dela com pergaminhos e livros nas mãos, pedindo ajuda em algum dever. Vimos nossa chance naquele momento.

- É agora ou nunca – falei entrando na sala com Leo.
- Professora! – Leo puxou o livro da mesa do menino que estava sentado perto da porta e abriu em uma pagina qualquer – Não entendi uma coisa do trabalho que passou terça e não sei o que fazer! – ela atirou o livro na mesa fazendo um estrondo e assustou algumas das crianças.
- Srta. Ivashkov, estou no meio da aula do 2º ano, isso não pode esperar um pouco? – Ferania falou atarefada, tentando atender todos ao mesmo tempo.
- Não dá, professora! – Leo bateu no livro, usando toda sua experiência com teatro para parecer uma louca desesperada – Isso é muito complexo e tenho terminar isso hoje, tenho mais um montão de coisas pra fazer das outras matérias!
- Ok, qual é a duvida? – ela se rendeu, e as crianças em volta da mesa começaram a protestar.

Leo lançou a elas sua melhor cara de má e elas acalmaram um pouco, mas continuaram em cima sacudindo seus livros. Aquilo me deu a oportunidade de me aproximar da mesa sem ser notada, e enquanto Leo gritava cada vez mais enlouquecida que não entendia nada sobre aquele monte de astros, fiz delicadamente a pasta deslizar de cima da mesa para dentro da minha mochila. Ninguém notou. Ferania estava ocupada demais tentando acalmar uma Leo descontrolada e prestes a cair no choro e as crianças estavam hipnotizadas vendo uma aluna mais velha que eles deixando bem claro que, em alguns anos, elas também iam chorar com aquela matéria.

- Ah, deixa pra lá, vou repetir nessa coisa mesmo! – Leo fechou o livro bruscamente quando me viu já do lado de fora – Isso é muito complexo, professora!
- Não precisa entrar em pânico, eu posso explicar com mais calma depois da aula.
- Não, não precisa! Vou pedir ajuda a algum amigo que tenha entendido isso. Vou dar um jeito, não se preocupe – e saiu da sala secando as lágrimas falsas.
- And the Oscar goes to... – falei quando ela se juntou a mim do lado de fora e rimos.
- Ia começar a puxar os cabelos se você demora demais. Pegou a porcaria da pasta?
- Sim, está na mochila. Vamos embora.

Queríamos espiar o que tinha dentro da pasta, mas precisávamos sair dali primeiro. Fomos direto para o teatro, ainda vazio. Sentamos na última fileira e abrimos a pasta com tanta pressa que quase a rasgamos. Passamos algumas das fichas que estavam na frente, vimos elogios a alguns alunos e criticas a outros, e chegamos à ficha de Leo. Ela arrancou da minha mão e amassou o papel todo.

- Encrenqueira, provoca alunos mais novos, desrespeito às regras... – ela ia lendo em voz alta algumas das anotações – Se minha avó ler isso vou morrer antes dela.
- Achei a minha – puxei minha ficha da pasta e passei o dedo nela – Provoca alunos mais novos, desrespeito às regras, blábláblá, a mesma coisa que você... – sacudi a folha e vi que eram três delas, cheias de reclamação – Faz bagunça em sala, lidera massas... Lidera massas?
- É, você lidera massas quando quer... – Leo concordou e começamos a rir.
- Isso é ridículo, não temos um único elogio.
- Isso te surpreende? – fiz que não e revirei os olhos – Não podemos simplesmente arrancar as nossas fichas e devolver o resto, vai ficar obvio demais.
- Concordo. Vamos queimar tudo.

No momento que íamos levantar das poltronas para sair, a porta do teatro abriu. Levamos um susto tão grande que deixamos a pasta cair no chão e as fichas voaram pra todo lado. Ozzy entrou e viu a bagunça. Ele fez menção de nos ajudar, mas logo entendeu que era melhor não botar as mãos no que quer que estivesse espalhado.

- O que está fazendo aqui tão cedo? – perguntei na defensiva.
- Vim ensaiar um pouco antes – ele respondeu já se afastando – Não se preocupem. Não vi nada.

Ozzy continuou caminhando até o palco e se acomodou atrás da bateria, começando a trocar sem dar importância ao que estávamos fazendo. Recolhemos tudo do chão depressa e saímos correndo de lá. Não sabia até onde ele tinha visto o que tínhamos nas mãos, mas era melhor que fizesse de conta que não tinha visto nada mesmo, ou ia se arrepender. Invadir o escritório do diretor e roubar documentos da escola não era nada perto do que ia fazer com ele se nos dedurasse.

Monday, June 20, 2011

- Vocês não podem ficar brigados para sempre. – Oleg falou se jogando em uma das camas da república. Estávamos chegando do treino de hockey no final da noite, todos cansados.

- Eu sei que não, mas ela é mais teimosa do que eu! Eu não vou me desculpar por algo que eu não fiz. – Respondi teimoso e todos riram, enquanto tirava as luvas do uniforme.

- Você pode não ter feito, mas ela acha que fez. – Finn falou dando de ombros.

- E se tem uma coisa que eu aprendi com garotas é que mesmo que você esteja certa, se elas acharem o contrário, você só fica em paz se concordar com elas. – Jack falou rindo e todos rimos com ele.

- Isso é bem verdade. – Eu concordei. – Mas a Liseria tem que aprender a ser menos ciumenta! A Lenneth é só minha amiga.

- Longe de mim querer concordar com a Liseria, mas vocês exageraram. – Ozzy falou e eu olhei chocado para ele.

- É concordo. Cantar aquela música daquele jeito todo meloso criou um clima enorme no teatro. – Orion falou, mexendo em sua mochila. Parecia que ele estava conferindo se um bloco de anotações estava ali.

- Todos ficaram comentando que vocês faziam um belo casal. Imagina o que a Liseria, e o próprio Patrick sentiram. – Alec falou e eu comecei a pensar, mas não queria dar o braço a torcer.

- Tá bom, pode não ter sido a escolha perfeita para a ocasião, mas não muda o fato de que a Liseria está sendo infantil! A Lenneth é minha melhor amiga.

- Eu sei disso. Convivo com vocês há anos, esqueceu? – Ozzy falou. – E sei como a amizade dela é importante.

- Mas o amor que sente pela Liseria também é importante. Acho que devia falar com ela. – Jack falou e eu assenti. Apenas Odin sabia como sentia falta da Lis.

- Afff começaram a falar de amor? Depois dessa vou dormir. – Orion falou carrancudo, jogando-se na cama dele. Eu o ignorei.

Continuamos a falar mais um pouco antes de dormir, enquanto Orion ficava tentando nos ignorar e nos fazer mudar de assunto. Passamos a falar também do Finn, pois desde que a Leonora começara a namorar o Mitchell, Finn estava morrendo de ciúmes, mas parecia não querer admitir.

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A briga com Liseria já durava 3 semanas.

Durante essas 3 semanas quase não nos falamos, apesar de eu ter tentado falar com ela logo após a briga. Mas ela era teimosa e não quis e eu decidi que não ia tentar novamente, até ela dar o braço a torcer e me pedir desculpas. Mas estávamos tanto tempo longe que eu estava cansado dessa briga. A briga começava a atrapalhar nosso dia a dia também, já que não conseguíamos nos concentrar em outras atividades. Principalmente no Jornal em que éramos colegas de trabalho.

E como eu sentia a falta dela. Me acostumei a todos os dias ir buscá-la na república e ir conversando até as aulas, de mãos dadas e juntos. Havia muita empatia e carinho entre nós e nosso amor era intenso. Sentia falta da forma como ela brigava comigo quando a queria abraçar logo depois do treino, ou como brigava comigo quando comia demais. Sentia falta de sua risada das minhas histórias e contos. Sentia falta do modo como ela opinava em meus textos, sempre me ajudando a crescer e me desenvolver. Como sentia falta dela.

E também por causa da briga, acabou que eu e a Lenneth nos afastamos um pouco. Patrick também não gostara da música que escolhemos, mas eles já haviam retomado o namoro e agora ela o estava treinando para entrar no Clube de Alquimia avançada.

Eu e ela havíamos decidido ficar um pouco afastados, primeiro para não dar motivos aos nossos respectivos companheiros de terem suspeitas, infundadas eu sei, mas ainda assim achamos melhor não dar motivos. Além disso não queríamos criar mais boatos do que já circulavam pelo colégio sobre estarmos juntos. Nem eu nem ela nos importávamos com isso, mas novamente, decidimos pensar em nossos companheiros.

E tinha um problema nisso tudo: eu estava sentindo falta da Lenneth. Eu tentava dizer a mim mesmo que era apenas como amigo, pois ela era como minha irmã mais nova, mas no fundo eu percebia algo mais. Mas tentava com todas as forças ignorar isso, supondo que era culpa de Reno e Ferania que tinham insinuado que éramos mais que amigos. Mas droga, estava com ciúmes da Lenneth.

Decidi engolir o orgulho e dar um fim nisso tudo e por isso procurei Liseria logo cedo em frente a sua república.

Mal eu chegava lá, encontrei com Patrick que ia buscar Lenneth também. Trocamos um olhar meio sem jeito um com outro: ele sem querer demonstrar mais do que companheirismo e eu sem querer demonstrar os meus sentimentos conflitantes.

- Bom dia, soube que o Reno está dando testes absurdos para você e para a Parvati, não? – Eu puxei uma conversa enquanto caminhávamos. Ele assentiu e respondeu rapidamente.

- E como, não imaginava que seria tão difícil. Mas quero passar mais tempo com a Lenneth e ela tem me ajudado.

- Fico feliz, ela é uma boa professora. – Não falamos mais nada até a porta da república e Lenneth já estava ali fora, esperando por ele. Ela me lançou um sorriso tímido e beijou Patrick, saindo com ele, mas antes me dizendo que Liseria já estaria saindo. Tentei ignorar a vontade de afastá-la dele.

Lis realmente saiu logo em seguida, acompanhada por uma de suas amigas. Assim que ela me viu apoiado em uma das pilastras da república, ela prendeu a respiração, enquanto sua amiga me olhava de cima abaixo.

- Queria falar com você, podemos conversar a sós? – Eu perguntei, mantendo minha voz calma. Ela assentiu e se despediu da amiga.

Ela em seguida passou por mim e fomos caminhando meio sem rumo, sem nos falamos ainda. Eu não conseguia parar de olhá-la de lado, com vontade de ter suas mãos entre as minhas novamente. Notei que ela também me lançava olhares às vezes, mas mantivemos a distância entre nós.

Sem percebermos muito bem, talvez porque era um lugar importante para nós dois, chegamos a um pequeno mirante a meio caminho do castelo, porém meio afastado da trilha principal. Foi ali onde ficamos pela primeira vez e onde a pedi em namoro. Reparei que ela percebeu isso, enquanto cruzava os braços e me encarava.

- O que você quer? – Ela perguntou, me olhando nos olhos. Ela estava linda. Eu respirei antes de começar.

- Eu queria... – Eu comecei, mas agora tudo que havia pensado em falar sumiu da minha mente. Respirei novamente e para meu espanto os dois falaram juntos.

- Queria pedir desculpas./Queria me desculpar. – Nos olhamos rapidamente e depois ela desviou o olhar rapidamente.

- Eu fui um idiota com você. Você tinha motivos suficientes para ficar irritada.

- Eu que fui uma criança. Você estava certo, não confiei em você... – Ela falou e eu me aproximei, segurando sua mão.

- Não queria te deixar triste, era a última coisa que eu gostaria. Não imaginei que ficaria tão sentida com aquela música.

- O problema não é apenas a música, e que ela não me ouça, ou a Lenneth. É minha insegurança. Vocês cresceram juntos, são como irmãos e eu fui uma idiota de duvidar de você. Ela passou as duas últimas semanas me falando isso. Conversamos muito...

- Vocês conversaram? – Eu perguntei, curioso e impressionado. Lenneth não me falou nada sobre isso.

- Ela quis pedir desculpas também. Mas vocês não tinham nada que se desculpar. Eu fui uma boba, uma criança... Vou entender se você não quiser mais nada comigo. – Ela falou, e vi que tentava ser forte, me olhando nos olhos, mas podia ver como ela estava triste.

- Isso é a última coisa que eu gostaria. – Eu falei, apertando suas mãos com força e me inclinando para beijá-la. Ela não recuou e trocamos um beijo de leve, de início, mas depois ela passou os braços pela meu pescoço e eu por sua cintura e nos beijamos longamente. A levantei do chão, abraçando-a e rodopiando alegre. – Me desculpe. Não sabe como senti sua falta.

- E eu a sua. – Ela falou, sem afastar o rosto. Nos beijamos por mais alguns minutos, até percebermos que ainda tínhamos que ir para o castelo.

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Entramos no castelo de mãos dadas, sorrindo como não sorríamos a muito tempo. Todos que viam aquilo nos acenavam e riam, e os garotos logo vieram me dar os parabéns por termos finalmente reatado. Depois encontramos com Julie e Lenneth durante uma aula e pela primeira vez nesses anos vi Lenneth e Liseria trocarem um abraço forte e amigo de verdade.

Ainda conversávamos nós quatro quando um garoto da Kronos passou por nós conversando com um amigo. O nome que eles falaram chamou minha atenção.

- Não sei quem escreveu isso, mas é muito bom. E o nome tem um toque forte. Taugor!

Eu conhecia aquele nome. Fora eu que tinha criado-o. Me afastei delas e fui atrás do garoto, enquanto elas me olhavam curiosas. Segurei o garoto pelo ombro e perguntei quando ele se virou para mim.

- Desculpe, não pude deixar de ouvir, que nome vocês falaram?

- Taugor. Por que?

- Onde ouviu esse nome?

- Está no jornal que saiu hoje de manhã.

- No jornal?

Eu perguntei curioso e ele me estendeu sua cópia, me perguntando como eu não saberia se eu era membro do jornal. Corri os olhos pela página 5 rapidamente, parando em uma coluna que não estava ali quando vi a última versão do jornal no dia anterior. Ela tinha o título de “Contos de Antares” e um subtítulo de “A Lenda de Taugor”. Eu lia o texto rapidamente, reconhecendo cada frase, cada letra. Eu havia escrito aquele texto e não autorizara sua publicação.

- Lu, o que houve? – Liseria me perguntou preocupada e eu entreguei o jornal para ela. Lenneth estava logo atrás dela, assim como Julie.

- Não sabia que você tinha publicado seu “Lendas de Taugor”. Foi quando estávamos brigados? – Liseria perguntou.

- Você também não me contou, e todos estão gostando, parabéns! – Ela falou, sorrindo, mas eu as olhei incrédulo e talvez até com raiva, não delas mas do jornal.

- Eu não publiquei nada e alguém me deve uma explicação. – As duas então entenderam o que isso significava, mas Julie ainda ficou um pouco sem entender. Eu falei que mataria aquela aula e as encontraria depois e sai dali furioso, indo procurar o Ozzy e depois o Lukas, eles poderiam me ajudar a descobrir o que acontecera. Eu não perdoaria quem quer que fosse o responsável por aquilo.

Thursday, June 16, 2011

Por Robbie von Hoult

O teatro estava vazio quando entrei. Ainda faltavam alguns minutos para o pessoal chegar para o nosso primeiro ensaio, mas quis chegar antes. Aquele era o único lugar que me deixava totalmente à vontade e ter o teatro só pra mim, naquele silêncio todo, era algo raro. Caminhei até o palco e sentei atrás do piano, levantando a tampa. Quando meus dedos tocaram as teclas e as primeiras notas ecoaram, me senti em casa. Comecei a tocar Sonata ao Luar, uma das minhas sonatas favoritas do Beethoven, e me assustei ao ouvir alguém batendo palma quando terminei.

- Uau! – Ozzy vinha caminhando sozinho na direção do palco – Eu sabia que você era bom, mas isso foi incrível. Não sabia que tocava piano tão bem!
- Obrigado. Minha avó paterna era professora de piano e me começou a me ensinar quando tinha 5 anos. Chegou cedo, ainda faltam quase 10 minutos pro horário marcado.
- Imaginei que você já estaria aqui e resolvi vir antes do tumulto começar. Preciso de ajuda extra, não faço a menor idéia do que cantar.
- Podia esperar qualquer um preocupado com a apresentação, menos vocês – ele riu.
- Não sou e nem pretendo ser um cantor profissional, mas é por uma boa causa e vai ser divertido, quero me sair bem.
- Justo – fiz sinal para ele se aproximar e Ozzy puxou um banco para perto do piano – Ouvi seus trabalhos da professora Yelchin o ano inteiro e acho que você pode cantar algo bem tranqüilo, que possa ser acompanhado apenas por um piano. Sua voz é boa pra isso. Não fica bom quando você inventa demais, o simples é sempre uma opção segura quando não se sabe o que fazer.
- Certo, nada de firulas. E o que você sugere? – estendi uma partitura para ele – Your Song? Quer que eu cante Elton John? Se eu for mal, vou ser sempre lembrado pelas turmas de artes como o garoto que estragou uma musica do Elton John.
- É pra isso que servem os ensaios. E eu confio no meu julgamento. Vamos começar, acompanhe a melodia do piano.
- Robbie, pensei que ia ajudar Leo e eu hoje! – a voz de Parvati interrompeu o que deveria ser o começo do ensaio e Ozzy quase saltou do banco – O que ele está fazendo aqui?
- O que ela está fazendo aqui? – Ozzy já a encarava de cara feia.
- Eu sou um só e não é a coisa mais fácil do mundo reservar o teatro só pra mim, então vou ajudar todo mundo de uma vez só. Todos que me pediram ajuda vão estar aqui hoje e eu não quero ver brigas.
- Eu não vou colaborar com isso – Parv já resmungou.
- Muito menos eu! – Ozzy emendou.
- Vão sim, se quiserem minha ajuda! – levantei a voz e eles se assustaram – Eu não me importo que vocês se odeiem e nem me interessa saber o motivo, mas se não quiserem fazer a audição sem ter um mínimo de treino ou ajuda minha, é bom começarem a colaborar. Vamos todos trabalhar juntos e eu não quero ouvir um único comentário negativo aqui dentro! O primeiro que falar alguma coisa ofendendo o outro vai ser expulso daqui, e eu não vou pensar duas vezes se quem soltar algum insulto for você, Parvati! A regra vale para os dois! Então, vão cooperar ou já vão me poupar tempo e ir embora?
- Vamos cooperar – os dois disseram ao mesmo tempo, num tom de voz baixo.
- Ótimo, bons meninos. Parv, vá sentar que vou ajudar ele primeiro, já que ele chegou antes. Você é a próxima.

Parvati ocupou uma cadeira na primeira fila do teatro meio contrariada, mas não ousou testar minhas palavras. Ozzy sentou outra vez com a letra da música na mão e parecia bem tenso. Comecei a tocar no piano e apesar de um começo mais rígido, ele aos poucos foi relaxando e entrou no clima da música.

- Posso falar? – Parv levantou a mão da platéia e a olhei desconfiado – Não vou dizer nada rude, é só uma sugestão.
- Ok, pode falar – e ela levantou, subindo no palco.
- No final, quando você canta “I've forgotten if they're green or they're blue”, tente estender um pouco as notas.
- Como assim? – Ozzy parecia perdido.
- Tente cantar “I've forgotten if they're greeeeen or they're bluuue”, entendeu? Estender notas. E também, quando for continuar, não cante o “Anyway, the thing is”, fale. Faça uma pausa rápida, como se estivesse dizendo essas palavras numa conversa, e então continue a música normalmente.
- Entendeu o que ela disse? – perguntei e ele fez que sim com a cabeça – OK, então vamos testar. Vou começar dessa estrofe.

Retomamos daquela estrofe e ele seguiu os conselhos dela, deixando a musica ainda melhor. Parvati sorria convencida encostada ao piano, mas não se gabou. Pedi então que Ozzy aguardasse um pouco para ver o que ela tinha planejado. Parv pretendia cantar outra música do Elton John, Benny and the Jets. Depois uma passada da música, conversamos rapidamente sobre algumas modificações no arranjo e pedi que Ozzy nos acompanhasse com uma única batida ritmada na bateria. O resultado não poderia ter sido melhor, e não só pela música que tinha ficado perfeita. Parvati e Ozzy estavam conversando na minha frente sobre o novo arranjo, como duas pessoas normais. Não sei se eles tinham percebido isso, mas não ia descobrir quanto tempo ia durar, pois fomos interrompidos com a chegada dos demais desesperados por ajuda. Chegaram todos juntos, Leo, Finn, Alec, Oleg, Jack, Lucian, Liseria, Lenneth, Patrick e Mitchell.

- O que ta acontecendo aqui? – ouvi Jack falar alto enquanto caminhava com o resto da turma pelo teatro – Estamos em outra dimensão?
- Parvati e Ozzy no mesmo palco e está tudo inteiro? – agora era Leo que fazia piada. Ela vinha de mãos dadas com Finn – É o apocalipse!
- É mais simples que o apocalipse – respondi rindo – Chama-se chantagem.
- É, temos que colaborar ou vamos ser expulsos do workshop musical dele – Ozzy respondeu descendo do palco e se atirando no assento ao lado de Lucian.
- Vocês não vão querer ver o Robbie irritado – Parv completou e sentou ao lado de Leo.
- A regra aqui é todo mundo cooperando e sem causar tumulto. Vou ouvir e ajudar todo mundo, mas vocês também precisam ouvir minhas opiniões e idéias sem dar ataque. Sem querer soar arrogante, mas já soando, meu entendimento musical é infinitamente maior do que o de todos vocês juntos, então eu sei o que estou falando.
- Aye Aye, Captain! – Oleg falou brincalhão e todo mundo imitou seu gesto batendo continência.
- Ótimo, já que estamos combinados... Lucian, vamos começar com você.

Lucian subiu no palco um pouco sem graça, ainda incerto de que aquilo ia dar certo, e sugeri que ele cantasse The Long and Winding Road, por ser uma música lenta e que o permitisse cantar sem se afobar demais. Ele acabou gostando da sugestão e Leo foi a próxima a sentar na frente do piano. Ela tinha tantas idéias do que apresentar que escolhemos começar ensaiando com I Who Have Nothing. Ficou muito bom, mas ela ainda não tinha certeza de que era a música certa.

No fim do ensaio, se juntaram a Leo no time dos indecisos: Finn, que não conseguia achar nada que agradasse, Liseria, que estava sofrendo pra encontrar a música adequada pro seu tom de voz, Lenneth que tinha ficado com a tarefa de encontrar uma música que não combinasse com ela, para então a transformarmos em algo que fosse a sua cara, Oleg, que queria cantar as músicas mais malucas que existiam e eu tinha que ficar podando e Parvati, que no tempo em que conversava com os outros pensou em mais uma penca de músicas que ficariam ótimas com a sua voz.

Dos que já tinham escolhido sua música e agora podiam se dedicar a ensaiar elas, Alec ia cantar Hey Jude, Ozzy e Lucian ficaram com as minhas sugestões, Mitchell depois de alguns testes optou por cantar One Last Breath, do Creed (e ainda ia tocar guitarra na apresentação), Patrick havia escolhido Sweet Caroline e Jack ia de Beatles, com While My Guitar Gently Weeps e um violão o acompanhando. E eu já estava decidido a cantar Bless the Broken Road, mesmo não tendo ensaiado ainda.

Encerramos os trabalhos já mais de 22h e já combinamos um segundo encontro dois dias depois, para definir as músicas dos indecisos e começar pra valer os ensaios. Estavam todos tão animados que nem parecia um grupo que vira e mexe está se desentendendo. Milagres acontecem.
OUTRAS ANOTAÇÕES DE LEONORA IVASHKOV

O fato dos simulados estarem próximos, não devia dar o direito dos professores, sem exceção, fazerem guerra psicológica para sermos aprovados, e isso estava me deixando nervosa. Não que eu fosse me matar de estudar, isso já estava resolvido mas sabe aquele clima ruim? Estava insuportável.
Fui passar o fim de semana com minha avó e quando voltei, estava mais animada. Quando entrei em meu quarto na república, encontrei Robbie esparramado em minha cama, enquanto Parv se arrumava.
- Hey! Achei que fosse demorar para chegar, estamos indo ao vilarejo, quer vir?- e enquanto eu depositava minhas coisas no chão, Robbie se aproximou curioso.
- Er...Léo...Porque você trouxe esta caixa para transportar animais?Você mata até bichos de pelúcia, não ia arriscar com um ser vivo não é?- disse Robbie e Parv parou para olhar e eu disse:
- Antes eu não tinha o animal certo, agora tenho. Apresento a vocês Mr.Deeds, ele vai morar conosco.- e abri a tal caixa, e ao ouvir um sssssssssssshhhhhhh, pulei para trás, junto com Parv e Robbie, e disse incerta:
- Ele deve estar um pouco assustado com o novo ambiente.É, só pode ser isso.- enquanto o gato após algum tempo, saía da caixa bem devagar e olhava ao redor.
- Você trouxe um gato adulto para cá? Parece que ele foi escaldado em óleo quente. Cadê os pelos? Cadê a cara de fofinho, como o gato de botas?- quis saber Parv e Robbie disse:
-É um Sphynx, é uma raça temperamental, o que deu em você?
-Ora, eu queria ter um bichinho de estimação e ele me pareceu o ideal, é de raça, tem classe.E minha avó já teve um destes, quando eu era pequena. Até hoje não entendo como ele foi sumir de dentro de casa...- e tentei pegar o gato no colo e ele me mostrou presas, arregalou os olhos, e arrepiou o couro, já que pêlo ele não tinha, como se fosse avançar. Recolhi a minha mão, que já tinha um arranhão cicatrizando:
- Mr. Deeds está nervoso…Deve ser fome…Acho que vou dar comida a ele, um peixinho talvez...- e Robbie me olhou incrédulo:
- Você não sabe o que dar de comer a ‘ele’?
- Ora, o vendedor só disse que ele era um gato ótimo, que comia de tudo e me deu até um desconto, só paguei 3 galeões por ele.
- Pelo amor de Lady Gaga, ela ainda pagou por ele.Porque isso não me surpreende?- suspirou Robbie.
- Ela não vai conseguir sequer tocar nele. Nada de peixe neste quarto, ele que coma lá fora. E já aviso que eu não vou dormir com um gato possuído, sou bonita demais para aparecer desfigurada nas paginas policiais.- disse Parv séria, e o gato dava outra daquelas olhadas maldosas.
- Ok, pode deixar, acho que ele terá mais privacidade num cantinho só para ele.
Me despedi deles, e tentei levar o gato para a cozinha. Claro que para conseguir isso, eu arruinei dois casacos, e dois pares de luva de couro de dragão.

-o-o-o-o-o-o-o-o

- Leonora...Hey, Léo, espera...- parei ao ouvir Finn me chamando.
- Por Merlim! O que aconteceu com você? Está pálida, com olheiras, está doente?
- Obrigada, Finnegan, você sempre sabe como me animar.- e ele me segurou pelos braços.
- Estou falando sério, o que aconteceu?
- Ele não me deixa dormir a duas noites, tem transformado a minha vida em um inferno, com aqueles uivos medonhos. - eu disse e acho que minha voz saiu chorosa.
- Eu vou quebrar a cara dele, quem ele pensa que é? Se vocês não estão mais juntos ele não pode te perturbar. - disse Finn irritado e eu respondi um pouco aérea:
- Robbie tem razão, Mr. Deeds não é um gato, é um ser maligno que fugiu dos infernos e veio encurtar a minha vida. E o pior, eu sempre penso que ele vai entrar no quarto à noite e me matar enquanto durmo, só por vingança.
- Quem é Mr. Deeds? E o que ele tem a ver com o fato do Callaham te perturbar?
- Enlouqueceu Finn? Estou falando do bicho que eu achei que era um gato, mas não é, Mitchell nunca me faria nada de mal. Deixa eu ir, ou vou chegar atrasada para a renião do grêmio, Parv já esta irritada por causa do gato, se eu me atrasar então...- fui embora para o castelo deixando Finn para trás.

Após a reunião do grêmio, sai da sala conversando com Parv e Robbie, sobre as idéias para o final do ano letivo, quando encontramos Mitchell parado fora da sala, e ele após nos cumprimentar pediu para conversar comigo. Eu concordei, e fiquei para trás, enquanto Robbie e Parv iam embora.
-Tudo bem com você? / Como você vai?- perguntamos ao mesmo tempo e rimos, Mitchell me encarou sério:
- Não vou me desculpar por algo que não fiz...- ele começou mas eu o cortei.
- Eu exagerei quando banquei a namorada ciumenta, não tinha este direito, peço desculpas pela cena.
- Mas você e o Finn não estão juntos, não é?
- Continuamos amigos. E espero ser sua amiga Mitchell, você é um cara legal e o tempo que passamos juntos...- e ele segurou as minhas mãos, me puxando para ele.
- Foi demais, Leonora.Eu queria...- nesta hora Finn se aproximou e me chamou:
- Hey Leo, tudo bem por aqui?
- Claro que está tudo bem, Finn. A gente se vê por ai, cowboy.- eu disse antes de me afastar de Mitchell e ir embora com o Finn.
Durante o trajeto, Finn e eu começamos a conversar, e quando vi nossas mãos estavam entrelaçadas, ao chegar perto da república, ele me puxou e ficamos bem próximos, eu acabei estremecendo, ele quis saber:
-Com frio ou com medo do gato?- e eu respondi dramática:
- Ele me odeia, Finn. Um dia você vai ler no jornal que meu rosto foi todo desfigurado enquanto eu dormia. Você pode me emprestar um dos seus capacetes?- e ele riu me puxando para mais perto e me beijou. Quando me soltou eu disse:
- Foi um bom beijo, mas, ele não é um escudo contra o Mr. Deeds.
- Ele se foi, dei um jeito nele enquanto você estava na reunião do grêmio. Você vai poder dormir sossegada.- e arregalei os olhos:
- Como assim se foi? Você o matou?Que horror! Isso vai dar encrenca. Mas…Foi rápido? - quis saber sem esconder um sorrisinho de alívio, e Finn riu:
- Eu o dei para o dono da loja de animais. Ele adorou o bichano, e o gato se sentiu em casa, pulou no colo dele e não saiu mais.
- Ele pulou no colo do homem e não o arranhou todo? Peraí! Você deu o meu gato para aquela lojinha pobre do vilarejo? Finn, aquele gato me custou 3 galeões, uma fortuna...- bufei e ele respondeu:
- Acho que continuar sem dormir por causa dele, só 3 galões não vão pagar os seus vários cremes para tratamentos estéticos não é? – e como arqueei as sombrancelhas ele explicou:
- Conviver com Robbie, não me faz ser um total leigo sobre o universo das garotas. E acho que mereço um obrigado, por te ajudar com um problema da melhor forma possível e não uma bronca.- e eu acabei dizendo:
- Ok! Muito obrigada. - Tentei ir embora, mas ele me segurou:
- Você precisa entrar agora?- e passou as mãos pelos meus braços, e eu disse tensa:
- Gosto de você, mas eu mereço muito mais do que uns beijos escondidos hoje e amanhã você vai agir, como se eu fosse apenas a sua amiga, só para não queimar o seu filme com os garotos. Agradeço sua ajuda com o gato e...- ele me interrompeu:
- Gosto muito de você, e quando ficamos no fim do ano, isso só aumentou, só que foi mais fácil agir como um idiota e não dizer nada, os garotos diziam que eu devia ir atrás de você.
- Que garotos?- quis saber e ele explicou:
- Bem, Lucian e Jack diziam, já o Ozzy você sabe...é o Ozzy. Então quando a vi com o Callaham, achei que você estivesse apaixonada, e fiquei na minha, embora a minha vontade de soca-lo fosse imensa. E já que vocês não estão mais juntos...Gostaria de tentar?- e eu estava tão pasma que perguntei:
- Tentar o que?
- Namorar comigo Léo, você quer?- eu estava sem palavras e só me vi assentindo com a cabeça.
‘OI? Finn quer me namorar? E tem a aprovação dos amigos? É sério isso?’ “Mitchell, você é um gênio’.- era o que eu pensava antes de Finn me beijar novamente.

Thursday, June 09, 2011

- Estou entediada, não acontece nada legal!- disse enquanto esperavamos o momento de irmos para a sala de aula da professor Messic. Estavamos afastados dos outros alunos pois aproveitavamos o tempo para comentar as proximas noticias da nossa coluna no jornal.
- Com a falta de tempo que temos, como você pode estar entediada? Pirou?- disse Robbie e Parv, disse:
- É este o problema, muita obrigação e pouca diversão.- nesta hora vimos uma menina do 4°ano vindo em nossa direção, toda distraída, segurando o que parecia ser um bolinho de amora. Na mesma hora, Parv e eu trocamos sorrisos malvados. A garota passou perto e estiquei meu pé e ela tropeçou, sem cair.
- Opa! Aonde você pensa que vai com este bolinho, Stevens? África?- disse puxando o bolinho da mão da garota do 4º ano, que era de uma das repúblicas inimigas.
- Nunca te disseram que açucar demais estraga os dentes? Já devem ter dito, ou você não usaria aparelho ainda nesta idade. Coitada, desenvolvimento retardado. - disse Parvati e rimos, enquanto a menina começava a ficar com as bochechas vermelhas e disse:
- Devolvam, eu não almocei direito...- a voz dela tremeu e eu a imitei com voz infantil:
- ‘devolvam, eu não almocei direito....’, como se pular uma refeição fizesse falta a você. – e quando ela veio tentar pegar de mim, joguei para Parv, que acenou com o bolinho e quando a garota, foi atrás, ela jogou para Robbie, que embora não dissesse nada, ria e o devolveu a mim, brincamos de fazê-la de bobinho por um tempo, e a menina, estava cada vez mais vermelha. Quando notei que já havaim lágrimas em seus olhos, estiquei o bolinho, e quando ela tentou pegar, o deixei cair e pisei em cima:
- Veja só o que você fez! Por sua culpa, sujei meu sapato.- eu disse e a menina se ainda tentou dizer:
- A culpa é de vocês, que pegaram algo que não lhes pertencia.Vou reclamar com os professores...- e Robbie respondeu:
- Está dizendo que a roubamos? Isso é muito sério...Acho que vamos ter que te denunciar por calúnia e difamação....
- Experimenta ir reclamar de nós com alguém e você vai ver o que é avida em Durmstrang com alguém no seu pé, afinal esta escola não tem fama de ser do mal à toa.- disse Parvati olhando feio para ela:
- Ou podemos contar algum segredo...Algo como a sua paixonite secreta, por aquele menino lindinho...Acho que o bolinho era pra ele...- quando eu disse isso a garota, arregalou os olhos e começou a gaguejar:
- Não..Não falem nada....Vocês não me fizeram nada, não vou reclamar com ninguém...- e se afastou correndo de nós, e começamos a rir.
- Como você sabia do garoto Leo?- quis saber Robbie depois de rir:
- Não sabia, chutei, afinal ela está na idade da paixão platônica pelo garoto popular da sala, e já passamos por isso lembra?- e ele riu concordando, enquanto olhávamos para o grupo onde Ozzy, Finn, e Alec estavam.

-o-o-o-o-o-o-o

- Oi Leo! Aonde você vai com esta pressa toda?- quis saber Finn quando eu saía rápido naquela manhã de sábado, da república.
- Olá, Finn. Estou indo ver o jogo do Mitchell.É semi final, prometi dar apoio moral.- e ele me olhou em dúvida:
- Mas vocês não brigaram? Pelo menos, ontem eu tive a impressão que vocês não estavam mais juntos. Até achei que você estava bem melhor sem ele. - As duas semanas estavam no fim, e era a primeira vez que Finn, falava algo sobre meu namoro, pensei rápido:
- Aah é? Quer dizer, sim nós brigamos, mas acho que precisamos conversar, somos civilizados...Mas o que foi que você viu ontem?- e ele ficou meio sem graça:
- Léo, eu não quero me meter nisso, converse com o Callahan.
- Já se meteu, quando deu sua opinião sobre eu estar melhor longe do Mitch. O que você sabe?- e como ele vacilasse eu disse:
- Você é o meu amigo mais querido, Finn. – e ele colocou as mãos em meu rosto:
- Somos apenas isso Leo? Amigos?- e eu vi que ele estava bem próximo, como se quisesse me beijar. Lembrei que não poderia ceder facilmente:
- Sei que sempre posso contar com você, e se tem algo que eu deva saber sobre o meu namorado... – e ele respirou fundo:
- Não quero que você seja magoada, Leo, por ninguém.Nem mesmo por mim. – ‘ah se ele soubesse quanto já me magoou’, pensei mas segurei suas mãos e pedi:
- Conte-me, Finn.- e ele contou.

Quando o jogo acabou, o Blue Rangers, time do Mitchell, havia conseguido a primeira vaga para a final. O time adversário ainda seria decidido no jogo entre os White Knights e o Yellow Falcons. Esperei Mitchell no lugar de sempre, e ele saiu todo eufórico, e quando veio me beijar, eu o empurrei, dizendo:
- Nosso namoro acabou!
- Hã? O quê houve?
- Quando começamos este ‘namoro’ combinamos de nos respeitarmos sermos fiéis e você foi incapaz de fazer isso.
- Não, eu não fiz isso.
- Sim, você fez. Aonde você estava ontem? Disse que ficaria na república e não ficou.
- Ah, eu acabei saindo ontem e não foi nada demais...
- Pára com este teatro, eu sei que você ficou com outra garota ontem, o Finn me contou tudo, você não tem como negar.- e ele estreitou os olhos:
- Então acho melhor não perder tempo tentando negar qualquer coisa.
- Você não vai nem tentar se explicar?- eu quis saber irritada:
- O seu querido Finn já fez a sua cabeça, e você não quer me ouvir, está zangadinha porque pode estar pagando de traída para aquele mané, e você está doida para terminar comigo e correr para ele te consolar. Boa tática.– e ficamos nos encarando e eu disse:
- Não achei que você fosse deste tipo, Mitchell.
- Nem todos gostam de bancar o santo, como o senhor perfeição. Aliás, nosso tempo já estava chegando mesmo ao fim, e cedo ou tarde você ia me chutar, que bom que agora você tem o motivo perfeito. – olhei para ele e disse:
- Concordo que era uma armação por duas semanas, mas não pensei que fossemos terminar assim.- notei que algumas pessoas passavam por ali e nos olhavam. Logo a fofoca correria solta.
- Você supera, basta fazer algumas compras.- ele disse cínico e eu perdi a cabeça e o empurrei irritada, fazendo-o perder o equilibrio e ir contra a parede. Sai pisando duro e fui embora para a minha república. Não podia deixar de me congratular pela minha performance como namorada ciumenta, é claro que eu não poderia ter ciúmes dele, pois não namorávamos de verdade, o que me irritou foi ele não me avisar antes. Bem, quando a vida te dá um limão, faça uma limonada, então agora vou esperar e ver se Mitchell tem razão e Finn, virá me consolar. O pior é que mesmo sabendo que vivia uma mentira, eu me sinto um pouquinho magoada com Mitchell.

Tuesday, June 07, 2011

Quinta-feira, maio de 2015.

Um mês para as aulas terminarem. Um mês para começar oficialmente o verão. Eu já não agüentava mais assistir aula, ainda mais que em todas elas éramos lembramos sobre o simulado que ia prender quem não tirasse nota boa em Durmstrang por algumas semanas a mais. Não estava preocupado em ficar retido, sabia que ia tirar uma nota boa, mas a pressão psicológica estava ficando cansativa.

Mas se tinha uma coisa que me incomodava mais que a insistência em aterrorizar os alunos era ter perdido um duelo alquímico pra Parvati. Não me conformava de ter dado bobeira e deixado ela me vencer com um truque tão idiota e não pretendia acabar aquele ano letivo sem dar o troco. E minha oportunidade veio numa aula de alquimia normal, numa quinta-feira. O professor falava sobre duelos alquímicos com a turma, explicava como eles funcionavam para os alunos que não faziam parte do clube, e imediatamente levantei a mão.

- Professor, não seria melhor uma demonstração, para ficar mais claro pra eles? – sugeri e a turma já se agitou.
- Não é uma má idéia. Oleg, Alec, podem vir aqui, por favor?
- Na verdade... – fiz sinal para os dois sentarem e imediatamente eles entenderam onde eu queria chegar – Uma demonstração com eles é covardia, ninguém aqui nunca vai conseguir fazer o que eles fazem. Gostaria de desafiar alguém para duelar comigo, posso?
- À vontade...
- Quero uma revanche. Vamos ver se você é boa mesmo ou foi sorte de principiante – apontei para Parvati e ela levantou na mesma hora.
- Não me importo de humilhá-lo duas vezes, Lusth.
- Muito bem, vou permitir que isso vá adiante, mas sem exageros, ouviram bem? – Reno nos advertiu e assentimos – Se perceber que está saindo do controle outra vez, vocês serão punidos.

Ele desenhou os círculos alquímicos no chão com a mesma distancia de cinco metros e mandou que a turma se afastasse para nos darem espaço suficiente. Tomamos nossos lugares e o duelo esquentou depressa. Parvati me atacou muito rápido com uma língua de fogo, mas eu já esperava essa abordagem e congelei a rajada antes que ela me atingisse. Ataquei com uma lufada de ar concentrada, na tentativa de derrubá-la, mas ela tinha transmutado uma corrente de ar ao redor dela que a mantinha equilibrada.

Os alunos começaram a recuar ainda mais quando começamos a atacar e defender na base de bolas de fogo e gelo. Foram ataques ininterruptos, até que ela começou a fazer subir rochas do chão e dispará-las na minha direção. Precisei pensar rápido para criar um escudo de terra forte o bastante para me proteger, mas uma das rochas furou o bloqueio e acertou minha testa. Abriu um corte enorme e o sangue escorreu na mesma hora. Percebi que o professor ia interromper, mas fiz sinal que estava bem e limpei o sangue com a mão, irritado.

Ela percebeu que tinha ido longe demais outra vez, porque trouxe a corrente de ar de volta. Ataquei com água e quando o chão embaixo dela estava alagado, o congelei e comecei a disparar lufadas de ar para fazê-la escorregar. Ela se mantinha de pé graças a corrente que a equilibrava, mas minha intenção era apenas distraí-la com isso. Ela não conseguia sustentar duas manipulações juntas por muito tempo, então quando conjurou fogo para derreter o gelo, perdeu o controle sobre a corrente de ar. Congelei o chão depressa outra vez e antes que ela pudesse se segurar, mandei uma rajada de vento que a fez escorregar feio no gelo e cair no chão. A queda foi tão feia que ela bateu com a cabeça no chão. Jack, Leo e Robbie correram até ela.

- Já chega, vocês estão proibidos de duelarem outra vez um contra o outro – o professor fez os círculos desaparecerem e parecia irritado.
- Não era minha intenção fazê-la bater com a cabeça no chão, só escorregar.
- Não importa, vocês não tem limites.
- Quero uma nova chance, melhor de três – Parvati protestou.
- Nem pensar. – Reno cortou logo - Aceitem que um não é melhor que o outro e aprendam a lidar com isso.
- Ozzy, sua testa – Lucian apontou pro meu rosto e passei a mão nele. Estava todo sujo de sangue.
- Vá para a enfermaria dar um jeito nesse corte. Você também, Karev, melhor ver se não houve nenhum dano na queda.
- Eu estou bem, nem estou tonta, foi só uma batida – Parvati já ia se sentar outra vez.
- Não foi um pedido, foi uma ordem. Os dois pra enfermaria agora. E Lucian e Jack, venham fazer a demonstração de um duelo alquímico sem acidentes, por favor.

Saímos da sala juntos e seguimos para a enfermaria sem trocar uma única palavra. A enfermeira apenas suspirou cansada quando nos viu, examinou Parvati e depois fez um curativo na minha testa, nos liberando em seguida. Quando chegamos de volta às masmorras a aula já tinha terminado e só recolhemos nosso material. Eu podia estar com um band-aid no meio da testa, mas não poderia estar mais satisfeito.

ºººººº

Nunca achei que fosse dizer isso, mas com toda a pressão sobre as provas, a aula de artes acabou se tornando a minha favorita nesse final de semestre. Era o único momento do dia que não éramos lembrados da proximidade dos exames e qualquer coisa sobre carreiras pós-formatura.

Hoje passamos uma agradável hora ouvindo sobre como funcionava os bastidores de um concerto, mas ninguém estava entendendo muito bem porque a professora Yelchin tinha começado com esse assunto tão de repente. Se não estava perdido no tempo, até a última aula ainda estávamos debatendo sobre musicais da Broadway. Já estávamos quase no final da aula quando bateram na porta e as professoras Mira e Ferania entraram.

- Que bom que chegaram, já ia contar a eles! – a professora Yelchin falou animada, convidando as duas a subirem no palco.
- Contar o que, professora? – Oleg já levantou a mão, curioso.
- Nosso projeto para o próximo ano – ela parecia bem animada, o que instantaneamente agitou a turma – Durmstrang vai fazer caridade.
- Caridade? Como assim? – uma garota no fundo do teatro perguntou.
- O Ministério da Magia junto com o Ministério trouxa está organizando uma campanha para aproximar mais o nosso mundo do mundo deles. O projeto é simples: cada escola precisa criar uma maneira de arrecadar dinheiro para ajudar uma instituição de caridade trouxa, ao mesmo tempo em que algumas escolas trouxas cuidadosamente selecionadas precisam arrecadar dinheiro para ajudar os hospitais bruxos.
- Durmstrang sempre foi vista como a escola que não aceita os trouxas e mesmo já tendo 15 anos que a escola admite a entrada de bruxos nascidos trouxas, ainda existe uma imagem dura quando se referem a nós – a professora Mira começou a falar – Essa talvez seja a melhor forma de mudarmos definitivamente essa imagem que ainda têm da nossa escola.
- Nosso projeto vai arrecadar dinheiro para ajudar a ala da pediatria do hospital trouxa da Bulgária – agora era Ferania que falava – E também vamos fazer algumas visitas às crianças internadas nesse hospital.
- E como vamos arrecadar dinheiro? – alguém perguntou.
- Com o que vocês fazem de melhor: cantando.

O teatro virou uma bagunça. Uns riam, outros pareciam animados, outros apavorados. Eu não sabia bem em qual dos três me encaixava. Venho até me saindo bem nas tarefas que ela propõe, mas uma coisa era subir no palco e cantar na frente dos alunos que você conhece há seis anos, outra coisa é cantar pra desconhecidos. Talvez estivesse mais inclinado ao grupo dos apavorados.

- Ninguém é obrigado a participar, não é uma tarefa que vale nota, é um evento beneficente – a professora Yelchin voltou a falar quando o falatório diminuiu – Nós três, mais um convidado especial, vamos formar uma banca de jurados e vamos ouvir aqueles que querem participar em uma audição. Somente os alunos que quiserem fazer parte dos shows devem se inscrever para as audições.
- E se eu me inscrever e não passar? – Finn perguntou do meu lado.
- Isso não é o American Idol, ninguém “não vai para Hollywood” ou vai ser eliminado da competição – e todo mundo riu, até as outras professoras – Tenho confiança de que se vocês se inscreverem para as audições é porque sabem cantar, então todos que forem ouvidos terão seu espaço no evento. As audições são apenas para sabermos o quanto vocês podem fazer e então podermos determinar quem vai cantar solos, quem vai fazer duetos, backing vocal, tocar instrumentos, qualquer coisa envolvida. Nós queremos saber o que vocês sabem fazer.
- As audições serão nas duas ultimas semanas de aula, depois das provas – a professora Mira pegou um pergaminho e mostrou à turma – Os interessados podem vir se inscrever comigo. Com exceção dos alunos do 7º ano, que estão se formando em pouco mais de um mês, todos podem participar.
- E se vocês não estão certos de que querem participar, mas mudarem de idéia durante as férias, na 3ª semana de Setembro nós faremos uma nova audição para os alunos novos também terem a chance de ajudar – Ferania explicou – No entanto, essa vai ser a última chance de participar.
- E, por favor, POR FAVOR – Georgia voltou a falar e seu tom de voz era mais sério – Cuidado com o repertorio. Escolham muito bem o que vão apresentar na audição, para ninguém subir nesse palco e cantar uma música recheada de palavrão e insultos. Nesse caso, isso vai virar um American Idol e nós vamos dizer não.
- Bom, isso é tudo. Quem tiver duvida, na próxima aula vamos usar todo o tempo dela para falar sobre os shows e vocês podem perguntar o que quiserem. Agora quem quiser participar, pode formar uma fila para se inscrever.

Mira puxou uma cadeira e Ferania e Georgia começaram a organizar o pessoal que já começava a se amontoar na frente do palco. Eu continuei no mesmo lugar, ainda incerto se deveria ou não me inscrever. Alec e Oleg não pareciam ter duvidas, pois foram logo pra fila com o namorado de Alec. Jack, Julie, Finn e Lucian ficaram pra trás comigo.

- Não vai se inscrever, Ozzy? – Julie soou espantada – Você foi tão bem nas tarefas que ela passou esse ano.
- E vocês não vão? – devolvi – Você e Jack ganharam o desafio dos duetos com as suas duplas.
- Talvez nesse segunda chance em Setembro, vou pensar durante as férias – Jack respondeu e Julie concordou – E vocês dois? – virou para Finn e Lucian.
- Não sei... Acho que poderia me inscrever. Vai ser divertido, não? – Lucian deu de ombros.
- Divertido sei que vai ser, mas não tem a menor chance de subirmos naquele palco e conseguirmos algo bom pra fazer nos shows sem uma ajuda de alguém que saiba o que está fazendo – Finn completou e todo mundo acabou concordando.
- E eu sei quem pode ajudar... – falei olhando pra multidão e sai de perto deles sem falar mais nada.

Oleg, Alec e Rajesh estavam saindo do meio da confusão já com seus nomes na lista e interceptei a passagem. Os três ficaram me olhando sem entender porque eu tinha quase pulado na frente deles.

- Como está o seu nível de paciência? – perguntei a Rajesh.
- No momento, muito bom. Por que a pergunta?
- Queremos nos inscrever para as audições, mas queremos ter alguma chance de sermos mais que backing vocal, então precisamos de ajuda profissional.
- Obrigado pelo profissional – ele riu – Não sei até que ponto minha ajuda vai ser útil, mas farei o máximo que puder com uma condição.
- Diga seu preço.
- Pare de me chamar de Rajesh e me chame de Robbie, como todo mundo.
- Como quiser, Robbie! – bati em seu ombro, mas acho que coloquei força demais, porque ele fez uma careta.
- Vou falar com a professora para encontrar um horário vago que possamos usar o teatro e aviso quando vamos ensaiar. Todos de uma vez só, assim um ajuda o outro.
- Opa cunhadinho, vou aproveitar esse mutirão, pode ser? – Oleg se animou com a idéia – Não tenho idéia do que cantar, sua opinião vai ser bem vinda.
- 5 galeões a hora da aula, ok? – ele brincou e rimos.

Voltamos para onde os outros estavam e quando souberam que o namorado de Alec ia ajudar com os ensaios, Lucian, Liseria, Finn, Orion, Lenneth e Patrick se animaram e foram para a fila das inscrições. Jack pensou um pouco, mas acabou nos acompanhando, apenas Julie reafirmou que ia pensar durante o verão. Eu podia não ser um ótimo cantor, mas a idéia era divertida e se era por uma boa causa, por que não participar?

Sunday, June 05, 2011

- Parv, Leo, estão prontas? – Robbie entrou no nosso quarto – Vamos nos atrasar pra aula.
- Parv ainda está fazendo o dever da semana passada – Leo respondeu enquanto eu continuava rabiscando o pergaminho em um ritmo frenético.
- Vai escrevendo no caminho, já são 8:50 e vocês sabem que ela faz a gente passar vergonha quando nos atrasamos!

Robbie puxou o pergaminho da minha mão e desceu as escadas correndo, nos obrigando a correr atrás dele. Ele tinha razão, era uma péssima idéia chegar atrasado à aula da professora Mira. Ela era uma ótima professora, mas sempre que um aluno chegava atrasado ela o obrigava a pagar algum tipo de prenda. Da ultima vez que dormi demais tive que recitar Shakespeare antes que pudesse ir para o meu lugar.

Chovia muito naquele dia e tivemos que correr mais ainda e para facilitar nossa vida a sala ficava no 3º andar, mas chegamos às 9h em ponto. Ela já estava lá, como sempre, mas ainda estávamos no horário e ocupamos nossos lugares. Eu sentava debaixo da janela e na mesa do meu lado sentava o maior nerd do 6º ano. Se ele era um nerd, obviamente tinha feito o trabalho e estaria impecável.

- Anton, você fez o dever que ela passou? – perguntei em voz baixa, vendo a professora ainda sentada.
- Sim, você não? Vale nota.
- Não diga! – respondi irônica, mas ele não percebeu – Me empresta o seu pra copiar, não terminei a tempo.
- Não, vai ficar igual e ela vai ver que você colou e me dar zero.
- Não vai nada, só vou copiar a idéia principal, não as suas palavras – e antes que ele pudesse fazer qualquer coisa puxei o pergaminho da sua mesa.
- Parvati, me devolve! – ele tentou puxar de volta, mas debrucei por cima e bloqueei o caminho – A professora vai ver!
- Fica quieto senão não copio a tempo, ela ainda está do outro lado.
- Ela está se aproximando!
- Se continuar me apressando vou atirar pela janela e você vai ficar sem nota.

Ele parou de perturbar, mas quando viu que a professora estava apenas a duas mesas de distancia atirou uma pena em cima de mim. Levantei a cabeça e quando vi a professora de costas na mesa da frente dele entrei em pânico e ao invés de devolver o pergaminho a ele, o atirei pela janela. Em minha defesa, não tinha como devolver a ele sem ela ver. Ele congelou na hora e sentou de frente pro quadro, encarando a professora com os olhos arregalados.

- Cadê o seu trabalho? – ela perguntou quando ele não lhe entregou nada.
- Esqueci na república.
- Esqueceu não, ele foi abrir a mochila e caiu lá embaixo – me meti na conversa, me sentindo culpada.
- Ah foi? E como isso é possível?
- Tinha um bicho, ele se assustou quando abriu e jogou pro alto.
- Srta. Karev, vá buscar o trabalho do Sr. Dobrev que a Srta. atirou pela janela.

Levantei na mesma hora e corri até o pátio para recuperar o pergaminho, enquanto a turma ria. O pergaminho estava ensopado quando o encontrei, perda total. Ainda tentei usar um feitiço para secá-lo e consegui reduzir o dano, mas a tinta já estava toda borrada e só um milagre faria a professora compreender tudo que estava escrito. Voltei pra sala e entreguei a ela o que restou do trabalho dele.

- Foi mal, mas ela vai corrigir com carinho – falei quando sentei no meu lugar outra vez e ele só assentiu, meio pálido.

O incidente do pergaminho não foi mencionado durante o resto da aula e passamos o resto do tempo copiando uma matéria interminável que cairia no simulado de N.I.E.M.s. que teríamos em duas semanas. Ele estava me deixando um pouco tensa. Eu não era uma má aluna, mas Literatura Mágica não era o meu ponto forte. Era muito texto e a maioria deles cansativo demais, não conseguia prender a minha atenção. Só naquela aula ela estava recapitulando cinco coisas diferentes para o simulado e eu precisava tirar uma nota boa nele, ou seria obrigada a fazer aulas de reforço no verão. E aquilo estava fora de cogitação.

- Ok, até sexta-feira e não se esqueçam de estudar – ela dispensou a turma quando o sinal tocou e começamos a sair - já sabem o que vai acontecer com quem tirar abaixo de A no simulado.
- Ai meu Merlin, não posso fazer aula no verão, vai estragar todos os meus planos! – Leo começou a se desesperar quando saímos da sala.
- Também não, mas como vamos tirar uma nota alta com esse tanto de texto? – Robbie começava a entrar em pânico também.
- Muito simples, precisamos do gabarito do simulado – falei tranqüila e eles me olharam meio alarmados – Eu não vou me matar de estudar pra um simples simulado e colocar em risco minhas férias.
- Ah sim, você prefere colocar em risco sua permanência na escola no último ano – Robbie riu nervoso – Parvati, não inventa moda, por Merlin!
- Como você pretende conseguir o gabarito? – Leo perguntou interessada.
- Leonora, não dá corda! – Robbie a repreendeu, em vão.
- Entramos na sala do diretor e tiramos as provas do arquivo. Somos do grêmio, temos acesso à sala dele sem precisar dar uma desculpa à secretaria. E se não estou enganada, ele não está na escola hoje...
- Não, ele está em uma reunião no Ministério da Magia – Leo confirmou sorrindo animada.
- Vocês só podem estar loucas, vão ser pegas e expulsas!
- Ninguém vai ser expulso e se está tão apavorado não precisa ajudar, nós duas damos conta.
- Eu preciso da nota – Robbie estava em pânico.
- Do jeito que você é histérico, vai atrapalhar mais do que ajudar, melhor ficar de fora mesmo – Leo bateu no ombro dele, rindo – Não se preocupe, nós vamos dividir o gabarito com você.
- Não, parem de me tratar como uma menina de 8 anos, posso ajudar. Só me dêem algo simples.
- Vamos encontrar uma função pra você que não exija demais, mas agora vamos pra aula que não podemos nos atrasar pra uma aula da Mesic. Depois do almoço bolamos nosso plano infalível.

ºººººº

Todos os clubes do dia já estavam terminando e aproveitamos que a professora Yelchin estava tirando duvidas de uma aluna antes de dispensar a turma para sair antes de todo mundo. Nosso próximo horário era para reunião do grêmio e eu, como presidente dele, precisava estar lá. O que significava que tínhamos apenas 10 minutos para entrar na sala do diretor, copiar os gabaritos e chegar à sala de reunião. Robbie estava uma pilha de nervos, então o colocamos no final do corredor, vigiando a passagem para o escritório dele. Se alguém passasse por ali e desse sinal de que ia entrar na sala, ele deveria nos avisar.

Entrei com Leo no escritório do diretor Ivanovich sem problema algum. Como presidente do grêmio, e com a maioria das coisas relacionadas a ele guardadas lá dentro, eu tinha uma cópia da chave. A secretária já tinha ido embora, ela só ficava até as 21h, o que não poderia ser mais perfeito. Entramos na sala e iluminamos o local com as varinhas mesmo, para não chamar atenção. Eram muitos arquivos e foi muito difícil não cair na tentação de abrir o que indicava a ficha de todos os alunos, mas nosso objetivo não era esse. Leo encontrou a gaveta certa e puxamos a pasta com o gabarito de todas as provas do simulado. Espalhamos tudo no chão e começamos a copiar as respostas para um pergaminho em branco com um feitiço simples.

- Meninas? – a voz de Robbie saiu do espelho no meu bolso – Meninas, respondam!
- O que houve? Por que sua voz está apavorada? – já levantamos alarmadas.
- Vocês estão demorando demais!
- Tem alguém vindo pra cá? – perguntei ainda de pé.
- Não, mas pode vir alguém a qualquer momento e vocês não vão ter por onde sair.
- Se acalma, James Bond – revirei os olhos e sentei no chão outra vez – Já estamos terminando, vamos sair em menos de dois minutos.

As cópias ficaram prontas e guardamos as provas de volta na pasta, colocando exatamente na ordem que estavam e no mesmo lugar de onde as tiramos no arquivo. Já estávamos de saída quando um bilhete largado em cima da mesa me chamou a atenção. Era um lembrete da secretária do diretor sobre uma reunião com os pais dos alunos, e que ele deveria lembrar aos professores para atualizar a pasta roxa. Não entendi o que aquilo queria dizer, nunca tinha ouvido falar em pasta roxa. Robbie nos chamou no espelho outra vez, ainda mais agoniado, e deixei o bilhete pra lá antes que ele sofresse um infarto.

Ele soltou um suspiro de alivio extremamente dramático quando o encontramos e nos apressamos para chegar à reunião do grêmio sem muito atraso, para não começarem a questionar. Deveríamos discutir sobre os preparativos para a festa de fim de ano letivo, mesmo que ainda faltassem dois meses, mas tudo que conseguia pensar era na tal pasta roxa. Por que algo me dizia que aquilo não era algo bom?