Tuesday, June 07, 2011

Quinta-feira, maio de 2015.

Um mês para as aulas terminarem. Um mês para começar oficialmente o verão. Eu já não agüentava mais assistir aula, ainda mais que em todas elas éramos lembramos sobre o simulado que ia prender quem não tirasse nota boa em Durmstrang por algumas semanas a mais. Não estava preocupado em ficar retido, sabia que ia tirar uma nota boa, mas a pressão psicológica estava ficando cansativa.

Mas se tinha uma coisa que me incomodava mais que a insistência em aterrorizar os alunos era ter perdido um duelo alquímico pra Parvati. Não me conformava de ter dado bobeira e deixado ela me vencer com um truque tão idiota e não pretendia acabar aquele ano letivo sem dar o troco. E minha oportunidade veio numa aula de alquimia normal, numa quinta-feira. O professor falava sobre duelos alquímicos com a turma, explicava como eles funcionavam para os alunos que não faziam parte do clube, e imediatamente levantei a mão.

- Professor, não seria melhor uma demonstração, para ficar mais claro pra eles? – sugeri e a turma já se agitou.
- Não é uma má idéia. Oleg, Alec, podem vir aqui, por favor?
- Na verdade... – fiz sinal para os dois sentarem e imediatamente eles entenderam onde eu queria chegar – Uma demonstração com eles é covardia, ninguém aqui nunca vai conseguir fazer o que eles fazem. Gostaria de desafiar alguém para duelar comigo, posso?
- À vontade...
- Quero uma revanche. Vamos ver se você é boa mesmo ou foi sorte de principiante – apontei para Parvati e ela levantou na mesma hora.
- Não me importo de humilhá-lo duas vezes, Lusth.
- Muito bem, vou permitir que isso vá adiante, mas sem exageros, ouviram bem? – Reno nos advertiu e assentimos – Se perceber que está saindo do controle outra vez, vocês serão punidos.

Ele desenhou os círculos alquímicos no chão com a mesma distancia de cinco metros e mandou que a turma se afastasse para nos darem espaço suficiente. Tomamos nossos lugares e o duelo esquentou depressa. Parvati me atacou muito rápido com uma língua de fogo, mas eu já esperava essa abordagem e congelei a rajada antes que ela me atingisse. Ataquei com uma lufada de ar concentrada, na tentativa de derrubá-la, mas ela tinha transmutado uma corrente de ar ao redor dela que a mantinha equilibrada.

Os alunos começaram a recuar ainda mais quando começamos a atacar e defender na base de bolas de fogo e gelo. Foram ataques ininterruptos, até que ela começou a fazer subir rochas do chão e dispará-las na minha direção. Precisei pensar rápido para criar um escudo de terra forte o bastante para me proteger, mas uma das rochas furou o bloqueio e acertou minha testa. Abriu um corte enorme e o sangue escorreu na mesma hora. Percebi que o professor ia interromper, mas fiz sinal que estava bem e limpei o sangue com a mão, irritado.

Ela percebeu que tinha ido longe demais outra vez, porque trouxe a corrente de ar de volta. Ataquei com água e quando o chão embaixo dela estava alagado, o congelei e comecei a disparar lufadas de ar para fazê-la escorregar. Ela se mantinha de pé graças a corrente que a equilibrava, mas minha intenção era apenas distraí-la com isso. Ela não conseguia sustentar duas manipulações juntas por muito tempo, então quando conjurou fogo para derreter o gelo, perdeu o controle sobre a corrente de ar. Congelei o chão depressa outra vez e antes que ela pudesse se segurar, mandei uma rajada de vento que a fez escorregar feio no gelo e cair no chão. A queda foi tão feia que ela bateu com a cabeça no chão. Jack, Leo e Robbie correram até ela.

- Já chega, vocês estão proibidos de duelarem outra vez um contra o outro – o professor fez os círculos desaparecerem e parecia irritado.
- Não era minha intenção fazê-la bater com a cabeça no chão, só escorregar.
- Não importa, vocês não tem limites.
- Quero uma nova chance, melhor de três – Parvati protestou.
- Nem pensar. – Reno cortou logo - Aceitem que um não é melhor que o outro e aprendam a lidar com isso.
- Ozzy, sua testa – Lucian apontou pro meu rosto e passei a mão nele. Estava todo sujo de sangue.
- Vá para a enfermaria dar um jeito nesse corte. Você também, Karev, melhor ver se não houve nenhum dano na queda.
- Eu estou bem, nem estou tonta, foi só uma batida – Parvati já ia se sentar outra vez.
- Não foi um pedido, foi uma ordem. Os dois pra enfermaria agora. E Lucian e Jack, venham fazer a demonstração de um duelo alquímico sem acidentes, por favor.

Saímos da sala juntos e seguimos para a enfermaria sem trocar uma única palavra. A enfermeira apenas suspirou cansada quando nos viu, examinou Parvati e depois fez um curativo na minha testa, nos liberando em seguida. Quando chegamos de volta às masmorras a aula já tinha terminado e só recolhemos nosso material. Eu podia estar com um band-aid no meio da testa, mas não poderia estar mais satisfeito.

ºººººº

Nunca achei que fosse dizer isso, mas com toda a pressão sobre as provas, a aula de artes acabou se tornando a minha favorita nesse final de semestre. Era o único momento do dia que não éramos lembrados da proximidade dos exames e qualquer coisa sobre carreiras pós-formatura.

Hoje passamos uma agradável hora ouvindo sobre como funcionava os bastidores de um concerto, mas ninguém estava entendendo muito bem porque a professora Yelchin tinha começado com esse assunto tão de repente. Se não estava perdido no tempo, até a última aula ainda estávamos debatendo sobre musicais da Broadway. Já estávamos quase no final da aula quando bateram na porta e as professoras Mira e Ferania entraram.

- Que bom que chegaram, já ia contar a eles! – a professora Yelchin falou animada, convidando as duas a subirem no palco.
- Contar o que, professora? – Oleg já levantou a mão, curioso.
- Nosso projeto para o próximo ano – ela parecia bem animada, o que instantaneamente agitou a turma – Durmstrang vai fazer caridade.
- Caridade? Como assim? – uma garota no fundo do teatro perguntou.
- O Ministério da Magia junto com o Ministério trouxa está organizando uma campanha para aproximar mais o nosso mundo do mundo deles. O projeto é simples: cada escola precisa criar uma maneira de arrecadar dinheiro para ajudar uma instituição de caridade trouxa, ao mesmo tempo em que algumas escolas trouxas cuidadosamente selecionadas precisam arrecadar dinheiro para ajudar os hospitais bruxos.
- Durmstrang sempre foi vista como a escola que não aceita os trouxas e mesmo já tendo 15 anos que a escola admite a entrada de bruxos nascidos trouxas, ainda existe uma imagem dura quando se referem a nós – a professora Mira começou a falar – Essa talvez seja a melhor forma de mudarmos definitivamente essa imagem que ainda têm da nossa escola.
- Nosso projeto vai arrecadar dinheiro para ajudar a ala da pediatria do hospital trouxa da Bulgária – agora era Ferania que falava – E também vamos fazer algumas visitas às crianças internadas nesse hospital.
- E como vamos arrecadar dinheiro? – alguém perguntou.
- Com o que vocês fazem de melhor: cantando.

O teatro virou uma bagunça. Uns riam, outros pareciam animados, outros apavorados. Eu não sabia bem em qual dos três me encaixava. Venho até me saindo bem nas tarefas que ela propõe, mas uma coisa era subir no palco e cantar na frente dos alunos que você conhece há seis anos, outra coisa é cantar pra desconhecidos. Talvez estivesse mais inclinado ao grupo dos apavorados.

- Ninguém é obrigado a participar, não é uma tarefa que vale nota, é um evento beneficente – a professora Yelchin voltou a falar quando o falatório diminuiu – Nós três, mais um convidado especial, vamos formar uma banca de jurados e vamos ouvir aqueles que querem participar em uma audição. Somente os alunos que quiserem fazer parte dos shows devem se inscrever para as audições.
- E se eu me inscrever e não passar? – Finn perguntou do meu lado.
- Isso não é o American Idol, ninguém “não vai para Hollywood” ou vai ser eliminado da competição – e todo mundo riu, até as outras professoras – Tenho confiança de que se vocês se inscreverem para as audições é porque sabem cantar, então todos que forem ouvidos terão seu espaço no evento. As audições são apenas para sabermos o quanto vocês podem fazer e então podermos determinar quem vai cantar solos, quem vai fazer duetos, backing vocal, tocar instrumentos, qualquer coisa envolvida. Nós queremos saber o que vocês sabem fazer.
- As audições serão nas duas ultimas semanas de aula, depois das provas – a professora Mira pegou um pergaminho e mostrou à turma – Os interessados podem vir se inscrever comigo. Com exceção dos alunos do 7º ano, que estão se formando em pouco mais de um mês, todos podem participar.
- E se vocês não estão certos de que querem participar, mas mudarem de idéia durante as férias, na 3ª semana de Setembro nós faremos uma nova audição para os alunos novos também terem a chance de ajudar – Ferania explicou – No entanto, essa vai ser a última chance de participar.
- E, por favor, POR FAVOR – Georgia voltou a falar e seu tom de voz era mais sério – Cuidado com o repertorio. Escolham muito bem o que vão apresentar na audição, para ninguém subir nesse palco e cantar uma música recheada de palavrão e insultos. Nesse caso, isso vai virar um American Idol e nós vamos dizer não.
- Bom, isso é tudo. Quem tiver duvida, na próxima aula vamos usar todo o tempo dela para falar sobre os shows e vocês podem perguntar o que quiserem. Agora quem quiser participar, pode formar uma fila para se inscrever.

Mira puxou uma cadeira e Ferania e Georgia começaram a organizar o pessoal que já começava a se amontoar na frente do palco. Eu continuei no mesmo lugar, ainda incerto se deveria ou não me inscrever. Alec e Oleg não pareciam ter duvidas, pois foram logo pra fila com o namorado de Alec. Jack, Julie, Finn e Lucian ficaram pra trás comigo.

- Não vai se inscrever, Ozzy? – Julie soou espantada – Você foi tão bem nas tarefas que ela passou esse ano.
- E vocês não vão? – devolvi – Você e Jack ganharam o desafio dos duetos com as suas duplas.
- Talvez nesse segunda chance em Setembro, vou pensar durante as férias – Jack respondeu e Julie concordou – E vocês dois? – virou para Finn e Lucian.
- Não sei... Acho que poderia me inscrever. Vai ser divertido, não? – Lucian deu de ombros.
- Divertido sei que vai ser, mas não tem a menor chance de subirmos naquele palco e conseguirmos algo bom pra fazer nos shows sem uma ajuda de alguém que saiba o que está fazendo – Finn completou e todo mundo acabou concordando.
- E eu sei quem pode ajudar... – falei olhando pra multidão e sai de perto deles sem falar mais nada.

Oleg, Alec e Rajesh estavam saindo do meio da confusão já com seus nomes na lista e interceptei a passagem. Os três ficaram me olhando sem entender porque eu tinha quase pulado na frente deles.

- Como está o seu nível de paciência? – perguntei a Rajesh.
- No momento, muito bom. Por que a pergunta?
- Queremos nos inscrever para as audições, mas queremos ter alguma chance de sermos mais que backing vocal, então precisamos de ajuda profissional.
- Obrigado pelo profissional – ele riu – Não sei até que ponto minha ajuda vai ser útil, mas farei o máximo que puder com uma condição.
- Diga seu preço.
- Pare de me chamar de Rajesh e me chame de Robbie, como todo mundo.
- Como quiser, Robbie! – bati em seu ombro, mas acho que coloquei força demais, porque ele fez uma careta.
- Vou falar com a professora para encontrar um horário vago que possamos usar o teatro e aviso quando vamos ensaiar. Todos de uma vez só, assim um ajuda o outro.
- Opa cunhadinho, vou aproveitar esse mutirão, pode ser? – Oleg se animou com a idéia – Não tenho idéia do que cantar, sua opinião vai ser bem vinda.
- 5 galeões a hora da aula, ok? – ele brincou e rimos.

Voltamos para onde os outros estavam e quando souberam que o namorado de Alec ia ajudar com os ensaios, Lucian, Liseria, Finn, Orion, Lenneth e Patrick se animaram e foram para a fila das inscrições. Jack pensou um pouco, mas acabou nos acompanhando, apenas Julie reafirmou que ia pensar durante o verão. Eu podia não ser um ótimo cantor, mas a idéia era divertida e se era por uma boa causa, por que não participar?