- Vocês não podem ficar brigados para sempre. – Oleg falou se jogando em uma das camas da república. Estávamos chegando do treino de hockey no final da noite, todos cansados.
- Eu sei que não, mas ela é mais teimosa do que eu! Eu não vou me desculpar por algo que eu não fiz. – Respondi teimoso e todos riram, enquanto tirava as luvas do uniforme.
- Você pode não ter feito, mas ela acha que fez. – Finn falou dando de ombros.
- E se tem uma coisa que eu aprendi com garotas é que mesmo que você esteja certa, se elas acharem o contrário, você só fica em paz se concordar com elas. – Jack falou rindo e todos rimos com ele.
- Isso é bem verdade. – Eu concordei. – Mas a Liseria tem que aprender a ser menos ciumenta! A Lenneth é só minha amiga.
- Longe de mim querer concordar com a Liseria, mas vocês exageraram. – Ozzy falou e eu olhei chocado para ele.
- É concordo. Cantar aquela música daquele jeito todo meloso criou um clima enorme no teatro. – Orion falou, mexendo em sua mochila. Parecia que ele estava conferindo se um bloco de anotações estava ali.
- Todos ficaram comentando que vocês faziam um belo casal. Imagina o que a Liseria, e o próprio Patrick sentiram. – Alec falou e eu comecei a pensar, mas não queria dar o braço a torcer.
- Tá bom, pode não ter sido a escolha perfeita para a ocasião, mas não muda o fato de que a Liseria está sendo infantil! A Lenneth é minha melhor amiga.
- Eu sei disso. Convivo com vocês há anos, esqueceu? – Ozzy falou. – E sei como a amizade dela é importante.
- Mas o amor que sente pela Liseria também é importante. Acho que devia falar com ela. – Jack falou e eu assenti. Apenas Odin sabia como sentia falta da Lis.
- Afff começaram a falar de amor? Depois dessa vou dormir. – Orion falou carrancudo, jogando-se na cama dele. Eu o ignorei.
Continuamos a falar mais um pouco antes de dormir, enquanto Orion ficava tentando nos ignorar e nos fazer mudar de assunto. Passamos a falar também do Finn, pois desde que a Leonora começara a namorar o Mitchell, Finn estava morrendo de ciúmes, mas parecia não querer admitir.
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A briga com Liseria já durava 3 semanas.
Durante essas 3 semanas quase não nos falamos, apesar de eu ter tentado falar com ela logo após a briga. Mas ela era teimosa e não quis e eu decidi que não ia tentar novamente, até ela dar o braço a torcer e me pedir desculpas. Mas estávamos tanto tempo longe que eu estava cansado dessa briga. A briga começava a atrapalhar nosso dia a dia também, já que não conseguíamos nos concentrar em outras atividades. Principalmente no Jornal em que éramos colegas de trabalho.
E como eu sentia a falta dela. Me acostumei a todos os dias ir buscá-la na república e ir conversando até as aulas, de mãos dadas e juntos. Havia muita empatia e carinho entre nós e nosso amor era intenso. Sentia falta da forma como ela brigava comigo quando a queria abraçar logo depois do treino, ou como brigava comigo quando comia demais. Sentia falta de sua risada das minhas histórias e contos. Sentia falta do modo como ela opinava em meus textos, sempre me ajudando a crescer e me desenvolver. Como sentia falta dela.
E também por causa da briga, acabou que eu e a Lenneth nos afastamos um pouco. Patrick também não gostara da música que escolhemos, mas eles já haviam retomado o namoro e agora ela o estava treinando para entrar no Clube de Alquimia avançada.
Eu e ela havíamos decidido ficar um pouco afastados, primeiro para não dar motivos aos nossos respectivos companheiros de terem suspeitas, infundadas eu sei, mas ainda assim achamos melhor não dar motivos. Além disso não queríamos criar mais boatos do que já circulavam pelo colégio sobre estarmos juntos. Nem eu nem ela nos importávamos com isso, mas novamente, decidimos pensar em nossos companheiros.
E tinha um problema nisso tudo: eu estava sentindo falta da Lenneth. Eu tentava dizer a mim mesmo que era apenas como amigo, pois ela era como minha irmã mais nova, mas no fundo eu percebia algo mais. Mas tentava com todas as forças ignorar isso, supondo que era culpa de Reno e Ferania que tinham insinuado que éramos mais que amigos. Mas droga, estava com ciúmes da Lenneth.
Decidi engolir o orgulho e dar um fim nisso tudo e por isso procurei Liseria logo cedo em frente a sua república.
Mal eu chegava lá, encontrei com Patrick que ia buscar Lenneth também. Trocamos um olhar meio sem jeito um com outro: ele sem querer demonstrar mais do que companheirismo e eu sem querer demonstrar os meus sentimentos conflitantes.
- Bom dia, soube que o Reno está dando testes absurdos para você e para a Parvati, não? – Eu puxei uma conversa enquanto caminhávamos. Ele assentiu e respondeu rapidamente.
- E como, não imaginava que seria tão difícil. Mas quero passar mais tempo com a Lenneth e ela tem me ajudado.
- Fico feliz, ela é uma boa professora. – Não falamos mais nada até a porta da república e Lenneth já estava ali fora, esperando por ele. Ela me lançou um sorriso tímido e beijou Patrick, saindo com ele, mas antes me dizendo que Liseria já estaria saindo. Tentei ignorar a vontade de afastá-la dele.
Lis realmente saiu logo em seguida, acompanhada por uma de suas amigas. Assim que ela me viu apoiado em uma das pilastras da república, ela prendeu a respiração, enquanto sua amiga me olhava de cima abaixo.
- Queria falar com você, podemos conversar a sós? – Eu perguntei, mantendo minha voz calma. Ela assentiu e se despediu da amiga.
Ela em seguida passou por mim e fomos caminhando meio sem rumo, sem nos falamos ainda. Eu não conseguia parar de olhá-la de lado, com vontade de ter suas mãos entre as minhas novamente. Notei que ela também me lançava olhares às vezes, mas mantivemos a distância entre nós.
Sem percebermos muito bem, talvez porque era um lugar importante para nós dois, chegamos a um pequeno mirante a meio caminho do castelo, porém meio afastado da trilha principal. Foi ali onde ficamos pela primeira vez e onde a pedi em namoro. Reparei que ela percebeu isso, enquanto cruzava os braços e me encarava.
- O que você quer? – Ela perguntou, me olhando nos olhos. Ela estava linda. Eu respirei antes de começar.
- Eu queria... – Eu comecei, mas agora tudo que havia pensado em falar sumiu da minha mente. Respirei novamente e para meu espanto os dois falaram juntos.
- Queria pedir desculpas./Queria me desculpar. – Nos olhamos rapidamente e depois ela desviou o olhar rapidamente.
- Eu fui um idiota com você. Você tinha motivos suficientes para ficar irritada.
- Eu que fui uma criança. Você estava certo, não confiei em você... – Ela falou e eu me aproximei, segurando sua mão.
- Não queria te deixar triste, era a última coisa que eu gostaria. Não imaginei que ficaria tão sentida com aquela música.
- O problema não é apenas a música, e que ela não me ouça, ou a Lenneth. É minha insegurança. Vocês cresceram juntos, são como irmãos e eu fui uma idiota de duvidar de você. Ela passou as duas últimas semanas me falando isso. Conversamos muito...
- Vocês conversaram? – Eu perguntei, curioso e impressionado. Lenneth não me falou nada sobre isso.
- Ela quis pedir desculpas também. Mas vocês não tinham nada que se desculpar. Eu fui uma boba, uma criança... Vou entender se você não quiser mais nada comigo. – Ela falou, e vi que tentava ser forte, me olhando nos olhos, mas podia ver como ela estava triste.
- Isso é a última coisa que eu gostaria. – Eu falei, apertando suas mãos com força e me inclinando para beijá-la. Ela não recuou e trocamos um beijo de leve, de início, mas depois ela passou os braços pela meu pescoço e eu por sua cintura e nos beijamos longamente. A levantei do chão, abraçando-a e rodopiando alegre. – Me desculpe. Não sabe como senti sua falta.
- E eu a sua. – Ela falou, sem afastar o rosto. Nos beijamos por mais alguns minutos, até percebermos que ainda tínhamos que ir para o castelo.
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Entramos no castelo de mãos dadas, sorrindo como não sorríamos a muito tempo. Todos que viam aquilo nos acenavam e riam, e os garotos logo vieram me dar os parabéns por termos finalmente reatado. Depois encontramos com Julie e Lenneth durante uma aula e pela primeira vez nesses anos vi Lenneth e Liseria trocarem um abraço forte e amigo de verdade.
Ainda conversávamos nós quatro quando um garoto da Kronos passou por nós conversando com um amigo. O nome que eles falaram chamou minha atenção.
- Não sei quem escreveu isso, mas é muito bom. E o nome tem um toque forte. Taugor!
Eu conhecia aquele nome. Fora eu que tinha criado-o. Me afastei delas e fui atrás do garoto, enquanto elas me olhavam curiosas. Segurei o garoto pelo ombro e perguntei quando ele se virou para mim.
- Desculpe, não pude deixar de ouvir, que nome vocês falaram?
- Taugor. Por que?
- Onde ouviu esse nome?
- Está no jornal que saiu hoje de manhã.
- No jornal?
Eu perguntei curioso e ele me estendeu sua cópia, me perguntando como eu não saberia se eu era membro do jornal. Corri os olhos pela página 5 rapidamente, parando em uma coluna que não estava ali quando vi a última versão do jornal no dia anterior. Ela tinha o título de “Contos de Antares” e um subtítulo de “A Lenda de Taugor”. Eu lia o texto rapidamente, reconhecendo cada frase, cada letra. Eu havia escrito aquele texto e não autorizara sua publicação.
- Lu, o que houve? – Liseria me perguntou preocupada e eu entreguei o jornal para ela. Lenneth estava logo atrás dela, assim como Julie.
- Não sabia que você tinha publicado seu “Lendas de Taugor”. Foi quando estávamos brigados? – Liseria perguntou.
- Você também não me contou, e todos estão gostando, parabéns! – Ela falou, sorrindo, mas eu as olhei incrédulo e talvez até com raiva, não delas mas do jornal.
- Eu não publiquei nada e alguém me deve uma explicação. – As duas então entenderam o que isso significava, mas Julie ainda ficou um pouco sem entender. Eu falei que mataria aquela aula e as encontraria depois e sai dali furioso, indo procurar o Ozzy e depois o Lukas, eles poderiam me ajudar a descobrir o que acontecera. Eu não perdoaria quem quer que fosse o responsável por aquilo.