Friday, September 28, 2007

Numa agitada república, nos arredores do castelo de Durmstrang

- Você vai fazer isso mesmo? Ainda dá tempo de desistir... – disse uma garota morena e as outras concordaram, olhando para o rosto determinado da loira.
- Preciso fazer isso, pelo menos para dar uma lição neles. Estão comigo?- e colocou a mão estendida no meio do circulo, numa espécie de pacto.
- Sempre! – elas responderam pousando suas mãos em cima da primeira. Muitas risadas foram ouvidas por boa parte da noite.


Alguns jogadores, do time da Ansuz já estavam em campo fazendo o aquecimento, enquanto os candidatos às vagas iam se aproximando. Algumas pessoas estavam nas arquibancadas para verem os treinos, e as garotas da república Avalon estavam sentadas em um local estratégico, observando os testes e conversando com os colegas. Após rirem muito do jeito estressado de Luka, capitão da Ansuz, com alguns primeiranistas trouxas, que nunca haviam visto um jogo de quadribol e não sabiam para que serviria a goles ou porque os aros ficavam tão alto, o teste para apanhador iria começar.
- Muito bem, vamos testar os apanhadores. Para quem não sabe o que este jogador faz, ele apanha o pomo de ouro, que é isto. – ele disse mostrando a bolinha dourada com asas. – e os garotos do primeiro ano abriam a boca espantados soltando um óh!e as meninas riam.
Os testes começaram e vários candidatos disputavam a vaga, ate que no final, restaram dois: um garoto magricela, e um garoto troncudo do quarto ano.
- Bom, vocês dois foram os melhores até agora... Dragonovitch e Kolchec?
- Isso, Miles Kolchec. - disse o magricela com a voz mudando de tom.
- Vou fazer o seguinte: vou simular um jogo com os outros membros da equipe. Quero ver se conseguem desviar de balaços e capturar o pomo. Ganha a vaga aquele que capturar o pomo primeiro ok?
Os jogadores fizeram que sim com a cabeça e levantaram vôo com suas vassouras. Nesta hora, um garoto alto chegou perto das garotas da Avalon e após cumprimentar os colegas que estavam ali perguntou:
- Olá, viram a Ludmilla? Pensei que ela estivesse com vocês.
- Não... Ela deve estar em algum lugar... - respondeu Nina afobada.
- Talvez ela esteja num dos clubes. Vá até lá procurar. – disse Evie e antes que o garoto dissesse que iria atrás da namorada Ty disse:
- Hey Iago, fica um pouco, vão testar os apanhadores da Ansuz, e os dois são bons.
- Não! - disse Vina e todos olharam para ela que disse sem graça:
- Achei ter visto um percevejo fluorescente aqui, me enganei.
- É acho que vou ver a parte final do treino, Ludmilla logo virá até vocês. - e sentou-se junto com Micah e Ty, enquanto as meninas ficavam tensas ao lado deles. A partida foi agitada, e algumas vezes os dois apanhadores disputavam o pomo, mas acabavam deixando escapar, numa das vezes o apanhador troncudo deu um safanão com o ombro no magricela, para derrubá-lo, mas ele se segurou com as pernas e esticou bem as mãos e apanhou o pomo, e se afastou do adversário em seguida.
O teste terminou e os jogadores se reuniram no meio do campo para se apresentarem. Após algum tempo, Luka e Max se aproximaram do grupo e elas podiam ouvir Max resmungando:
- Que azar, o nosso apanhador é esquisito.
- Mas pelo menos sabe se manter numa vassoura e se concentrou no jogo, o outro só pensava em derrubar o adversário. Nem viu que numa das vezes o pomo tava na orelha dele. - respondeu Luka que ao olhar para Iago perguntou:
- Veio avaliar meu time Iago? ¬¬
- Acho que todos vieram fazer isso, os treinos são abertos ao público. Conseguiu um apanhador bom, não me lembro de tê-lo visto pelos corredores da escola.
- Ele é novo. É do quarto ano, e mora na Orpheus. Cadê a Milla?- perguntou e as amigas começaram a falar juntas:
- Clube...
- Biblioteca...
- Estufas...
- Acho que ela tem um vira-tempo...– risadinhas nervosas.
- Já estou aqui! – e a colega chegou com as faces vermelhas de quem havia corrido muito e sorria contente. - Estive te procurando no castelo Iago. – e abraçou o namorado.
– Perdi alguma coisa importante?- ela perguntou.
- Nada. Só que o time deles agora tem um novo apanhar com o apelido de "esquisito". – respondeu Ty e eles riram ao que Milla respondeu:
- Esquisito ou não, ele está no time. – e trocou um olhar cúmplice com as amigas

Wednesday, September 26, 2007

Estávamos no jardim, aproveitando um intervalo entre as aulas, quando Iago, e os três patetas se aproximaram. Iago pegou na mão da Milla e a beijou, e Luka nem disfarçou sua careta. Resolvi chama-lo de Moe, pois me lembrava do seriado trouxa dos 3 patetas.
- Onde você estava? Perguntou Milla.
- Reunião de última hora do DQC, estávamos decidindo a abertura dos testes de quadribol, estas coisas...
- Quando começam os testes? Como são?- perguntei ansioso.
- Cada casa acabou de colocar seu aviso no quadro geral. Por quê? Vai tentar vaga?- perguntou Iago.
- Quero tentar entrar no time daqui. Em Paris os treinos já começaram.
- Estou no time búlgaro. Batedor titular. – disse Iago como quem não quer nada e Milla comemorou.
- Jura? Parabéns. – e após abraçá-lo ela perguntou:
- Quem mais? Vocês conseguiram também Luka? Max?
- Sim, mas no time reserva. – eles responderam secos e ela voltou a abraçar Iago. Troquei um olhar com Micah. Era palpável o mal estar que a união daqueles dois causava no Moe.
-Como são os testes daqui? As garotas são páreo duro na disputa? – perguntei e vi Chris, Max e Luka rirem com gosto. Iago se controlou porque Milla olhou feio, e ele não queria brigar novamente.
- Garotas jogando quadribol aqui? Nem pensar. – disse Max, enquanto ria com os amigos. Eu, Micah e as garotas não ríamos.
- Mas porque não? Elas jogam tão bem quanto nós. – respondi e os caras começaram a me vaiar.
- Aqui as coisas são diferentes: mulher faz o que tem que fazer. Fica na arquibancada torcendo. – disse Luka.
Antes que eu retrucasse Nina interveio:
- Em Durmstrang ainda estamos no tempo dos dinossauros Ty. As garotas não podem jogar quadribol, seria um atentado contra os machistas daqui.
- Sabemos que é uma coisa antiquada. Se alguma menina joga, é em casa, longe dos olhares reprovadores. Eles acham que elas ficariam masculinizadas. - disse Milla.
- E vocês teriam vontade de jogar quadribol? – perguntei e Annia balançou a cabeça negando.
- Não obrigada, é um pouco demais para mim, mas conheço garotas que gostariam. - disse Evie.
- McGregor, o fato de o novo diretor fazer mudanças com relação a várias coisas na escola, não significa que ele vá mexer nisso também. Os times sempre deram resultado com jogadores homens e assim vão permanecer. – Luka disse enfático.
- Bem, acho isso um desperdício. Minha mãe e suas amigas jogaram quadribol, e foram campeãs pela casa delas em Hogwarts. E são mulheres lindas e muito femininas. (falei orgulhoso).
- Ah! O filhinho é apaixonado pela mamãe ui, ui, ui. Não sabíamos que gostava de mulheres mais velhas. - zombaram Luka e Max.
- Pelo menos ele pode contar com a mãe, ao contrário de nós, Luka. - disse Annia ríspida e saiu pisando duro.
- Porque ela tá tão irritada assim? – perguntei.
- Brigou com o pai. Parece que ele quer mexer numas coisas na casa deles, e ela não gostou. Foi só o que conseguimos arrancar dela. Vamos lá meninas... – disse Milla.
- Fiquem aqui. Deixem que eu fale com ela. – disse e elas me olharam chocadas:
- Você quer ir até lá, falar com a Annia quando ela está irritada? Você enlouqueceu? – perguntou Nina.
- Porque ela morde?- perguntei rindo, mas elas estavam sérias. Olhei inseguro para Micah e ele disse:
- Talvez, ela precise de outro ponto de vista sobre as mudanças do pai dela... – abri a boca para agradecer, e ele continuou:
- E se ela é tão perigosa assim, a gente recolhe os pedaços depois que ela acabar com ele. – riram enquanto eu ia ate o local onde me indicaram que ela estaria.


- Posso me sentar?- disse me esparramando ao lado dela.
- Os jardins são públicos. Foram elas que te mandaram aqui? – ela perguntou azeda.
- Não, eu vim por minha conta e risco. Se o pior me acontecer, eles recolhem os pedaços, talvez sirva para alguma coisa. – disse brincando, mas ela continuava séria. Ficamos olhando para o lago enquanto a tarde ia esfriando rápido, quando ouvi sua voz baixa ao meu lado.
- Meu pai era mais velho que minha mãe, uns 12 anos. Ela foi aluna dele na Escola de Magia de Kiev. No começo ela viajava com ele para todos os lugares até que engravidou de mim, e teve que ficar em casa. (ela respirou fundo). Sabe... quando pequena ele era presente, ele até me levava de cavalinho em suas costas, lia histórias antes de eu dormir. Éramos felizes...
Um dia uns homens esquisitos vieram até a minha casa e pude ouvir os gritos deles ameaçando ao meu pai. Eram comensais. Ele expulsou os homens, e minha mãe assustada pediu que ele ficasse em casa. Ele a ignorou, disse que nada nos aconteceria e viajou. Alguns dias depois minha mãe foi morta numa emboscada que era para ele. E agora ele acha que pode dar as coisas dela. Temos que seguir em frente Anastácia... (imitou a voz do pai).
É culpa dele, se ela esta morta. – ela disse as palavras com tanta raiva, que me assustou. Nunca achei que alguém pudesse guardar tanta raiva dentro de si, sem explodir.
- Acho que você ta fazendo drama com... - comecei, mas ela não me deixou terminar, parecia prestes a me azarar.
- Acha que tô fazendo drama? Que sou daquelas meninas frescas, que ficam dando escândalo? E eu que achei que os outros estavam exagerando quando diziam que você era babaca, mas vejo que eles têm razão. Não sei por que perdi meu tempo com você. - e se levantou para ir embora e eu a segurei pelos braços irritado:
- Você acha que só você perdeu alguém no mundo? Acha que só você sente a perda da sua mãe? Já pensou nele? Não né? Ai coitadinha da Anastácia, perdeu a mãe e virou uma bestinha, afundada na auto piedade.
E continuei falando:
- Faz 3 meses que meu pai morreu. Minha mãe ainda não conseguiu juntar as coisas pessoais dele para doar, e duvido que vá fazer isso tão cedo. Queria que ela chorasse, gritasse comigo, porque foi por minha culpa que meu pai morreu. Mas não, ela se mantém forte, trabalhando mais que antes, agradecida por eu estar vivo. Então eu procuro fazer o mesmo, é o que se espera de mim. Se ela quiser dar as coisas dele, que dê. Não preciso de nada material pra me lembrar do ótimo pai que ele foi. Porque aonde ele está, eu sei que quer que a nossa vida aqui continue, para que um dia possamos estar juntos novamente. Ele me amava o bastante para dar sua vida por mim, embora eu nem ache que mereça, e isso não vai mudar, mesmo que eu grite, faça escândalo, e brigue com as pessoas que gostam de mim. – parei e tomei fôlego, e percebi que estávamos muito perto um do outro e senti que ela tremia, enquanto eu apertava seus braços:
- Desculpe, fui estúpido com você e te assustei. Se você quiser parar com as aulas, eu vou entender ninguém quer um selvagem como aluno não é? – disse e aos poucos ela ia se acalmando:
- Eu disse alguma coisa sobre parar as aulas? Estou reclamando? Lembre-se que você vai me ensinar a duelar decentemente. Acho que devemos voltar, está frio não é? Você deve estranhar viver aqui. Mas quando o lago congelar podemos patinar, é divertido. – ela disse mudando deliberadamente de assunto
Começamos a andar de volta quando passei na frente dela, fazendo-a parar e disse por sobre o ombro:
- Sobe.
- Como?
- Sobe logo, ou o cavalinho vai embora.
Ela riu descrente e subiu nas minhas costas, e enquanto ela abraçava meu pescoço rindo, pensei que as coisas no mundo podiam ser tão simples quanto sorrir com coisas tão infantis.

Tuesday, September 25, 2007

Todos os dias depois das aulas, nas poucas horas livres que tinha, ocupava meu tempo com os treinos para as olimpíadas. A arena montada pelo diretor para que pudéssemos praticar estava sempre cheia, todos os alunos pareciam aderir à idéia de usá-la depois das aulas. A única diferença hoje ficou por conta de Micah, que resolveu tirar o fim do dia para me atormentar e impedir que treinasse qualquer coisa.

‘Sem chance, você não vai acertar dessa distancia toda’

‘Fica quieto, está tirando minha concentração’ Falei sem tirar o olho do alvo

‘Mas está muito longe’ Micah insistiu, prendendo o riso.

Respirei fundo ignorando as análises dele e atirei. A flecha passou longe do alvo. Micah riu.

‘Eu avisei’

‘Você não tem mais nada pra fazer?’ Respondi irritada. Era a 3ª flecha que ele me fazia errar ‘Não deveria estar treinando para a corrida?’

‘Já corri’ Falou com um sorriso que se assimilava ao do Grinch ‘E também já treinei todas as categorias do declato, natação, canoagem e remo. Só não cheguei perto dos cavalos. Estou à toa’

‘Acho que eles estão sentindo sua falta, por que não vai lá fazer uma visita?’

‘Não estou com animo para cavalos hoje’ Ele deitou na grama e apoiou a cabeça nas mãos ‘E não adianta treinar sozinho, é esporte em equipe, esqueceu? E você faz parte da equipe’

‘Também não estou com vontade de andar a cavalo hoje’ Respondi guardando os instrumentos no armário e deixando as chaves com ele ‘Já estou atrasada, tenho hora marcada com a professora Mira, me inscrevi para o jornal’

‘Você não acha que já tem matérias extras suficientes para, tipo, a vida inteira?’

‘Créditos nunca são demais. Estou indo, procure outra pessoa para desconcentrar’

‘Ah, mas só tem graça quando é você que eu irrito!’ falou em tom de deboche ainda deitado na grama

Deixei-o rindo na arena e voltei para o castelo. Havia marcado de conversar com a professora de Literatura para fazer parte do jornal da escola, mas não sabia ao certo o que faria nele. E também tinha prometido ao meu avô que passaria em seu escritório para conversarmos um pouco. Tinha o costume de fazer isso, mas desde que as aulas haviam recomeçado ainda não tinha encontrado tempo para os velhos hábitos.

Já passava das 21h quando cheguei à sala dela, no 6º andar. Meu avô estava sentado conversando animado com a professora e interromperam o assunto quando entrei. Ele levantou fechando uma pasta que consegui identificar estar cheia de fotos e caminhou na minha direção.

‘Bom, vou deixá-las conversar, já tomei muito o seu tempo, Mira’ vovô passou por mim sorrindo ‘Não se esqueça de passar em meu escritório quando sair, Evangeline’

‘Ai vovô, por favor, não me chama de Evangeline!’ Falei um pouco alto demais e ele se assustou ‘Parece que está falando com a vovó! Me chame de Evie, como todo mundo!’

‘Ok então, passe no meu escritório depois, Evie. Tenho algo a lhe mostrar. Está melhor assim?’ Disse revirando os olhos, impaciente

‘Sim, muito. Até mais’ Sorri satisfeita e ele fechou a porta

A professora me indicou a cadeira vazia rindo e sentei. Em cima da mesa tinha vários artigos que os alunos que já faziam parte do jornal tinham escrito, muitas fotos e algumas fichas de inscrições para as vagas abertas esse ano. A minha estava por cima de todas.

‘Então decidiu se juntar à nossa redação esse ano, Srtª. Parvanov?’

‘Sim, gostaria de participar, mas não sei bem o que posso fazer. Não sei se consigo escrever os artigos que saem no jornal’

‘Temos vagas para todos os alunos, independente do que eles sabem fazer’ Ela fechou minha ficha e sorriu ‘Mas você sempre apresenta excelentes trabalhos em minhas aulas, escreve muito bem. Tenho certeza que se encaixará perfeitamente bem na posição de redatora. E você pode escrever sobre o que quiser. Dificilmente a editora-chefe determina o tema para cada redator’

‘Não é você a editora-chefe?’

‘Não, eu apenas ajudo os alunos, estou sempre presente nas reuniões, mas elejo um editor-chefe todo ano para comandar o Durmstrang Weekly News. Esse ano nossa editora é Georgia Yelchin’

‘Ah maravilha’ Falei com um sorriso amarelo, para ela não perceber meu desanimo repentino

‘Georgia é uma excelente editora, está empenhada no cargo, você vai gostar de trabalhar com a nossa equipe. Pode começar amanhã, as matérias já foram divididas, mas pode ficar observando e ver como funciona nossa redação’

‘Obrigada professora, amanhã estarei aqui’

Sai da sala ainda sorrindo, mas quando fechei a porta, desfiz a cara de felicidade. Georgia Yelchin era a editora do Durmstrang Weekly News? Eu seria sua subordinada? Aquilo só podia ser um pesadelo! Mas não poderia desistir agora, que explicação daria à professora? O jeito seria encarar, seria meu mais novo desafio na escola, sobreviver às ordens da Georgia sem assassiná-la.

Não tinha nem mais ânimo de passar no escritório do meu avô, mas tinha prometido e não seria louca de deixá-lo esperando a noite inteira e não aparecer. Então não tinha alternativa senão ir até lá. Ao menos poderia reclamar um pouco sobre a novidade.

‘Entre, entre’ Ouvi sua voz animada quando abri a porta devagar ‘Pensei que demoraria mais com a Mira’

‘Não, foi rápido, ela só queria dizer que tinha conseguido a vaga de redatora’
‘Ah, mas que maravilha! Tenho certeza que vai se sair muito bem! Serão os artigos mais bem escritos do jornal!’

‘Obrigada vovô, mas não tão boa assim, será minha primeira experiência com isso, vamos ver como me saio’ Sentei em frente a ele fazendo uma careta ‘E Georgia Yelchin é a editora do jornal, ela vai fazer da minha vida um inferno’

‘Vocês ainda estão brigando?’ Disse com um tom de voz meio reprovador, mas não tanto assim

‘Sempre brigamos, desde que nos conhecemos’ Cruzei os braços irritada e ele riu ‘Ela me persegue, não me deixa em paz!’

‘Essas competições entre alunos pela melhor nota são saudáveis, contanto que episódios como as eleições não se repitam. Vá para a redação do jornal e faça sua parte sem dar importância ao que Georgia diz’

‘É, vou fazer isso. O que queria me mostrar, vovô?’

‘Já que você mencionou’ Ele abriu uma de suas gavetas e puxou um envelope com muitos selos espalhados. Reconheci como sendo uma das cartas que Mario costuma mandar, ele se recusava a usar o correio bruxo alegando que o trouxa é mais divertido. Sempre coloca milhares de selos para ver a reação dos carteiros ‘Seu primo tem novidades’

Vovô estendeu a mão para que eu pegasse o envelope e abri curiosa. Novidades do Mario eram sempre divertidas. Tinha algumas fotos dele com um uniforme azul e vermelho todo sujo de lama. Olhei para o vovô sem entender nada e ele riu.

‘Mario entrou para a seleção espanhola juvenil de trancabola? É isso?’

‘Sim, não é incrível?’ Vovô estava realmente empolgado ‘Meu neto vai competir nos torneios pelo mundo todo!’

‘É bem a cara dele, jogar essa coisa bruta’ Revirei os olhos rindo ‘Mas e o Diego? Não estou vendo nenhum gêmeo nas fotos’

‘Diego não se inscreveu, sabe como eles são diferentes em alguns aspectos’ Vovô guardou as fotos e a carta na gaveta ‘Mas eles todos vêm para as olimpíadas, e poderá perguntar a ele pessoalmente’

‘Todos mesmo? Até a Helena?’

‘Sim, Helena se inscreveu para xadrez de bruxo, tambem vem’

‘Durmstrang vai ficar pequena para tantos Stanislav... Não sabia que tinha time de trancabola na escola da Espanha, normalmente não é só quadribol?’

‘O novo programa de esportes mágicos começou a funcionar lá ano passado, e como está correndo tudo tão bem nas escolas da Espanha e dos Estados Unidos, Durmstrang também começara a trabalhar com ele’

‘Como assim? Não teremos mais só quadribol?’ Comecei a me animar

‘Não. Depois das olimpíadas um professor novo que ainda não foi contratado passará a dar aulas de outros esportes, e Durmstrang terá o primeiro time de trancabola para disputar as competições bruxas juvenis!’

‘Estou gostando do pai da Annia na direção da escola... Tem tanta coisa acontecendo, nunca tivemos nada disso!’

‘Igor está fazendo um excelente trabalho. E ainda há muito mais por vir, vocês verão’

‘O que mais vai acontecer?’ Perguntei curiosa ‘Não são só as olimpíadas?’

‘Já falei demais, nossa conversa termina aqui!’ Disse rindo

‘Mas vovô, não é justo! Começou a falar, agora tem que terminar!’

‘Não senhora, pode ir, já está tarde’ Ele levantou da mesa e praticamente me empurrou para a porta ‘Amanhã tem aula cedo, não pode se atrasar’

Ainda tentei argumentar, mas ele não disse mais nada e fechou a porta antes que eu tentasse impedir. Fiquei parada no mesmo lugar pensando se entrava outra vez ou não, mas acabei desistindo e voltando para a república. Vovô não ia mesmo contar mais nada, e precisava dormir bem para acordar disposta. Amanhã seria o primeiro dia do meu inferno astral...

Friday, September 21, 2007

Quando acordou no dia de seguinte à briga com Evie, Micah tinha a sensação de que estava despertando depois de um porre. Sua cabeça doía, era como se estivesse de ressaca. Depois que ela saiu cuspindo fogo do quarto, com raiva, ele se arrependeu de tê-la tratado com grosseria. Ela não havia feito nada, na verdade. E ele havia sido extremamente estúpido com ela. Havia sido estúpido sem razão.

‘Você não vai se desculpar com ela?’

‘Quantas vezes mais você vai perguntar isso?’ Micah olhou por cima dos livros para Ty ‘Só pra eu me preparar’

‘Cara, você nem deixou a menina falar!’ Ty insistiu ‘Foi até engraçada a cena, achei que ela fosse lançar um crucio em você no final, mas você exagerou um pouco’

‘Eu já falei que sei que descontei nela o estresse dos últimos dias e também já falei que vou me desculpar, mas não agora. Já viu a quantidade de dever de alquimia que a Kollontai passou? Vamos ser realistas, nem que eu peça desculpas de joelhos e beije os pés dela, ela não vai voltar a me dar aulas’

‘Isso é verdade, já deu pra perceber que ela é tão orgulhosa quanto você’ Ty jogou a mochila nas costas ‘Bom, então boa sorte com os livros. Eu vou amolar a Annia um pouco pra ver se ela me dá uma cola, cansei de tentar entender. Se conseguir alguma coisa venho em seu socorro’

Ty foi para a república das meninas e Micah ainda tentou terminar os deveres por meia hora, mas desistiu. Era inútil sem ajuda, e ele não iria pedir socorro a Georgia. Além de não entender o que ela dizia, a garota ainda estava indignada e ofendida por ele ter abandonado as aulas com ela.

‘Talvez seja mais fácil desistir dessa matéria maluca’ Resmungou fechando os livros

Já estava quase na hora da reunião do clube de preparação para a academia de aurores e ele ainda precisava chegar ao castelo. O pedido de desculpas teria que esperar um pouco mais e ele se sentiu grato por isso. Não fazia a menor idéia de como abordá-la. Sabia que a garota estava uma fera, não olhou para ele o dia inteiro, e ainda teve o apoio das amigas, que pareciam prestes a triturá-lo caso ousasse se aproximar.

Porque estava sendo tão difícil pensar em uma maneira de fazer isso logo? Ela é só uma garota como outra qualquer. Talvez um pouco mais irritante que as demais, mas uma garota comum. Com Shannon seria tão mais simples, ele não precisaria falar nada para que ela soubesse o que ele queria dizer. Ele sentia falta da amiga. Tinha certeza que ela estaria batendo nele naquele momento se soubesse o que ele tinha feito, mas queria que ela estivesse ali assim mesmo. E perder a calma e brigar com Evie por motivos idiotas não estavam em seus planos. Ele precisava se controlar ou colocaria tudo a perder.

A aula seguiu sem muitos incidentes, mesmo o professor insistindo que Micah trabalharia em dupla com Max. Ele odiava aquele garoto, mas tinha que admitir que ele era bom em duelos. Ainda não havia atingido um nível capaz de vencer Micah, mas não era facilmente derrubado.

‘Acho que podemos encerrar por hoje’ Skoblar falou alto e o som dos feitiços ricocheteando nos ares cessou ‘Quero que descansem no fim de semana, façam coisas agradáveis, e voltem quinta-feira com lembranças boas. Vamos começar a treinar o feitiço patrono. Micah, Max, foram muito bem hoje. Podem ir, estão todos dispensados’

Max passou esbarrando nele quando ia sair da sala, mas Micah não retrucou. Não valia a pena mais um estresse essa semana. Já passava das 19h e ele não tinha mais desculpas para não falar com ela. Os únicos clubes do resto da noite eram o jornal e o time de quadribol da escola, e nenhum dos dois participava deles.

Micah foi direto para a arena de treinamento das olimpíadas, sabia que ela estaria lá com as amigas. Mas talvez o momento para abordá-la não fosse muito propício. Evie estava parada com um arco na mão e várias flechas espalhadas ao seu redor, tendo o alvo já quase todo ocupado por elas. Ele não sabia que ela estava inscrita em Arquearia. Para ela virar e acertar uma nele não custava muito, bastava ele irritá-la mais um pouco.

‘Abaixem suas armas, eu vim em missão de paz’ Disse brincando quando se aproximou, mas se arrependeu quando recebeu quatro olhares atravessados.

‘Perdeu alguma coisa aqui?’ Milla perguntou. Evie largou o arco no chão e saiu de perto do grupo

‘Não venham atrás’ Ele falou olhando para as meninas e saindo atrás dela ‘Evi, espera!’ Ele segurou seu braço, mas soltou depressa quando ela olhou feio ‘Ok, não encosto mais em você’

‘O que você quer? Esqueceu de alguma ofensa?’

‘Eu sei que eu fui um idiota ontem e exagerei. Não tinha o direito de falar com você daquele jeito’

‘Sim Micah, não tinha. Você me acusou sem qualquer fundamento, eu estava apenas repetindo algo que ouvi! Isso não significa que pense do mesmo jeito’

‘Eu sei disso, mas estava irritado com outras coisas e acabei descontando em você. Não foi certo’

‘Você me acusou de ser preconceituosa’ Ela olhava para ele ainda ressentida ‘Isso só prova que você não sabe absolutamente nada sobre mim. Se me conhecesse ao menos um pouco, nunca teria dito aquelas coisas’

‘Eu não conheço mesmo você, mas quero conhecer. Quero saber mais coisas sobre você, não só as inúteis. E também quero que você me conheça direito. Eu gosto de você, quero continuar sendo seu amigo. Eu-’

‘Você não consegue dizer, não é?’ Evie riu

‘Dizer o que?’ Ele não entendia do que ela estava rindo

‘Desculpa. Não percebeu que você está se desculpando sem de fato dizer a palavra? É inacreditável!’ Ela continuava rindo ‘Você alguma vez já se desculpou com alguém? E não digo se desculpar por esbarrar na pessoa, e sim por algo que tenha feito e se arrependeu’

‘Claro que já!’ Falou indignado

‘Então diga, estou esperando’ Ela cruzou os braços e continuou encarando ele, embora parecesse estar se divertindo ‘São só duas palavras, eu sei que você consegue’

‘Me desculpa, Evi’ Disse fazendo uma reverencia ‘Me perdoe por ser um idiota, eu sinto muito ter gritado com você, de ter lhe acusado de algo que você não é. Está bom assim?’

‘Ah sim, agora melhorou. Tudo bem, eu desculpo você pelo ataque gratuito de ontem. Mas não costumo dar uma 3ª chance às pessoas’

‘Tubo bem, não vou pisar na bola outra vez. Mas nossas aulas de alquimia continuam canceladas, não é?’

‘Sem dúvida’ Ela nem ao menos considerou ‘Mas não é por isso, eu já ensinei a você tudo que sabia, a partir de agora estaria tentando entender junto com você. Se quiser pode se juntar ao nosso grupinho de estudos na Avalon, será bem vindo. Mas é só assim que vai estudar alquimia comigo agora’

‘Muito justo. Mas se você quiser, ainda posso continuar com as aulas de DCAT’

‘Obrigada, mas vou dispensar. Já temos quatro tempos de DCAT e duas horas de clube de duelos, é o suficiente. E acho que estou pegando o jeito da coisa’

‘Você me odeia, não é? Mas tudo bem, eu pedi isso’

‘Eu não odeio você, Micah’ Evie riu ‘Mas fiquei chateada ontem, não gosto que me julguem sem me conhecer antes’

‘E eu nunca julguei ninguém assim, não faço isso. Me arrependi logo que você saiu batendo as portas da república, mas achei mais seguro esperar você se acalmar’

‘Fez bem, ontem seria capaz de lançar uma maldição imperdoável em você’

‘Bem que o Ty falou’ Disse rindo ‘Amigos outra vez?’

‘Amigos’ Ela estendeu a mão e ele a puxou rápido, lambendo um dedo e colocando no ouvido dela, correndo em seguida ‘Argh que nojo, já falei pra não fazer isso!’ Disse passando a mão na orelha e correndo atrás dele. Estava tudo normal outra vez.

Wednesday, September 19, 2007

‘Alguém sabe me dizer o nome da funcionária do Ministério da Magia Inglês que criou uma lei onde exigia que todos os bruxos nascidos trouxas fossem registrados?’ A professora Mira falou de repente, com um tom de voz irritado

‘Desculpa professora, mas o que isso tem a ver com a matéria?’ Georgia perguntou receosa. Era muito raro ver Mira Sakharov daquele jeito

‘Dolores Jane Umbridge’ Micah respondeu sem entusiasmo, como se saber a resposta para aquela pergunta não fosse gratificante

‘Exato Sr. Wade, está correto. E respondendo a pergunta da Srtª Yelchin, não tem nada relacionado à nossa matéria, mas gostaria de abordar um tema fora do contexto hoje’

Os alunos se aproximaram de onde a professora estava sentada e se acomodaram na grama, formando um circulo ao redor dela. Era comum as aulas de Literatura Mágica ocorrerem nos jardins, mesmo quando a neve cobria boa parte da escola. As aulas eram sempre dinâmicas e animadas, mas a de hoje prometia ser particularmente interessante.

‘Acho que antes de começarmos a debater o assunto que tenho em mente, devo uma explicação. Esta funcionária do Ministério Inglês, que voltou a trabalhar depois de ter sido afastada por dois anos e fez um verdadeiro estrago nas leis bruxas até muito pouco tempo atrás, esta desaparecida. DESAPARECIDA!’ Ela gritou e os alunos saltaram de susto ‘E deixou para trás uma lei que classifica centauros como feras. FERAS!’ Ela gritou outra vez e os alunos se encolheram assustados’ Alguém aqui considera um centauro como uma fera?’

‘Um centauro uma vez me atacou...’ Um garoto da Mannaz falou quase que com medo e todos olharam para ele ‘Mas tenho quase certeza que foi porque o provoquei’

‘Tenho absoluta certeza que foi atacado porque o provocou de alguma forma, Sr. Stankovic’ Mira parecia começar a se acalmar e encarou os alunos ‘Mas a questão não são os centauros. O fato é que um grande amigo meu de infância que mora em Londres vem de uma família trouxa, e teve que passar pela humilhação de ser interrogado enquanto tentava provar parentesco com algum bruxo. É claro que ele não conseguiu, então teve sua varinha confiscada e se viu forçado a fugir e se esconder em florestas, como se fosse um criminoso! Essa louca já foi afastada e suas leis começam a serem erradicadas pelo novo Ministro da Magia de lá, mas e as vitimas que foram feitas durante o período de tirania dela?’ Ela parou de falar outra vez e respirou fundo antes de continuar ‘Enfim, o assunto que gostaria de debater com vocês hoje é justamente essa discriminação que ainda existe entre nós, bruxos, com bruxos que não tem sangue puro. Acho o momento muito oportuno, pois pela primeira vez nossa escola está admitindo alunos mestiços e trouxas de nascença. Uma decisão tardia, porém mais do que certa’

A turma caiu em silêncio, e Evie sabia que estavam todos pensando nas mudanças que vinham ocorreram na escola desde o início de mês. Sem dúvida a mais comentada era de que agora Durmstrang abrigava bruxos mestiços e que nasceram trouxas. Ela não via problemas com isso, mas era óbvio que muitos alunos não aceitavam essa novidade. E foram justamente esses alunos que não se pronunciaram durante toda a aula...

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‘Minha roupa está rasgada?’ Micah puxou o casaco para olhar suas costas ‘Ou estou sujo de tinta?’

‘Não tem nada de errado com a sua roupa, por que a pergunta?’ Evie olhou para ele confusa

‘Então por que estão todos me olhando? Desde que saímos da aula de Literatura Mágica, vários olhos estão me seguindo, e não só de pessoas da nossa turma’

‘Ah, é porque você vem de família trouxa, e para eles é uma novidade’ Evie falou despreocupada ‘Acho que a maioria deles nunca sequer teve contato com um bruxo que não tivesse sangue puro. Vovô disse que o novo diretor está enfrentando a ira de muitos pais que não concordaram com essa novidade, que acham que Durmstrang não deveria abrigar esse tipo de bruxo’ ela parou de falar de repente, vendo que Micah estava parado olhando sério para ela ‘O que foi?’

‘Esse tipo de bruxo?’ A voz dele soou fria e ao mesmo tempo magoada ‘É isso que vocês acham que somos, não é? A escória da raça!’

‘Eu não acho isso, só falei o que ouvi e-’ ele a cortou

‘Me avisaram que as pessoas que estudavam em Durmstrang eram preconceituosas, mas eu não esperava isso de você, achei que era diferente’ Micah olhava para ela incrédulo

‘Micah, eu não penso como eles! Se quer saber, tenho muitos amigos trouxas e nunca me incomodei com isso!’

‘Que bonito da sua parte, fazendo amizade com esse tipo de bruxo’ Ele assumiu um tom de deboche que magoava ela ‘Você acha que não, mas na verdade é igual a todos esses esnobes e preconceituosos que estudam nessa porcaria de escola! E não precisa mais me ajudar com a matéria de Alquimia, eu me viro sozinho. Antes só do que mal acompanhado’

Micah virou as costas para ela e saiu andando com raiva em direção a Spartacus. Evie ficou parada olhando assustada e quando ele já estava fora de seu campo de visão, marchou urrando de raiva de volta para sua república. Ela sabia que ele era uma pessoa difícil, mas agora tinha passado dos limites!

~*~*~*~*~

Evie entrou no quarto marchando furiosa e bateu a porta com violência, assustando as amigas. As quatro observaram a garota passar direto por elas e se atirar na cama, com a cara no travesseiro. O grito que ela deu foi tão forte que nem mesmo a almofada pode abafar tudo, e ele foi ouvido em alto e bom som. No mesmo instante elas correram para sentar na beira da cama dela.

‘Evie, o que aconteceu?’ Milla perguntou espantada. Ela nunca tinha visto a amiga agir assim

‘Acho que a pergunta mais sensata a se fazer agora é: o que o Micah fez dessa vez?’ Vina falou tentando não rir

‘O QUE ELE FEZ?’ Evie tirou o rosto do travesseiro e encarou as amigas. Ela estava vermelha de raiva ‘Ele só me chamou de ESNOBE E PRECONCEITUOSA!’

‘Primeiro: acalme-se’ Nina falou esfregando os ouvidos ‘Segundo: explica isso direito, porque está falando sereiano pra gente’

‘A gente estava voltando da aula de DCAT, eu ia ajudar ele com a matéria de hoje de Alquimia, e tinha um monte de gente olhando pra ele’ Evie abaixou o tom de voz e começou a falar

‘Porque ele nasceu trouxa, obvio’ Milla deduziu ‘Os alunos ainda não acostumaram’

‘Sim! Eu disse isso a ele na maior inocência e ele me acusou de ser preconceituosa!’ Ela ameaçou elevar a voz outra vez, mas se controlou ‘Ele nem me deixou explicar que não pensava como os outros, e ainda debochou de mim!’

‘Se ele acusou você de ser assim, só mostra que ele é um idiota que não liga pra ninguém’ Nina falou tomando as dores da amiga

‘Sim, é um imbecil, eu odeio ele!’ Ela urrou outra vez e Annia não conseguiu reprimir uma risada ‘O que foi?’

‘Fala sério Evie, você não odeia ele coisa nenhuma!’ Todas olhavam para ela agora ‘Você ta é gostando dele, isso sim!’

‘Por Merlin, não comece com as teorias mirabolantes, não estou com humor pra isso hoje!’ Evie respondeu revoltada e levantou da cama, respirando fundo antes de sair andando em direção à porta

‘Aonde você vai?’ Vina perguntou

‘Mostrar pra ele que ninguém fala comigo daquele jeito!’

As quatro ficaram observando Evie sair pisando forte pelo quarto e quando ela bateu a porta outra vez, correram para a janela.

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A porta da república Spartacus estava sem tranca e quando Evie entrou abrindo-a com força, Ty saltou assustado. Ele estava recolhendo alguns livros ao lado da porta e um deles voou longe com a entrada repentina da garota. E nem mesmo precisou dizer o que procurava. Ele apontou na direção da escada indicando que Micah estava no quarto e quando ela subiu irritada, ele e mais alguns garotos correndo atrás para ver o show.

‘É falta de educação entrar no quarto dos outros sem bater’ Micah levantou os olhos para ver quem entrava fazendo barulho e fechou a cara ‘Perdeu alguma coisa aqui?’

‘Quero falar com você’

‘Não tenho nada pra falar com você, acho que já deixei isso claro. Dá pra sair do meu quarto?’

‘Não, não vou sair sem antes você me ouvir!’

‘Não quero ouvir nada, vai embora’ Micah levantou para empurrá-la para fora do quarto, mas não chegou a encostar a mão nela

‘Você não me conhece e não tem o direito de falar daquele jeito!’ Ela já havia desistido de tentar se controlar e berrava com ele

‘Eu falo com você do jeito que eu achar que merece, e você não pode ditar isso’

‘Não pode coisa nenhuma! Quem você pensa que é?’ Evie avançou pra cima dele, perdendo a calma de vez

‘Quem VOCÊ pensa que é, pra botar o dedo na minha cara?’ Ele agarrou a mão dela e apertou com força, encarando-a bem perto ‘Deixe-me alertá-la de uma coisa, princesinha... Não é só porque você foi criada sem ouvir alguém contrariar suas vontades ou falar mais alto que vai ser sempre assim’

‘Larga minha mão, está me machucando’ Evie avisou olhando para ele com a mesma raiva que ele olhava para ela

‘Não’ Ele a puxou mais para perto e ficaram a centímetros um do outro ‘Não sem antes você pedir desculpa’

‘Não tenho do que me desculpar se foi você que me acusou de ser preconceituosa e me chamou de esnobe!’ Ela tentou puxar a mão, mas ele era mais forte

‘Está esperando que eu me desculpe?’ Ele riu e a deixou mais irritada ainda ‘Você que invadiu meu quarto e botou o dedo na minha cara, uma falta de educação’

‘Não vou me desculpar, você primeiro’ Ela ainda tinha a mão presa pela dele, mas começava a diminuir o tom de voz

‘Você é irritante, sabia?’

‘E você é um idiota’

‘Formamos o casal perfeito’

‘Nem sonhando’ Ela deu um soco no braço dele com a mão livre e conseguiu se soltar ‘Agora mesmo que você vai ficar sem ajuda com as matérias, procure outra pessoa pra te dar aula!’

‘Você também pode procurar outro otário pra te ensinar DCAT’ Ele alisou o braço e olhou sério para ela ‘E se me bater de novo, eu bato em você’

‘Você não se atreveria’ Ela desdenhou, mas sem muita certeza

‘Vai pagar pra ver?’ Ele deu um sorriso debochado para ela e Evie bufou

Micah ficou observando ela sair fuzilando os fofoqueiros com o olhar e fechou a porta quando Ty começou a rir, recuperando o mau humor e se largando outra vez na cadeira para tentar entender a matéria de Alquimia. Ela definitivamente não ia mais ajudar ele com as fórmulas...

Tuesday, September 18, 2007

“Quando for forte, evite-o.
Quando estiver irado, atormente-o.
Assim quando ele buscar vantagem, desoriente-o.

Quando estiver no caos, tome-o. “

Zun Tsu



Estávamos indo para a aula de DCAT com Marko Skoblar, e Luka e sua turma nos olhava irritados. Sabiam que o estrago feito pela bibra e os diabretes no dormitório deles, tinha nossa total participação, porém não tinham provas, e se limitavam a nos olhar feio e estalar os dedos, fazendo ameaças veladas. Dos três o único que parecia querer acabar com a palhaçada e começar novamente era o Chris, pelo menos nos tratava com educação. Menos mal, já estava pensando em como me desculpar com Gabriel.
- Muito bem, quem pode me falar sobre o feitiço Protego?
Alguns pares de mãos se levantaram e eu e Micah, nem nos demos ao trabalho de responder, ficamos olhando em volta para ver se os alunos estavam fazendo progressos. Annia, deu a resposta certa e imitei uma foca batendo palmas, para atormenta-la. Ela me olhou feio, mas dei um sorriso enorme para ela, e suas amigas começaram a rir, ela só faltou ranger os dentes de tanta irritação.
- Já que estamos numa sala de duelos, vamos fazer um pequeno duelo com os feitiços aprendidos. Vou separá-los em duplas.
Evie estava com seu irmão Max e ele dizia convencido:
- Prepare-se para perder maninha.
- Não seja babaca Max. - ela respondeu seca.
E Annia, iria duelar com Luka. Após uma tentativa mal sucedida dela e o sorrisinho convencido dele, resolvi me meter, afinal ele não era tão bom assim, para bancar o superior. Desarmei meu oponente e comecei a prestar atenção em Annia. Só de ver o jeito que ela sacudiu a varinha, já vi que teria que dar umas aulas a ela.
Ela levantou a varinha e antes que terminasse o de dizer o feitiço, a varinha voou da mão do Luka.
- Consegui! – disse Annia alegre.
- Mas ela nem falou o feitiço direito. - resmungou Luka.
- Ela o desarmou senhor Ivanov, isso é o que conta. – respondeu o professor e não demorou muito e Evie fazia o mesmo com Max. Procurei Micah e ele tinha um sorriso debochado no rosto. Após meia hora, o professor resolveu deixar a aula mais dinâmica. - Vamos trocar os pares... - disse o professor.
- Professor. - chamou Luka.
- Pois não, senhor Ivanov?
- Os novatos têm mais experiência nesta matéria do que nós, eles poderiam duelar entre si, e mostrar o que aprenderam. Seria um incentivo. - e outros alunos começaram a apoiar a idéia dele. Micah e entendemos aonde os babacas queriam chegar e eu disse:
- Seria interessante se Micah e eu duelássemos contra os melhores da turma, senhor. Inclusive poderemos mostrar como se posicionar numa luta. Eles estão ficando bons.
- Claro que usaríamos os feitiços mais leves, não queremos machucar ninguém. – apoiou Micah.
O professor após olhar de nós para eles, percebeu o que estava havendo ali e resolveu, que talvez fosse melhor, acabar com a questão de uma vez. Separou 6 alunos Luka, Chris e Max entre eles. Fomos para o tablado e começamos o duelo. Quando meu oponente abriu a boca para lançar um Expelliarmus eu disse:
- Engorgio. - e sua língua inchou impedindo-o de falar. A classe caiu na risada, e o professor, após desfazer o feitiço disse:
- Volchov: fora, o próximo...
E um a um íamos desarmando os oponentes e mostrando os feitiços que sabíamos, Max e Luka ficaram por último, e o professor disse:
- Vamos lá senhores, podem usar tudo o que souberem para desarmar seu oponente. Max encarava Micah com rancor e Luka disse baixo:
-Vou acabar com você.
- Entra na fila.
- Lembrem-se usem tudo o que souberem para desarmar seu oponente. Vamos lá posição de combate.- disse o professor.
Micah e Max duelavam bem, e Luka se mostrou melhor preparado do que durante a aula, mas ainda era inexperiente. Lancei-lhe um Rictusempra, e ele se dobrou de tanto rir, Max se distraiu e levou um Tarantallegra de Micah e começou a marchar tão rápido que caiu ao chão, equanto suas pernas se mexiam desordenadamente.
Micah e eu nos aproximamos e não os enfeitiçamos mais, afinal eles estavam caídos, e isso foi o nosso erro, porque ambos juntaram suas varinhas e disseram o feitiço deixando a sala em silencio quando ouviu...
- Crucio.
Micah na hora gritou Protego formando um escudo e eu nem pensei e já disse: Reflexus, gerando uma barreira que refletiu o feitiço e fez a maldição imperdoável voltar para eles, que nem tiveram tempo de se desviar, e logo se contorciam de dor.
- FINITE INCANTATEN! – disse o professor e todos os feitiços cessaram seu efeito.
- Eu disse desarmar apenas, e não tentar matar. Esqueceram que é proibido usar maldições imperdoáveis? Porque o fizeram?- ele perguntou zangado para os dois patetas e Luka respondeu arquejante, pelas dores:
- O senhor disse usem tudo o que sabem para desarmar seu oponente, nós usamos. - o professor passou a mão pelos cabelos, acho que buscando paciência.
- A aula acabou! Nos vemos na próxima aula. – e começou a dispensar a classe e nos chamou:
- Senhores Wade e McGregor, gostei muito dos feitiços de vocês. Já decidiram suas carreiras? Ambos têm muito potencial para serem aurores.
- Eu vou ser auror. - disse Micah e o professor aprovou a resposta e olhou para mim.
- Vou jogar quadribol profissional. – respondi.
-Bom, pelo menos será um jogador que sabe se defender. - e o professor embora risse não conseguiu esconder sua decepção. - Podem ir e nos vemos na próxima aula.
Saímos da sala bem devagar, para podermos ouvir o que ele iria falar para Max e Luka, e ao ouvirmos a palavra detenção e diretor, sorrimos satisfeitos e eu disse:
- Acho que eles não aprenderam direito a parte que diz "dividir para conquistar"...
- Pelo jeito nem dividir eles sabem. - respondeu Micah e fomos embora rindo e lembrando da tentativa patética deles em tentar nos vencer num duelo. Encontramos as garotas do lado de fora, e Iago estava junto com elas e já sabia do que tinha acontecido nos olhou sério e disse:
- Tomem cuidado: Eles estão chegando ao limite e não vão deixar passar.
- Contamos com isso. – respondemos ao mesmo tempo e voltamos a rir, ante o olhar incrédulo das garotas.
Elas não entendem: se você entra numa guerra você tem que estar preparado para tudo, até mesmo para perder, e se perder aceite a derrota com honra. Luka e seus amigos esqueceram de ler esta parte.

Monday, September 17, 2007

‘Deixem os caldeirões em suas bancadas e não se esqueçam de marcá-los de modo que possa identificá-los depois’ O professor Klasnic andava entre as bancadas observando o trabalho dos alunos ‘Essa poção demora 6 meses para ficar pronta, vamos trabalhar nela todas as noites nas reuniões do clube. Sr. O’Shea, na reunião de quinta-feira poderá recomeçar a sua. Por hoje pode limpar o caldeirão e deixá-lo na bancada’

Chris esvaziou o caldeirão com um movimento rápido da varinha e começou a atirar os livros na mochila sem paciência. Evie observava a irritação do amigo sem dizer nada. Era a primeira vez que Chris errava uma poção em aula, principalmente uma poção importante e complicada como a Felix Felicis. Micah e Ty sufocavam risadas em uma bancada logo atrás e ela olhou irritada para os dois. Chris saiu da sala logo que o sinal tocou e Evie ficou para trás guardando as coisas.

‘E ai? O que vamos ver na aula de alquimia hoje?’ Micah sentou em cima do livro que ela ia guardar

‘Não vamos estudar hoje, você tem a noite livre, pode fazer o que quiser’ Disse apontando para o livro ‘Pode me deixar pegar?’

‘Ah desculpa’ Ele devolveu o livro ‘Por que não vamos ter aula? Eu ainda não peguei toda a matéria’

‘Se quiser ter aula essa noite peça ajuda a Annia, ou a Georgia se preferir, mas não estou com paciência hoje’ Ela fechou a mochila e atirou nas costas ‘Agora com licença, quero passar’

‘Eu fiz alguma coisa pra você?’ Micah cruzou os braços e se pôs na frente dela ‘Ou você está tomando as dores do seu amiguinho e do seu irmão?’

‘Não estou tomando as dores de ninguém, não me interessa onde vai terminar essa guerra idiota entre vocês’ Ela forçou a passagem por ele ‘Mas quero saber o que o Chris tem, e prefiro passar essa noite conversando com ele do que estudando alquimia com você. Posso?’ Ela olhou para a porta sem sorrir e ele se afastou

Passando por ele sem falar mais nada, ela saiu da sala. Foi direto para o salão principal, mas Chris não estava entre os alunos que jantavam. Evie não sabia exatamente o que havia deixando o amigo desanimado e desatento nas aulas, mas não podia ser apenas o fato de que seu uniforme oficial dos Ballycastle Bats não existisse mais. Ela sabia que Chris era fanático pelo time, mas não era para tanto. Decidindo pular o jantar para tentar encontrá-lo, ela se despediu das amigas e saiu do salão.

Não foi difícil encontrá-lo. Quando todos os alunos estão concentrados em um único lugar tentando comer alguma coisa antes de recomeçar a maratona de aulas noturnas, qualquer som vindo dos terrenos da escola pode ser quem está procurando. Chris estava sozinho na arena destinada aos treinos para as olimpíadas. Ele tinha um fone no ouvido para abafar o som e praticava tiro. O alvo já estava todo perfurado quando Evie se aproximou. Ele abaixou a arma e tirou a proteção, mas não disse nada, se ocupava em descarregar o revolver e guardá-lo no armário.

‘Está ficando bom’ Evie falou sorrindo ‘Acho que pode vencer essa competição’

‘Não consigo acertar o alvo principal de primeira, isso vai me eliminar. Só vou competir porque gosto de atirar’ Disse sem olhar para ela, trancando o armário e guardando as chaves no bolso

‘O que aconteceu, Chris?’ Perguntou encarando ele ‘Você anda esquisito, e todo mundo já percebeu’

‘Não tem nada de errado comigo. Por que você sempre acha que alguma coisa está acontecendo e que precisa consertar?’ Respondeu irritado e saiu da tenda

‘Eu não acho que sempre tem alguma coisa errada com as pessoas!’ Evie saiu atrás dele reclamando ‘E não acho que tenho que consertar nada!’

‘Acha sim, pois está aqui me fazendo perguntas. Por que não está jantando ou dando aulas de alquimia para o novato? É porque acha que pode consertar o que possa ter de errado comigo!’

‘Eu estou aqui porque você é o meu melhor amigo e estou preocupada com você! Se não me importasse, não teria me incomodado em caminhar até aqui nesse frio’ Ela o alcançou e parou em sua frente ‘Você nunca falou assim comigo, e nos conhecemos desde que éramos crianças. Conheço você mais do que pensa, e sei que tem alguma coisa lhe incomodando a ponto de ter tirado toda a sua atenção nas aulas. Nunca vi você errar uma poção desde que entramos para a escola. Mas se não quiser conversar, não tem problema. Só não desconta em mim para que eu desista de perguntar’ Evie virou as costas irritada e saiu andando pelo gramado

‘É por causa do uniforme’ Chris falou baixo antes que ela saísse da arena

‘Está de mau humor e cabisbaixo por causa de um uniforme de quadribol?’ Ela parou de andar e encarou-o

‘Não é um uniforme de quadribol qualquer’

‘Sim, eu sei, é o uniforme do Ballycastle Bats, o time que você torce’ Ela o interrompeu ‘Conheço a história’

‘Você vai me deixar falar ou vai ficar interrompendo?’ Chris esboçou um sorriso e Evie tapou a boca com as mãos, rindo ‘Obrigado. Não é só um uniforme do meu time de quadribol, mas era o uniforme que minha madrinha tinha me dado de aniversário. Meu pai tinha pedido que eu não trouxesse para a escola, mas eu não o ouvi e trouxe assim mesmo. E agora ele está completamente destruído, não sobrou nem mesmo o morcego vermelho do símbolo’

‘Poxa Chris, desculpa. Não sabia que o uniforme tinha sido presente da Megan’ Evie sentou ao seu lado na grama e ele abaixou a cabeça ‘Mas vocês pediram para algo assim acontecer... Não estou dizendo que aprovo o que eles fizeram, antes que fique brabo comigo. Mas você tem que admitir que foram vocês quem começaram essa guerra besta’

‘Eu sei disso. Nem queria participar dela, se quer saber a verdade. Mas Max e Luka ficaram dizendo que seria engraçado zuar um pouco com a cara dos novatos e acabei topando. Se soubesse que ia tomar proporções gigantescas teria ficado de fora’

‘Bom, agora não há mais nada a se fazer quanto ao uniforme. Mas se vocês não revidarem o trote deles, talvez isso pare’

‘Não vou fazer nada, cansei, não quero passar o ano inteiro em pé de guerra com dois estrangeiros. Um deles ainda é o melhor amigo do meu primo e acho que o outro também conhece o Gabriel. Mas não consigo evitar estar chateado com o que aconteceu e sentir raiva deles por isso’ Chris deitou na grama e apoiou a cabeça nas mãos ‘Ela ta fazendo muita falta, Evie. As férias foram horríveis, meu tio Scott não sai mais, não tem mais animo para nada. E lá em casa e na casa do Shane as coisas não estão muito diferentes. Chloe e Bridget estão morando na casa do Shane e não queriam voltar para a escola no começo do mês. Nem sei se meus pais e os dele vão vir assistir às Olimpíadas. Mas não os culpo se não vierem, eu também não viria’

‘Eu sei como é perder alguém que a gente ama, mas só o que você pode fazer é se lembrar das coisas boas sobre ela, de tudo que ela ensinou a você, e não ficar assim. Ela era tão alegre, sempre de bom humor, não ia gostar de ver você assim, mesmo que tenha todos os motivos do mundo. Sua mãe e seus tios com o tempo vão melhorar um pouco. Aceitar eles nunca vão, a gente nunca aceita e se conforma, só aprende a conviver com isso’ Ela olhou para ele sorrindo e ele sorriu de volta, mesmo que ainda desanimado

‘Você tem razão’ Chris sentou outra vez e sorria um pouco mais ‘Sabe o que ela me ensinou e que gosto muito? Esgrima’

‘Então que tal se a gente treinar um pouco?’ Ela se pôs de pé e ele levantou também ‘Também vou competir e ainda não arrisquei um movimento sequer desde que voltamos’

‘Temos aula do clube de duelos em vinte minutos e o clube de transfiguração logo depois’ Chris olhou para o relógio sem muita vontade de ir para a aula

‘Que mal vai fazer se perdermos uma aula só de cada?’ Ele olhou para ela espantado e Evie riu

‘Quem é você e o que fez com a minha melhor amiga? A Evie que eu conheço desde os cinco anos de idade nunca sugeriria matar aula para praticar esgrima’

‘Talvez esteja na hora de mudar então’ Evie estendeu a mão para ele e os dois caminharam abraçados para a arena de esgrima, rindo. Quem se importa com uma ou duas aulas importantes, quando se pode passar duas horas na companhia do seu melhor amigo?


And as the years go by,
Our friendship will never die
You gonna see it's our destiny
You've got a friend in me

Randy Newman - You've got a friend in me

Friday, September 14, 2007

- Acha que isso vai dar certo?- perguntou um garoto segurando um pergaminho.
- Claro que sim, ela é uma garota.
- Eu sei que ela é uma garota dããã, mas parece gostar mesmo dele.
- Ela tá iludida, não viu que tem uma opção melhor. – e ambos os rapazes riram.
- E quando ele descobrir? Pode haver conseqüências...
- Que seja. Ele vai descobrir que quando você trai seus companheiros, você será castigado. Posso contar com você?
- Sempre.


- BAM! – a porta bate e em seguida é aberta. Vários pares de olhos se erguem para observar a discussão do casal.
- Espera Milla. Precisamos conversar.
- Não vamos conversar Iago. Não estou com paciência hoje.
- Que bicho te mordeu?
- Nenhum, só queria entender porque as coisas não são... O que vocês estão olhando?- disse ríspida para os amigos.
- O show que você está dando. De graça até injeção na testa. – respondeu Annia e as outras riram. Micah e Ty seguravam o riso, sem muito sucesso.
A garota parou se dando conta do papel ridículo e até ensaiou um sorriso, mas ao olhar para o jeito calado do namorado suspirou cansada:
- Eu vou dormir. – e começou a subir as escadas, quando ouviu algumas ordens sendo dadas:
- Rapazes: a aula acabou. - disse Annia.
- Mas eu ainda não terminei de desenhar o circulo de transmutação que você mandou. – resmungou Ty.
- Você já sabe fazer isso. Não banque o estúpido. Fora!
- Evi? – Micah falou esperançoso...
- Annia está certa a aula acabou, aproveitem que o Iago está saindo e vão com ele. - e os 3 rapazes foram embora.

Eu estava deitada de olhos fechados, quando escuto a porta do quarto se abrir e ouvi Nina perguntando:
- Milla tá dormindo?
- Estou. - respondi com a voz abafada pelo travesseiro.
- Que legal! Ela fala dormindo. Dizem que sonâmbulos são bons pra entregar as coisas... - disse Vina e elas riram, mas pararam. Tirei o travesseiro do rosto e as vi sentadas ao meu redor, segurando alguns potes de sorvete e biscoitos.
- O que foi que aconteceu Milla? Você e o Iago não costumam brigar. - disse Evie me entregando um pote e uma colher. Automaticamente eu o abri.
- É não costumamos brigar.- disse tomando uma boa colherada de sorvete.
- E porque hoje foi diferente?- quis saber Annia.
- Porque eu quero... Porque foi. – fiquei vermelha.
- Ah faça o favor de falar logo, não estou com saúde boa para dramas sem solução. – resmungou Vina. - acabei rindo e criei coragem para falar:
- Como vocês e seus namorados descobriram que era a hora certa?
- Na hora que eles as pediram em namoro, oras. Simples assim. - respondeu Nina, e Vina e Evie seguraram o riso, enquanto respondiam:
- Ela tá falando de outra coisa, Nina.
- Outra coisa? Que coisa? Ahhh... A COISA! - ela pareceu entender e ficou vermelha.
- Quando chegou a hora foi natural, não teve drama com o Josh. Eu até achava que você e o Iago já estivessem neste estágio. Às vezes ele te olha de um jeito tão intenso. – respondeu Evie.
- É ele parece enxergar só você. Comigo e com o Vitor foi como falei para vocês. Momento perfeito, local perfeito e aconteceu. – disse Vina. – Mas porque você e o Iago não... Você tem medo?
- Não eu não tenho medo, quero isso com o Iago, mas é ele quem não quer.
- Como não quer? Ele tem algum problema com sexo? Daquele tamanho e ele ainda é virgem?- perguntou Evie chocada.
- Ele disse que não é virgem. Deixa explicar: Quando estamos juntos, e ele me beija daquele jeito, eu fico sem chão, nem raciocino direito. Chegamos até um determinado ponto, e eu flutuo, mas logo volto à realidade. Já disse a ele que quero passar deste ponto, mas ele não quer, diz que eu não estou preparada, que isso é um passo sério, e que eu devo me guardar. Eu não quero me guardar droga!
- Mas porque ele não quer ir além? Ele não te ama?- perguntou Nina.
- Diz que ama, mas começo a duvidar. Porque percebo que ele tenta manter o controle ao máximo, e aí se afasta de mim. Fico parada esperando e querendo algo que ele não quer me dar. Aí hoje eu explodi.
- Ele não deixa de ter certa razão Milla. Isso é um passo sério. Talvez ele tenha medo de magoar você, mas conversando vocês se acertam. – disse Evie e Vina completou:
- Pelo seu jeito você também o ama, então vai ficar tudo bem. Você pode mostrar a ele que está preparada. Afinal ele sempre acaba fazendo o que você quer não é? – rimos.
- É. Vocês devem me achar uma idiota, por fazer drama com isso. – e Evie respondeu:
- Hey, somos nós. Já passamos por cada coisa. Lembra do modo como ficamos amigas? - e ficamos tomando sorvete e rindo de quando nos conhecemos.

No dia seguinte, na hora do café da manhã, recebi um pergaminho com uma mensagem sem assinatura:

“Quero partilhar com você os sonhos, os sorrisos, as horas entre o crepúsculo e a aurora
Quero ser pra você o eterno apaixonado, o eterno menino bobo feliz
Quero ter de você os olhos sempre brilhando, as mãos sempre a procurar as minhas
A tua voz sempre a me chamar desesperadamente em busca de carinho.
Quero que sejas minha! ”


Sorri pensando em Iago, mas percebi que a letra não era dele. Olhei ao redor e os alunos estavam ocupados comendo ou falando sobre as aulas do dia. Pensei em amassar o papel e jogar fora, mas desisti. Talvez seja melhor verificar se Iago tem uma veia poética e se tiver, também preciso conhecê-la.

Wednesday, September 12, 2007

‘Na floresta do lado de fora dos nossos muros vocês podem encontrar muitas criaturas mágicas’ O professor Isaac bateu com a mão numa gaiola e ela se agitou. Ele riu ‘Calma, os barretes vermelhos que capturei ontem não vão escapar do tanque’

‘Qual a classificação dos animais que moram na floresta?’ Perguntei interessado e Ty me olhou desconfiado. Até então eu estava desenhando, alheio à aula

‘Eu diria que elas variam’ Isaac respondeu pensativo ‘Eu mesmo não fui capaz de catalogar todas ainda, mas das que consegui localizar, vão até a classificação XXXX do Ministério’

‘E o que é “XXXX”?’ Ty ergueu a sobrancelha

‘Quer dizer que o animal é perigoso. Se um bruxo incapacitado tentar domá-lo ou até mesmo se aproximar, ele pode matá-lo’

‘O senhor tem esses animais catalogados, certo?’ Tornei a falar em um tom de voz interessado, mas contido ‘Poderia me emprestar para ver? Queria saber os tipos de animais que vocês já viram e estudaram, já que só entrei esse ano’

‘Mas é claro, Sr. Wade!’ O professor mal continha a empolgação pelo interesse de um aluno ‘Não tenha pressa para devolver, só tome cuidado!’ Disse me entregando o caderno muito bem cuidado

‘O que está tramando?’ Ty falou pelo canto da boca para não ser ouvido ‘Você nem estava prestando atenção no que ele dizia’

‘Prepare-se meu amigo’ Alisou a capa do caderno com um sorriso quase macabro no rosto ‘Porque hoje, nós vamos caçar’

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‘Maximillian Pavanov’ Fiz um risco na folha ‘Vai pra forca’

‘Luka “geléia” Ivanov’ Ty também riscou uma folha ‘Forca!’

‘Christopher O’Shea. Forca’

‘Perai, ele não tava junto quando atiraram nossas roupas no lago. Devemos dar um crédito?’

‘Não!’ Falamos juntos e rimos alto

‘Ele é primo do meu melhor amigo’ Ty falou ‘Mas é idiota como os outros, então Gabriel que me desculpe’

‘É, e ele fica me encarando esquisito, pior que os outros’ Risquei mais três nomes no papel

‘Mas isso é porque você está dando em cima da monitora, e ela ta dando mole pra você. Annia disse que ele gosta dela’

‘Ah então é esse o motivo das encaradas?’ Sorri debochado ‘Bom saber’

Alguma coisa se moveu depressa por entre as moitas da floresta e paramos de falar. Ajeitei-me na árvore e encarei Ty. Ele se segurou com força no galho para não cair e tentava ver o que tinha se mexido com tanta agilidade. Estávamos sentados no alto de uma árvore bem no centro da floresta há mais de uma hora. Já havíamos capturado uma dúzia de diabretes que faziam escândalo presos dentro de uma jaula, mas um feitiço silenciador resolveu o problema do barulho.

‘Acha que é?’ Ty perguntou animado ‘Passaríamos de ano direto se levássemos um desses para o professor! Aqui diz que eles são encontramos apenas na Grã-Bretanha e Irlanda’

‘Só tem um jeito de descobrir’

Tirei um pedaço de pão da mochila, cuidadosamente escolhido do estoque de comida dos veteranos, e atirei no chão. Novamente as folhas se mexeram e em cima do local onde o pão havia caído estava parado um lagarto verde-prateado de aproximadamente 25 centímetros. Trocamos olhares empolgados.

‘É ela, uma bibra!’ Fiquei de pé no galho e as folhas balançaram ‘Sabia que tinha visto uma!’

‘No catalogo diz que ele é de classificação XXX’ Ty folheava o caderno do professor ‘Acha que conseguimos levá-la sem acidentes?’

‘Sim, mas pegue as luvas de couro, acho que esse bicho morde’ Ty atirou um par para mim e vestiu o seu ‘E também, ela pode se cansar do nosso método de persuasão’

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‘Vem bichinho, aqui’

‘Quem é o lagartinho lindo do papai?’ Ty falou com uma voz mongol e comecei a rir

Vínhamos andando de costas, atirando gafanhotos mortos pelo caminho e atraindo a briba lentamente, a gaiola com os diabretes mudos sendo arrastada sem delicadeza. O lagarto parava para engolir o inseto e logo nos encarava, à espera de mais. Cerca de meia hora depois estávamos de volta a republica.

‘Pro quarto dos três patetas?’ Ty perguntou quando chegou à escada

‘Sim, temos que cortar o mal pela raíz'

O quarto onde Max, Luka e Chris dormiam ficava no 3º andar e toda a decoração dele era baseada em quadribol. Tinham bandeiras e bastões pendurados nas paredes, uniformes à mostra, uma goles novinha em cima da cômoda e um pomo de ouro preso a uma caixa de vidro. Seus ocupantes, no entanto, estavam fora no momento. Ty deixou uma pilha de gafanhotos mortos debaixo de cada travesseiro e eu desfiz o feitiço silenciador que havia lançado nos diabretes, abrindo a porta da gaiola.

Os diabretes escaparam numa velocidade absurda e tomaram conta de todo cômodo, arrancando as bandeiras da paredes, liberando o pomo cuidadosamente guardado e atirando a goles que brilhava na cômoda de uma parede para outra, estourando lâmpadas no trajeto. A bibra fugia do caminho dos diabretes, fuçando pelas camas em busca da comida e rasgando os lençóis. Em menos de um minuto parecia que uma bomba tinha explodido no quarto. Quando três diabretes abriram as gavetas e começaram a tentar vestir as roupas, decidimos sair.

‘Vamos embora, melhor estarmos longe daqui quando eles voltarem’ Eu não continha as gargalhadas

‘Queria ser invisível para ver a reação deles’ Ty comentou em meio às lagrimas ‘Mas acho que os gritos poderão ser ouvidos a quilômetros de distância’

‘E é lá mesmo que vamos estar’ Respondi fechando a porta. Pelo barulho, o abajur acabara de ser atirado no chão. Sorrimos satisfeitos.


We're rascals, scoundrels, villains, and knaves
Drink up, me 'earties, yo ho
We're devils and black sheep, really bad eggs
Drink up, me 'earties, yo ho

Pirates of the Caribbean – Yo Ho! (A Pirate’s Life for me)

Tuesday, September 11, 2007

‘O trabalho alquímico está fundamentado em certos caminhos que devem ser seguidos. Na alquimia existem dois caminhos principais: a via úmida, pois trabalha com o orvalho, e a via seca. A via úmida é considerada um processo lento, mas que oferece menos riscos-’

‘Ler o livro eu também sei, meu bem’ Micah atirou os pés em cima do banco e bocejou ‘Você está igual à Georgia’

‘Primeiro: nunca mais diga que sou igual a ela’ Evie respondeu azeda ‘E segundo, eu avisei que não entendo bem a matéria. Então pra explicar alguma coisa a você, antes preciso ler e compreender’

‘Ok, ok, não precisa brigar’

‘Não estou brigando’ Respondeu folheando o livro ‘Só estou tentando entender isso!’

‘Você está ficando nervosa, melhor parar um pouco’ Ele puxou o livro da mão dela fingindo preocupação ‘Minha vez de ler agora’ Ele pigarreou alto e virou a página ‘A alquimia é a arte de trabalhar e aperfeiçoar os corpos com a ajuda da natureza. No sentido restrito do termo, a alquimia sendo uma técnica é, por isso, uma arte prática. Como tal, ela assenta sobre um conjunto de teorias relativas à constituição da matéria, à formação de substâncias inanimadas e vivas, bla, bla, bla. Fala sério, isso é coisa de gente doente!’

‘Vamos tentar algo básico’ Ela pegou o livro de volta ‘Matérias-primas de um processo alquímico, lembra de alguma?’

‘Sal, enxofre, mercúrio, orvalho... Chumbo?’ Arriscou

‘Já temos um começo!’ Ela sorriu e ele pareceu satisfeito ‘A linguagem alquímica também usa muito símbolos da astrologia, você vai ouvir muito o professor Ante citando isso nas aulas e eu já falei quais são. Ainda lembra?’

‘O Sol é o ouro, a Lua é a prata, Mercúrio é mercúrio mesmo, Vênus o cobre’ Ele parou um pouco para pensar antes de continuar ‘Marte o ferro, Júpiter é o estanho... E Saturno o chumbo!’ Falou erguendo os braços como se comemorasse um gol ‘Viu? Eu presto atenção’

‘Muito bem, merece um biscoito’ Ela riu e balançou a cabeça ‘Agora me diga a utilidade do orvalho, do sal, do enxofre e do mercúrio. Vamos ver se prestou atenção mesmo ao que falei’

‘O que ganho se acertar?’

‘Parabéns?’

‘Não, muito pouco’

‘Ta bom, dois biscoitos então’

‘Vou aceitar por hora, mas vou cobrar uma recompensa melhor depois. Vamos lá... O orvalho é utilizado para umedecer ou banhar a matéria-prima. O sal é o dissolvente universal. O enxofre é o princípio fixo, ativo, masculino, que representa as propriedades de combustão e corrosão dos metais. O mercúrio é o princípio volátil, passivo, feminino, inerte. Combinados, eles formam o que os alquimistas descrevem como o "coito do Rei e da Rainha". E são, por sinal, as principais matérias-primas da alquimia’

‘Quem diria... Micah, você aprendeu alguma coisa!’

‘Obrigado, obrigado’ Disse fazendo uma reverencia ‘Mas e esse negócio de círculo de transmutação? Não entendi muito bem como funciona’

‘Isso eu sei, eles existem pra que possamos fazer transmutações de matérias. A gente desenha um círculo e no centro dele colocamos o material que queremos transmutar’ Ela desenhou um círculo no chão com a varinha ‘Isso tudo é baseado na Lei da Troca Equivalente, que diz que nada pode ser criado sem que outra coisa de igual valor seja sacrificada. Depois de colocar o material no círculo, colocamos as mãos sobre ele e ele fundirá os componentes, formando algo novo’

‘E você diz que não sabe alquimia!’ Ele olhava para ela espantado ‘Estava fazendo charme, isso sim!’

‘Isso se chama “Alquimia para Principiantes”, é o máximo que consigo entender’ Disse rindo ‘A parte teórica eu sei, mas a prática é outra história. Não consigo transmutar nem uma pedra, a não ser que use aquele feitiço que o professor Skoblar ensinou, o reducto. Isso é, quando for capaz de executá-lo’

‘Mas a matéria dele é a mais fácil que tem, e a mais interessante também. É que vocês nunca sequer viram uma contra-azaração básica em cinco anos de estudo’ Micah fechou os livros olhando no relógio ‘Está tarde e estou cansado de ver elemento químico, podemos encerrar por hoje?’ Ela fez que sim com a cabeça parecendo aliviada ‘Vamos comparar os calendários outra vez amanhã para encontrar outro tempo vago, posso lhe ensinar um pouco de DCAT por fora das aulas. Você e suas amigas são péssimas. Na verdade, todos são’ Ele riu ‘O bom de toda a escola ser horrível na matéria é que faz com que Ty e eu sejamos o máximo, derrubamos aqueles otários da nossa república sem qualquer esforço’

‘Eu vou aceitar as aulas, não me ofendi por ter dito que sou péssima, sei que sou’ Ela recolheu os livros e levantou ‘Posso fazer uma pergunta?’

‘Até duas’

‘Por que você e o Ty estão usando jeans e suéter hoje? Onde estão seus uniformes?’

‘Todas as nossas roupas estão penduradas pelo quarto secando’ Ele respondeu irritado ‘Alguns idiotas resolveram fazer uma brincadeira e atiraram todas as nossas coisas no lago. Só salvaram os livros, pois estávamos com todos na hora’

‘Quem fez isso?’ Evie prendeu o riso. Ele não estava achando graça

‘Os cagões, claro. Quem mais?’

‘Foi muito engraçado o que vocês fizerem’ Falou sem prender a risada ‘Quando Chris me contou que eles tinham feito vocês lavarem toda aquela louça velha só pra fazer hora com a cara de vocês, achei muito idiota. Foi bem feito ficarem com dor de barriga’

‘Eu não disse que fomos nós que estragamos o que eles comeram’ Micah falou com cara de deboche

‘Como se não fosse óbvio. Do mesmo jeito que é obvio que vocês vão dar o troco’ Ela parou na porta da república antes de entrar ‘Cuidado, Max e Luka são vingativos, eles não vão ceder’

‘Nós também não’ Ele acenou se despedindo e desceu a rua em direção a Spartacus ‘Eles não sabem com quem se meteram’ Disse baixo, rindo, já fora do alcance dela.

Monday, September 10, 2007

Após fazer amizade com Micah, descobri que íamos dividir o quarto na república Spartacus, os outros moradores, se limitavam a acenar para nós, como se estivessem nos avaliando. Mesmo Chris, sobrinho do tio Ben, nos olhava diferente. Mas como Micah e eu tínhamos muita coisa para aprender e pouco tempo, não ligávamos afinal as pilhas de deveres iam aumentando todos os dias.
- Ah quer dizer que você já marcou aulas com a Evie. Aulas de "reforço". Cara você é um gênio. – disse enquanto voltávamos da escola.
- Mas eu preciso de aulas de reforço se quiser pelo menos saber do que se trata esta matéria. A Geórgia fala..., fala, e eu só escuto um zum, zum, saindo da boca dela, que chega a me dar sono. E você também se deu bem, está tendo aulas com a Annia, ela é legal. Já se inscreveu pras Olimpíadas?
- É, e sempre penso que podia ser pior, imagina ter aulas com alguns dos caras daqui? Já me inscrevi na montaria, tiro esportivo, trancabola e no pentatlo, que abrange várias coisas que faço bem, além do meu favorito esgrima.
- Esgrima?
- É tive aulas disso na escola em Paris. O professor de DCAT disse que ajudava nos reflexos.
- Nossa equipe vai ser forte, pois também luto esgrima.
Estávamos conversando, quando abrimos a porta da república e uns gritos nos pegaram de surpresa:
- Aeee peguem os novatos!- e várias mãos nos seguraram de forma que nem dava para sacar as varinhas. Na frente do grupo, estava Luka Ivanov e o irmão da Evie, Max. Até mesmo Chris tinha um sorriso no rosto.
- Acharam que tinham escapado do trote novatos?
- Trote? Que história é esta? – perguntou Micah.
- Agora vocês são calouros e sua vida nos pertence muaháháhá. – e nos fizeram vestir uns aventais brancos com rendinha e laços.

-o-o-o-o-o-o-oo-

- O que eles comem aqui? Cola com ração pra cachorro? Como fede. – reclamava Micah tentando tirar a sujeira de uma das milhares de louças que faziam parte do nosso trote. Lavar louça do jeito trouxa.
- Bando de panacas. Botar-nos pra lavar louça, que sabe Merlim quando foi usada. Passa o detergente.
- Cara, olha lá tem alguma coisa andando naquele prato. Melhor jogar na água fervendo. - e joguei um prato com coisas rastejantes na pia de água quente.
- Não sabia que eles cozinhavam aqui. A gente come no castelo. - resmunguei.
- Pelo que sei quem quiser pode comer na república, você não trouxe algumas coisas?
- Trouxe, geléia, torradas, macarrão instantâneo, barras de cereais com chocolate, algumas latas de sopa, pacotes de biscoitos. – comecei a enumerar as coisas e Micah riu:
- Você tava com medo de passar fome? Ou ia pra guerra?
- Não, eu só como demais mesmo. – começamos a rir.
Estávamos nesta luta a mais de 3 horas, tínhamos que deixar a cozinha brilhando. Após algum tempo Chris entrou e depois de olhar tudo disse:
- Vocês estão trabalhando bem.
Resmungamos e continuamos o trabalho.
- É, e pensar que vocês não precisavam fazer isso...
- Como assim? Não é o trote? Todos passam pelo trote... - disse Micah.
- Não, nunca houve trote por aqui. Escolhemos vocês por serem novidade. – deixei um prato cair no chão.
- Como é que é?- perguntamos juntos e nossa cara não devia estar boa.
- Acho melhor eu voltar lá pra dentro. Vamos comer geléia.
Ele saiu rindo e coloquei a cabeça para fora da porta para olhar aquele bando de desocupado reunido e o pior: o tal de Luka abria um pote de geléia muito familiar a mim e passava o dedo dentro.
Voltei tremendo de raiva para perto da pia e Micah terminava o serviço carrancudo:
- Eles pegaram o meu pote de geléia. - resmunguei
- Eles são uns idiotas. - resmungou Micah.
- O Luka enfiou o dedo dentro do meu pote de geléia.
- Bando de babacas...
Nos encaramos e dissemos juntos:
- Eles vão pagar caro por isso.
A partir daquele momento nunca foi tão produtivo arrumar uma cozinha.

-o-o-o-o-o-oo-

- Ty aonde você vai? Temos aula agora.
- Não posso Annia, temos coisas a resolver na república. Amanhã nos falamos.
Corri até a república e lá já encontrei Micah nos preparativos, ele levantou a cabeça e perguntou:
- Conseguiu?
- Sim. – levantei um vidro com um líquido claro dentro e sorrimos com olhares perversos.

No dia seguinte

- Uau que cheiro bom é este? – perguntou Max entrando na cozinha junto com Luka e outros garotos que moravam na república.
- Bolo de chocolate. Nós que fizemos para mostrar que não ficamos chateados com o trote. - disse Micah, mordendo o seu pedaço de bolo. Eu já tinha o queixo sujo com a calda do meu, só balancei a cabeça concordando, e como pensamos logo eles estavam atacando o bolo. Chris foi o único que cheirou o bolo antes de começar a comer, mas como ele viu que comíamos também se tranqüilizou. Após o bolo da "trégua", fomos para o castelo assistir as aulas do dia.
A primeira aula daquele dia foi Alquimia, e nada como uma masmorra quente, abafada, para você conhecer o verdadeiro "eu" das pessoas. Annia veio toda preocupada falar comigo:
- Porque não assistiu a nossa aula ontem? Sabe que a Kollontai vai me cobrar progressos seus.
- Calma. Sei que você morreu de saudades de mim, mas eu tinha uma coisa importante pra resolver, e acho que a professora nem vai notar minha presença hoje. – e antes que Annia bufasse e me desse uma resposta malcriada, a professora entrou na sala e já se pos a escrever as fórmulas alquímicas no quadro negro. A sala estava silenciosa, então dava para ouvir o arranhar das penas nos pergaminhos, até que ouvimos...
- Oiiiiinnc... Ratátátaá... Fiuumm....
As narinas da professora tremeram por alguns instantes e ela disse:
- Estranho... Não usaremos enxofre hoje... - mal começou a falar e outro barulho se fez ouvir e o cheiro foi ficando mais forte. Algumas meninas começaram a tampar os narizes e a se abanar, enquanto eu olhava para Micah começando a rir, então os barulhos ficaram mais insistentes e de repente Luka, Max e Chris levantaram as mãos ao mesmo:
- O que foi senhores?
- Precisamos ir ao banheiro. - disseram juntos.
- Não permito que grupos de alunos saiam para ir ao banheiro.
- Mas precisamos professora. É urgente. – disse Luka e sua voz já estava ficando mais fina. Quando mais alguns barulhos flatulentos foram ouvidos e o cheiro se tornou insuportável, Luka e seus amigos já tinham a testa molhada de suor.
Eu já estava chorando de rir na minha carteira e Annia e as amigas riam e ao mesmo tempo tampavam os narizes. A professora, procurando manter a compostura enquanto colocava um lencinho perfumado no nariz, disse temendo que a situação ficasse fora de controle:
- Está bem, vejo que é um caso de desarranjo coletivo podem ir. - e começou a espirrar na sala um desodorizador de ambiente.
Ela mal disse isso Luka, Max e Chris saíram correndo da sala, e os três se chocaram na porta tentando sair ao mesmo tempo, arrancando gargalhadas de quem estava dentro da sala. Eu já estava deitado sem forças na carteira e Micah segurava a barriga de tanto rir. Pelo que ficamos sabendo eles tiveram que voltar para a república e perder o dia de aula junto com outros garotos da Spartacus, pois estavam com uma dor de barriga de origem desconhecida. A enfermeira da escola até apareceu por lá, e mandou que eles tomassem soro.
Coitados, acho que um simples bolo de chocolate não caiu muito bem.

Sunday, September 09, 2007

As aulas haviam começado há apenas uma semana, mas os alunos do 6º ano logo compreenderam que aquele seria um ano movimentado. Os professores responsáveis pelos clubes acadêmicos abriram inscrições logo no 1º dia de aula e os alunos selecionados seriam anunciados dentro de alguns dias, e as aulas de DCAT viraram a nova sensação da escola, tornando-se, em poucos dias, a mais popular entre os alunos. Mas eram igualmente difíceis.

Evie enfrentava muita dificuldade na matéria. Depois de cinco anos aprendendo azarações das trevas, ela achava extremamente complicado aprender as contra-azarações de uma hora para outra. Mas para ela, havia uma aula capaz de aliviar todo o estresse das outras: Artes. Duas vezes por semana os alunos que faziam parte da Oficina de Artes se reuniam no teatro da escola, e embora as aulas fossem das 22h às 23:30, ninguém reclamava.

Era uma segunda-feira e todos estavam em um intervalo de cinco minutos antes de encerrarem a aula. Evie conversava com Nina e Lizzie na escada que dava para o palco quando viu Micah entrando, parecendo perdido.

‘Já volto, meninas’ Disse se levantando

‘Ah claro, vai lá’ Nina falou em tom de deboche e Lizzie riu ‘Depois não vem dizer que pegamos no seu pé’ Mas Evie a ignorou e foi até ele

‘Errou o caminho da república?’ Falou se aproximando ‘Você não tem cara de quem gosta de uma aula de teatro’

‘E não gosto mesmo’ Ele respondeu sorrindo ‘Mas preciso me inscrever para as olimpíadas, e não encontrei o cara do quadribol. O outro professor é esse, não?’

‘Ele mesmo. Já escolheu as modalidades?’

‘Sim, vou me inscrever para Canoagem, Decatlo, Esgrima, Montaria, Natação, Remo, Tiro Esportivo e Trancabola’

‘Nossa, só isso?’ Disse rindo

‘O que posso fazer? Sou um atleta nato!’

‘E o atleta por acaso já cumpriu a detenção com a Mesic?’

‘Já’ Respondeu desanimado ‘Mas me atrasei para ela e acabei ganhando outra detenção’

‘Está brincando!’ Evie não conseguia controlar as risadas’

‘Bem que eu queria! Bom, acabei cumprindo a detenção e recebi como castigo pelo atraso uma redação de mil palavras sobre as Teorias das Transformações Transubstanciais’

‘Assunto fácil’ Disse como se ele tivesse dito algo idiota ‘E quantas palavras faltam?’

‘Se contar com o título’ Ele pensou um pouco e continuou ‘996’

‘Está indo bem’ Ela riu ‘E como vão as aulas com a Srtª Perfeição?’

‘Péssimas’ Ele riu e se certificou que Georgia estava longe ‘Eu não entendo nada que aquela garota diz’

‘Ela tem tendência a complicar as coisas mesmo, não é culpa sua’

‘Já pedi a ela para tentar falar sem tantos termos técnicos, mas é inútil! Por que você não me dá as aulas?’

‘Ah, não acho que seria uma boa idéia!’ Ela riu

‘Por que não? Pior não pode ficar’

‘Tecnicamente, pode. Sou péssima em Alquimia, não iria ajudá-lo em absolutamente nada!’

‘Você estuda isso há 5 anos e não sabe nada... Como esperam que eu aprenda em uma semana?’ Ele segurou as mãos dela e começou a sacudi-las ‘Por favor, Evi! Ao menos tente, tenho certeza que mesmo não sendo boa aluna, não vai complicar as coisas. Vai explicar do seu jeito e vou acabar entendendo. Na pior das hipóteses, nos ferramos juntos. E de repente um milagre acontece e acabamos aprendendo juntos também!’ Ele sacudiu mais as mãos dela e tinha uma expressão desesperada no rosto ‘Por favor, por favor, por favor, diz que sim?’

‘Juro que não é má vontade, mas a professora Kollontai jamais irá aprovar essa troca! Se a Georgia não consegue fazer você entender, não sou eu que vou’

‘Então eu fico com as aulas da Yelchin, e você me dá aula de reforço da aula de reforço. Se eu aprender alguma coisa, você ainda pode se vangloriar com a sua amiga dizendo que você quem fez o trabalho todo’

‘Ok então, fechado!’ Ganhar de Georgia em alguma coisa era algo tentador e ela estendeu a mão para selar o acordo ‘Mas nunca mais me chame de amiga dela’

‘Oi Micah, tudo bom?’ Nina se juntou aos dois sorrindo para Evie

‘Oi Nina, tudo ótimo e você?’ Sorriu ‘Estava combinando com a Evi sobre as aulas de reforço de Alquimia’

Você vai dar aula pra ele?’ Ela riu e encarou a amiga com uma expressão divertida ‘Está brincando, não é?’

‘Eu disse que sou ruim, mas ele insiste’ Evie deu de ombros

‘Cadê aquele menino que vive grudado em você? Não estou vendo a casa lesada dele por aqui’

‘Graças a Merlin ele não faz essa aula, só a irmã dele!’ Nina fez uma careta ‘Ao menos no teatro tenho paz’

‘Meninas, o intervalo acabou!’ O professor Ivo se aproximou dos três ‘Voltem para o palco. E o senhor, quem é? Veio para nossa aula? Está um pouco atrasado’

‘Micah Wade, senhor. E não vim para a aula, é que me falaram que precisava procurá-lo para me inscrever nas olimpíadas’

‘Ah sim, claro. A aula ainda não terminou, então não posso atendê-lo agora. Mas faltam apenas 20 minutos, pode voltar depois. Ou se preferir, espere aqui mesmo’

‘Obrigado, vou esperar aqui’

Micah se acomodou em uma das inúmeras poltronas vazias e passou a prestar atenção nos alunos sentados em círculo no palco. Ele nunca havia assistido a uma aula de teatro, não fazia idéia de como ela funcionava. O professor tomou seu lugar na roda e tornou a falar.

‘Como estava explicando antes do Sr. O’Shea solicitar um intervalo para usar o toalete’ Todos olharam pra Chris e riram ‘Faremos algumas coisas diferentes nesse semestre. Na próxima aula, ao invés de sentar aqui no teatro, vamos dar um passeio no vilarejo’

‘Em plena segunda-feira?’ Nina perguntou ‘Não temos autorização de sair do castelo em dia de semana’

‘Não tem problema, vocês estão agora, pois fazem parte da minha turma. Mas só podem sair comigo’ Falou quando alguns pareceram se animar demais

‘E o que faremos lá fora?’ Evie perguntou curiosa e todos olharam para o professor esperando a resposta

‘Vamos fazer um pouco de teatro de rua!’ Disse animado, mas ninguém pareceu entender ‘Quero trabalhar com vocês fora daqui, é algo que faço com todas as minhas turmas e sempre é um sucesso. Vamos fazer um pouco de bagunça na praça da cidade. Em outras ocasiões, visitaremos hospitais, asilos, todo tipo de lugar que precise de um pouco de alegria!’

‘Como assim “fazer um pouco de bagunça na praça da cidade”?’ Evie falou incerta, olhando para Nina e Chris

‘Vamos encenar algumas coisas na rua, para as pessoas que estiverem passando’

‘Sem ensaiar?’ Nina olhou alarmada para ele ‘Uma semana é pouco tempo!’

‘Sim Srtª Olenova, sem ensaios, vamos improvisar’

‘Mas isso não vai ser um pouco...constrangedor?’ Chris arriscou

‘Vocês são atores, Sr. O’Shea, não podem ter vergonha de nada. Relaxem! Será divertido, eu garanto! Agora podem ir, vou liberá-los um pouco mais cedo hoje’

‘Professor...’ Georgia ergueu a mão e todos sentaram outra vez ‘E quanto à peça? Teremos uma esse ano?’

‘Sim, sem sombra de duvidas’

‘Mas quando começarão os testes?’ Insistiu

‘No próximo semestre, em meados de janeiro, talvez’

‘E teremos tempo suficiente para ensaiar?’ Tornou a insistir ‘O tempo me parece curto, não acho que dará certo’

‘Acho que são perfeitamente capazes de decorar falas em 4 meses’ Georgia ia responder, mas ele a cortou ‘Lhe garanto que sei o que faço. Não questione meu trabalho outra vez, Srtª Yelchin. Estão dispensados, podem ir’

Os alunos levantaram do chão e apanharam as mochilas nas poltronas, deixando o teatro comentando a idéia de fazer passeios fora da escola. Evie, Nina, Lizzie e Chris pararam no meio do corredor, quando Micah saltou da poltrona na frente deles.

‘Gostei do sabão que a Yelchin levou’ Falou rindo alto

‘Foi prazeroso para todos nós’ Nina respondeu satisfeita

‘Eu vou voltar para a república’ Chris falou tornando a caminhar com Lizzie ‘Vocês vêm?’

‘Sim, também vou voltar, tenho muitos deveres para fazer’ Nina o alcançou ‘Não vem, Evie?’

‘Sim, estou indo’ Ela se virou para Micah ‘Depois comparamos nossos horários para encontrar um período vago’

‘Você quem manda, professora’ Disse brincando e ela riu

‘Só espero que isso dê certo. Até amanhã’ Ela sorriu para ele e deixou o teatro com os amigos, sem ter a menor idéia de como essas aulas poderiam um dia dar certo.

Thursday, September 06, 2007

Sabe... Quando li na lista de material de Durmstrang que teria que comprar um livro de Alquimia Avançada pensei: "Alquimia, que bom, vamos fazer poções, e em poções eu me viro bem, então devo aprender a fazer poções famosas, proibidas, mas com nome diferente".
Que bobo eu sou :P.
Após um inicio agitado, Micah e eu passamos a andar juntos para chegar às aulas e não nos perdermos pelo castelo, ele ainda teve a vantagem de fazer um tour com a monitora de Transfiguração, e voltou com um sorriso de gato que acha o rato. Não comentei nada, afinal quem sou eu para cobiçar a alegria de um pobre condenado como eu?rsrsrs. As amigas da Evie, agora pelo menos acenam para nós, e os rapazes que andam com elas também, mas ainda não pudemos sentar e conversar direito. Talvez assim, o pessoal pare de nos olhar como penetras numa festa.
Estávamos na masmorra seis, ouvindo a voz da professora Kollontai, e íamos anotando tudo.
- ... Na alquimia, existe um ritual a ser seguido, assim como a utilização do tempo astrológico. Todas as flores, ervas e raízes colhidas na lua cheia são lavadas no orvalho da manhã... Porque fazemos isso senhor Wade?
- Para aproveitarmos melhor os poderes das ervas?- chutou Micah.
- Está parcialmente certo senhor Wade, e para que serve o circulo de transmutação senhor McGregor?
- Transmuta algo em alguma coisa? – e alguns alunos riram, e até eu ri da minha resposta idiota.
A professora após, respirar fundo, talvez buscando coragem para não jogar o livro que tinha na mão na minha cabeça disse:
- Alguém poderia me falar sobre o circulo de transmutação? – olhou ao redor da classe e a garota de cabelos castanhos já estava com a mão levantada e a professora cedeu: Ivanovich. Nossa, ela só faltou saltitar de tão feliz que ficou:
- Na Alquimia o círculo de transmutação também simboliza o Universo, o desenho do círculo deve estar de acordo com as leis da natureza e da física para que surta efeito.
A aula continuou a correr bem, e a professora resolveu que não iria submeter Micah e eu a mais humilhações públicas. No fim da aula nos chamou, e pediu a Ivanovich e uma garota loirinha, de nome Yelchin também fosse até ela. Ambas ficaram nos encarando e a professora disse:
- Senhores, vocês não tem muita base para o estudo da Alquimia, quer dizer a base de vocês é nula, portanto vou pedir às minhas melhores alunas que os ajudem a tentar entender a matéria, antes das minhas provas. Ivanovich você ajuda ao senhor McGregor, Yelchin, ao senhor Wade. Conversem e marquem horários para os estudos, espero que na próxima aula ambos saibam para que serve um circulo de transmutação. Aliás, vocês já conhecem o castelo?
- Eu fiz um tour com a Evie, depois da aula de Transfiguração.
- Ah foi você que chegou atrasado à aula de Ivana? – e Micah fez que sim com a cabeça enquanto a mulher ocultava um risinho, aí ela me olhou interrogativamente e eu respondi:
- Não conheço o castelo ainda. - e Micah disse brincando:
- Mas ele consegue achar o salão principal, só pelo cheiro. Um espanto.
- Um corpo alimentado, produz uma mente sadia, boa para o aprendizado. – citei uma propaganda trouxa de cereal, e Yelchin riu, e ao olhar sério da professora disse: desculpe.
- Então, Ivanovich, faça um tour com o senhor McGregor, mostre-lhe nosso castelo e assim podem combinar suas aulas de Alquimia. Estão dispensados.
Acho que minha nova colega não gostou muito de ter que dar aula a mim, mas vou me esforçar para não contamina-la com meu bom humor cativante. Resolvi tentar fazer amizade:
- Annia, é nome ou apelido? Ouvi suas amigas te chamando assim.
- Apelido de Anastácia. Mas para você é Ivanovich. Vou te mostrar as salas onde temos a maioria de nossas aulas... – ela respondeu seca e eu continuei:
- Anastácia não é o nome de um desenho trouxa muito fofinho?- disse tentando ser engraçado, mas o olhar que recebi de volta, congelava as chamas do inferno. Fiquei calado, enquanto ela andava rápido e ia enumerando as salas para mim.
- Masmorras do 1° ao 7° ano. – e foi andando rápido como se estivesse fugindo de alguma coisa, ou tentando me deixar cansado. Coitada, após algum tempo ela começou a diminuir os passos e eu estava tranqüilo.
- ... 7º andar – Sala de Astronomia, ela se move, então a cada dia está num lugar diferente.
- Uau! Que demais.- e pude ver um brilho de orgulho nos olhos da garota, mas bem rapidinho o jeito sisudo voltou.
- 8º andar – Sala de Transfiguração, Sala de Feitiços, Sala de Duelos...
- Sala do rancor...
- O quê?
- Nada.
AI: Olha McGregor, não sei como são as garotas do seu país, mas você não me impressiona.
TM: Bem Ivanovich... De onde venho, não só as garotas, mas todos costumam ser educados e não tratamos os estranhos como se fossem leprosos. Nós esperamos conhece-los primeiro, antes de vir com 4 pedras na mão. (ela abriu a boca para retrucar, mas eu fui mais rápido): E só pra esclarecer: não tenho motivos para querer te impressionar, você não faz o meu tipo. Agora que já esclarecemos este ponto, podemos continuar?
Juro que se ela tivesse altura e algo bem pesado na mão, tinha esmagado minha cabeça.
AI - Você é um grosseirão.
TM - Procuro não perder pra você. Sabe minha avó teve um poodle chamado Anastácia. Aliás, num tá na hora de você buscar o chinelo pra ganhar biscoito?- e apressei o passo para me afastar dela e logo estava correndo e rindo.
Ela deu um grito de irritação, e começou a correr atrás de mim por aqueles corredores, com os punhos levantados, mas para mim parecia que estávamos brincando de pega-pega. Após correr brava por um tempo, ela me alcançou quando eu me escondia atrás de uma armadura, não por medo, mas porque estava perdido, ficamos nos encarando por um bom tempo, e chegava a ser tão ridícula a cena que começamos a rir.
- Então? Durmstrang é um lugar aceitável para você?
- Não, porque você não mostrou o mais importante.
- Como não? O que pode ser mais importante que as salas de aulas, nossa torre de adivinhação, nosso teatro?
- O campo de quadribol, isso sim é o mais importante numa escola.
- Odin me defenda! Você joga quadribol?- Sim, fui campeão pela minha casa ano passado. Sou batedor. - disse orgulhoso e ela me olhou com pena, mas os cantos da boca tremiam para rir.
- Coitado, e eu pensando que você só era irritante assim, porque caiu de cabeça ao nascer. Venha, vou mostrar o seu campo de quadribol, ainda temos tempo. Fomos andando e rindo das observações que eu fazia sobre o fato dela não gostar de quadribol, quando ela apontou para um lugar enorme e imitou um locutor:
- E aqui senhor McGregor, o nosso humilde campo de Quadribol, a arena onde somente os fortes sobrevivem, o lugar onde se fazem os campeões, onde batatinha quando nasce se esparrama pelo chão... blá, blá, blá... - rimos enquanto em minha mente eu já fazia planos para entrar no time e pensava se eu podia sentir meus amigos tão próximos em qualquer outro lugar que não fosse ali, naquele campo.

Wednesday, September 05, 2007

‘A gente podia se apresentar, pra ajudar eles a se acharem no castelo’ Milla sugeriu, mantendo a voz baixa

‘Pelo que pudemos ver, um lá já se acha bem sozinho’ Annia respondeu mal humorada.

‘Deixa de ser implicante com o garoto só porque ele ganhou de você na aula de literatura, Annia. Eles parecem bonzinhos’ Nina retrucou como se falasse de garotinhos do jardim de infância

‘Olha quem está falando!’ Vina riu ‘Se fosse com você, Dona Nina Olenova, também estaria de implicância’

‘Não precisamos ajudar ninguém a fazer nada aqui. Eles já são bem grandinhos’ Annia continuou com o mau humor

‘Qual é o nome do menino que se atrasou, Evie? Ele parou pra falar com você que vimos’ Nina mudou de assunto

‘Que foi Evie? Algum problema?’ Vina perguntou séria quando ela não respondeu

‘Eu conheço aquele garoto que entrou’

‘Conhece? De onde?’ Perguntaram as quatro ao mesmo tempo, se ajeitando nas cadeiras

‘Das férias na Califórnia’

‘Não! É ele?’ Milla falou alto e a professora Mesic ajeitou os óculos no nariz, fazendo elas se calarem por um tempo

‘Então você precisa nos apresentar ao seu amigo’ Intimou Vina de repente

‘Ele não é meu amigo. E ele não disse o nome, só me perguntou se essa era a turma de Transfiguração'

‘Aham, ok... Aquele tempo todo pra perguntar só isso?’ Annia provocou

‘Pensei que ele fosse um galã de cinema’ Nina virou para olhar os garotos

‘Nunca disse isso, vocês que chegaram a essa conclusão sozinhas’ Evie respondeu tentando não olhar para trás

‘Ah, ele é bonitinho. Os dois são, pra falar a verdade’ Milla piscou brincando

‘Você tem namorado, Ludmilla’ Evie respondeu indignada

‘Você também, ora... Ou tinha, né?’

Ela não respondeu e continuou copiando os deveres no caderno. Vez ou outra ouvia as amigas perguntarem se ela ia mesmo fazer o tour com ele pelo castelo, mas não respondia. Claro que faria o tour, a professora havia pedido e ela não tinha como dizer que não podia. Que desculpa boa o suficiente ela poderia inventar? Era mais fácil mostrar o castelo a ele.

O sinal tocou e em questão de segundos a sala já estava vazia. O menino já havia saído com o outro novato, McGregor, e ela deixou da sala empurrada pelas amigas. Eles ainda estavam parados no corredor, sem saber que direção seguir.

‘Vai logo, criatura!’ Vina cutucou Evie ‘É sua obrigação fazer as honras da casa, ninguém mandou ele se atrasar logo na aula que você é monitora. Esperava que ela nomeasse quem pra tarefa?’

‘Não tem nada demais na tarefa. A não ser, claro, que você não esteja contando algo para a gente’ Milla provocou e todas riram

‘Ah não me amolem!’ Disse impaciente e saiu marchando na direção dos meninos

Enquanto caminhava até eles, desejava mentalmente que as quatro desaparecem de vista. Mas não bem foi o que aconteceu. Milla, Vina, Nina e Annia continuaram paradas na porta da sala acompanhando os passos da amiga. Por sorte os dois pareciam distraídos demais conversando para notar.

‘Você já sabe meu nome e até meu sobrenome’ Disse quando parou ao lado deles ‘Será que vou poder saber o seu, ou vamos ficar nesse mistério?’

‘Estava esperando você perguntar’ Ele se virou sorrindo e estendeu a mão a ela ‘Micah Wade, muito prazer, finalmente. Esse é Ty Mcgregor’ Indicou o outro garoto com a cabeça e ele também estendeu a mão

‘Pronto para caminhar? O castelo é grande. Vai também, Ty?’

‘Seria legal conhecer o castelo, mas estou com fome e nunca pulo uma refeição’ Ty respondeu alisando a barriga ‘Pra que lado fica o salão principal? Se eu souber isso, o resto eu me viro depois. Mas esse é essencial!’

‘Primeiro andar, logo depois do saguão de entrada. Não tem erro, é só seguir aquelas meninas ali, que também vão almoçar agora’ Ela indicou as amigas com a cabeça e as quatro acenaram debochadas, sem disfarçar que estavam prestando atenção aos três

‘Então a gente se encontra de novo na aula de Poções, Micah. Até mais’ E desapareceu no meio dos alunos que desciam as escadas

‘Vamos então? Damas primeiro’ Micah fez uma reverencia para ela passar a frente dele e ela riu

‘Bom, aqui no 8º andar tem uma das salas de transfiguração, que acho que você nunca mais esquece a localização...’ Ele riu e concordou ‘Tem uma sala de feitiços e a sala de duelos’

‘Que tipo de duelos vocês tinham nessa sala, se nunca tiveram DCAT?’ Perguntou receoso da resposta

‘Do pior tipo, eu sempre arrumava uma desculpa pra faltar essa aula. Se procurar meu histórico na enfermaria, vai encontrar uma série de doenças distintas, sempre às quartas-feiras. Alias, se precisar de uma doença inventada e não souber qual, é só pedir ajuda à Vina’ Riu

‘Doenças. Vina. Anotado’ Disse decorando o que ela dizia enquanto desciam as escadas

‘Aqui no 7º andar não tem nenhuma sala de aula, mas tem o escritório do professor de Astronomia. As aulas dele são sempre na torre do castelo, mas ela nunca está no mesmo lugar’

‘Como assim? Ela se mexe?’ Ele pareceu espantado ‘Já vi escadas se moverem, mas uma torre?’

‘Isso mesmo, cada dia ela está em uma ala do castelo’ Riu ‘Antes da aula costumamos ir até os jardins procurar por ela, pra poupar tempo’

‘Ótimo, mais uma aula que vou me atrasar’ Disse riscando no horário que tinha na mão ‘O professor é igual a megera de Transfiguração?’

‘Ah não, o Ante é legal. Só é meio lunático. Você só precisa ficar atento com a Mesic e o Lênin, ele também é rígido. Os demais dá pra levar... E se fizer aritmancia também, não dê mole pro professor. Ele é meu avô e não é nada fácil’

‘Não faço essa aula, muito chata. O que você estava fazendo sozinha aquele dia em Los Angeles?’ Disse mudando de assunto de repente ‘Tenho certeza que vi você pelo menos três vezes em duas semanas’

‘Meu namorado e os irmãos dele estavam me irritando, não agüentava mais ouvir brigas’

‘Ok, já entendi a indireta: não dar em cima de você, porque você tem namorado’

‘Não, não foi isso que quis dizer!’ Ela falou depressa

‘Então estou autorizado? Mesmo você tendo namorado? Uau, as garotas de Durmstrang são modernas’

‘Eu não disse que podia dar em cima de mim, mas também não disse que tinha namorado de propósito! Você perguntou o que eu estava fazendo sozinha na praia e eu respondi!’

‘OK, você me deixou confuso agora: posso ou não dar em cima de você?’ Ele tinha uma expressão séria, mas depois começou a rir e ela viu que ele estava brincando

‘Não foi uma indireta’ Disse séria, mas acabou rindo também ‘Idiota... Próximo andar, por favor’

Dessa vez ela não deu chance para ele fazer a reverencia para ela passar e já foi descendo as escadas. Mas a única sala que conseguiu indicar foi a de Literatura Mágica e Transfiguração Avançada, pois ele logo mudava de assunto, fazendo perguntas que em nada tinham a ver com a escola. E cada vez mais eles caminhavam mais devagar, de modo que quando chegaram ao salão principal para o almoço, uma hora depois, sabiam um pouco mais um do outro e ele sabia menos ainda sobre a escola; sabiam se o outro tinha irmão e quantos tinha, descobrirem que ambos não eram fãs de quadribol, mas gostavam igualmente de cavalos, sabiam também que tipo de bandas gostavam e se gostavam de sair, mas nenhuma localização de sala de aula abaixo do 6º andar.

‘Acho que vou precisar de outro tour pelo castelo’ Micah falou quando entraram no salão principal ‘Não aprendi nada nesse, a não ser que saber que você detesta kiwi vá me ajudar a não me perder mais’

‘Hoje só tenho tempo vago às 20h, depois da reunião do clube de Transfiguração. Amanhã mostro o castelo direito pra você, pode ser?’

‘Ah não, nada disso. A primeira aula amanhã é DCAT e não quero me atrasar, preciso saber direito hoje. Espero você às 20h na porta do clube, esse me lembro de você ter mencionado ser no 6º andar’

‘Você quer conhecer o castelo à noite? Está louco?’ Ela riu. Ele ainda era novo, não conhecia as regras da escola direito ‘Se os guarda-caças nos pegam fora das repúblicas em tempo vago depois do jantar, é detenção’

‘O que é um peido pra quem já está cagado?’ Falou despreocupado e ela se segurou para não rir ‘Já ganhei uma detenção da madrasta da Branca de Neve mesmo’

‘É, mas eu não ganhei detenção, e nem pretendo ganhar’

‘Está comigo, não tem perigo’ Disse convencido ‘Não aceito não como resposta, você precisa fazer seu trabalho direito. Espero você na porta da sala, e não adianta tentar fugir. Eu juro que corro atrás de você, não tenho vergonha dos alunos olharem e rirem apontando’

Ele sorriu e entrou no salão, procurando Ty nas quatro mesas apinhadas de estudantes. Evie ficou parada na entrada sem dizer nada e só se moveu quando as amigas pararam ao lado dela perguntando como tinha sido o passeio. Ela deu uma ultima olhada onde ele estava sentado e saiu com elas para o jardim. Acabara de perceber que a vida calma que tinha até então corria sérios riscos de extinção. E ela gostou da idéia.