Wednesday, September 26, 2007

Estávamos no jardim, aproveitando um intervalo entre as aulas, quando Iago, e os três patetas se aproximaram. Iago pegou na mão da Milla e a beijou, e Luka nem disfarçou sua careta. Resolvi chama-lo de Moe, pois me lembrava do seriado trouxa dos 3 patetas.
- Onde você estava? Perguntou Milla.
- Reunião de última hora do DQC, estávamos decidindo a abertura dos testes de quadribol, estas coisas...
- Quando começam os testes? Como são?- perguntei ansioso.
- Cada casa acabou de colocar seu aviso no quadro geral. Por quê? Vai tentar vaga?- perguntou Iago.
- Quero tentar entrar no time daqui. Em Paris os treinos já começaram.
- Estou no time búlgaro. Batedor titular. – disse Iago como quem não quer nada e Milla comemorou.
- Jura? Parabéns. – e após abraçá-lo ela perguntou:
- Quem mais? Vocês conseguiram também Luka? Max?
- Sim, mas no time reserva. – eles responderam secos e ela voltou a abraçar Iago. Troquei um olhar com Micah. Era palpável o mal estar que a união daqueles dois causava no Moe.
-Como são os testes daqui? As garotas são páreo duro na disputa? – perguntei e vi Chris, Max e Luka rirem com gosto. Iago se controlou porque Milla olhou feio, e ele não queria brigar novamente.
- Garotas jogando quadribol aqui? Nem pensar. – disse Max, enquanto ria com os amigos. Eu, Micah e as garotas não ríamos.
- Mas porque não? Elas jogam tão bem quanto nós. – respondi e os caras começaram a me vaiar.
- Aqui as coisas são diferentes: mulher faz o que tem que fazer. Fica na arquibancada torcendo. – disse Luka.
Antes que eu retrucasse Nina interveio:
- Em Durmstrang ainda estamos no tempo dos dinossauros Ty. As garotas não podem jogar quadribol, seria um atentado contra os machistas daqui.
- Sabemos que é uma coisa antiquada. Se alguma menina joga, é em casa, longe dos olhares reprovadores. Eles acham que elas ficariam masculinizadas. - disse Milla.
- E vocês teriam vontade de jogar quadribol? – perguntei e Annia balançou a cabeça negando.
- Não obrigada, é um pouco demais para mim, mas conheço garotas que gostariam. - disse Evie.
- McGregor, o fato de o novo diretor fazer mudanças com relação a várias coisas na escola, não significa que ele vá mexer nisso também. Os times sempre deram resultado com jogadores homens e assim vão permanecer. – Luka disse enfático.
- Bem, acho isso um desperdício. Minha mãe e suas amigas jogaram quadribol, e foram campeãs pela casa delas em Hogwarts. E são mulheres lindas e muito femininas. (falei orgulhoso).
- Ah! O filhinho é apaixonado pela mamãe ui, ui, ui. Não sabíamos que gostava de mulheres mais velhas. - zombaram Luka e Max.
- Pelo menos ele pode contar com a mãe, ao contrário de nós, Luka. - disse Annia ríspida e saiu pisando duro.
- Porque ela tá tão irritada assim? – perguntei.
- Brigou com o pai. Parece que ele quer mexer numas coisas na casa deles, e ela não gostou. Foi só o que conseguimos arrancar dela. Vamos lá meninas... – disse Milla.
- Fiquem aqui. Deixem que eu fale com ela. – disse e elas me olharam chocadas:
- Você quer ir até lá, falar com a Annia quando ela está irritada? Você enlouqueceu? – perguntou Nina.
- Porque ela morde?- perguntei rindo, mas elas estavam sérias. Olhei inseguro para Micah e ele disse:
- Talvez, ela precise de outro ponto de vista sobre as mudanças do pai dela... – abri a boca para agradecer, e ele continuou:
- E se ela é tão perigosa assim, a gente recolhe os pedaços depois que ela acabar com ele. – riram enquanto eu ia ate o local onde me indicaram que ela estaria.


- Posso me sentar?- disse me esparramando ao lado dela.
- Os jardins são públicos. Foram elas que te mandaram aqui? – ela perguntou azeda.
- Não, eu vim por minha conta e risco. Se o pior me acontecer, eles recolhem os pedaços, talvez sirva para alguma coisa. – disse brincando, mas ela continuava séria. Ficamos olhando para o lago enquanto a tarde ia esfriando rápido, quando ouvi sua voz baixa ao meu lado.
- Meu pai era mais velho que minha mãe, uns 12 anos. Ela foi aluna dele na Escola de Magia de Kiev. No começo ela viajava com ele para todos os lugares até que engravidou de mim, e teve que ficar em casa. (ela respirou fundo). Sabe... quando pequena ele era presente, ele até me levava de cavalinho em suas costas, lia histórias antes de eu dormir. Éramos felizes...
Um dia uns homens esquisitos vieram até a minha casa e pude ouvir os gritos deles ameaçando ao meu pai. Eram comensais. Ele expulsou os homens, e minha mãe assustada pediu que ele ficasse em casa. Ele a ignorou, disse que nada nos aconteceria e viajou. Alguns dias depois minha mãe foi morta numa emboscada que era para ele. E agora ele acha que pode dar as coisas dela. Temos que seguir em frente Anastácia... (imitou a voz do pai).
É culpa dele, se ela esta morta. – ela disse as palavras com tanta raiva, que me assustou. Nunca achei que alguém pudesse guardar tanta raiva dentro de si, sem explodir.
- Acho que você ta fazendo drama com... - comecei, mas ela não me deixou terminar, parecia prestes a me azarar.
- Acha que tô fazendo drama? Que sou daquelas meninas frescas, que ficam dando escândalo? E eu que achei que os outros estavam exagerando quando diziam que você era babaca, mas vejo que eles têm razão. Não sei por que perdi meu tempo com você. - e se levantou para ir embora e eu a segurei pelos braços irritado:
- Você acha que só você perdeu alguém no mundo? Acha que só você sente a perda da sua mãe? Já pensou nele? Não né? Ai coitadinha da Anastácia, perdeu a mãe e virou uma bestinha, afundada na auto piedade.
E continuei falando:
- Faz 3 meses que meu pai morreu. Minha mãe ainda não conseguiu juntar as coisas pessoais dele para doar, e duvido que vá fazer isso tão cedo. Queria que ela chorasse, gritasse comigo, porque foi por minha culpa que meu pai morreu. Mas não, ela se mantém forte, trabalhando mais que antes, agradecida por eu estar vivo. Então eu procuro fazer o mesmo, é o que se espera de mim. Se ela quiser dar as coisas dele, que dê. Não preciso de nada material pra me lembrar do ótimo pai que ele foi. Porque aonde ele está, eu sei que quer que a nossa vida aqui continue, para que um dia possamos estar juntos novamente. Ele me amava o bastante para dar sua vida por mim, embora eu nem ache que mereça, e isso não vai mudar, mesmo que eu grite, faça escândalo, e brigue com as pessoas que gostam de mim. – parei e tomei fôlego, e percebi que estávamos muito perto um do outro e senti que ela tremia, enquanto eu apertava seus braços:
- Desculpe, fui estúpido com você e te assustei. Se você quiser parar com as aulas, eu vou entender ninguém quer um selvagem como aluno não é? – disse e aos poucos ela ia se acalmando:
- Eu disse alguma coisa sobre parar as aulas? Estou reclamando? Lembre-se que você vai me ensinar a duelar decentemente. Acho que devemos voltar, está frio não é? Você deve estranhar viver aqui. Mas quando o lago congelar podemos patinar, é divertido. – ela disse mudando deliberadamente de assunto
Começamos a andar de volta quando passei na frente dela, fazendo-a parar e disse por sobre o ombro:
- Sobe.
- Como?
- Sobe logo, ou o cavalinho vai embora.
Ela riu descrente e subiu nas minhas costas, e enquanto ela abraçava meu pescoço rindo, pensei que as coisas no mundo podiam ser tão simples quanto sorrir com coisas tão infantis.