Wednesday, September 12, 2007

‘Na floresta do lado de fora dos nossos muros vocês podem encontrar muitas criaturas mágicas’ O professor Isaac bateu com a mão numa gaiola e ela se agitou. Ele riu ‘Calma, os barretes vermelhos que capturei ontem não vão escapar do tanque’

‘Qual a classificação dos animais que moram na floresta?’ Perguntei interessado e Ty me olhou desconfiado. Até então eu estava desenhando, alheio à aula

‘Eu diria que elas variam’ Isaac respondeu pensativo ‘Eu mesmo não fui capaz de catalogar todas ainda, mas das que consegui localizar, vão até a classificação XXXX do Ministério’

‘E o que é “XXXX”?’ Ty ergueu a sobrancelha

‘Quer dizer que o animal é perigoso. Se um bruxo incapacitado tentar domá-lo ou até mesmo se aproximar, ele pode matá-lo’

‘O senhor tem esses animais catalogados, certo?’ Tornei a falar em um tom de voz interessado, mas contido ‘Poderia me emprestar para ver? Queria saber os tipos de animais que vocês já viram e estudaram, já que só entrei esse ano’

‘Mas é claro, Sr. Wade!’ O professor mal continha a empolgação pelo interesse de um aluno ‘Não tenha pressa para devolver, só tome cuidado!’ Disse me entregando o caderno muito bem cuidado

‘O que está tramando?’ Ty falou pelo canto da boca para não ser ouvido ‘Você nem estava prestando atenção no que ele dizia’

‘Prepare-se meu amigo’ Alisou a capa do caderno com um sorriso quase macabro no rosto ‘Porque hoje, nós vamos caçar’

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‘Maximillian Pavanov’ Fiz um risco na folha ‘Vai pra forca’

‘Luka “geléia” Ivanov’ Ty também riscou uma folha ‘Forca!’

‘Christopher O’Shea. Forca’

‘Perai, ele não tava junto quando atiraram nossas roupas no lago. Devemos dar um crédito?’

‘Não!’ Falamos juntos e rimos alto

‘Ele é primo do meu melhor amigo’ Ty falou ‘Mas é idiota como os outros, então Gabriel que me desculpe’

‘É, e ele fica me encarando esquisito, pior que os outros’ Risquei mais três nomes no papel

‘Mas isso é porque você está dando em cima da monitora, e ela ta dando mole pra você. Annia disse que ele gosta dela’

‘Ah então é esse o motivo das encaradas?’ Sorri debochado ‘Bom saber’

Alguma coisa se moveu depressa por entre as moitas da floresta e paramos de falar. Ajeitei-me na árvore e encarei Ty. Ele se segurou com força no galho para não cair e tentava ver o que tinha se mexido com tanta agilidade. Estávamos sentados no alto de uma árvore bem no centro da floresta há mais de uma hora. Já havíamos capturado uma dúzia de diabretes que faziam escândalo presos dentro de uma jaula, mas um feitiço silenciador resolveu o problema do barulho.

‘Acha que é?’ Ty perguntou animado ‘Passaríamos de ano direto se levássemos um desses para o professor! Aqui diz que eles são encontramos apenas na Grã-Bretanha e Irlanda’

‘Só tem um jeito de descobrir’

Tirei um pedaço de pão da mochila, cuidadosamente escolhido do estoque de comida dos veteranos, e atirei no chão. Novamente as folhas se mexeram e em cima do local onde o pão havia caído estava parado um lagarto verde-prateado de aproximadamente 25 centímetros. Trocamos olhares empolgados.

‘É ela, uma bibra!’ Fiquei de pé no galho e as folhas balançaram ‘Sabia que tinha visto uma!’

‘No catalogo diz que ele é de classificação XXX’ Ty folheava o caderno do professor ‘Acha que conseguimos levá-la sem acidentes?’

‘Sim, mas pegue as luvas de couro, acho que esse bicho morde’ Ty atirou um par para mim e vestiu o seu ‘E também, ela pode se cansar do nosso método de persuasão’

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‘Vem bichinho, aqui’

‘Quem é o lagartinho lindo do papai?’ Ty falou com uma voz mongol e comecei a rir

Vínhamos andando de costas, atirando gafanhotos mortos pelo caminho e atraindo a briba lentamente, a gaiola com os diabretes mudos sendo arrastada sem delicadeza. O lagarto parava para engolir o inseto e logo nos encarava, à espera de mais. Cerca de meia hora depois estávamos de volta a republica.

‘Pro quarto dos três patetas?’ Ty perguntou quando chegou à escada

‘Sim, temos que cortar o mal pela raíz'

O quarto onde Max, Luka e Chris dormiam ficava no 3º andar e toda a decoração dele era baseada em quadribol. Tinham bandeiras e bastões pendurados nas paredes, uniformes à mostra, uma goles novinha em cima da cômoda e um pomo de ouro preso a uma caixa de vidro. Seus ocupantes, no entanto, estavam fora no momento. Ty deixou uma pilha de gafanhotos mortos debaixo de cada travesseiro e eu desfiz o feitiço silenciador que havia lançado nos diabretes, abrindo a porta da gaiola.

Os diabretes escaparam numa velocidade absurda e tomaram conta de todo cômodo, arrancando as bandeiras da paredes, liberando o pomo cuidadosamente guardado e atirando a goles que brilhava na cômoda de uma parede para outra, estourando lâmpadas no trajeto. A bibra fugia do caminho dos diabretes, fuçando pelas camas em busca da comida e rasgando os lençóis. Em menos de um minuto parecia que uma bomba tinha explodido no quarto. Quando três diabretes abriram as gavetas e começaram a tentar vestir as roupas, decidimos sair.

‘Vamos embora, melhor estarmos longe daqui quando eles voltarem’ Eu não continha as gargalhadas

‘Queria ser invisível para ver a reação deles’ Ty comentou em meio às lagrimas ‘Mas acho que os gritos poderão ser ouvidos a quilômetros de distância’

‘E é lá mesmo que vamos estar’ Respondi fechando a porta. Pelo barulho, o abajur acabara de ser atirado no chão. Sorrimos satisfeitos.


We're rascals, scoundrels, villains, and knaves
Drink up, me 'earties, yo ho
We're devils and black sheep, really bad eggs
Drink up, me 'earties, yo ho

Pirates of the Caribbean – Yo Ho! (A Pirate’s Life for me)