- Ty, vou precisar ir mais cedo para o trabalho, hoje fico de plantão no Departamento dos Mistérios, então seu padrinho vai te levar pra Bulgária, amanhã de manhã antes da primeira aula ok?
- Claro mãe, sem problemas.
- Então me dá um abraço apertado meu menino lindo. Sabe que eu te amo?
- Credo mãe, que as pessoas não escutem isso. - disse brincando, mas erguendo minha mãe do chão enquanto a abraçava apertado.
- Deixa de ser bobo: mãe pode tudo, já não te ensinei isso? Nos vemos no Natal certo?
- Sim. Até o Natal! Também te amo mãe. – nos despedimos e fui dormir, teria um dia cheio.
Meu padrinho chegou atrasado em casa e aparatamos para a Bulgária em cima da hora para assistir as aulas. Larguei minhas coisas no vestíbulo do castelo e fui até a sala do diretor, saber aonde deveria ir. Como ele não estava, falei com o vice-diretor e ele me mandou ir até a aula de Literatura Mágica, tudo iria bem se eu não tivesse me perdido num daqueles corredores que pareciam um labirinto. Quando chego à tal sala, encontro um aviso:
Aula de Literatura Mágica, nos jardins, ao lado da estufa Imperial.
Maravilha! Aqui eles tem uma estufa "imperial"? ¬¬. Acelerei para tentar achar os jardins e no caminho dei uma trombada com um homem usando roupas de peles.
- Desculpe.
- Ahá! Um dos pestinhas matando aula. Começamos cedo este ano. - disse mal humorado.
Pelos trajes e pelo cheiro de cachorro molhado só podia ser um guarda-caças. Respirei fundo e disse:
- Por favor, sou novo aqui e não sei onde fica a estufa Imperial. Minha aula é lá.
- Até parece que acredito nisso! Todos sabem que a Estufa imperial fica no lado leste, para melhor aproveitar os raios solares e... – nem terminei de ouvir o que aprecia ser uma longa explicação, já estava atrasado, saí correndo na direção indicada. Por sorte, a mania de meus pais de me manter treinando nas férias, me deu um bom condicionamento físico e não vomitei o café da manhã, depois de correr tanto. Acabei encontrando o grupo de alunos sentados, nos jardins e ficaram me olhando quando cheguei. Alguns cochichavam entre si, olhei para um garoto, que me examinava com olhar crítico e exclamei, sem intenção de ser ouvido, enquanto jogava meu material ao meu lado:
- Que sorte! Consegui chegar antes da velhota.
- Me avise quando ela chegar também para pegar uma cadeira para a pobrezinha, ela vai chegar exausta depois desta corrida. – disse uma voz suave às minhas costas. – e eu senti meu pescoço quente e ouvi alguns risinhos, enquanto a mulher passava por mim e se dirigia à frente da classe. Ela era alta, jovem e tinha olhos claros, e um sorriso... Pra resumir ela era: Linda! - meu queixo estava caído.
- Bem, após o atraso do seu novo colega o senhor... (e ela olhou as suas anotações) McGregor, vamos continuar o nosso assunto sobre os deuses mitológicos que representam as emoções humanas. Eu ia começar a falar sobre Éris, alguém sabe quem é?- olhou para a sala e uma garota de cabelos castanhos levantou a mão. Ela olhou para toda a classe e perguntou novamente:
- Só Ivanovich, sabe quem foi Éris? Não é possível. O que fizeram nestas férias? Divertiram-se? - e a sala riu com ela.
Como eu queria me redimir com a professora, agora era a hora de mostrar que as aulas da Emily entraram na minha cabeça, levantei a mão e ela me mandou ir em frente.
- Éris, segundo Hesíodo, é a deusa da discórdia na Mitologia grega, é a primogênita de Nix (a noite) e a mãe da Dor (Algea), da Fome (Limos), da Desordem (Dysnomia) e de outros flagelos. Porém Homero, na Ilíada diz que ela é a irmã de Ares, presumindo-se que seja filha de Zeus e Hera.- ai pra fechar com chave de ouro lembrei de um versinho do livro:
"(...) a Discórdia infatigável,
Companheira e irmã do homicida Ares,
Quem a princípio se apresenta timidamente, mas que logo
Anda pela terra enquanto a fronte toca o céu."
- Muito bem senhor McGregor, acaba de ganhar um ponto para a Othila.
Como a professora batesse palmas e sorrisse, não me contive e fiz uma reverência como se estivesse me apresentando num palco. Percebi que a garota que havia erguido a mão, me olhou de cara feia. Mas quem se importa? A professora agora sabe quem eu sou.
Ao final da aula e antes de ir para a próxima aula, me aproximei da professora:
- Posso falar com a senhora?
- Pois não, senhor McGregor.
- Quero pedir desculpas, por me referir à senhora como uma velhota. Foi rude de minha parte. Mas é que eram as informações que eu tinha a respeito de quem lecionava esta matéria.
- E quem lhe disse isso? Posso saber?
- Foi meu padrinho, Sergei Menken. Ele disse que a mulher que dava esta matéria, devia estar com uns 200 anos. Parecia embalsamada já rsrs.
- Ah, ele deve ter sido aluno de minha avó. Nós temos o mesmo nome. – Bonito Ty, agora você chamou a avó dela de múmia. Ela deve ter notado que eu estava novamente envergonhado, pois riu me tranquilizando:
- Ela foi a responsável por esta matéria durante muitos muitos anos, e quando se aposentou eu me ofereci para tomar seu lugar. Desculpas aceitas senhor McGregor. Agora aconselho-o a seguir seus colegas para sua aula de Transfiguração. A professora Mesic, não costuma encarar com bom humor o atraso de seus alunos.
Nos despedimos e eu me limitei a seguir os alunos até a sala de Transfiguração, uma vez que eles apenas me olhavam e não falavam comigo. Talvez eu tenha pisado em bosta de dragão e não percebi ou quem sabe eles sejam tão fechados quanto as muralhas do castelo. Já vi que vou demorar a me adaptar a este país gelado.