Monday, January 26, 2009

Janeiro de 2000

As masmorras de Durmstrang estavam estranhamente agitadas para uma segunda-feira. Os novos iniciados já haviam sido selecionados em Outubro, mas uma outra pessoa havia se candidatado a uma vaga. Depois de uma reunião dos membros mais antigos, decidiram dar uma chance ao garoto, por ser filho de um dos cavaleiros mais velhos. Os cavaleiros que haviam aparecido para o teste do novato formavam um circulo em volta de um tablado, onde o garoto se encontrava sozinho, aguardando instruções. Seu rosto já exibia cortes e sua aparência era de cansaço, mas ele se mantinha de pé, com toda força que conseguia reunir.

‘Seu teste final será uma luta’ O líder falou se aproximando do garoto ‘Se vencer um dos nossos, terá conquistado seu direito de pertencer a essa Sociedade. Se perder, sairá daqui e nunca mais ousará mencionar nosso nome’

‘Eu gostaria de duelar com o iniciado, mestre’ Um mascarado não muito mais alto que o garoto deu um passo a frente, com a mão erguida ‘Se me permitir, gostaria de mandar ele de volta para casa com o rabo entre as pernas’

‘Direito concedido, Gauvain. Aproxime-se’ O líder chamado Arthur assentiu com a cabeça, saindo do tablado ‘É um de nossos melhores espadachins, acabe com ele’

O garoto chamado Gauvain subiu no tablado e pegou uma espada encostada na parede de pedra, parando de frente para o garoto pálido de cabelos muito negros. Embora não pudesse ver seu rosto, sabia que um sorriso pretensioso estava estampado por detrás da máscara que o escondia.
Pegou uma espada também e se posicionou para a luta, aguardando sinal de um dos mais velhos.

‘COMECEM!’ A voz grave de um dos homens ecoou na masmorra e Gauvain partiu para cima do novato

O garoto se defendeu do golpe de Gauvain, mas uma virada rápida com a espada fez com que fosse arremessado no chão. Levantou depressa, já avançando contra ele, e deram início a um longo duelo. Defendíamos golpes um do outro com agilidade e a luta parecia não ter fim, quando Gauvain conseguiu derrubar o iniciado mais uma vez. O baque o fez derrubar a espada e Gauvain encostou a ponta da sua em seu pescoço, se agachando.

‘Pensou mesmo que fosse ganhar de mim, sua bicha?’ Disse em alto e bom som, e alguns cavaleiros riram ‘Tem que ser homem pra saber bater’

‘É por isso então que você bate como uma garota?’ O iniciado respondeu com raiva, empurrando Gauvain com o pé e pegando a espada do chão.

O garoto levantou rápido e partiu pra cima do adversário, reunindo toda sua raiva graças à provocação que recebeu e dos risos de deboche. Gauvain não conseguia mais se defender. O iniciado desferia golpes certeiros e violentos, obrigando-o a recuar cada vez que a espada do garoto acertava a sua. Seu adversário já demonstrava estar sem forças e o iniciado conseguiu prende-lo contra a parede de pedra, encostando a espada em seu pescoço e o impedindo de se mover, ou teria a garganta cortada. Apertando a espada um pouco mais, o iniciado levou as mãos a cabeça de Gauvain e arrancou sua máscara, confirmando o que já sabia.

‘Como é a sensação de levar uma surra de uma bicha?’ O iniciado falou perto do ouvido dele ‘Só toma cuidado pra não gostar, é um caminho sem volta’

Gauvain agarrou a espada em seu pescoço e a empurrou com raiva, mas o iniciado a puxou depressa e o garoto caiu no chão. Chutou sua espada para longe, o desarmando por completo. Ele anda tentou levantar, mas rapidamente tinha a espada encostada em sua garganta mais uma vez e não se moveu.

‘Gauvain, levante-se!’ O homem que autorizou o inicio do duelo gritou exasperado, ameaçando intervir

‘Não se meta, Accolon!’ Um outro homem o segurou ‘O iniciado venceu’

‘Acabou, Accolon, ele venceu’ Um outro homem se pronunciou, se aproximando do tablado ‘Levanta-se, Gauvain, saia daí’

‘Este nobre cavaleiro passou por vários testes ao longo dessa iniciação e agora é chegada à hora de uma decisão. Eu vos pergunto: ele é um dos nossos?’ Arthur se adiantou e falou virando para os outros

‘Sim!’ Responderam em uníssono
’Muito bem, a Sociedade falou. Dispa suas vestes, é hora de receber a marca que nos diferencia dos comuns’ Ordenou o líder

Ele largou a espada no chão, retirando a capa rasgada que o cobria, já suja de sangue. Sabia que se o mandassem duelar mais uma vez, não resistiria, estava aliviado por tudo ter terminado. Ele se aproximou de Arthur e se ajoelhou. Mas mesmo com toda a dor que sentia, todo o cansaço, não gritou ou demonstrou dor quando sentiu sua pele arder e o cheiro de carne queimada invadir suas narinas. A partir de agora, seu nome era Galehaut. E faria bom uso dele.

Saturday, January 24, 2009

Era sábado à noite e nossos bebês estavam sob o cuidado dos “pais”, que perderam no par ou impar. E com toda a segurança por todo o canto do castelo que nos impediam de fazer nossas festas internas, as meninas estavam desesperadas pra aproveitar a folga e planejavam passar a noite em uma boate nova que havia aberto. Já estavam todas prontas pra sair, até Georgia, Julianne e Beatrice iam, e depois de muita insistência delas, acabei topando ir também. Seria a primeira vez que saia da escola para me divertir desde que as aulas recomeçaram.

Já passava da meia noite e a boate já atingia sua lotação máxima. Ocupávamos uma mesa no 2º andar e agora apenas observávamos o movimento do térreo pela sacada. As bandejas não paravam de passar e não teve uma única vez que não resgatamos os tubos com bebidas coloridas que vinham nelas. Já estávamos todas muito animadas, mas Georgia era de longe a mais solta. Não estava acostumada a beber, mas parecia ter tomado gosto. E aproveitávamos o momento para tentar arrancar o máximo de informação possível dela, pois era o único jeito de conhecê-la um pouco melhor.

‘Mas então, Georgia’ Annia começou, sentando no banco do lado dela ‘Conta pra gente quem foi que partiu seu coração’

‘Ah, esqueçam isso, faz tanto tempo’ Georgia virou o tubo de uma vez só e estalou o dedo pra garçonete que passava na hora ‘Oi! Mais uma rodada, meu tubinho está vazio’

‘Como podemos esquecer isso?’ Falei e recebi o apoio das outras ‘Você disse que o garoto não quis ficar com você por causa de outra!’

‘De todo mundo aqui, você é a única que não deveria querer saber’ Georgia disse me encarando e depois riu. Olhei pras meninas sem entender.

‘O negócio vai pegar fogo hoje’ Julianne comentou rindo para Beatrice, virando a bebida de uma vez só.

‘A propósito, já que hoje parece que vai ser a noite das revelações’ Beatrice me encarou, mas não parecia conseguir focar direito ‘Seu primo? Muito gay’

‘Dario? De onde você tirou isso?’ Olhei pra ela chocada ‘Ele te disse alguma coisa?’

‘Ah não precisa dizer, está na cara’ Georgia falou e as gêmeas balançaram a cabeça. Olhei para as meninas e não era a única a não ter notado o “óbvio”.

‘Mas não vamos desviar o assunto’ Julianne se virou para Georgia ‘Desembucha, Yelchin’

‘Gente, deixa isso pra lá’ Georgia tentou desconversar de novo.

‘Não, agora fala’ Insisti a encarando. As outras também a encaravam curiosas ‘Quem é o garoto?’

‘Chrisoshea’ Georgia deu um longo suspiro e disse de uma vez só. Ninguém entendeu

‘Quem??’ Vina perguntou de novo

‘Chris O’Shea’ Respondeu baixo, mas dessa vez ouvimos ‘Por sua causa’ Disse olhando pra mim, mas logo encarou a mesa.

‘Como é que é a história?’ Perguntei rindo, mas fui a única

‘Chris disse que não podia ficar comigo, porque gostava de outra pessoa. Você’ Georgia disse sério e ri de novo, mas as meninas continuavam sem rir

‘Nós sempre dissemos que ele gostava de você, Evie’ Milla deu de ombros ‘Mas você não nos dava ouvidos’

‘Eu achava que diziam isso pra implicar comigo!’ Disse incrédula ‘Não acredito que o Chris gostava de mim’

‘Mas você não saiu com o Chris Parker ano passado?’ Nina desviou o rumo da conversa e agradeci

‘Sim, e me arrependi. Nem sei por que topei sair com ele, acho que queria ver se me distraia, mas quando vi que ele só me levou lá pra fazer ciúmes em você, desisti de vez’ Georgia falou com uma voz amargurada, virando outro tubinho colorido ‘Que irônico... Dois Chris que preferiam outra garota’ E Nina ficou vermelha

‘Ih, que climão, hein? Vamos parar com isso!’ Julianne levantou do banco e agarrou Georgia em uma mão e Annia na outra ‘Vem, vamos descer, quero bater naquelas latas no palco!’

Milla agarrou o braço de Nina e Beatrice quando passou por elas e Julianne foi puxando a fila escada abaixo. Vina riu ouvindo os gritos de Nina sendo rebocada, mas sentou de frente pra mim quando percebeu que eu não achava graça também.

‘Ficou balançada com a revelação mais obvia de Durmstrang?’

‘Balançada não é a palavra’ Respondi ignorando a piadinha ‘Mas não posso negar que fiquei desapontada por ele nunca ter me contado’

‘Teria feito alguma diferença?’

‘Não sei. E agora nunca vou saber’

‘Não teria mudado nada, Evie. Você sabe disso’

‘Mesmo assim queria que ele tivesse me contado. Somos melhores amigos, poxa’

‘Chris sempre soube que você o via apenas como um amigo. E ninguém gosta de se declarar pra alguém e não receber uma declaração de volta’

‘É, acho que tem razão. Também não teria contado se fosse o contrário’ Disse deitando a cabeça na mesa ‘É só que é um pouco assustador esse tipo revelação’

‘Assustador é o jeito que você voltou das férias’ Vina falou ‘Assustador é saber que não estamos conseguindo ajudá-la a sair dessa fossa’

‘Desculpa’ Levantei a cabeça, mas continuei encarando a mesa ‘Não queria preocupar ninguém, mas eu já estou melhorando, eu acho’

‘Sim, está. Você topou sair hoje, isso já é um avanço’ Ela sorriu ‘Mas sabe o que é ainda mais assustador? Georgia sair com a gente. Evie, ela está virando uma de nós!’ Vina disse desesperada e acabei rindo ‘Pronto, riu. Assim está melhor. Agora levanta daí, vamos ver as outras no palco!’

Vina agarrou minha mão e me tirou da mesa, parando na sacada. Lá de cima dava pra ver o palco, com vários latões espalhados e Milla, Annia, Nina, Julianne, Beatrice e Georgia batiam neles com baquetas no ritmo da música, fazendo respingar tinta pra todos os lados. Ficamos gritando lá do alto e rindo delas dançando enquanto batucavam e depois de algum tempo elas saíram do palco e voltaram ao 2º andar. Pareciam 6 aquarelas, mas não conseguiam parar de rir. Pedimos mais uma rodada das bebidas coloridas e Georgia foi ao banheiro com a sua na mão.

‘Você está legal?’ Milla perguntou preocupada

‘Está tudo bem’ Disse sorrindo ‘Acho que só eu não via, ou não queria ver’

‘Ei, um brinde a descoberta mais obvia de Durmstrang!’ Vina ergueu o tubo colorida e todas riram, inclusive eu

Brindamos e viramos a bebida de uma vez só, já pedindo mais doses. Ficaram fazendo hora com a minha cara por causa do Chris por um bom tempo, até que Nina perguntou por Georgia. Já fazia algum tempo que ela tinha ido ao banheiro e saímos para procurá-la, mas não demoramos a encontrar. Annia apontou para um sofá no canto da boate rindo. Georgia estava deitada toda torta nele, a cara amassada no braço do sofá, dormindo profundamente.

‘Georgia’ Sacudi ela, mas não houve resposta ‘Georgia!’

‘Ela está viva?’ Vina perguntou assustada

‘Está sim, está respirando’ Julianne respondeu colocando a mão embaixo do nariz dela ‘GEORGIA!’

‘Esquece, desmaiou’ Disse já puxando seu braço. Georgia escorregou no sofá feito uma boneca de pano ‘Dá uma ajuda aqui, vamos levar ela embora’

‘É, acho que já está mesmo na hora de irmos embora’ Annia concordou, ainda rindo ‘Olha o estado dessa pessoa’

‘Levem-na pro banheiro primeiro, não podemos chegar com ela na escola sendo carregada. E se um dos cães de guarda do pai da Inês acordar?’ Vina disse caminhando na direção do banheiro ‘Temos que deixá-la consciente antes’

Carreguei Georgia com a ajuda de Milla até o banheiro e a escoramos na parede, mas assim que soltamos, ela deslizou para o chão. Puxamos ela de volta e a seguramos de pé enquanto Vina passava um papel molhado no rosto dela, para acordá-la. Georgia ia abrindo os olhos aos poucos e quando já conseguia falar e se manter de pé sozinha, mesmo que por breves segundos, deixamos a boate. Georgia caminhava escorada na Milla e eu andava ao seu lado, pronta para segurá-la se caísse. Chegamos no caminho que levava às repúblicas depois de muito tempo e já não tinha mais luzes acesas quando entramos na Avalon.

‘Parece que estamos ensinando o bambi a andar’ Beatrice falou observando Georgia caminhar devagar como se não soubesse o que estava fazendo e rimos

‘Ainda bem que ela não dorme no nosso quarto’ Milla falou cansada, ainda segurando Georgia ‘Não íamos conseguir chegar lá em cima hoje’

Despejamos Georgia em seu quarto no 3º andar e subimos quase nos arrastando para o nosso. Já passava das 3 da manhã e agradecemos por não termos aula aos domingos, pois desmaiamos com a roupa do corpo assim que deitamos em nossas camas. Naquela noite, havia finalmente me divertido.

Tuesday, January 20, 2009

Estava deitada em uma cama de hospital, cercada por curandeiros, em um quarto muito branco. Micah apertava minha mão, nervoso, enquanto me esforçava ao máximo para empurrar o bebê para fora. Meu rosto estava molhado de suor e já me sentia fraca, sem forças. Encostei a cabeça na cama chorando, mas Micah me puxou de volta, beijando minha testa.

‘Não consigo mais’ Disse chorando, olhando para ele suplicante.

‘Só mais um pouco, meu amor’ Ele apertou minha mão e a beijou ‘Já vai terminar, eu prometo’

‘Evie, só mais uma vez’ O curandeiro falou me olhando por cima da barriga ‘Mais uma e ele sai. Conte até três e empurre’

Respirei fundo e contei até três, reunindo toda força que ainda me restava. Era uma dor que nunca senti antes, parecia que ia morrer, mas segundos depois vi o curandeiro puxar um bebê muito pequeno e leva-lo embora. Deitaram-no em uma incubadora e o cercaram rápido.

‘Acabou’ Micah beijou minha testa, também parecendo cansado ‘Acabou’

Ele deitou a cabeça sobre a minha e ficamos encarando o cerco de curandeiros em volta do bebê, que não emitia som algum. A dor já havia passado, mas ainda chorava, e sabia que Micah se esforçava ao máximo para transparecer calma e demonstrar força perto de mim. Os curandeiros se afastaram do vidro e o vi de relance. Era tão pequeno e frágil, e não movia um músculo. O curandeiro que o tirou de dentro de mim o pegou no colo e caminhou até a cama. Estendi a mão para segura-lo e Micah virou o rosto, se afastando, sem conseguir olhar pra ele. Segurei-o em meus braços e passei o dedo em seu rosto minúsculo.

‘Me perdoe’ Disse alisando seu rostinho, e uma lágrima pingou em sua mãozinha ‘Nunca se esqueça que eu te amo’


‘Unhééé’

Acordei assustada, me embolando no lençol. Meu rosto estava molhado e percebi que eram lágrimas, embora não lembrasse porque havia chorado. Minha respiração estava pesada, era como se tivesse feito esforço, como correr uma maratona, eu suava também. Atirei a coberta pro lado e levantei, pegando o boneco do berço improvisado em uma das gavetas. O choro dele acabou fazendo os outros bonecos despertarem e o quarto se encheu com o berreiro de 5 bebês de borracha.

‘O que foi agora, criatura?’ Disse enquanto sacudia o boneco, sem paciência ‘O que você quer agora?’

‘Temos que combinar as noites em que eles dormem aqui’ Milla falou bocejando, enquanto balançava o bebê tão alto que seu corpo ia junto ‘Se um chora, todos choram. É uma reação em cadeia!’

‘Calma, Hemingway’ Nina conversava com o boneco de olhos fechados, sentada na cama ‘Mamãe está aqui’

‘Não podemos mesmo dar calmantes a eles?’ Vina perguntou dando tapinhas nas costas do boneco dela ‘Tenho uma poção no armário que é tiro e queda’

‘Acho que a professora Mira vai saber se drogarmos o bebê, Vina’ Annia respondeu mal humorada, trocando a fralda do boneco.

Continuamos a embalar os bebês por mais de meia hora, e quando o de Nina finalmente se calou, os outros também acalmaram. Coloquei o meu de volta na gaveta aberta e voltei pra cama engatinhando, cansada. Apaguei assim que encostei a cabeça no travesseiro e o que quer que tenha sonhado antes, não voltou à minha mente.


*****

Acordei na manha seguinte à revolta dos bebês com olheiras que me deixaram similar a um guaxinim. Sai da república de mau humor, o bebê preso debaixo do braço, ignorando suas ameaças de começar a chorar. Não podia passar ele ao Dario, era o meu dia de cuidar do boneco, então teria que suportá-lo até de noite.

Agüentei uma aula de Literatura Mágica, onde a professora conferiu o andamento do projeto e fiscalizou cada boneco, para saber se não tinham sofrido algum tipo de descaso nosso, uma aula de Transfiguração, onde o bebê teve uma crise de soluços, seguida de um ataque histérico que só parou depois que alimentei, brinquei e troquei a fralda, tudo isso sob o olhar capaz de cuspir fogo da professora Mesic, que só faltava urrar quando mais algum bebê era contagiado pelo ataque do meu, e dois tempos de poções, onde graças a Merlin tivemos uma revisão para os N.I.E.M.s e o professor pediu que fizéssemos a Poção da Paz. O seu cheiro acalmou os bebês, que dormiram profundamente.

Apesar de ter sobrevivido às aulas da manha, foi impossível freqüentar o clube dos duelos e o clube de transfiguração avançada. O bebê recomeçou a chorar logo depois do jantar e não houve balanço, canção ou reza que o acalmasse. Tentei todos os recursos possíveis, cheguei até a pedir socorro ao meu avô para que me dissesse o que fazia quando meus tios tinham crises de choro, mas nada funcionou. Fiquei sentada no pátio sacudindo o boneco e sequer a neve que caia foi capaz de, quem sabe, congelá-lo e fazê-lo calar a boca. Estava quase chorando junto com ele e peguei meu material tremendo de nervosa, caminhando até o teatro da escola. Dario ensaiava alguns passos de dança no palco junto com Georgia e parou quando me viu entrar, correndo até as poltronas.

‘Toma que o filho é seu’ Empurrei o bebê pras mãos dele, que o segurou de qualquer jeito ‘Não agüento mais, ele está chorando há 3 horas!’

‘Evie, não posso!’ Dario tentou empurra-lo de volta, mas recuei com as mãos erguidas ‘Estou ensaiando, como vou cuidar dele?’

‘Não sei, mas se ficar com ele mais dois minutos, vamos ser reprovados’ Falei irritada pelo choro alto do boneco ‘Vou enfiar a cabeça dele na neve!’

‘É assim que você vai cuidar do seu filho, quando tiver um?’ Ele riu do meu estado de nervos, mas não achei graça ‘Enterrando ele na neve quando chorar?’

‘Bebês não choram 3 horas seguidas, só E.T.s’ Respondi azeda e ele riu ainda mais ‘Tente ao menos acalmá-lo, você leva mais jeito’

Dario se deu por vencido e começou a andar de um lado pro outro embalando o bebê e cantando baixo perto de seu ouvido. O choro persistiu por mais alguns minutos, mas ele finalmente se calou, e Dario o colocou com cuidado em uma das poltronas, sorrindo vitorioso.

‘Pronto, dormiu. Deixe-o ai, não se atreva a movê-lo’ Disse enquanto caminhava de costas de volta pro palco ‘Quando acabar o ensaio, levo ele pra minha república’

Agradeci a ele e pensei em ir embora dormir, mas estava tão cansada que não sabia se seria capaz de chegar até as repúblicas. E já que estava ali, resolvi assistir ao ensaio deles. Sentei em uma poltrona de onde pudesse ver o boneco e prestei atenção no palco. Alguns minutos depois o professor percebeu que não havia saído e veio até mim, sentando ao meu lado.

‘Como você está?’ Perguntou sorridente ‘Soube que desistiu das minhas aulas porque não estava bem’

‘Estou um pouco melhor, obrigada’ Sorri para ele e apontei para o palco ‘O que eles estão ensaiando?’

‘A cena em que são despejados do apartamento onde moram’ Explicou ‘Dario é excelente, tem futuro no teatro musical, se desejar trabalhar com isso’

‘É, ele é bom mesmo’ Concordei. Era a primeira vez que via meu primo no palco e ele parecia tão à vontade, como poucos ali.

‘Deve ser de família’ Ele brincou, me encarando ‘Se você quiser, também vai longe nesse ramo’

‘Eu gosto bastante, mas nunca cheguei a considerar trabalhar com isso quando saísse daqui’ Respondi sincera. Embora freqüentasse a oficina de artes desde o primeiro ano, só havia descoberto vocação para teatro musical no ano passado.

‘Pois se quiser considerar a idéia, posso ajudá-la a conseguir bons testes na West End e até na Broadway’

‘Prometo que vou pensar no assunto’ Disse sorrindo

‘Sei que não adianta pedir que volte ao grupo para se apresentar na peça, mas estou precisando muito de uma contra-regra’ Ele me encarou outra vez, esperançoso ‘Preciso de alguém que compreenda as necessidades da peça, não pode ser qualquer um. E você é a pessoa certa pro trabalho’

‘Não sei... Não tenho tido tempo pra nada, posso acabar prejudicando a peça’ Disse incerta. Era uma oferta boa, mas tinha medo de me comprometer e acabar decepcionando o professor e meus amigos.

‘Tenho absoluta certeza que você não vai prejudicar a peça. É perfeitamente capaz de dar conta to trabalho’ Ele levantou da poltrona e sorriu ‘Pense a respeito e me responda depois’

Ele voltou ao palco para corrigir alguns passos de Chris e Gabriel e debrucei o corpo na poltrona da frente, assistindo ao restante do ensaio. Quando ele terminou, voltei com meus amigos pras repúblicas. Sentia falta do teatro, mas não queria me comprometer em participar da peça, mas quem sabe eu possa mesmo trabalhar nos bastidores, pra variar um pouco...

Saturday, January 17, 2009

Saímos da reunião com Seth com caras de enterro, e fomos diretamente para nossa república sem falar nada. Annia andava ao lado do Reno e segurava a mão dele, dando apoio e ele parecia precisar. Parecia enjoado, também quem não fica enjoado quando sabe que tem um bando de vampiro vindo atrás de você??Você fica pensando nas tais mil coisas que tem que fazer antes de morrer, e sabe que se conseguir fazer duas estará no lucro. Que vontade de matar quem jogou esta idéia no mundo
Reno seguiu caminho com os garotos e eu e as meninas entramos na nossa república. Olhei para minhas amigas e mesmo Annia tão controlada tinha o mesmo olhar que o nosso: p-a-v-o-r!
E com tudo que sabíamos, quem conseguiria dormir?
BAM!
Bateu a porta do quarto e Vina e Nina entraram carregando umas sacolas enquanto eu estava martelando na janela com Evie me ajudando.
- Conseguiram tudo?- perguntei com boca segurando uns pregos.
- Sim, tive que tirar o fornecedor da cama, mas está tudo aqui.
Quando Vina virou uma das sacolas e o cheiro se espalhou pelo quarto, assumi um ar maníaco:
- Vamos espalhar o alho pelos cantos. Já espalhou as cruzes, Evie??
- Sim, acho que devemos fazer círculos de sal grosso ao redor das camas...
- Isso era para proteger os bruxos dos feitiços de invocação nos filmes não?- perguntou Annia, mas vimos ela colocar uma cruz toda brilhante no pescoço.
- Pode ser, Madonna, mas não custa garantir. - disse Vina cercando nossas camas, com pelo menos um kilo de sal grosso cada.
- Ah eu comprei umas estacas, será que precisa de martelo para acompanhar?? Não sei se tenho força o bastante para empurrar no coração. - disse Nina.
- A gente pode fazer umas adaptações, olha o que eu achei no quartinho de ferramentas, lá nos fundos, quando fui pegar os pregos...- Evie sacou uma daquelas pistolas automáticas que lançam uns 10 pregos por minuto.
- Podemos adaptar pra lançar pequenas estacas de madeira sagrada...- disse depois de ler o Almanaque de Pragas e Contra Pragas, quando Nina, deu um pulo no meio do quarto com um giz na mão, falando esquisito e começou a desenhar umas coisas no chão:
- Huh, pii, huh, pii, piii....inham, inham inham....sshhh, uácahxa, uácahxa, uácahxa.
- O que você está fazendo??- perguntou Annia, segurando uma réstia de alho, perto do coração.
- Diz aqui neste livro brasileiro: se você quer afastar os ‘frios,’ que são os vampiros, faça um ritual indígena, cercando todo o perímetro, com estas cruzes, e fazendo a dança pro Deus Uácahxa, e eles não sentirão o seu cheiro....- ela não precisou falar duas vezes, pulei para dentro dos desenhos que ela fez no chão, e não fui a única. As outras vieram juntas e ainda seguravam réstias de alho, Vina passava pelo pescoço.
Estávamos empolgadas em nosso ritual de proteção contra os vampiros, afinal cada um luta como pode, quando escutamos alguém bater violentamente na porta. Ficamos tensas, mas pegamos nossos apetrechos, prontas para nos defender, enrolamos réstias de alho no pescoço e seguramos estacas e apontando na direção da porta. Como não respondemos, a porta se abriu e nós gritamos junto com o ‘visitante”.
- Aiii!- e nos seguramos antes de acertar a Geórgia como se ela fosse um alvo de dardos.
- O que é isso tudo? Tão esperando um vampiro?? - gritou Geórgia e protegeu o peito de levar uma estacada, olhando em volta.
- Vocês tão fazendo uma reforma no quarto? Sabem que qualquer dano na estrutura poe a casa abaixo, e não precisamos de mais nada, literalmente, para isso não é?
- Reforma? Que nada, só estamos dando um ‘up’ no visual do nosso quarto. - disse Vina e eu, Annia, e Nina balançávamos a cabeça concordando, e como ela nos olhasse desconfiada, Evie completou fazendo voz triste:
- Você sabe que eu preciso me distrair e elas têm sido tão boas comigo que...- e tremeu o queixo. Foi o que bastou para Geórgia mudar a postura.
- Bom, se a reforma vai te deixar bem, e ainda não está no horário de recolher, podem continuar. Antes de sair, ela acrescentou:
- Er...Hum...Vampiros não costumam bater antes de entrar, as cruzes do lado de fora da porta não vão funcionar, além de serem muito feias.
Quando ela fechou a porta, olhamos umas para as outras e começamos a falar ao mesmo tempo:
- Talvez se puséssemos uns espelhos...
- Uma fonte de água benta...
- Acho que tem uns símbolos alquímicos aqui, que repelem o inimigo...

Eram tantas coisas para decidir que ficamos exaustas e decidimos ir dormir, mas não sem antes organizar os horários de vigília, afinal alguém tem que ficar de guarda e nos chamar para preparar as adagas.
Os vampiros podem até vir atrás de nós, mas vão nos achar de prontidão!

Wednesday, January 14, 2009

Depois de passar muitas noites em claro sem conseguir pregar os olhos, recorri a enfermeira da escola na esperança de que ela me desse alguma poção que me ajudasse a dormir. E já na primeira noite sob o efeito dela, não conseguia nem me lembrar de ter encostado a cabeça no travesseiro. Dormi tão depressa e tão bem que sequer lembrava de ter sonhado. Era a primeira vez que tinha uma noite tranqüila desde o natal, mas ela foi bruscamente interrompida. Ouvi a porta do quarto bater com violência na parede e saltei da cama assustada. A poção ainda fazia efeito, pois sentei muito sonolenta e um pouco tonta. Precisei esfregar bem os olhos pra identificar a figura de Nina parada na porta, o uniforme da escola pela metade e pulando como se tivesse formiga nas calças.

‘Ai meu Merlin’ Nina sacudia as mãos, em pânico ‘Vocês viram o jornal de hoje?’

‘Ainda nem saímos da cama, Nina’ Annia resmungou, sonolenta.

Ela abriu a boca para responder, mas Georgia entrou no quarto com um exemplar do jornal debaixo do braço e uma cara que ia do desespero ao choque. Nos olhamos sem entender nada, mas ela não parecia capaz de se expressar. E não foi preciso. O auto-falante nos jardins fez um ruído alto e logo a voz do diretor pode ser ouvida em todos os cantos.

‘Todos os alunos devem se apresentar no teatro da escola imediatamente’ A voz dele era séria, e levando em conta o desespero da Nina, fiquei preocupada ‘Repito: todos os alunos devem se apresentar no teatro da escola imediatamente!’

Georgia e Nina saíram do quarto sem falar nada e levantamos da cama, mais confusas do que antes. Juntei uma calça e um casaco sem nem me preocupar se combinavam e as meninas fizeram o mesmo, saindo apressadas da república. A escola inteira caminhava na direção do teatro, mas nem todos tinham expressões perdidas como as nossas. Nos acomodamos nos poltronas do fundo e os meninos sentaram não muito longe, também com caras de que não sabiam o que estava acontecendo. Quando o teatro já atingia sua lotação máxima, com alunos sentados no chão, o diretor apareceu. Apontou a varinha para a própria garganta e sua voz foi ampliada, de maneira que todos pudessem ouvir claramente.

‘Não sei quantos de vocês leram o Profeta Diário de hoje, mas para os que não leram, gostaria de informar que estamos na primeira página!’ Embora seus gestos fossem descontraídos, sua voz indicava o contrario. Olhei para Georgia e ela estava mais pálida que um fantasma ‘O mundo secreto das repúblicas do Instituto Durmstrang foi exposto’ Ele abriu o jornal e começou a ler. Já nas primeiras palavras, senti meu sangue gelar ‘Sexo, drogas e bebida alcoólica liberada para menores de idade. Escrita por anônimo. Alguém tem algum comentário a fazer, ou devo prosseguir com a leitura?’

O silêncio predominou naquele momento. Ninguém falou nada e o único som ouvido era o das cabeças virando de um lado para o outro, em busca de algum corajoso para se manifestar. Georgia agora começava a suar e Nina parecia prestes a se debulhar em lagrimas, ambas tremiam de nervoso. O diretor enrolou o jornal e o bateu com força na bancada, fazendo todo mundo saltar assustado.

‘Basta!’ Ele agora gritava, nem seria preciso o feitiço para ampliar sua voz ‘Sexo indiscriminado e uso excessivo de álcool por menores de idade. Exagero em trotes de calouros. Uso indevido de poção polissuco em uma guerra de vaidades. Aluno se envolvendo com professor. Consumo de drogas em festas clandestinas... Claramente, vocês são incapazes de se cuidarem. Então, a partir de hoje, Durmstrang fará isso por vocês. Como diretor deste Instituto, vocês responderão a mim. Todas as repúblicas agora estarão sendo supervisionadas. Estarei vigiando vocês. Agora podem sair, as aulas começam em meia hora’

O diretor se retirou por trás da cortina e os alunos começaram a deixar o auditório, mas eu me sentia incapaz de mover um músculo. As meninas também não saíram do lugar e só quando o teatro estava quase vazio, Georgia levantou da poltrona e parou na nossa frente.

‘Reunião. Agora’ Disse parecendo atordoada e saiu do teatro

Finalmente consegui ficar de pé e a seguimos de volta para a Avalon. Quando a última aluna do nosso conselho entrou na sala de jantar, Georgia trancou a porta, deixando as calouras e outras garotas curiosas sentadas na escada.

‘Eu acho que o traidor está na nossa casa’ Milla disse depressa ‘E eu acho que é Inês Molotov’ E concordamos com a cabeça

‘Eu acho que vocês precisam ir direito à enfermaria e checar essa obsessão’ Uma das garotas falou e Milla a olhou atravessado

‘Embora não concorde que Inês é a traidora, Milla está certa em dizer que ela está aqui’ Georgia sentou na cadeira e nos encarou ‘Subornos para conseguir candidatas para a casa, boatos que envolviam uma aluna tirando fotos nuas de membros do corpo docente, trotes exagerados, a matéria mencionava isso tudo e são coisas que aconteceram na nossa casa semestre passado’

‘Exato’ Falei olhando a matéria na capa do jornal ‘É uma das nossas calouras. E acho que devemos sim considerar Inês’

‘Uso indevido de poção polissuco em uma guerra de vaidades’ Georgia leu alto ‘Parece familiar?’

‘E você não acha que isso é motivo suficiente para ela querer vingança?’ Vina indagou e a apoiamos

‘Parem com essa teoria da conspiração, o artigo denuncia coisas que ela também fez, porque iria se acusar?’ Outra garota se manifestou

‘Em todo caso, vamos investigar nossas calouras’ Georgia interrompeu antes que respondêssemos a ela ‘Todas as garotas da casa vão passar por uma sabatina, precisamos descobrir a culpada antes que o nome dela se torne publico e as coisas compliquem para a casa’

‘Então, quanto você acha que o diretor vai investigar?’ Nina perguntou receosa

‘Meu pai?’ Annia riu nervosa ‘Ele vai nos virar do avesso. E se pegar quem escreveu a matéria para o Profeta Diário, vai fazê-la dizer nomes e casas’

‘O estrago está feito. O autor sabia de vários detalhes particulares que aconteceram nessa casa e agora todas as repúblicas estão em nível de alerta 5 por causa desse artigo idiota’ Georgia jogou o jornal na lixeira e levantou ‘A partir de agora, devemos ter cuidado dobrado. As noites de quarta estão suspensas e nenhuma bebida alcoólica entra nessa casa até segunda ordem’

Georgia abriu a porta da sala e imediatamente as garotas que esperavam aflitas na escada levantaram, mas ela passou sem dizer nenhuma palavra e fizemos o mesmo, indo direto para o quarto trocar de roupa. Talvez não tenha mesmo sido Inês a autora do artigo, duvidava que ela fosse capaz de escrever uma matéria como aquela, mas ainda assim a culpada estava entre nós. E precisávamos descobrir logo qual das garotas era a traidora, antes que as coisas fiquem piores do que já estão. Aquele, definitivamente, não estava sendo um bom semestre para Durmstrang.

Sunday, January 11, 2009

Já havia se passado uma semana desde que as aulas haviam recomeçado e apesar de todo o apoio das meninas, me sentia cada dia mais sozinha. Sabia que não estava só, mas era inevitável me sentir assim. O sentimento de culpa que me consumia era tão grande que não sabia como administrá-lo. Não sentia vontade de fazer nada, freqüentava as aulas por obrigação. A única coisa que me motivava era a idéia, ainda que remota, de encontrar um meio de afastar meu pai da família do Micah. Abandonei as aulas de teatro por não ter mais animo em ensaiar e cheguei a cogitar largar o jornal, mas Georgia me impediu. Para garantir que iria a todas as reuniões, ela ia me buscar no quarto e me arrastava até lá, com o apoio das meninas. Forçava-me a ficar na redação, embora não me delegasse muitas tarefas, como matérias mais complicadas. Pedia apenas minha opinião para tudo, se certificando que participava de todas as decisões do jornal. Nunca cheguei a dizer a ela, mas estava agradecida por me obrigar a fazer isso. Afastava um pouco minhas preocupações.

Depois da reunião da terça-feira, combinei de encontrar Vina na biblioteca. Estávamos fazendo uma varredura em todos os livros de historia da escola, em busca de alguma dica sobre o nome Accolon. Quando cheguei, encontrei-a cercada de livros, parecendo exausta.

‘Encontrou alguma coisa?’ Perguntei me sentando ao seu lado

‘Nada’ Respondeu fechando o livro que lia ‘Annia e Milla estavam aqui ajudando, mas foram pros clubes de alquimia e o DQC’

‘Não existe nenhum tipo de registro sobre o nome?’ Falei desanimada, puxando um dos livros pra mim ‘Não é possível, ele deve ter saído de algum lugar’

‘Encontrei apenas um capitulo sobre a lenda do Rei Arthur, dizendo que ele era amante da Morgana e inimigo do Arthur. É o único registro, nas lendas dos Cavaleiros da Távola Redonda’

Ouvi as últimas palavras de Vina e foi como se um filme passasse na minha cabeça. Lembrei de uma conversa que tive com Micah, meses atrás, onde ele me contava da descoberta de uma sociedade secreta em Durmstrang, intitulada Reis & Sombras. Lembrei que ele me disse, alguns dias depois de me revelar a descoberta, que os membros dela se escondiam atrás de mascaras e codinomes. Codinomes tirados dos Cavaleiros da Távola Redonda.

‘Evie? Ouviu alguma coisa que eu disse? Evie?’ Vina estalou dos dedos na minha cara e saltei da cadeira

‘Desculpa’ Sacudi a cabeça saindo do transe e a encarei ‘O que você disse?’

‘Acho que não vamos encontrar nada aqui na biblioteca, temos que pensar onde mais podemos procurar’

‘Tem razão, não vamos encontrar nada aqui. Lembrei de uma coisa que Micah me contou’ Falei baixo e ela se aproximou, percebendo que era segredo ‘Tem uma sociedade secreta aqui chamada Reis & Sombras, e eles usam os nomes dos Cavaleiros da Távola Redonda para se esconderem. Meu pai faz parte dela, tenho certeza disso!’

‘Sociedade secreta? Aqui?’ Vina riu ‘Acho que Micah estava brincando, Evie’

‘Na época eu também achei, até sugeri que ele estava vendo filmes demais, mas ele me mostrou provas. Aquelas cruzadinhas que Annia vive fazendo, são enigmas criados pela sociedade, para os membros dela. Se pudermos decifrar alguma, podemos ter um ponto de partida’

‘Será que no jornal encontramos, então?’ Vina agora acreditava em mim

‘Com certeza! Foi vasculhando edições antigas que Micah descobriu sobre ela’ Começamos a juntar os livros espalhados na mesa e guardar nas prateleiras ‘Quinta-feira não tem expediente, vamos visitar a redação a noite’

Vina assentiu com a cabeça e terminamos de guardar os livros, saindo da biblioteca. Apenas nós duas não tínhamos aula extra terça a noite e vagamos ainda por um bom tempo pelos jardins, conversando, fazendo hora até a aula de astronomia. Faltavam alguns minutos para ela começar e Vina subiu para a torre com Victor e Ricard, mas disse que ia pegar meus livros na republica e os encontrava lá, indo na direção contraria. Mas a verdade era que não ia à aula. Não sentia a menor vontade de passar uma hora e meia observando as estrelas e ouvindo o professor dizer o quão romântico aquilo poderia ser, se as observássemos ao lado da pessoa amada. Seria demais pra mim.

‘Ei! Evie!’ Ouvi a voz de Dario me chamando quando estava entrando na Avalon e parei ‘Espere!’

‘Oi Dario’ Voltei para o jardim para falar com ele ‘Não devia estar na aula de astronomia?’

‘Assim como você’ Ele disse se esquivando e ri ‘É verdade que saiu do teatro? Acabei de vir de uma aula extra e sua amiga Nina disse que você não ia participar esse ano. O professor quase enfartou’

‘É verdade sim. Não estou com cabeça para teatro esse ano’ Disse um pouco desanimada ‘Qual peça vão fazer?’

‘Rent’ Dario respondeu animado ‘Ele começou a distribuir os papéis hoje, estou entre o papel de Mark ou Tom, ele vai decidir semana que vem’

‘Já ouvi falar nessa peça, vai ser legal. Georgia ficou com que papel?’

‘Mimi Márquez. Ela dança muito bem, fiquei surpreso’ Ele falou ainda animado, mas logo mudou o tom de voz ‘Mas se você estivesse no elenco, ele provavelmente daria outro papel a ela’

‘Não posso, de verdade. Eu não conseguiria me concentrar’

‘Sei que está triste por causa do Micah, mas não acha que deveria se ocupar para distrair?’

‘Não é só isso. É mais complicado’

‘Então me deixe ajudar, Evie’ Dario apertou meu ombro e o encarei, me sentindo cansada ‘Não sou burro, sei que algo grave aconteceu. Conte o que houve, deixe-me ajudá-la’

Encarei Dario por mais alguns segundos e apertei sua mão em meu ombro, o abraçando em seguida. Já fazia algum tempo que Dario passara da posição de primo para a de amigo, e sabia também que poderia contar com a ajuda dele. Estava na hora de alguém da família saber o que realmente estava acontecendo e, no momento, não via pessoa melhor para isso do que ele.

Friday, January 09, 2009

Obs.: Continuação do texto abaixo.

*****

‘Família a gente não escolhe não é mesmo?’ Annia disse dando de ombros, conformada.

‘É família a gente não escolhe, mas sofre as conseqüências...’ disse séria e suspirei cansada.

Sentia-me pronta para contar as meninas tudo que aconteceu durante as férias e sabia que teria a atenção delas. Elas pararam de falar na mesma hora e sentaram viradas para mim, se ajeitando nas camas.

‘Josh me procurou dia 25’ comecei falando ‘Veio com uma conversa de que Micah estava me enganando, que o único motivo pelo qual ele veio para cá foi para fazer com que me apaixonasse por ele, pra então poder esfregar na cara de Josh e depois ir embora. Minha reação imediata foi mandá-lo embora, mas fiquei balançada. Já tinha comentado com vocês sobre essa suspeita’ e elas balançaram a cabeça em confirmação ‘Fiquei atordoada um tempo, e acabei indo atrás dele, na casa do meu pai.

‘Você voltou lá?’ Milla falou em tom de bronca ‘Depois de tudo?’

‘Eu sei que foi errado, mas precisava ouvir o que mais ele tinha a dizer!’ me defendi, embora soubesse que estava errada ‘Queria dizer um monte de coisas que estavam entaladas, sabia que meu pai tinha mandado Josh até lá. Ele não tem atitude pra isso, tem medo de levar fora’

‘E então?’ Vina indagou ‘O que mais ouviu lá’

‘Foi a maior besteira que fiz na minha vida, ir até lá’ e abaixei a cabeça, encarando o travesseiro no meu colo ‘Por alguma razão que não compreendo, meu pai nutre um ódio quase que mortal do Micah, ele não o suporta e nem mesmo consigo imaginar o motivo. Josh me procurar foi uma emboscada, eles sabiam que eu ia até lá. Estavam os dois e Max me esperando, e...’ minha voz ia morrendo e parei de falar

‘Ele bateu em você outra vez?’ Annia perguntou já com raiva na voz

‘Não, mas o que ele fez foi pior’ encarei as quatro outra vez, meus olhos já cheios de lágrima ‘Ele me deu uma espécie de ultimato. E me ameaçou dizendo que se eu não terminasse tudo com ele, ia tirar ele de circulação’ e elas me encararam com os olhos arregalados, mas não dei tempo de interromperem ‘Ameaçou machucar a família dele também e fiquei com medo. Sei do que ele é capaz e se alguma coisa acontecer ao Micah ou ao irmão dele, não vou me perdoar. Se alguma coisa acontecer a Shannon, Chris também nunca vai me perdoar!’

‘Depois de tudo que você nos contou sobre ele, era mesmo pra ficar com medo e acreditar nas ameaças’ Nina falou assustada e as outras concordaram ‘Mas então, o que você fez depois?’

‘Sai de lá chorando, sem saber o que fazer. Voltei pra casa do meu avô e me tranquei no quarto. Micah me ligou a noite, mas não atendi. Ele veio até a Bulgária assim mesmo e me encontrou quando estava saindo do parque. Mesmo não querendo vê-lo naquele momento, ao mesmo tempo queria confrontá-lo, ouvir dele se aquilo tudo era verdade’

‘E era?’ Vina perguntou e percebi que ela temia a resposta

‘Era’ abaixei a cabeça outra vez, já chorando ‘Ele não negou nada. Disse que tudo que Josh falou era verdade’ as quatro começaram a protestar, mas continuei falando ‘Disse que essa era mesmo sua intenção, mas que desistiu depois de um tempo, por que...’ minha voz morreu outra vez. Era doloroso repetir o que ouvi, especialmente aquela parte ‘Desistiu porque se apaixonou por mim’

‘E você o perdoou, mas não podia dizer, não é?’ Milla completou a frase por mim

‘Ainda não o perdoei por completo, mas sei que depois que me acalmar e digerir tudo isso, vou perdoá-lo. Eu nunca senti por ninguém o que sinto por ele, e acho que jamais vou sentir, mas não posso dizer isso a ele. Não posso tê-lo de volta, não quero que façam mal a ele ou a sua família. Não posso fazer isso com ele!’

‘E vai ficar tudo por isso mesmo?’ Annia falou revoltada ‘Depois de nos dizer que ele pode ser o amor da sua vida, vai desistir dele? Vai deixá-lo ir embora pra sempre?’

‘Mas eu não sei o que fazer!’ Disse tapando o rosto com as mãos, já sem me preocupar em conter o choro.

‘Nós não vamos deixar essa história terminar desse jeito, tão...’ Nina pensou antes de completar a frase ‘Tão novela mexicana! Precisamos fazer alguma coisa, certo?’ As meninas riram, e até eu ri um pouco.

‘Nina tem razão, não dá pra acabar essa história assim’ Vina apoiou Nina ‘Mas o que podemos fazer?’

‘Ora, o que podemos fazer...’ Milla falava como se fosse obvio ‘Temos que encontrar um meio de impedir que o pai dela continue com as ameaças!’

‘Chantagem?’ Annia sugeriu e Milla sorriu perigosa.

‘Eu não tenho com o que chantagear meu pai, meninas’ falei desanimada

‘Mas pode ter...’ Nina parecia ter pescado a idéia dela ‘Lembra quando você nos contou como o Micah tirou você da sua casa, quando seu cachorro morreu?’ fiz que sim com a cabeça, sem entender aonde ela queria chegar ‘Você disse que ele chamou seu pai de um outro nome, um nome estranho, dizendo que sabia exatamente quem ele era. Como era o nome?’

‘Accolon’ respondi secando as lagrimas ‘Mas não sei o que significa, e acabei esquecendo de perguntar a ele’

‘Então, para começar, o que temos que fazer é descobrir de onde Micah tirou esse nome’ Milla falou decidida e as outras a apoiaram.

‘Isso pode não dar certo’ falei sem muita esperança

‘Mas temos que tentar’ Annia disse num tom de que aquele assunto estava encerrado ‘Amanha vamos começar a ler alguns livros na biblioteca’

‘Vamos encontrar um meio de trazê-lo de volta, não se preocupe’ Vina disse sorrindo e as outras sorriram também.

‘E pode ficar tranqüila, essa conversa não vai sair desse quarto’ Nina disse e elas balançaram a cabeça concordando.

‘Vocês são as melhores amigas do mundo, sabiam?’ Falei sorrindo também, mesmo que de leve, e elas pularam pra minha cama, me abraçando.

Depois de contar tudo a elas, pedi que mudássemos um pouco de assunto porque não queria ficar ainda mais triste e elas logo embarcaram em um interrogatório com Nina sobre o que ela pretendia fazer a respeito do Michael, que estava cada dia mais obcecado por ela. Acabei me divertindo ouvindo as estratégias de como eliminá-lo criadas por elas e esqueci um pouco sobre Micah e todos os outros problemas. Entre um plano absurdo e outro, descobri que não saberia o que fazer se não tivesse aquelas quatro malucas para reencontrar e me ajudar a passar por tudo isso. Sem elas, eu estaria perdida. Mais ainda.

Thursday, January 08, 2009

Era a nossa primeira noite de volta a escola após as festas de final de ano, e conversávamos pondo os assuntos em dia.
Estávamos no nosso quarto, rodeadas de bebida e comida e falávamos de tudo. Quer dizer quase tudo, Evie estava calada e o maximo que sabíamos era que o namoro dela com Micah havia acabado, que ele havia mentido e que ela não queria saber dele nunca mais.
Bom, com alguma insistência soubemos que Josh, havia contribuído e muito para o fim, então intimamente rogávamos pragas para o garoto. Ah se elas pegassem ele estaria cheio de pústulas purulentas, com o rosto enfiado numa poça de lama se debatendo sem ar. Então falávamos de outras coisas, para não deixá-la mais triste, ela estava até mais magra e isso nos preocupava. Claro que quando ela estivesse mais calma nos contaria mais coisas, e até lá já sabíamos que iríamos atrás de informação com os amigos de Micah, mas tiraríamos esta historia a limpo.
Eu estava contando a elas sobre meu encontro com Iago, na véspera do Natal. Havíamos passado todos os dias dos feriados juntos e havia sido muito bom.
- Vocês não estão namorando?- perguntou Annia, enquanto mordia um pedaço de bolo de chocolate.
- Sim e não. - respondi e minhas amigas me olharam curiosas.
- Iago e eu ficaremos juntos quando nos encontrarmos, e se isso for interessante para nós dois. E se quisermos poderemos sair com outras pessoas, sem cobranças.
- Nossa, que...Moderno. - disse Vina incerta e Evie disse desanimada:
- Melhor não estar preso a alguém se não têm certeza. Evita decepções. - ficamos caladas por alguns instantes esperando Evie continuar, mas ela se retraiu.
- Sabem, fico contente de Iago estar comigo no fim do ano. As coisas lá em casa ficaram tensas. - eu disse e como as garotas me olhassem esperando continuei:
- Yuri largou da Irina.
- Como assim? Mas eles mal se casaram e ele estava tão apaixonado por ela...- disse Nina e as outras concordavam:
- Ai é que está: ele estava sob o efeito de uma poção do amor. E como ela está grávida, se sentindo péssima, mal consegue sair da cama, parou de dar a poção a ele, e ele caiu em si de vez. Foi uma briga feia, porque ele ainda gostava da Mary, ele saiu de casa. Aí o pai do Luka foi lá em casa, tirar satisfações, ele e meu pai discutiram e só não rolaram no chão se estapeando porque Iago entrou no meio, minha mãe pedia calma, e Yuri disse que não ia voltar a viver com a Irina, nem morto.
Elas estavam pasmas com as coisas que eu contava e Vina perguntou:
- Mas e o bebê? É filho dele não? Ele precisa se responsabilizar, mesmo que não tenha tido a intenção...
- Sim, ele disse que o único vínculo que terá com a Irina será o bebê, que vai visitá-lo sem a presença dela, e o pai do Luka disse que não iria permitir isso. Minha mãe até chorou com a possibilidade de não ver o neto, e Yuri disse para o pai do Luka não se envolver, ou iria denunciar a Irina por tudo que ela fez. Ele até mostrou o vidro com a poção, era Amortentia.
- Mas esta poção é muito perigosa. Ela tem muitos efeitos colaterais que podem matar, por isso a pena para quem a usa é tão dura. - comentou Annia.
- Sim, então o pai do Luka ficou um pouco mais calmo. Disse que poderiam entrar num acordo financeiro e aí meu pai o expulsou de nossa casa.
- Credo que coisa chata. - comentou Nina, e eu disse:
- Mais triste foi ver Yuri, deprimido por causa da Mary. Ele estava apaixonado por ela de verdade, na realidade ele ainda gosta dela.
- Mas ele vai se separar e aí pode tentar reatar com a Mary, não é? - comentou Nina e eu balancei a cabeça.
- Por enquanto ele não vai se separar, só vai fazer isso depois que o bebê nascer, e ele não acredita que a Mary vá querer voltar com ele, não depois do jeito que ele a magoou. - olhei para Annia e ela confirmou:
- Bom, pelo eu vi na casa do Ty, ela já está com outra pessoa, e parecia feliz.
- O jeito agora é esperar o bebê nascer e ai eles se resolvem. Mas pelo jeito alguém teve um final de ano feliz não é? Andou ouvindo sinos badalando Annia? - perguntei.
- É pode nos contando tudo, especialmente os detalhes íntimos. Foi bom?- quis saber Vina e nós ríamos do jeito sem graça de Annia.
- Sim, ouvi os sinos que vocês sempre falavam e John é tão...
- Liiiindooooo! - dissemos ao mesmo tempo que ela e começamos a rir, e mesmo Evie apesar de toda a tristeza esboçou um sorriso, então Annia começou a contar os detalhes do que foi a sua primeira vez, e rimos muito quando ela contou sobre sair quicando da cama.
-...E a casa onde vocês ficaram Annia? É do John?- perguntei querendo mais detalhes.
- Não, é do Ty. Ele alugou a casa para morar com a Savie, durante o ano escolar, mas como o casamento naufragou, ele não quis romper o contrato, porque ficou com pena da dona, ela é bem velhinha.
- Então você John vão poder brincar de casinha sempre que quiserem não é? - perguntou Nina e rimos mais um pouco, enquanto Annia continuava falando:
-... E o papai Noel achou que eu estava feliz demais e resolveu que eu merecia um presente de grego: meu pai casou com a dama de vermelho e ela agora mora na nossa casa junto com J&B.
- Casaram? Quando?
- Foi no dia primeiro do ano, aproveitaram que estavam no rancho da mãe do Ty, e a família toda estava lá, e se casaram. - olhei para as meninas e perguntei cautelosa:
- E você? Aceitou assim na boa? Quer dizer...Você detesta a... Hum... Dama de vermelho...
- Nós não vamos ser melhores amigas, mas eu vi que ela realmente gosta do meu pai e ele está feliz com ela, e as garotas o tratam bem, acho que até gostam mesmo dele. E como John falou, elas fazem parte da família, eu teria que conviver. Família a gente não escolhe não é mesmo?
- É família a gente não escolhe, mas sofre as conseqüências...- disse Evie séria e como nos estivéssemos prestando toda a atenção nela, ela suspirou e se sentiu pronta para contar o que realmente aconteceu com o namoro dela com o Micah.
E à medida que ela falava, sofríamos com ela, pois nunca imaginamos que algumas famílias pudessem fazer tanto mal umas às outras.
Durante o baile de inverno, véspera das férias de final de ano

John se aproximou e me olhou de um jeito que fez com que eu me sentisse boba e infantil por ter brigado com ele. E eu fui. Ele tinha razão, não devíamos brigar por assuntos que não eram de nossa conta, como o namoro do meu pai. Ele tinha direito a ter a vida dele, como eu tinha a minha. Ele era tão sensato, e tão ‘adulto’. John sabia como me deixar sem saber como agir ou mesmo o que pensar, e o pior era ter que reconhecer que estava errada. Eu odiava isso, afinal eu terminei com ele não é mesmo? Coloquei um ar indiferente no meu rosto, enquanto ele se aproximava e ele estava tão diferente com as vestes formais, senti minha boca seca. Ele se aproximou e me agarrou na frente do Reno sem cerimônias e me beijou. Ainda não tinha me refeito da surpresa de estar correspondendo ao beijo quando ele me soltou brusco e perguntou baixinho:
- Sentiu minha falta?
- Não! - respondi irritada e ele fechou a cara se virou para ir embora.
Como assim vai embora? Não vai mesmo!
Minhas ações foram mais rápidas que meus pensamentos. Puxei o braço dele e o beijei tão intensamente quanto antes. E o empurrei, era a minha vez de deixá-lo querendo mais. Ficamos nos encarando, quando eu e ele dissemos ao mesmo tempo:
- Volta para mim. / Fica comigo. - sorrimos e nos demos às mãos. O meu mundo estava entrando nos eixos novamente.
Após o baile, queríamos ficar juntos e por mais que pudéssemos contar com nossos amigos seria como estar com os holofotes em cima de nós. Ele não ligava, mas eu sim. Disse a ele que queria estar a sós com ele, e ele me perguntou cauteloso:
- Você tem certeza de que quer isso?
- Tenho John, e se você não quiser...Eu vou entender. Ah, quem eu quero enganar? Não vou entender não, estamos namorando há um tempão e devíamos...
- SShhh! Me dá a sua mão e confia em mim. - segurei sua mão com força e nós aparatamos para um local, que eu conhecia. Era uma casa próxima dos muros da escola, mas do outro lado de onde ficavam as repúblicas, era um bairro residencial muito tranqüilo, e tinha casas muito bonitas.
Ele puxou a chave do bolso e enquanto abria a porta começamos a nos beijar. Entramos na casa e eu nem olhei muito ao redor, ouvi o barulho que a porta fez ao ser empurrada com o ombro, para ser fechada e sorri o puxando mais para perto.
Acho que havia escadas em nosso caminho, pois enquanto nos agarrávamos, abri os olhos e olhei para o rosto dele acima do meu, e senti uns degraus incômodos nas minhas costas. Ele me ergueu nos braços e caminhou com passos apressados, e ele nem ofegava com o meu peso. Eu estava tão encantada por ele, que quando ele abriu a porta com um chute, não esperávamos, que a porta batesse na parede, voltasse e me acertasse na testa.
-Ai!- gritei passando a mão na testa, mas não quis acabar com o clima, ele ia parar para buscar gelo, mas eu o puxei e o beijei puxando sua camisa para fora da calça, mordendo seu pescoço e ele gemeu segurando meus braços.
- Devagar Annia! Devagar ou a coisa vai acabar antes de começar.
- Certo! Devagar...Respira Anastácia, você não esta desesperada...- eu disse tentando recuperar o fôlego, e quando ele mordeu minha boca rindo eu perdi a linha:
- Ah eu estou sim, vamos logo com isso John. - enquanto íamos tirando a roupa entre um beijo e outro.
Vi que ele havia trazido proteção e fiquei emocionada por ele ser cuidadoso, e pensei em como eu era desmiolada e...
Droga! Não dá pra pensar direito agora, ele me pegou no colo e vai me colocar na cama e ele é tão... Forte...Não sabia que o... era assim...
- Argh!- ele falou alto, enquanto me soltava na cama, que era daquelas muito fofas e eu fui quicando como se fosse uma bola e cai sentada no chão frio, enquanto ele pulava segurando o pé. Levantei a cabeça e perguntei:
- O que aconteceu?
- Bati o dedão no pé da cama. - e o clima tão romântico foi destruído por uma cama idiota. Sem eu perceber funguei e algumas lágrimas começaram a cair. Ele veio pulando para o meu lado e disse:
- Desculpa, a culpa é minha, estraguei tudo...
- Não! Não estragou.
- Estraguei sim, queria que fosse especial e ao invés de estar fazendo amor com você, estou aqui,com o dedo do pé latejando, quase arranquei sua cabeça na porta e para finalizar te joguei no chão, como se fosse uma bola. - ele disse chateado.
- John, eu quero ficar com você. Acho que devíamos fazer o que quisermos sem nos preocupar com ‘clima’. Eu confio e você e sei que tudo vai dar certo entre nós. - levantei-me e não me senti envergonhada por estar sem roupas na frente dele. Ele sorriu e puxou-me pela mão e nos deitamos um de frente para o outro e começamos a nos beijar novamente, desta vez com mais calma.
Senti quando a mão dele subiu pelo meu cotovelo, chegou ao ombro e fez o caminho inverso, passando nas minhas costelas e e logo ela estava na minha cintura, e sem saber como, ela chegou no meu quadril e comecei a tremer um pouco nervosa, a mão dele ficou ali parada por um tempo enquanto ele me beijava mais intensamente, sentia-me flutuar, e mal percebi quando sua mão estava atrás do meu joelho, e ele puxou minha perna para cima do quadril dele, e sem eu ter tempo de raciocinar direito, ele rolou para o lado e me colocou sentada em cima dele, e enquanto suas mãos desciam do meu pescoço para o resto do meu corpo, ele disse olhando nos meus olhos, cheio de paixão:
- Eu te amo Annia. E vou para onde você quiser.
Voltei a beijá-lo e me deixei guiar pelo instinto, e foi tudo tão incrivel, que após um tempo, acordei sorrindo com ele me beijando e começando tudo novamente.

What if i told you it was all meant to be?
Would you believe me, would you agree?
It's almost that feeling that we've met before
so tell me that you don't think i'm crazy
when i tell you love has come here and now

A moment like this
Some people wait a lifetime
for a moment like this
Some people search forever
for that one special kiss
I can't believe it's happening to me
Some people wait a lifetime for a moment like this


N.AUTORA: música A moment like this, Leona Lewis