Wednesday, January 14, 2009

Depois de passar muitas noites em claro sem conseguir pregar os olhos, recorri a enfermeira da escola na esperança de que ela me desse alguma poção que me ajudasse a dormir. E já na primeira noite sob o efeito dela, não conseguia nem me lembrar de ter encostado a cabeça no travesseiro. Dormi tão depressa e tão bem que sequer lembrava de ter sonhado. Era a primeira vez que tinha uma noite tranqüila desde o natal, mas ela foi bruscamente interrompida. Ouvi a porta do quarto bater com violência na parede e saltei da cama assustada. A poção ainda fazia efeito, pois sentei muito sonolenta e um pouco tonta. Precisei esfregar bem os olhos pra identificar a figura de Nina parada na porta, o uniforme da escola pela metade e pulando como se tivesse formiga nas calças.

‘Ai meu Merlin’ Nina sacudia as mãos, em pânico ‘Vocês viram o jornal de hoje?’

‘Ainda nem saímos da cama, Nina’ Annia resmungou, sonolenta.

Ela abriu a boca para responder, mas Georgia entrou no quarto com um exemplar do jornal debaixo do braço e uma cara que ia do desespero ao choque. Nos olhamos sem entender nada, mas ela não parecia capaz de se expressar. E não foi preciso. O auto-falante nos jardins fez um ruído alto e logo a voz do diretor pode ser ouvida em todos os cantos.

‘Todos os alunos devem se apresentar no teatro da escola imediatamente’ A voz dele era séria, e levando em conta o desespero da Nina, fiquei preocupada ‘Repito: todos os alunos devem se apresentar no teatro da escola imediatamente!’

Georgia e Nina saíram do quarto sem falar nada e levantamos da cama, mais confusas do que antes. Juntei uma calça e um casaco sem nem me preocupar se combinavam e as meninas fizeram o mesmo, saindo apressadas da república. A escola inteira caminhava na direção do teatro, mas nem todos tinham expressões perdidas como as nossas. Nos acomodamos nos poltronas do fundo e os meninos sentaram não muito longe, também com caras de que não sabiam o que estava acontecendo. Quando o teatro já atingia sua lotação máxima, com alunos sentados no chão, o diretor apareceu. Apontou a varinha para a própria garganta e sua voz foi ampliada, de maneira que todos pudessem ouvir claramente.

‘Não sei quantos de vocês leram o Profeta Diário de hoje, mas para os que não leram, gostaria de informar que estamos na primeira página!’ Embora seus gestos fossem descontraídos, sua voz indicava o contrario. Olhei para Georgia e ela estava mais pálida que um fantasma ‘O mundo secreto das repúblicas do Instituto Durmstrang foi exposto’ Ele abriu o jornal e começou a ler. Já nas primeiras palavras, senti meu sangue gelar ‘Sexo, drogas e bebida alcoólica liberada para menores de idade. Escrita por anônimo. Alguém tem algum comentário a fazer, ou devo prosseguir com a leitura?’

O silêncio predominou naquele momento. Ninguém falou nada e o único som ouvido era o das cabeças virando de um lado para o outro, em busca de algum corajoso para se manifestar. Georgia agora começava a suar e Nina parecia prestes a se debulhar em lagrimas, ambas tremiam de nervoso. O diretor enrolou o jornal e o bateu com força na bancada, fazendo todo mundo saltar assustado.

‘Basta!’ Ele agora gritava, nem seria preciso o feitiço para ampliar sua voz ‘Sexo indiscriminado e uso excessivo de álcool por menores de idade. Exagero em trotes de calouros. Uso indevido de poção polissuco em uma guerra de vaidades. Aluno se envolvendo com professor. Consumo de drogas em festas clandestinas... Claramente, vocês são incapazes de se cuidarem. Então, a partir de hoje, Durmstrang fará isso por vocês. Como diretor deste Instituto, vocês responderão a mim. Todas as repúblicas agora estarão sendo supervisionadas. Estarei vigiando vocês. Agora podem sair, as aulas começam em meia hora’

O diretor se retirou por trás da cortina e os alunos começaram a deixar o auditório, mas eu me sentia incapaz de mover um músculo. As meninas também não saíram do lugar e só quando o teatro estava quase vazio, Georgia levantou da poltrona e parou na nossa frente.

‘Reunião. Agora’ Disse parecendo atordoada e saiu do teatro

Finalmente consegui ficar de pé e a seguimos de volta para a Avalon. Quando a última aluna do nosso conselho entrou na sala de jantar, Georgia trancou a porta, deixando as calouras e outras garotas curiosas sentadas na escada.

‘Eu acho que o traidor está na nossa casa’ Milla disse depressa ‘E eu acho que é Inês Molotov’ E concordamos com a cabeça

‘Eu acho que vocês precisam ir direito à enfermaria e checar essa obsessão’ Uma das garotas falou e Milla a olhou atravessado

‘Embora não concorde que Inês é a traidora, Milla está certa em dizer que ela está aqui’ Georgia sentou na cadeira e nos encarou ‘Subornos para conseguir candidatas para a casa, boatos que envolviam uma aluna tirando fotos nuas de membros do corpo docente, trotes exagerados, a matéria mencionava isso tudo e são coisas que aconteceram na nossa casa semestre passado’

‘Exato’ Falei olhando a matéria na capa do jornal ‘É uma das nossas calouras. E acho que devemos sim considerar Inês’

‘Uso indevido de poção polissuco em uma guerra de vaidades’ Georgia leu alto ‘Parece familiar?’

‘E você não acha que isso é motivo suficiente para ela querer vingança?’ Vina indagou e a apoiamos

‘Parem com essa teoria da conspiração, o artigo denuncia coisas que ela também fez, porque iria se acusar?’ Outra garota se manifestou

‘Em todo caso, vamos investigar nossas calouras’ Georgia interrompeu antes que respondêssemos a ela ‘Todas as garotas da casa vão passar por uma sabatina, precisamos descobrir a culpada antes que o nome dela se torne publico e as coisas compliquem para a casa’

‘Então, quanto você acha que o diretor vai investigar?’ Nina perguntou receosa

‘Meu pai?’ Annia riu nervosa ‘Ele vai nos virar do avesso. E se pegar quem escreveu a matéria para o Profeta Diário, vai fazê-la dizer nomes e casas’

‘O estrago está feito. O autor sabia de vários detalhes particulares que aconteceram nessa casa e agora todas as repúblicas estão em nível de alerta 5 por causa desse artigo idiota’ Georgia jogou o jornal na lixeira e levantou ‘A partir de agora, devemos ter cuidado dobrado. As noites de quarta estão suspensas e nenhuma bebida alcoólica entra nessa casa até segunda ordem’

Georgia abriu a porta da sala e imediatamente as garotas que esperavam aflitas na escada levantaram, mas ela passou sem dizer nenhuma palavra e fizemos o mesmo, indo direto para o quarto trocar de roupa. Talvez não tenha mesmo sido Inês a autora do artigo, duvidava que ela fosse capaz de escrever uma matéria como aquela, mas ainda assim a culpada estava entre nós. E precisávamos descobrir logo qual das garotas era a traidora, antes que as coisas fiquem piores do que já estão. Aquele, definitivamente, não estava sendo um bom semestre para Durmstrang.