Janeiro de 2000
As masmorras de Durmstrang estavam estranhamente agitadas para uma segunda-feira. Os novos iniciados já haviam sido selecionados em Outubro, mas uma outra pessoa havia se candidatado a uma vaga. Depois de uma reunião dos membros mais antigos, decidiram dar uma chance ao garoto, por ser filho de um dos cavaleiros mais velhos. Os cavaleiros que haviam aparecido para o teste do novato formavam um circulo em volta de um tablado, onde o garoto se encontrava sozinho, aguardando instruções. Seu rosto já exibia cortes e sua aparência era de cansaço, mas ele se mantinha de pé, com toda força que conseguia reunir.
‘Seu teste final será uma luta’ O líder falou se aproximando do garoto ‘Se vencer um dos nossos, terá conquistado seu direito de pertencer a essa Sociedade. Se perder, sairá daqui e nunca mais ousará mencionar nosso nome’
‘Eu gostaria de duelar com o iniciado, mestre’ Um mascarado não muito mais alto que o garoto deu um passo a frente, com a mão erguida ‘Se me permitir, gostaria de mandar ele de volta para casa com o rabo entre as pernas’
‘Direito concedido, Gauvain. Aproxime-se’ O líder chamado Arthur assentiu com a cabeça, saindo do tablado ‘É um de nossos melhores espadachins, acabe com ele’
O garoto chamado Gauvain subiu no tablado e pegou uma espada encostada na parede de pedra, parando de frente para o garoto pálido de cabelos muito negros. Embora não pudesse ver seu rosto, sabia que um sorriso pretensioso estava estampado por detrás da máscara que o escondia.
Pegou uma espada também e se posicionou para a luta, aguardando sinal de um dos mais velhos.
‘COMECEM!’ A voz grave de um dos homens ecoou na masmorra e Gauvain partiu para cima do novato
O garoto se defendeu do golpe de Gauvain, mas uma virada rápida com a espada fez com que fosse arremessado no chão. Levantou depressa, já avançando contra ele, e deram início a um longo duelo. Defendíamos golpes um do outro com agilidade e a luta parecia não ter fim, quando Gauvain conseguiu derrubar o iniciado mais uma vez. O baque o fez derrubar a espada e Gauvain encostou a ponta da sua em seu pescoço, se agachando.
‘Pensou mesmo que fosse ganhar de mim, sua bicha?’ Disse em alto e bom som, e alguns cavaleiros riram ‘Tem que ser homem pra saber bater’
‘É por isso então que você bate como uma garota?’ O iniciado respondeu com raiva, empurrando Gauvain com o pé e pegando a espada do chão.
O garoto levantou rápido e partiu pra cima do adversário, reunindo toda sua raiva graças à provocação que recebeu e dos risos de deboche. Gauvain não conseguia mais se defender. O iniciado desferia golpes certeiros e violentos, obrigando-o a recuar cada vez que a espada do garoto acertava a sua. Seu adversário já demonstrava estar sem forças e o iniciado conseguiu prende-lo contra a parede de pedra, encostando a espada em seu pescoço e o impedindo de se mover, ou teria a garganta cortada. Apertando a espada um pouco mais, o iniciado levou as mãos a cabeça de Gauvain e arrancou sua máscara, confirmando o que já sabia.
‘Como é a sensação de levar uma surra de uma bicha?’ O iniciado falou perto do ouvido dele ‘Só toma cuidado pra não gostar, é um caminho sem volta’
Gauvain agarrou a espada em seu pescoço e a empurrou com raiva, mas o iniciado a puxou depressa e o garoto caiu no chão. Chutou sua espada para longe, o desarmando por completo. Ele anda tentou levantar, mas rapidamente tinha a espada encostada em sua garganta mais uma vez e não se moveu.
‘Gauvain, levante-se!’ O homem que autorizou o inicio do duelo gritou exasperado, ameaçando intervir
‘Não se meta, Accolon!’ Um outro homem o segurou ‘O iniciado venceu’
‘Acabou, Accolon, ele venceu’ Um outro homem se pronunciou, se aproximando do tablado ‘Levanta-se, Gauvain, saia daí’
‘Este nobre cavaleiro passou por vários testes ao longo dessa iniciação e agora é chegada à hora de uma decisão. Eu vos pergunto: ele é um dos nossos?’ Arthur se adiantou e falou virando para os outros
‘Sim!’ Responderam em uníssono
’Muito bem, a Sociedade falou. Dispa suas vestes, é hora de receber a marca que nos diferencia dos comuns’ Ordenou o líder
Ele largou a espada no chão, retirando a capa rasgada que o cobria, já suja de sangue. Sabia que se o mandassem duelar mais uma vez, não resistiria, estava aliviado por tudo ter terminado. Ele se aproximou de Arthur e se ajoelhou. Mas mesmo com toda a dor que sentia, todo o cansaço, não gritou ou demonstrou dor quando sentiu sua pele arder e o cheiro de carne queimada invadir suas narinas. A partir de agora, seu nome era Galehaut. E faria bom uso dele.