Saturday, January 24, 2009

Era sábado à noite e nossos bebês estavam sob o cuidado dos “pais”, que perderam no par ou impar. E com toda a segurança por todo o canto do castelo que nos impediam de fazer nossas festas internas, as meninas estavam desesperadas pra aproveitar a folga e planejavam passar a noite em uma boate nova que havia aberto. Já estavam todas prontas pra sair, até Georgia, Julianne e Beatrice iam, e depois de muita insistência delas, acabei topando ir também. Seria a primeira vez que saia da escola para me divertir desde que as aulas recomeçaram.

Já passava da meia noite e a boate já atingia sua lotação máxima. Ocupávamos uma mesa no 2º andar e agora apenas observávamos o movimento do térreo pela sacada. As bandejas não paravam de passar e não teve uma única vez que não resgatamos os tubos com bebidas coloridas que vinham nelas. Já estávamos todas muito animadas, mas Georgia era de longe a mais solta. Não estava acostumada a beber, mas parecia ter tomado gosto. E aproveitávamos o momento para tentar arrancar o máximo de informação possível dela, pois era o único jeito de conhecê-la um pouco melhor.

‘Mas então, Georgia’ Annia começou, sentando no banco do lado dela ‘Conta pra gente quem foi que partiu seu coração’

‘Ah, esqueçam isso, faz tanto tempo’ Georgia virou o tubo de uma vez só e estalou o dedo pra garçonete que passava na hora ‘Oi! Mais uma rodada, meu tubinho está vazio’

‘Como podemos esquecer isso?’ Falei e recebi o apoio das outras ‘Você disse que o garoto não quis ficar com você por causa de outra!’

‘De todo mundo aqui, você é a única que não deveria querer saber’ Georgia disse me encarando e depois riu. Olhei pras meninas sem entender.

‘O negócio vai pegar fogo hoje’ Julianne comentou rindo para Beatrice, virando a bebida de uma vez só.

‘A propósito, já que hoje parece que vai ser a noite das revelações’ Beatrice me encarou, mas não parecia conseguir focar direito ‘Seu primo? Muito gay’

‘Dario? De onde você tirou isso?’ Olhei pra ela chocada ‘Ele te disse alguma coisa?’

‘Ah não precisa dizer, está na cara’ Georgia falou e as gêmeas balançaram a cabeça. Olhei para as meninas e não era a única a não ter notado o “óbvio”.

‘Mas não vamos desviar o assunto’ Julianne se virou para Georgia ‘Desembucha, Yelchin’

‘Gente, deixa isso pra lá’ Georgia tentou desconversar de novo.

‘Não, agora fala’ Insisti a encarando. As outras também a encaravam curiosas ‘Quem é o garoto?’

‘Chrisoshea’ Georgia deu um longo suspiro e disse de uma vez só. Ninguém entendeu

‘Quem??’ Vina perguntou de novo

‘Chris O’Shea’ Respondeu baixo, mas dessa vez ouvimos ‘Por sua causa’ Disse olhando pra mim, mas logo encarou a mesa.

‘Como é que é a história?’ Perguntei rindo, mas fui a única

‘Chris disse que não podia ficar comigo, porque gostava de outra pessoa. Você’ Georgia disse sério e ri de novo, mas as meninas continuavam sem rir

‘Nós sempre dissemos que ele gostava de você, Evie’ Milla deu de ombros ‘Mas você não nos dava ouvidos’

‘Eu achava que diziam isso pra implicar comigo!’ Disse incrédula ‘Não acredito que o Chris gostava de mim’

‘Mas você não saiu com o Chris Parker ano passado?’ Nina desviou o rumo da conversa e agradeci

‘Sim, e me arrependi. Nem sei por que topei sair com ele, acho que queria ver se me distraia, mas quando vi que ele só me levou lá pra fazer ciúmes em você, desisti de vez’ Georgia falou com uma voz amargurada, virando outro tubinho colorido ‘Que irônico... Dois Chris que preferiam outra garota’ E Nina ficou vermelha

‘Ih, que climão, hein? Vamos parar com isso!’ Julianne levantou do banco e agarrou Georgia em uma mão e Annia na outra ‘Vem, vamos descer, quero bater naquelas latas no palco!’

Milla agarrou o braço de Nina e Beatrice quando passou por elas e Julianne foi puxando a fila escada abaixo. Vina riu ouvindo os gritos de Nina sendo rebocada, mas sentou de frente pra mim quando percebeu que eu não achava graça também.

‘Ficou balançada com a revelação mais obvia de Durmstrang?’

‘Balançada não é a palavra’ Respondi ignorando a piadinha ‘Mas não posso negar que fiquei desapontada por ele nunca ter me contado’

‘Teria feito alguma diferença?’

‘Não sei. E agora nunca vou saber’

‘Não teria mudado nada, Evie. Você sabe disso’

‘Mesmo assim queria que ele tivesse me contado. Somos melhores amigos, poxa’

‘Chris sempre soube que você o via apenas como um amigo. E ninguém gosta de se declarar pra alguém e não receber uma declaração de volta’

‘É, acho que tem razão. Também não teria contado se fosse o contrário’ Disse deitando a cabeça na mesa ‘É só que é um pouco assustador esse tipo revelação’

‘Assustador é o jeito que você voltou das férias’ Vina falou ‘Assustador é saber que não estamos conseguindo ajudá-la a sair dessa fossa’

‘Desculpa’ Levantei a cabeça, mas continuei encarando a mesa ‘Não queria preocupar ninguém, mas eu já estou melhorando, eu acho’

‘Sim, está. Você topou sair hoje, isso já é um avanço’ Ela sorriu ‘Mas sabe o que é ainda mais assustador? Georgia sair com a gente. Evie, ela está virando uma de nós!’ Vina disse desesperada e acabei rindo ‘Pronto, riu. Assim está melhor. Agora levanta daí, vamos ver as outras no palco!’

Vina agarrou minha mão e me tirou da mesa, parando na sacada. Lá de cima dava pra ver o palco, com vários latões espalhados e Milla, Annia, Nina, Julianne, Beatrice e Georgia batiam neles com baquetas no ritmo da música, fazendo respingar tinta pra todos os lados. Ficamos gritando lá do alto e rindo delas dançando enquanto batucavam e depois de algum tempo elas saíram do palco e voltaram ao 2º andar. Pareciam 6 aquarelas, mas não conseguiam parar de rir. Pedimos mais uma rodada das bebidas coloridas e Georgia foi ao banheiro com a sua na mão.

‘Você está legal?’ Milla perguntou preocupada

‘Está tudo bem’ Disse sorrindo ‘Acho que só eu não via, ou não queria ver’

‘Ei, um brinde a descoberta mais obvia de Durmstrang!’ Vina ergueu o tubo colorida e todas riram, inclusive eu

Brindamos e viramos a bebida de uma vez só, já pedindo mais doses. Ficaram fazendo hora com a minha cara por causa do Chris por um bom tempo, até que Nina perguntou por Georgia. Já fazia algum tempo que ela tinha ido ao banheiro e saímos para procurá-la, mas não demoramos a encontrar. Annia apontou para um sofá no canto da boate rindo. Georgia estava deitada toda torta nele, a cara amassada no braço do sofá, dormindo profundamente.

‘Georgia’ Sacudi ela, mas não houve resposta ‘Georgia!’

‘Ela está viva?’ Vina perguntou assustada

‘Está sim, está respirando’ Julianne respondeu colocando a mão embaixo do nariz dela ‘GEORGIA!’

‘Esquece, desmaiou’ Disse já puxando seu braço. Georgia escorregou no sofá feito uma boneca de pano ‘Dá uma ajuda aqui, vamos levar ela embora’

‘É, acho que já está mesmo na hora de irmos embora’ Annia concordou, ainda rindo ‘Olha o estado dessa pessoa’

‘Levem-na pro banheiro primeiro, não podemos chegar com ela na escola sendo carregada. E se um dos cães de guarda do pai da Inês acordar?’ Vina disse caminhando na direção do banheiro ‘Temos que deixá-la consciente antes’

Carreguei Georgia com a ajuda de Milla até o banheiro e a escoramos na parede, mas assim que soltamos, ela deslizou para o chão. Puxamos ela de volta e a seguramos de pé enquanto Vina passava um papel molhado no rosto dela, para acordá-la. Georgia ia abrindo os olhos aos poucos e quando já conseguia falar e se manter de pé sozinha, mesmo que por breves segundos, deixamos a boate. Georgia caminhava escorada na Milla e eu andava ao seu lado, pronta para segurá-la se caísse. Chegamos no caminho que levava às repúblicas depois de muito tempo e já não tinha mais luzes acesas quando entramos na Avalon.

‘Parece que estamos ensinando o bambi a andar’ Beatrice falou observando Georgia caminhar devagar como se não soubesse o que estava fazendo e rimos

‘Ainda bem que ela não dorme no nosso quarto’ Milla falou cansada, ainda segurando Georgia ‘Não íamos conseguir chegar lá em cima hoje’

Despejamos Georgia em seu quarto no 3º andar e subimos quase nos arrastando para o nosso. Já passava das 3 da manhã e agradecemos por não termos aula aos domingos, pois desmaiamos com a roupa do corpo assim que deitamos em nossas camas. Naquela noite, havia finalmente me divertido.