Tuesday, February 26, 2008

15 de fevereiro


Nina saiu cedo da República naquele dia. Não costumava agir por impulsos, mas desde que acordou, sabia que precisava conversar com Chris sobre o que havia acontecido. Passou a noite inteira em claro, sendo convencida pelas meninas de que tudo ficaria bem. Sentia a necessidade de fazer o mesmo.


- Oi, meninos...o Parker está por aí? – o clima na república dos garotos estava, no mínimo, fúnebre. Ao ouvirem o nome de Parker, os meninos se entreolharam, sem muita certeza do que dizer, mas não precisaram. Uma cabeleira castanha desgrenhada apareceu no meio.
- Olenova. – uma tentativa de sorriso – Quer entrar?
- Não precisa, eu só queria saber se você estava bem – disse Nina, engolindo seco ao notar as olheiras profundas e o estado do garoto. Qualquer um o confundiria com alguém que não dormia há meses.
- Insisto...– e a tentativa de sorriso de novo, dessa vez, ligeiramente assustadora. Chris não estava acostumado a sorrir gentilmente. Principalmente para Nina. E Nina não estava acostumada a receber sorrisos gentis dele. Queria ter um espelho para ver sua reação.
- Uhnn...tudo bem. Ficou ótima a decoração que vocês fizeram, hein? – brincou, se referindo às roupas jogadas no chão, penduradas na janela, na escada, aos sapatos, aos pratos...Os meninos riram, sem graça, e aproveitaram a porta aberta para sair da República. A chegada de Nina foi a desculpa perfeita para evitar por algum tempo o clima pesado do ambiente. – E...aí?
- Bem. E você? – respondeu Chris, abrindo um espaço vago no sofá amontoado de objetos inúteis. Apontou para que Nina sentasse. A menina só podia concluir que aquele definitivamente não era o Parker. Talvez o Chris, mas não o Parker.
- Bem também...melhor. Eu conversei com as meninas ontem...elas me ajudaram bastante.
- Uhnn, que bom.– murmurou Chris, pegando a caixa de pizza largada no chão, que ainda guardava algumas fatias sobreviventes – Pizza?
- Acho que não, obrigada – disse Nina, sorrindo e brincando com os dedos – Escuta... eu sinto muito mesmo pelo seu pai. Eu gostava muito dele. Mesmo... você provavelmente não vai querer conversar sobre isso, principalmente comigo, mas eu precisava falar – Nina achou melhor dizer tudo de uma vez para se livrar do insistente nó na garganta. Chris girou o corpo no sofá para encara-la e Nina teve certeza absoluta de que nunca tinha visto aquele Parker. Tinha uma tristeza no olhar que não era característica do seu ar brincalhão. E aquele cinismo habitual não brincava mais no sorriso. Ele nem sequer estava mais sorrindo.
- Eu também sinto muito pelo seu. Espero que ele fique bem. – pontuava bem as frases, engolindo seco.
- Eu também. Mamãe mandou uma outra carta e disse que ele teve uma certa melhora na noite passada. E falou que sua mãe está bem...você não precisa se preocupar com ela, ok? – disse Nina, procurando seu tom de voz mais ameno e aproximando a mão do rosto do menino para afastar uma mecha de cabelo. Não sabia dizer o que estava fazendo. Chris franziu a testa.
- Eu não quero que você sinta pena de mim...
- Eu não sinto pena de você! – Nina se defendeu rápido
- Imagina. Só está falando comigo como se eu fosse um bebê. Vai me fazer alguns biscoitos também? – respondeu, sem gritar, mas destacando cada palavra. – Eu não preciso que ninguém tenha pena ou sofra por mim, sei lidar com isso.
- Óbvio. Você não é criança! Mas se meu pai tivesse morrido ontem, eu gostaria que alguém ficasse do meu lado! – e a frase saiu um pouco mais alta do que pretendia – E você não precisa ser grosso!
- Desculpa – contrariado.
- Está desculpado – contrariada, sem nenhuma intenção de desculpa-lo – Por que você vive na defensiva?
- Eu não vivo na defensiva.
- Ó! Imagina! Eu estou aqui, tentando manter uma conversa amigável e você começa a ser hostil, sem motivo algum!
- Você está tentando fazer caridade e não preciso de caridade. Muito obrigada!
- Eu não estou tentando fazer caridade! Só estou tentando ser uma...amiga...decente!
- E desde quando...
- Não começa, Parker! Por favor, será que nós podemos conversar civilizadamente? Será que você pode por cinco minutos ser aquela pessoa que abriu a porta?
- Claro, sobre o que você quer conversar? Quadribol, trabalhos? Pode escolher.
- Eu quero falar sobre o seu pai...
- Pena. Eu não quero.
- Do que você tem medo? – perguntou Nina, levantando bruscamente do sofá.
- Por que você não vai conversar com o Michael? Aposto que ELE vai precisar da sua ajuda quando souber. Não eu! – Chris devolveu a pergunta, também levantando do sofá.
- Como assim “quando souber”? Ele ainda não sabe?!
- Bem...eu não contei.
- Você não contou...?! – Nina estava incrédula – Ele é seu irmão! Como você não contou?
- Bem, além de não ter tido tempo, eu sinceramente não estou preparado para falar sobre isso com o Michael ou com a Liz! E não estou disposto a falar sobre isso com você, então porque não aproveita a deixa e encontra a porta? – mas a menina voltou a se sentar no sofá.
- Eu não pretendo ir a lugar nenhum.
- Sem problemas, eu vou. – disse Chris – Se quiser continuar aí, aproveita o tempo livre e dá uma faxina na República. Está precisando...
- Você não vai a lugar nenhum antes de me prometer que vai conversar com o Michael! Ou você quer que ele descubra por algum colega nosso comentando? – perguntou Nina, segurando o braço de Chris.
- Olenova, você tem 3 segundos para me largar.
- Senão?
- Você está testando a minha paciência...
- Você já acabou com a minha! – devolveu Nina. – Quer saber? Vai. Eu não acredito que você vá ser egoísta e insensível o suficiente para nem ao menos conversar com seu irmão em um momento como esse!

Chris não respondeu. Continuou olhando para Nina por alguns segundos, sacudiu a cabeça e bateu a porta. Agora sim. Era o Parker que Nina conhecia.

Monday, February 25, 2008

Sábado, 23 de Fevereiro

Desde que voltara da Califórnia, Micah não tinha tempo para nada que não fossem os estudos. Perdera dois dias inteiros de aula e estava espantado com a quantidade de dever que se acumulou. E sem contar os clubes, em especial o jornal. Georgia andava o seguindo para todos os lados desde que pisara novamente em Durmstrang. Ela estava convicta de que ele sabia mais do que deixava transparecer, e queria a todo custo que começasse a escrever sobre isso.

‘Já falei que não sei de nada, sua louca!’ Resmungou pela 5ª vez, ignorando a garota sentada ao seu lado na biblioteca ‘Quer me deixar estudar? Olha a quantidade de dever que tenho!’

‘Wade, pensa que pode me enganar com essa cara sonsa e esse ar de desentendido?’ Ela bateu a mão na mesa e a bibliotecária lançou um olhar de censura ‘Sei que anda pesquisando alguma coisa! Vejo você entrar e sair dessa biblioteca tarde da noite, e está sempre revirando os arquivos do Expresso Polar. Só mandei que arquivasse coisas uma vez. O que tanto procura?’

‘Você não desiste, não é?’ Ele teve que rir da curiosidade de Georgia ‘Está bem, Louis Lane, você venceu. Estou pesquisando alguma coisa sim. Satisfeita?’

‘E o que está pesquisando? Por que precisa vir somente à noite?’

‘Você não tem faro investigativo? Pois descubra sozinha!’

‘Vou encarar isso como um desafio’ Ela levantou parecendo decidida e ele instantaneamente se arrependeu do que disse ‘E eu adoro ser desafiada’

Georgia saiu da biblioteca e Micah fechou os livros, desistindo dos deveres. Havia feito uma grande besteira em desafiar Georgia a descobrir o que pesquisava, sabia que a garota não descansaria até que soubesse de tudo. Já havia envolvido Evie na história e não queria que mais ninguém soubesse, ou poderia acabar vazando. E ele ainda não tinha chegado aonde queria.

Evie, por sinal, parecia chateada com ele. Ao menos era o que ele pensava. Procurou por ela assim que voltou para escola e explicou tudo que tinha acontecido. Ela pareceu ter compreendido e disse que não estava chateada, mas desde então não se falaram mais. Esbarravam-se apenas nas aulas, e quando elas terminavam, ela desaparecia. Ele também tinha sua parcela de culpa, claro. O excesso de deveres não o deixava tentar se certificar de que estava mesmo tudo bem. Sabia por intermédio das meninas que ela estava saindo com um garoto do 7º ano, mas não acreditava que era esse o motivo do sumiço. Tinha certeza que não havia o desculpado ainda.

Desistindo de vez de terminar os trabalhos aquela noite, guardou os livros e pergaminhos na mochila e caminhou até as repúblicas. Mas não seguiu para a Spartacus. Desviou seu caminho na estradinha que levava a Avalon. Apenas algumas garotas circulavam pela sala conversando e subiu direto para o quarto das amigas. Evie estava sozinha e mesmo ouvindo alguém chegar, não se virou para a porta.

‘Oi, tudo bem?’ Micah entrou e ela finalmente desviou a atenção do espelho

‘Olha quem apareceu!’ Brincou ‘Não vi você o dia todo, pensei que tivesse ido para casa outra vez’

‘Estava colocando os deveres em dia, mas sai da biblioteca só pra ver se você quer sair hoje. Podemos ir até o vilarejo, no show daquele grupo de dança que você estava falando outro dia’

‘Não é um show, é uma apresentação’ Corrigiu rindo ‘E obrigada pelo convite, mas não posso’

‘Sabia que ainda estava chateada comigo por ter furado com você na festa’ Respondeu desanimado ‘Tudo bem, eu entendo. Apesar de não ter culpa dessa vez, mas entendo’

‘Micah, isso não tem nada a ver. Você já pediu desculpas e eu aceitei. Não posso porque já combinei de ir ao teatro com o Derek’

‘Ah é verdade, tinha esquecido que estava namorando aquele Zé ruela’ Ele pareceu desapontado e ela não pode conter o sorriso de satisfação, rapidamente ocultado

‘Não estamos namorando, só saímos de vez em quando. E não comece a colocar apelidos. Ele é legal, divertido, inteligente, bonito, gentil... Gosto da sua companhia’

‘Tudo bem, divirta-se então com aqueles passos malucos de balé. Ainda tenho alguns deveres pra terminar, acho vou voltar pra biblioteca’

Ela sorriu e ele virou de costas para sair do quarto. Já estava na porta quando ela o chamou de volta.

‘Micah’ Ele parou e a encarou outra vez ‘Não estou chateada com você pelo sumiço. Entendi que houve uma falha na comunicação e que você precisava sair, era seu irmão. Estou feliz que ele esteja bem, e não quero que pense que sou uma egoísta e que não o desculpei pelo que aconteceu’

‘Sei que não é egoísta. Tinha certeza que sabia que jamais a deixaria esperando sem dar uma explicação, mas como não nos falamos mais essa semana, achei que pudesse estar chateada ainda’

‘Quer almoçar amanhã no vilarejo?’ Evie sugeriu sorrindo ‘Ai você pode me contar tudo que aconteceu lá, já que ainda não tivemos chance de conversar direito’

‘Pode ser. E também temos que combinar os ensaios pro teste final do musical. Agora que ele me convenceu, quero ganhar o papel’

‘Esse é o espírito!’ Disse brincando ‘Amanhã meio-dia’

‘Combinado’

Ele se virou outra vez e saiu do quarto, deixando que ela terminasse de se arrumar satisfeita. Era uma sensação muito boa pensar que ele agora teria o merecido troco, mesmo que essa nunca tenha sido sua intenção. Era uma sensação boa demais para não ser bem aproveitada...

Saturday, February 23, 2008

Baile do dia dos namorados...

‘Posso dançar com você?’

Olhei para o lado surpresa, reconhecendo aquela voz, e segurei sua mão. Dimitri me conduziu até o meio do salão e fazia isso com tanta firmeza que até me espantei. Ele sempre foi tímido, solitário, raramente o via conversando com outras pessoas que não fossem Max e eu, mas desde que voltamos para Durmstrang em Setembro venho observando certas mudanças. Dimitri agora estava mais confiante, seguro, sua postura passou de garoto retraido para alguém com atitude e nunca mais o vi sozinho pela escola, estava sempre ladeado de mais 5 garotos de sua idade que pareciam segui-lo para todos os lados e obedecer aos seus comandos. Era estranho, não nego. Mas o que quer que tenha acontecido, fez bem a ele.

‘O que deu em você?’ Impliquei ‘Nunca gostou de dançar’

‘Com a minha irmã eu danço’ Respondeu me girando ‘Ainda mais se ela está sem acompanhante, não posso deixá-la sozinha’

‘Não sei o que aconteceu com você, mas estou gostando das mudanças, Di’

Ele sorriu satisfeito e continuamos dançando por mais algum tempo, até que decidi sentar um pouco e ele tirou uma menina da sua turma para continuar. Já estava cansada de dividir o braço do Ty com mais 3 pares de mãos e fiquei na mesa observando os casais dançarem. Estava tão concentrada que não percebi quando pararam ao meu lado.

‘Olá’ A voz do garoto ao meu lado me tirou do transe e ele sorria pra mim ‘Está guardando essa cadeira para alguém?’

‘Não, pode sentar’

‘Cafoninha a decoração, não?’ Disse sentando ao meu lado e ri

‘As intenções foram as melhores’

‘Quais intenções? De nos levar de volta a 1950? É, tarefa cumprida’ Ri outra vez e ele ficou sério ‘Estou brincando, o baile está ótimo. Não é muito moderno, mas sei que o diretor Ivanovich se esforçou’ Ele estendeu a mão para mim e sorriu outra vez ‘Derek Stankovich’

‘Evie Parvanov’ Respondi apertando e ele sorriu

‘Eu sei, você é do jornal. É namorada do Wade, certo?’ Meu sorriso evaporou no mesmo instante

‘Não sou namorada dele. Se fosse, ele estaria aqui comigo, não é mesmo?’

‘Desculpe, não quis te ofender. É que é isso o que as pessoas acham e comentam’

‘Pois elas estão erradas’

‘Se ele não é seu namorado, então quem é? Porque não vou acreditar se me disser que não tem um. É bonita demais para estar sozinha’

‘Se vai me convidar para dançar, não fique fazendo rodeios’

Ele sorriu e ficou de pé, estendendo a mão para mim. Não pensei duas vezes e segurei. Precisava salvar aquela noite...


~*~*~*~*~

Depois que fiquei com Derek no baile, meu humor havia melhorado significativamente. Além de não me tratar como um garoto, tinhamos alguns gostos em comum. Ele era do 7º ano da Mannaz, fazia parte do jornal da escola e apesar de não ser do grupo de teatro, conhecia mais peças do que eu. Mas não estavamos namorando. Gostávamos um do outro, mas apenas saíamos de vez em quando. Depois de tanto tempo com Josh, tudo que não precisava era de um namorado na mesma escola, 24hs por dia atrás de mim. Funcionava melhor desse jeito.

Já haviam se passado 4 dias desde que Micah havia desaparecido. Ninguém sabia onde ele estava ou porque saiu apressado sem se preocupar em avisar, e chegamos a conclusão que notícia ruim sempre corre depressa, logo, ele estava bem. Apenas não tinha consideração pelas pessoas que gostavam dele.

Saí exausta do teatro na noite de segunda, já cansada de responder que não sabia onde Micah estava, e tudo que queria era desmaiar na cama. Mas não foi exatamente o que aconteceu. Com exceção de Milla, já estavam todas dormindo quando cheguei. Já estava confortável enrolada no cobertor e tinha deitado há menos de 5 minutos quando ouvi a porta abrir. Sem me mexer, vi pelo espelho que era Micah. Continuei imóvel, como se estivesse dormindo. Ele olhou na direção da minha cama e sentou na da Milla.

‘Onde esteve, Micah?’ Ouvi Milla sussurrar ‘Estávamos preocupados!’

‘Como assim? Evi não leu meu bilhete pra vocês?’ Tentei não me mexer na cama, mas prestei mais atenção quando ele soou surpreso por ela não saber onde ele estava

‘Que bilhete, seu doido? Evie não sabia também onde estava, foi muito besta você insistir em levá-la ao baile e furar depois’

‘Mas eu pedi que entregassem um recado meu a ela, justamente explicando que não poderia mais ir e o porquê!’ Ele agora parecia indignado ‘Droga, não acredito que aquele pirralho não entregou! Ótimo, agora Evi está achando que fiz de propósito’

‘Tinha certeza que não faria uma coisa ridícula como essa com ela, mas já estava pensando que tinha me enganado sobre você. Quer fazer o favor de explicar o que aconteceu?’

‘O diretor me chamou no fim da tarde de quinta para avisar que meu irmão tinha desaparecido, não encontraram ele na cama pela manhã. Ele perguntou se queria ir até a Califórnia e tentar ajudar. Não pensei duas vezes e fui, mas antes escrevi um bilhete explicando tudo e como não daria tempo de procurá-los, pedi que um menino que estava a toa na Spartacus que entregasse a Evi. Não lembro o nome, mas lembro bem do rosto. Vou amassar aquela cara de sonso dele quando encontrá-lo!’

‘Ninguém entregou nada a ela, posso garantir isso. Mas e o seu irmão? Já o encontraram? Ele está bem? Foi seqüestro?’

‘Sim, ele está bem, o encontramos no sábado. E não foi seqüestro, ele fugiu’ Micah agora soava cansado e sabia exatamente o que ele contaria a ela ‘Nunca falei nada, mas Connor e eu somos adotados, e temos pais adotivos diferentes. O casal que adotou ele tem outro filho, um ano mais velho. O garoto estava com ciúmes e falou para Connor que ele não era bem vindo na casa, que seus pais o adotaram por pena e que já estavam arrependidos, iam devolvê-lo no dia seguinte ao orfanato. Ele decidiu que era melhor sumir antes que o mandassem embora, e fugiu de madrugada’

‘Mas que garotinho asqueroso! Crianças às vezes sabem ser pior que adultos. Mas pelo menos seu irmão já está bem. Ele voltou para a casa deles?’

‘Voltou, mas foi difícil convencê-lo que o Damon estava com ciúmes e era tudo mentira. Acho que ele não vai querer ficar lá, tenho certeza que vou voltar à Califórnia mais vezes esse ano por causa dele’

‘Talvez não seja bom ele ficar lá. Se o filho do casal não quer, vai transformar a vida do seu irmão em um inferno’

‘É, também acho isso, mas não queria que ele passasse por tudo de novo. Connor já morou em três casas diferentes, não vai suportar ter que passar por todo o processo de adaptação outra vez’ Ele levantou da cama mais cansado do que nunca e jogou a mochila nas costas ‘Bom, cheguei agora e nem desfiz a mochila ainda, só passei aqui porque queria ver se ela estava acordada, mas tento amanhã. Me ajude se ela não quiser me ouvir, ok? Sabe que não tive culpa dessa vez’

‘Pode deixar, eu dou uma forcinha se for preciso. Mas você já aprendeu a domar a fera, vai tirar de letra’

Ouvi os dois rindo e assim que ele saiu do quarto, Milla sumiu debaixo do cobertor e o silêncio reinou outra vez. Dessa vez não tinha argumentos para brigar, e deixaria ele explicar tudo que já ouvi sem problemas. Pela primeira vez, estava feliz por estar errada.

Friday, February 15, 2008

- Você matou alguém...?! – perguntou Ty, após a décima vez em que a menina olhou de relance por cima dos ombros – Porque foi um sacrifício te arrastar para fora daquele quarto e AAA!! Unhas, unhas!! – Ty deu um salto para longe dos dedos da garota, agora tatuados em seu braço.
- Aii, desculpa! Foi sem querer...eu estou um pouco tensa. – murmurou Nina, estalando os dedos.
- Por mais que aquele garoto seja um enjoado, ele não vai aparecer com uma serra elétrica! Então sossega um pouco... – disse, enquanto a conduzia até a bacia de ponche – Pronto, divirta-se. E mantenhas essas coisas ocupadas - respondeu Ty, apontando para as mãos da garota.

Nina havia passado a semana inteira lutando contra a idéia de aparecer no baile dos Namorados. Desde o dia que batizou como “O trágico incidente no Ivy&Leo”, começou a ignorar completamente os gêmeos e se atirar em armários de vassoura cada vez que um deles atravessava o corredor. Porém, quando Evie, Vina, Annia e Milla invadiram o quarto, armadas com um vestido amarelo, sapatos de salto e secador, ela sentiu que não teria outra escolha. Após meia hora, estava vestida para a festa e sendo arrastada para fora da República. No fim das contas, foi obrigada – literalmente - a concluir que um pouco de diversão não a mataria e Ty concordou em prestar seus serviços de guarda-costas. Ao som de “All my Loving”, respirou aliviada. Até um ponche flutuante soar animado em seus ouvidos.

- Olenova, você estava aqui!

Nina sentiu o resto do líquido preso na garganta e lutou para gritar em meio ao soluço.

- TY! – a menina estendeu as mãos na frente do corpo e, entre tropeços cegos, agarrou o braço mais próximo, já ocupado por outras 3 mãos femininas.
- Merlin! Onde está a coisinha? – perguntou Ty, abrindo seu maior sorriso quando notou que se tratava do outro Parker. – Evie, você vai querer ocupar o braço esquerdo, estou ficando um pouco sobrecarregado aqui.
- Eu ficaria feliz em dividir seu fardo – Chris devolveu o sorriso, estendendo o braço na direção de Nina, que se ocupou em enterrar o rosto no ombro de Ty. Sua voz saiu abafada.
- TY!
- É, o céu também tem seu lado negro...Sinto muito, Chris. Você não vai chegar perto das minhas meninas.
- Ty, nós não somos quengas. – reclamou Milla, antes de acenar para alguém do outro lado do salão – Uhnn...eu já volto, fique por perto.
- Sem problemas! – Ty respondeu, praticamente saltitando.
- Você está adorando isso... – Chris balançou a cabeça, sem poder esconder do amigo o olhar de admiração.
- E você pode constatar o óbvio ou dar meia volta, Chris. Outro dia eu te ajudo no caso N-I-N-A, mas hoje não. Tá, tá, eu já sei... “TY!” – imitou, com uma voz estridente – Vamos, garotas. Em fila. Número 1, 2, 3...
- Obrigada – falou Nina, finalmente aliviando a pressão no braço do menino, mas voltando a cravar os dedos logo em seguida – Opa, opa, vira! Ali!!
- O outro?! Você só pode estar brincando comigo!! Será que não dava para te trancar no banheiro feminino durante uma meia hora? Eu volto para te buscar...
- Uhnn...eu suspeito que esse olhar assassino significa “Não” – interrompeu Evie.
- Ok, eu preciso de um mapa...uma rota de fuga, sei lá!
- Esquece a rota de fuga, improvisa! – guinchou Nina
- Claro! Entre na história.

Ty colocou os braços nas costas da menina, conforme Michael se aproximava com uma rosa nas mãos. Ele sorriu delicadamente ao notar que a garota não havia se jogado embaixo da mesa ao notar sua presença.

- Olá, Ty. Olá, meninas. Ninys...eu preciso falar com você – começou.
- Ho-ho, meia volta, Parker, meia volta! Ela está acompanhada.
- Eu só queria conversar! Você tem me evitado desde aquele dia, se esconde quando eu passo, não responde quando eu te chamo! Você sequer recebeu as minhas cartas? O que existe entre nós dois é muito profundo, eu não quero desperdiçar... – Michael despejava informações em uma velocidade que deixou Ty de queixo caído e Nina apavorada.
- Michael... – a menina murmurou, mas foi interrompida por um puxão de seu “acompanhante”.
- Hey, eu falo aqui! E não me venha com essa atitude, mocinha. Cai fora, Parker, não abusa da minha paciência e...supera!
- Não precisa falar assim com ele... – disse Nina, tentando não enxergar a pequena multidão que se acomodava ao redor do grupo.
- Escuta, você quer ir para o banheiro feminino? O que colocaram no seu ponche? – perguntou Ty, gesticulando freneticamente – E você...é a última vez, cai fora. – completou, mas ficou paralisado quando Michael se ajoelhou – Pelas barbas de Merlin.

Ty aparentava genuíno choque quando o menino tirou um pergaminho amassado do bolso e começou a declamar uma poesia. Mas nada se comparou a sua expressão de pavor quando Chris apareceu, também carregando um pergaminho.

- O QUE FIZERAM COM VOCÊ?! – gritou Ty, chamando a atenção de ainda mais pessoas. Nina agora enterrava a cabeça nas próprias mãos. Chris franziu a testa para o amigo, fez cara de deboche e tirou o irmão do chão.
- Escuta, infelizmente, eu tenho a mesma cara que você e não vou aceitar ser confundido nos corredores com o garoto da poesia. Cai fora, Michael. Depois ela te procura para conversar.
- Mas...
- Sai daqui, Michael. – Chris não gritava, mas seu olhar parecia perfurar o irmão, que abaixou a cabeça, resignado. Michael engoliu em seco. Seu respeito por Chris o fez dirigir um último olhar a Nina e dar meia volta. Respeito. Medo. Ódio... como quiserem chamar.
- Ok, crianças, o show acabou. Meu assistente vai passar um chapéu para os trocados. Muito obrigado e agora...dispersar! – disse Chris, para o grupo que havia puxado cadeiras para assistir a confusão – Acho que eles entenderam o recado. E você está ficando experiente em escândalos em locais públicos, Olenova. – Nina não respondeu – Aqui. Sua coruja maluca me entregou uma carta sua. Aparentemente, eu sou seu contato de emergência – disse, sorrindo.
- Ah, então isso é uma carta? Por um segundo, eu achei que você também fosse se ajoelhar e ler um poema! – comentou Ty, em meio às risadas do amigo. Nina estendeu as mãos para pegar a carta, mas Chris não se mexeu.
- Na-nã. Antes eu preciso falar com você. Em particular.
- Desculpa, Chris, mas... – Ty começou
- Ty, sem querer ser grosso, o assunto é com a Olenova.
- Mais grosso, você quer dizer – respondeu Nina, pela primeira vez. – A carta é minha, Parker. Eu não sei o que a minha coruja estúpida estava pensando.
- Resolveu falar? Ótimo, vem aqui e eu te dou a carta. – Ty e as meninas acompanhavam a conversa como uma partida de tênis. Nina sacudiu os cabelos.
- Tanto faz. Ty, fica por perto. – Ty bateu continência e fez um sinal positivo para Chris, enquanto os dois se afastavam da confusão do baile. – Muito bem. O que você quer? – Nina falava da maneira mais fria possível.
- Apesar de achar que você não merece e ter certeza de que a culpa disso tudo foi sua...pedir desculpas. – respondeu, sério – Não pela parte de fazer a cabeça do Michael para te levar naquele lugar horrendo. Afinal, você disse que estava interessada nele, não? Mas por ter envolvido a Geórgia na história. Foi um pouco demais.

Nina parecia ter visto uma assombração. Não moveu um músculo.

- A minha carta.
- Olenova, eu não vou implorar. Mas já estava ficando ridículo você se esconder cada vez que um de nós passava. Ridículo para você.
- Terminou? A minha carta.
- Tudo bem, depois não diga que eu não falei. Sua carta. Eu juro que não li...dessa vez. – e deu seu sorriso cínico habitual, esperando alguma reação. Qualquer reação. Nina segurou a carta e continuo o encarando. – Uhnn...algum problema?
- Você vai continuar aí? Parado?
- Te incomodo?
- Bastante. E sua linda acompanhante parece impaciente. À propósito, qual é o nome dela?
- Garota Loira 3. E prefiro saber o que está escrito na carta – Nina arregalou os olhos, pronta para responder, mas Chris continuou – Calma! Minha mãe não tem mandado notícias. Quem sabe a sua não diz alguma coisa. Quero saber se eles estão bem. – Nina ficou calada durante alguns momentos, considerando a hipótese e balançou os ombros.
- Tudo bem – e Chris sorriu. – Ela só deve estar mandando notícias de casa ou contando a última confusão dos gêmeos. “Espero que você esteja estudando bastante” blá, blá, blá...
- Você não é neurótica à toa... – interrompeu Chris e Nina não pode conter um sorriso, sem tirar os olhos do papel. O garoto parecia aliviado.
- “Ivan e Nico estão bem e também mandam beijos” blá, blá, blá. Viu? Nada extraordinário. Ela não comentou sobre a sua... – Nina emudeceu por alguns segundos e prendeu a respiração enquanto lia o resto da carta. Parou.
- Hey...Olenova? O que foi? – Chris se aproximou, examinando a expressão da menina – Está tudo bem?
- Não...não está. Meu pai...ele... – Nina tentava evitar soluçar para não chamar a atenção dos amigos. As lágrimas queimavam seu rosto. – Ele está no hospital. Inconsciente. Os médicos...os médicos falaram que existe uma mínima...chance...absolutamente...mínima... – e parou porque as palavras começaram a fazer com que sua garganta ardesse incontrolavelmente. Chris parecia dividido entre falar alguma coisa que pudesse consolar a garota ou chamar uma das amigas de Nina. Acabou optando por segurar a mão da menina e tirar a carta presa entre os dedos. Queria ver a notícia com seus próprios olhos. Voltou a falar depois de alguns segundos, interrompendo o choro silencioso de Nina.
- Olenova...você leu a carta até o final? – perguntou com uma voz que não parecia a dele.

Nina não respondeu. Estava concentrada na batida sem sincronia que sentia no peito.

- Meu pai e seu pai foram encontrados juntos. Aparentemente, um ataque duplo de algum comensal. Meu pai está morto.

Nina não tinha certeza se tinha ouvido aquilo de verdade ou se era somente uma voz dentro de sua cabeça. Queria que o tempo passasse logo, que Chris saísse dali. Queria conseguir levantar a cabeça, conseguir gritar, mas continuou encarando o chão, muda. Os dois passaram um bom tempo – ou alguns segundos, ela não soube dizer - assustados demais para sequer respirar. Nina parecia finalmente ter encontrado forças pra ordenar que a cabeça se mexesse e olhou para Chris. Não sabia se ele também a estava olhando ou se estava enxergando além dela, mas desejou que ele parasse. Quando conter as lágrimas se tornou uma tarefa impossível, o menino olhou uma última vez em sua direção – e agora ela podia ter certeza de que ele estava olhando em sua direção – e virou as costas. Era a primeira vez que ela enxergava sinceridade naquele olhar frio.

- Chris...- chamou, ainda sem certeza do que iria falar, mas já surpresa por conseguir falar – Eu sinto muito.
- É. Eu também. – respondeu, sem virar as costas e continuando o caminho em direção à saída do salão. Os corações, as bolhas, as músicas alegres. Nina estava odiando tudo. Tudo. Queria que cada aluno desaparecesse e que sua cabeça fizesse o favor de parar de girar. Fechou os olhos e encostou o corpo na superfície fria, rezando para acordar.

Thursday, February 14, 2008

11 de fevereiro de 1999, salão principal de Durmstrang

Plim, plim, plim!
A professora Mira, bateu na sua taça e pediu a atenção de todos, na hora do almoço e as conversas foram se acalmando para ouvir o comunicado:

“O diretor Ivanov me encarregou de fazer o anúncio de que no dia 14 de fevereiro, realizaremos um baile pelo dia dos Namorados, aqui no salão principal”. (e o burburinho começou e quando o diretor levantou a mão todos se calaram. Ele pediu que a professora continuasse:
- Como eu ia dizendo: este será o primeiro de uma série de eventos que marcam a nova fase de nossa querida escola. Teremos um jantar dançante que se estenderá até as 23 horas, as informações sobre os trajes estarão disponíveis nos quadros de avisos espalhados pela escola. Convidem seus pares e venham comemorar conosco".
Depois disso, o assunto na nossa mesa passou a ser um só: com que roupa eu vou?

o-o-o-o-o-o-

14 de fevereiro, dia dos namorados na república Avalon

Eu, Annia, Vina, Nina, e Evie descemos as escadas correndo quando ouvimos baterem na porta. Deviam ser Ty, Micah e Ricard que iriam nos acompanhar ao jantar dançante da escola. Abrimos a porta e Ty e Ricard entraram animados. Eu assobiei dizendo:
- Fiu! fiu! Que rapazes bonitos. - e os meninos riram. Ty aproveitou para fazer graça e enquanto ele e Ricard faziam uma mesura:
- Isso é o reflexo da beleza de vocês. - e caímos na gargalhada por ouvir algo tão fora de moda.
- Não me digam que o Micah vai se atrasar. - resmungou Evie depois de olhar para fora da porta, e Ty respondeu:
- O Micah não vem.
- Como não vem? Ele está doente?
- Quando cheguei à república ele estava saindo apressado com uma mochila nas costas, disse que explicaria tudo quando voltasse.
- Voltasse de onde? E estamos no meio da semana, ele não pode sair daqui assim.
- Não sei o que houve, só sei que ele não vai ao baile.
Vimos que Evie ficou decepcionada, mas ela procurou disfarçar e disse:
- Bem, o que estamos esperando? Há um jantar dançante à nossa espera.
-Hey, isso me lembra algo. - disse Ty e ele e Ricard tiraram dos bolsos das vestes, pequenos buquês de flores, e nos orientaram para os prendermos ao pulso:
- Você está brincando não é? – disse Annia, olhando para as suas flores.
- A professora Mira, fez questão de avisar aos rapazes para comprarem estas flores e presentear as garotas, disse que faz parte do clima da festa. - respondeu Ricard.
- Ai, tô começando a ficar com medo do tal “clima” da festa. - disse Nina e saímos para o castelo enquanto ríamos especulando sobre as outras surpresas da noite.

Quando as portas do salão foram abertas, não esperávamos algo tão... Singular!
As grandes mesas foram substituídas por mesas para 12 pessoas dispostas em toda a volta do salão, com toalhas vermelhas, louças brancas com guardanapos dobrados em forma de cisne, e vasos de amor perfeito as enfeitando. Bolhas de sabão multicolorido flutuavam e não estouravam, elas saiam de um enorme coração de balões vermelhos com uma flecha enorme espetada, e no palco havia uma banda tocando musicas bem antigas. Os alunos olhavam de uns para os outros embasbacados e quando olhamos os professores, vimos a professora Mira e o professor Marko, que pareciam constrangidos, não sei se era com a animação do diretor Ivanovich e do professor Stanislav, que sorriam de orelha a orelha ou se era pela decoração cafona da festa. O diretor e o professor de Aritmancia, pareciam tão á vontade, que iam convidando os alunos a se sentarem. A professora Mesic, estava até sorrindo enquanto conversava com os outros professores, e isso sim, dava medo. (rsrs)
- Nossa, seu pai se superou Annia, tudo está tão “supimpa” – provoquei e ela ficou vermelha.
- Acho que vou pedir a interdição do meu pai, ele anda tendo cada idéia maluca.- ela disse sem graça.
- Qual é, garotas vamos aproveitar. Afinal depois de encarar o casamento de minha mãe, vocês passam por este baile na boa. Vamos que a comida já está sendo servida, faz tempo que fiz minha última refeição, e eu tenho as acompanhantes mais lindas da noite. - disse Ty e logo estávamos numa mesa jantando e ouvindo as músicas que eram tocadas.

Why do stars fall down from the sky
Every time you walk by?
Just like me, they long to be
Close to you

- Annia, seu pai tá vindo pra cá. - disse Vina animada pela novidade.
- O que será que ele quer?- Annia disse de mau humor
- Dançar. - respondeu Ty, enquanto punha mais um pedaço de bolo de chocolate com morangos na boca.
- Porque você acha isso?
- A pista está vazia e isso é sinal de fracasso em festa, então alguém tem que começar a dançar para os outros não se sentirem envergonhados. E você como filha dele não pode dizer não, simples assim. - respondeu Ty, e antes que ela dissesse mais alguma coisa o diretor encostou na nossa mesa.
- Olá pessoal, linda noite não? Vocês se importariam se eu tirasse a minha filha para dançar??- e esticou a mão para ela, e Ty deu uma piscada do tipo ”não falei?”. Como nós conhecemos muito bem a Annia troquei um olhar com as garotas e respondi:
- Claro que não diretor, desde que o senhor dance conosco também. - e Annia estreitou os olhos.
- Mas isso será um enorme prazer, senhoritas. - disse surpreso enquanto conduzia Annia para a pista e se puseram a dançar

- Onde você arrumou este tema de festa? – perguntou Annia.
- Está maravilhoso não? – respondeu o diretor.
- Um tanto “velho”. – resmungou Annia e seu pai disse sério:
- Achei que um clima antigo poderia relaxar um pouco os estudantes, afinal estou fazendo mudanças drásticas. E... Foi num baile assim que pedi que sua mãe se tornasse a minha namorada. Acho que ela ficaria encantada por eu me lembrar. – disse triste e a garota se sentiu péssima por não estar apoiando a iniciativa do pai e resolveu que iria aproveitar para mostrar que gostava das novas regras da escola:
- Sua festa está muito bonita papai, os alunos gostam das mudanças, e... Eu também.
-Você se parece muito com sua mãe sabia? Obrigado por dançar com seu velho. - e ambos sorriram enquanto dançavam.


Quando o diretor começou a dançar com a Annia, começou um efeito cascata e outros casais foram se formando e logo a pista estava cheia. Ricard puxou Vina, e eu após dançar com Ty sentei-me na mesa para observá-lo dançar com Nina. Observei Iago dançando com uma garota da Berkana do sexto ano e ele estava bem ocupado. Eu e Evie ríamos das tentativas de Michael em tentar tirar Nina dos braços do seu par, e Ty bancar o “acompanhante ciumento”, deixando Michael vermelho de raiva. Um garoto da Mannaz se aproximou e começou a puxar papo com a Evie, enquanto eu ficava observando as pessoas pelo salão, quando Luka se aproximou:
- Podemos dançar Milla?
Olhei para ele por alguns segundos e vi o quanto ele estava bem arrumado. Aceitei, fomos para a pista e começamos a dançar. Luka a cada volta me puxava para mais perto e eu resmunguei:
- Deixa de ser atrevido Luka.
- Por quê? Precisamos conversar e você pode gostar de ficar bem juntinho de mim. - ergui o queixo e disse fazendo pouco caso:
- Luka sou eu, seus joguinhos não funcionam comigo. Poupe-se para as suas fãs, que não tiram os olhos de nós, parecem hienas famintas pela sua carcaça. – seus olhos se fecharam em duas fendas e ele falou irritado:
- Vem comigo agora! – segurou minha mão com força e praticamente me arrastou para fora do salão, fomos até um corredor próximo, quando ele parou e me encostou na parede fria e me beijou. No começo eu ainda lutei, mas ele segurava meu rosto entre suas mãos e aos poucos fui cedendo. Após alguns beijos, ele se afastou um pouco e disse olhando nos meus olhos:
- Diz que você não sente nada quando te beijo. Que esta tremedeira é porque você está com frio e que eu não te atraio. – nunca o vi tão sério em toda a minha vida, sentia-me estranha, desviei os olhos e não respondi, então ele voltou a me beijar, e depois disse:.
- A vida toda eu gostei de você Milla, mas você é tão cabeça dura...
- Eu sou cabeça dura? Você é que sempre foi um presunçoso convencido... – comecei a falar irritada e ele me beijou bruscamente, e eu esqueci o que ia dizer. Quando abri os olhos embaçados, ele me olhava sorrindo:
- Já que vamos começar a brigar, será que pode ser como namorados?- sorri.
- Pode Luka, só desta vez, eu vou deixar você ganhar esta discussão. - rimos e tornamos a nos beijar.

You followed your heart
You gave it your best
There's nothin more you can do
Guys like him are like the wind
And you know it's just too bad
They blow in and out again
And never know what they had
When you love someone like that

Um garoto alto e forte observou de longe o casal se beijando apaixonadamente. Saiu por uma porta lateral para encarar a noite fria e não olhou para trás. Algumas coisas quando perdidas não são mais encontradas...

Nota da autora: músicas: Close to you (The Carpenters) e When you love someone like that (Leeann Rymes)

Wednesday, February 13, 2008

Quarta-feira, 13 de Fevereiro de 1999

Era véspera do baile de dia dos namorados que o diretor ia promover e o assunto pelos corredores não era outro senão o que ele estava preparando para a festa. Todos estavam curiosos, pois os trajes peculiares que fomos informados que teríamos que usar já permitiam que idéias um tanto quanto apavorantes passassem pelas nossas cabeças. Mas decidi não pensar mais nisso, ou desistiria de ir.

Caminhava para a aula de educação física com Evi quando o professor de artes, Ivo, nos abordou no corredor. Parecia muito animado e nos entregou uma folha com algumas cifras. Olhei para Evi e ela também parecia não ter entendido.

‘Sr. Wade, você foi maravilhoso no teste em dezembro!’ Ele quase pulava de alegria. Controlei o impulso de rir

‘Obrigado professor. Tenho que admitir que foi divertido’

‘Que bom que achou! Porque não se junta ao nosso grupo? Precisamos de alguém que decore rápido as falas e tenha desenvoltura. O papel de Ren exige isso!’

‘Mas eu pensei que Alexsei seria o Ren’ Evi também parecia compartilhar desse pensamento, pois sua expressão era de espanto ‘Ele se saiu muito melhor do que eu’

‘Deveria ser, mas ele preferiu outro papel’ Deixou escapar um suspiro desanimado, mas logo sorriu outra vez ‘E também, disse que escolheria por duplas e não permitiria trocas. E vocês têm que concordar comigo que não existe química entre ele e Georgia. Preciso de vocês dois no papel principal, preciso de atores que demonstrem ter química! Quero realismo! Por favor, Sr. Wade, vai ser divertido!’

Fiquei parado olhando pra ele sem dizer nada, e dava até pra sentir a tensão, a expectativa da minha resposta. Evi sorria debochada do meu lado, já dizendo que apoiava minha candidatura ao papel. Não tinha certeza se estava fazendo a coisa certa, mas...

‘OK, eu topo’ Disse finalmente

‘Excelente! O teste final é em duas semanas, não posso dar o papel sem que passem pela última audição. Se ensaiarem a música que está nesse papel, não há como se sair mal!’ Olhei para o papel outra vez e notei que era uma música ‘E Não se esqueçam de me convidar para o casamento!’ Piscou sorrindo e Evi corou

‘Não vai haver casamento, só sexo selvagem’ Respondi depressa e ele riu, e senti o peso da mão dela no meu peito ‘EI! Doeu!’

‘Pense antes de falar bobagem da próxima vez então’ Disse zangada, mas logo sorriu ‘Então vai fazer o teste final? Quem diria...’

‘Pois é, o mundo dá voltas’ Olhei para o papel e li o nome da música ‘The Time of My Life... Isso não é daquele filme trouxa?’

‘É sim, adoro esse filme. Só espero que ele não esteja achando que vamos dançar daquele jeito. É impossível’

‘Vamos dar um jeito. O teste final é de portas fechadas, certo? Sem a platéia do outro?’ Ela confirmou com a cabeça rindo e dobrei a folha, guardando na mochila ‘E amanhã? Ainda não aceitou meu convite para ir ao baile’

‘Você ainda não conhece o sentido da palavra “não”?’

‘Conheço, mas ela geralmente vem acompanhada de uma explicação’ Insisti

‘Não acho uma boa idéia, só isso. E também, não somos namorados. Por que iria com você?’

‘Ty não é namorado da Milla e da Annia, e vai com as duas. Não é uma boa idéia por quê? Tem medo de cair em tentação?’ Provoquei. Isso sempre funcionava

‘Não tenho medo de nada’ Me olhou atravessado e ri ‘Se insiste tanto, eu vou com você. Mas não se atrase! Não vou ficar esperando, quero aproveitar a festa desde o começo’

‘Pego você às 19hs’ Fiz uma reverencia para ela passar e continuarmos o caminho e ela revirou os olhos ‘E não se preocupe, não vou me atrasar’


Quinta-feira, 14 de Fevereiro de 1999

‘Sr. Wade, pode me acompanhar, por favor?’ O professor Skoblar me abordou. Já passava das 17hs e ia começar a procurar minha roupa para a festa

‘Não sei o que inventaram, mas eu não fiz nada!’ Me defendi depressa e o professor riu

‘Você não fez nada. Mas o diretor quer falar com você. Por favor, me acompanhe’

Caminhamos apressados até o escritório do diretor Ivanovich e tentava imaginar o que ele poderia querer, mas sem sucesso. Não me lembrava de ter participado de nenhuma brincadeira de mau gosto nas ultimas semanas, não faltava às aulas e participava ativamente de todos os clubes que fazia parte. Não havia uma razão para ser chamado a diretoria, o que começou a me preocupar. Se não tinha motivos dentro da escola, acontecera alguma coisa do lado de fora.

‘Obrigado Marko’ A voz do diretor o trouxe de volta a realidade e percebi que haviam chegado à sala dele ‘Feche a porta ao sair, por gentileza. Sente-se Sr. Wade’

‘Prefiro ficar de pé, se não se incomodar’ Respondi sério. O tom de voz do diretor me deu a certeza que alguma coisa grave estava acontecendo

‘Como preferir. Vou direto ao ponto: seus pais adotivos entraram em contato comigo agora pouco, seu irmão desapareceu’ Eu automaticamente sentei-me na cadeira mais próxima, mas o diretor não deixou que eu interrompesse e prosseguiu ‘O casal que tinha a guarda dele notou que ele havia sumido essa manhã, quando não o encontraram no quarto. Eles já acionaram a policia trouxa para localizá-lo e o irmão de sua mãe solicitou também alguns aurores para ajudarem. Se você quiser ir até lá ficar com eles até que seu irmão seja encontrado, pode ir. Não se preocupe com as faltas, explicarei pessoalmente aos professores e poderá repor as aulas depois’

‘Sim, eu quero ir!’ Minha voz falhou um pouco, mas soava decidida ‘Como faço para chegar até lá? Não tenho autorização para aparatar’

‘Vou solicitar uma chave de portal ao Ministério e um professor irá acompanhá-lo. Vá até sua república arrumar a mochila, sairá em 10 minutos’

Assenti com a cabeça e corri de volta para a Spartacus. Joguei os livros em cima da cama apressado e atirei algumas roupas de qualquer jeito na mochila. Em seguida rasguei um pedaço de pergaminho e com a letra corrida, expliquei em poucas palavras o que havia acontecido. Precisava avisar a Evi que não poderia mais ir à festa, não podia sumir sem avisar ou ela ficaria chateada. Nenhum dos meus amigos estava na república para entregar o bilhete e abordei um menino de cabelos cacheados e olhos castanhos que lia um livro sozinho na sala.

‘Ei, você!’ Corri até o menino e ele abaixou o livro ‘Conhece a Evangeline Parvanov? Ela é do 6º ano, da Berkana, mora na Avalon’ O garoto assentiu com a cabeça ‘Ah que ótimo! Pode me favor um favor? Entrega isso a ela. Não sei onde ela está e estou com pressa, é importante que isso chegue às mãos dela, ok?’

‘Claro, entrego sim. É uma morena, certo?’ O garoto guardou o bilhete no bolso

‘Isso, é uma morena. Como é seu nome?’

‘Dimitri’

‘Ok, obrigado Dimitri’

O garoto voltou a se recostar no sofá e sumiu atrás do livro. Já estava no meio do caminho de volta quando esbarrei com Ty e Victor, mas não parei.

‘Que pressa é essa, Micah?’ Ty falou alto recolhendo a mochila que derrubou

‘Estou com pressa, explico quando voltar!’ Gritei em resposta sem parar de correr

‘Voltar de onde?’ Ouvi-o gritar, mas já estava longe e não votlei para responder. Queria ir embora logo

O diretor já estava me esperando com uma caixa de fósforos na mão e o professor Skoblar estava ao seu lado. Atirei a mochila nas costas e agradeci ao diretor por estar sendo liberado antes de tocar na caixa e senti o corpo sendo sugado. Caímos segundos depois no quintal da casa dos McRoy, que estava cercado de carros de polícia. Connor havia mesmo desaparecido.

Sunday, February 10, 2008

O domingo parecia estar se arrastando. A neve que insistia em cair, embora fraca e dando indícios de que estava em seus últimos dias, desanimava a maioria dos alunos de sair. Já passava das 14hs e eu me encontrava na mesma posição desde que acordei, há poucas horas atrás: os pés na parede, a cabeça na ponta da cama e uma almofada na barriga. As meninas não estavam também muito animadas. Cada uma ocupava sua cama e se dividiam entre ler um livro ou encarar o teto, todas em total silêncio. Clamava por uma salvação do tédio quando a porta do quarto se abriu e a cabeça de Micah apareceu na fresta. Já sorri animada, sabia que ele me tiraria do ócio.

‘Já começaram a criar teias, meninas?’ Disse rindo e todas resmungaram, mas não era possível decifrar o que. Ele se virou para mim ‘Evi, está à toa?’

‘Não, estou muito ocupada tentando calcular a velocidade do vento que passa lá fora’ Respondi sarcástica e sentei na cama ‘Claro que estou à toa, e entediada também’

‘Quer ir comigo até o vilarejo? Preciso te contar uma coisa, vamos conversando no caminho’

‘Claro, vamos sim. Só preciso de um casaco e botas’

Sai depressa da cama espantando o tédio vestindo um casaco e calçando minhas botas e logo já estávamos caminhando pela estrada que levava ao vilarejo. Micah estava esquisito, parecia um pouco assustado, e isso me preocupou. Quando já estávamos longe das repúblicas ele diminuiu o passo e começou a falar.

‘Lembra quando ficamos até tarde da redação do jornal e eu encontrei edições muito antigas com aquelas palavras-cruzadas?’

‘Sim, e lembro também que você cismou que elas soavam estranhas, por serem sempre idênticas’

‘Pois é, eu resolvi investigar elas, queria tirar a duvida, saber se era mesmo paranóia minha ou se tinha razão em suspeitar delas’

‘E chegou a alguma conclusão?’

‘Sim. Eu estava com a razão’ Ele soou orgulhoso por dizer isso e não pude evitar rir ‘Não são simples palavras-cruzadas. São enigmas, de uma sociedade secreta’

‘Como é que é?’ Deixei uma gargalhada escapar ‘Sociedade secreta? Acho que está vendo muito filme trouxa, Micah!’

‘Não estou não, elas existem! As maiores universidades trouxas americanas possuem sociedades secretas, e pessoas famosas já declararam fazer parte de algumas delas. Durmstrang tem o perfil de um lugar que abriga uma’

‘E como você chegou a essa conclusão vasculhando jogos de palavras-cruzadas de 20 anos atrás?’

‘Descobri algumas palavras neles, e sempre conseguia formar frases com elas. As frases sempre faziam sentido, e acho até que me revelaram o nome dela. Reis e Sombras’ Anunciou pomposo e depois riu ‘Ridículo, não é? Reis e Sombras... Quem se auto-intitula assim?’

‘Pessoas que não tem mais o que fazer, sem duvida’ Ri do nome, e já estava curiosa ‘E o que mais descobriu, Clark Kent? Algum membro famoso?’

‘Não descobri nome nenhum ainda, mas tem edições de alguns anos atrás que abordam a suspeita de uma sociedade secreta aqui. Eu não fui o primeiro a desconfiar. Em 1986 um redator conseguiu uma foto do que poderia ser um grupo dessa sociedade. Pessoas com capas e máscaras carregando tochas e alguns garotos com os olhos vendados. É impossível identificar qualquer um deles, mas sem duvida era parte do ritual de iniciação’

‘Você pesquisou bem!’ Estava espantada com a quantidade de informação que ele havia coletado ‘Tem alguma suspeita de membros dessa tal sociedade? O tipo de pessoas que eles admitem?’

‘Suspeito de alguns sim, mas não posso provar nada, então acho melhor não dar nome aos bois, ao menos por enquanto. Vou pesquisar mais um pouco, tentar encontrar o autor daquela foto’

‘Tem alguma coisa te incomodando nisso tudo, não é?’ Parei de caminhar quando chegamos à porta da sorveteria e ele me encarou ‘O que se esqueceu de me contar?’

‘Sabe quando você tem a sensação de estar sendo seguido, vigiado?’ Falou olhando para os lados e abaixando a voz ‘De que cada passo que você dá pelo menos dez pares de olhos acompanham?’

‘Sei, porque é assim que me sinto nas férias, em casa’ Revirei os olhos lembrança da vigilância constante que meu pai faz

‘Pois é, estou com essa sensação desde que comecei a pesquisar a sociedade’

‘Talvez esteja irritando as pessoas que fazem parte dela. Se a sociedade é secreta, não quer ser descoberta, certo? Acho que seria bom você parar, isso pode acabar mal’

‘Mas não tenho pretensão alguma de expor nada e nem ninguém, só quero descobrir a verdade’ Ele deu de ombros e abriu a porta da sorveteria para eu passar ‘E também, isso não é um filme. O que pode me acontecer se descobrir a identidade de algum membro dela?’

Minha expressão era de preocupação, mas ele estava tão seguro de que nada poderia acontecer que resolvi deixar pra lá. A sorveteria estava lotada, apesar do frio. Estava com uma novidade que eram uns iogurtes congelados e estava fazendo o maior sucesso. Encontramos um lugar menos tumultuado perto do balcão e tentamos ser atendidos, mas em vão.

'Evi, não comente isso que lhe contei com ninguém, ok?' Disse quando fechou a porta, soando preocupado outra vez 'Vamos manter somente entre nós dois, ao menos até que eu tenha certeza de alguma coisa'

'Não se preocupe, não vou contar a ninguém' Olhei para os lados e fiz uma careta ‘É impossível andar aqui, está cheio demais! Por que só aquele lado de lá anda?’

‘É a fila da prova’ Respondeu esticando o pescoço ‘Estão experimentando os sabores para decidir qual comprar. Acho que o único jeito de provamos isso é entrando naquela fila’

‘Comer de graça?’ Perguntei espantada e ele riu ‘Quem faz isso? Fica provando coisa de graça só pra não pagar?’

‘Muita gente faz, mas você não, claro. Você é certinha demais pra isso. Não suportaria ver as pessoas reclamando de você por prender a fila’ Provocou

‘Não sou certinha! Só acho isso errado, algum problema?’ Cruzei os braços o encarando e ele riu mais ainda ‘Sou perfeitamente capaz de fazer isso!’

‘Ah é?’ Debochou ‘Pois prove então! Vá até lá e prove todos os sabores de graça, ignorando as pessoas revoltadas’

Descruzei os braços me sentindo ofendida e marchei até o outro lado da sorveteria, Micah atrás de mim. Encostei-me no balcão e pedi para provar o primeiro sabor. Depois pedi mais um, e mais outro, até que já estava no 9º sabor. O atendente começava a se irritar e as pessoas na fila não paravam de protestar, mandando que eu saísse. Micah não saia do meu lado.

‘Agora eu quero o de pistache’ Falei sem encarar o atendente

‘Os iogurtes estão à venda, sabia?’ Disse irritado, enchendo o potinho de iogurte verde

‘Eu não consigo fazer isso, Micah!’ Virei aflita para ele. Estava odiando as pessoas fazendo queixa de mim

‘Não, não, eu estou orgulhoso de você!’ Disse agarrando meu braço e sorrindo ‘Você precisa se soltar mais, e essa é sua 1ª oportunidade! Você já provou 9 sabores!’

‘10, com o de pistache são 10!’ Respondi tremula quando ele me virou para o balcão outra vez. O atendente já estava com a mão estendida e cara de poucos amigos

‘Aqui está. A fila está grande e preciso atender os outros. Qual você vai levar?

‘Nenhum. Nenhum’ Micah sussurrava no meu ouvido

‘Eu não posso fazer isso! Não é certo!’ Exclamei nervosa

‘Evi, eu não achava q você chegaria ao 2º iogurte e você pediu 10! Você pode fazer isso, eu sei que pode! Você entrou aqui como um alce, e vai sair como uma cretina, idiota, odiada pela fila toda! Você é o meu orgulho!’

‘Isso mesmo, eu posso!’ Virei para o vendedor outra vez, decidida ‘Estou satisfeita!’

O atendente bufou irritado e demos de costas para ele, saindo da sorveteria. Quando paramos do lado de fora, precisei me escorar na parede para não cair. Minhas pernas tremiam. Micah ria alto e depois acabei rindo também. Não estava acostumada a ter pessoas fazendo queixa de mim, me achando uma idiota, mas tinha que admitir que a sensação era excelente. No fim das contas, Micah tinha razão: preciso me soltar mais...

Friday, February 08, 2008

A reunião no DQC estava bem animada, mas parecia que a única pessoa que não, participava da animação era Milla. Ela olhava a tudo e todos com uma expressão aérea, e tinha o nariz avermelhado. Cheguei perto e a ouvi espirrando:
- Atchim!
- Saúde! É isso que dá criança tomar friagem.- zombei.
- Deixa de ser bobo, aqui tem muita poeira. - e ela olhou para os lados de Iago e ele continuava sério conversando com os jogadores do time principal e Luka estava com eles, após algum tempo a reunião se encerrava e começamos a voltar para as repúblicas.
Na saída do clube uma garota esperava pelo Luka e MiIla franziu os olhos para a cena, mas quando Maria Zagrev, uma garota popular da turma do Iago apareceu e pegou no braço dele, Milla pareceu mudar.
- O que eles vêm nelas?- ela perguntou baixo, parecia falar com ela mesma.
- São garotas legais. - e ela me olhou séria:
- Você já andou com elas não é?? – ergui os ombros e ela bufou quando ofereci o braço:
- Homens! – mas segurou em meu braço enquanto andávamos de volta para a república.
Em dado momento vimos quando os rapazes eram beijados pelas garotas e Milla estacou. De repente se virou para mim e disse:
- Ty, me beija?
- Hã?
- Quero que me beije e logo.
- Enlouqueceu?
- Não. E beija logo ou vou pensar que você não é homem o bastante. – provocou e eu para variar não pensei muito, a puxei e beijei.
Após algum tempo, nos soltamos e nos encaramos.
- Er... Hum... Como foi?- perguntei.
- Foi... É... Como beijar meu irmão. Desculpa. - ela respondeu:
- Uffa! Parecia que eu estava beijando a Sophia. - suspirei aliviado e ao nos encararmos começamos a gargalhar, olhei para os lados vi que iago havia sumido e Luka nos olhava carrancudo. Continuamos a andar de volta para nossas repúblicas:
- Ty?
- Humm?
- Você beijou mesmo a Sophia?
- Sim, ela queria aprender a beijar e fez um sorteio entre os primos, não queria passar vergonha com o garoto que ela estava a fim. Acho ensinei bem, ela até enganou o Moe. – rimos.
- Milla?
- Quê?
- Porque você quis me beijar? Não foi pelo meu encanto natural. – brinquei.
- Quero saber o que há de errado comigo. – percebi que ela estava chateada e disse:
- Milla, você precisa resolver as dúvidas que você tem. Na hora que souber o que quer tudo vai ficar mais fácil.
- E se a escolha não depender só de mim? Iago nem me olha mais e o jeito que aquela garota o segurou... E...- ficou calada.
- Tenta entender o lado dele, Milla...
- E eu Ty? Quando alguém vai entender “o meu lado”? Quando alguém vai fazer o que for preciso para que eu seja feliz??- desabafou e seus olhos se encheram de lágrimas.
Droga, odeio quando uma garota chora. Dei-lhe umas palmadinhas na mão e disse para confortar:
- Acho que as coisas não são só branco e preto não é? Imagino que quando você souber o que ou quem você quer ninguém vai te segurar. – ela fungou e respondeu:
- Obrigada Ty, você é um bom amigo.

República Spartacus, naquela mesma noite...

Luka veio na minha direção e me apontou um dedo acusador quando fechei a porta da república após deixar Milla na Avalon:
- Você foi longe demais...
- Não sei do que você esta falando...
- Você beijou a Milla...
- E o que você tem a ver com isso? Cuide da sua vida. – devolvi.
- Ela não é para o seu bico.
- Olha aqui, está tarde e eu estou cansado, então vou dizer uma coisinha, só pela... “Harmonia da casa”: Ela não é a sua namorada, e ELA quis me beijar. Já pensou que talvez ela queira alguém de um nível mais elevado que o seu? – ele ficou parado me encarando.
- Não acredito que ela quis beijar você.
- Acredite no que quiser. Se tiver mais dúvidas, ligue amanhã para o atendimento ao cliente. - e esbarrei nele de propósito quando subi para meu quarto, deixando Ivanov mastigando a língua irritado.

Dia seguinte...

-Ty não acredito no que você fez. – disse Micah pasmo.
- É, nem eu.
- O Yéti vai te matar. Se fosse comigo eu te mataria...
- Eu sei. Até eu acordei pensando em poupar o trabalho dele, seria menos doloroso.
- Falando no diabo... Ele vem fumegando.
Fiquei olhando para Iago se aproximando com uma cara muito zangada, e me preparei. Ele chegou e me deu logo um soco que jogou minha cabeça para trás e me deixou zonzo, vendo estrelas. Levei a mão ao queixo enquanto ele dizia irritado, com os punhos fechados, eu não iria reagir:
- Como você pôde fazer isso?
- Da mesma forma que você a ignorou e depois exibiu a sua amiga na cara dela. Achou que ela ia aceitar isso bem? Acorda Iago, é a Milla. Pow! Até o Ivanov exibiu uma figurinha nova. Ela ficou doida, queria saber o que vocês viam naquelas meninas, e perguntou se eu seria homem o bastante para beijá-la.
- Mas você não podia fazer isso. Você sabe que eu...
- Que você???- insisti e ele ficou quieto, não admitindo o que estava na cara e eu disse:
- Cara, foi como tomar um remédio sabe? Algo que a gente faz às vezes e passa, não deixa lembrança. Ela se sentiu da mesma forma.
- Achei que fosse meu amigo.
-Eu sou seu amigo e vou te dizer uma coisa: Se você gosta dela, esqueça o que houve antes. Ela falou algo sobre quando vão fazer o que ela quer, para ela ser feliz. (vi que ele ficou desconfortável). Acho que ela ainda gosta de você, e sinceramente não sei o que você fez ou deixou de fazer para deixá-la tão cheia de dúvidas assim. Se for o caso procure uma terapia de casal, pule de pára-quedas, mas faça alguma coisa. Vocês ainda podem ficar juntos.
Iago após algum tempo, disse:
- Não sei... Preciso pensar um pouco mais. – olhei para Micah e ele sinalizou que não adiantava insistir. Voltei a encara-lo e Iago disse:
- Acho que peguei um pouco pesado...
- Esquece! Eu mereci.
Quando chegamos ao castelo, Iago foi para as aulas dele do outro lado do castelo, mal ele virou um corredor, olhei para Micah e avisei:
- Vou até a enfermaria.
- Está doendo tanto assim?- Micah perguntou:
- Preciso de um feitiço para fixar os dentes, acho que estão moles.
Ouvi Micah rindo às minhas costas e me chamando de louco, só espero que esta minha “loucura” resulte em algo bom.

Sunday, February 03, 2008

Previously on Vina's: Um beijo em outra boca. O desejo de vingança e diversão. O NÃO de um segurança. Cinco amigas, nenhuma opção, e a teimosia.

Brincadeiras à parte...

°°°

- O excesso de ingestão de álcool pode causar oclusão vascular, arritmias, cirrose hepática, câncer gástrico ou intestinal E síndrome alcoólica fetal...em mulheres grávidas. – Lavínia enumerou um pouco tonta, e deu mais um grande gole na garrafa de whisky de fogo que estava em sua mão. Ao seu redor, suas amigas a escutavam com atenção, cada uma com uma garrafa já pela metade.

- Ainda bem que nenhuma de nós está grávida, não é? – Milla completou e Nina riu parecendo amargurada. – E se querem saber a minha opinião... – ela começou levantando a garrafa ao nível dos seus olhos, analisando – acho que o álcool faz muito bem. Ele não trai, não é falso, não nos julga. É nosso amigo.
- Sem contar que não tem um sorrisinho sonso e dois braços de polvo. Ele é como é. – Nina completou.
- Isso. Apoiado, Nina. Apoiado. – Evie disse empolgada e deu um beijo na garrafa dela. Annia riu levantando um brinde.
- Um brinde à nossa amizade, e ao whisky de fogo!

Brindaram. Graças ao nível alcoólico no qual já estavam expostas, nenhuma delas parecia notar a cena peculiar na que se encontravam: no meio da praça do pequeno vilarejo ao lado do Instituto Durmstrang. Não nevava, mas fazia um frio descomunal, e ao redor, tudo estava quieto e silencioso.

- Estou desconfortável. – Nina falou se remexendo e levantando. Conjurou uma poltrona macia para si mesma.
- Caramba, Nina! Onde você aprendeu a conjurar poltronas assim? – Annia perguntou assombrada e Nina sacudiu os ombros. Em seguida, conjurou mais quatro idênticas, e todas se acomodaram.
- O que acham de acendermos uma fogueira? – Milla perguntou animada, mas não esperou a resposta de ninguém. – ‘Incendio’. Bem melhor.
- Poderíamos viver aqui. – Evie falou sorrindo e todas concordamos. – Quem precisa de um show idiota se tem essas poltronas?
- ♪ Drink up, me hearties, yo ho ♪ - Lavínia começou cantarolando, e logo todas já estavam entoando várias outras músicas. Seria uma noite longa.

°°°
Várias horas já haviam passado, e algumas garrafas jaziam vazias no chão. Evie, Milla, Vina, Annia e Nina já haviam cantado todo o seu estoque de músicas, e até improvisado uma adedonha. Agora, porém, estavam absortas em outros assuntos...

- Josh diz que não existe amizade entre homem e mulher. É tão machista! – Evie lembrou divertindo-se.
- E Victor tem uma cueca com desenhos de hipógrifos. É ridícula, mas ele adora. – Foi a vez de Lavínia dizer, e ali do lado, Nina cuspiu o gole de cerveja amanteigada no chão.
- Ridículo é o pijama que o Michael tem! As calças já batem no tornozelo, e é todo grudado no corpo. Chris disse que ele tem aquele pijama desde os 8 anos de idade, e recusa a se desfazer. – ela riu alto.
- E John coleciona latinhas de cerveja trouxa. – Annia acrescentou com um tom distante e todas rimos. – Tem várias prateleiras.
- Não se preocupe, Annia. Isso é até aceitável. Vocês tinham que ver a quantidade de álbuns de figurinhas que Iago coleciona! É inacreditável! Os olhos dele chegam a brilhar... – Milla falou pensativa.
- Será que nunca crescem? – Lavínia perguntou olhando o céu cinza claro. O pensamento longe. Nenhuma das amigas respondeu.
- O que será que eles estão fazendo agora? – Evie perguntou após uns minutos de silêncio. O dia já estava claro.
- Devem estar bolando teorias sobre onde estamos agora, e o que estamos fazendo. – Milla respondeu. – E eles que disseram que não conseguiríamos nos divertir, hein?
- Desocupados. Estamos nos divertindo à beça! – Nina falou com convicção e as outras concordaram.
- Estamos. Mas se contarmos que passamos a noite inteira sentadas em uma praça, bebendo, eles vão rir. Precisamos encenar... – Annia falou e todas se endireitaram em suas poltronas. Annia tinha um sorrisinho cínico no rosto. – Temos que tomar providências para que pensem que passamos a noite na boate, com outros homens. Como eles fizeram.
- E como vamos fazer isso? - Vina perguntou.

Elas se entreolharam um segundo, e logo começaram o ritual. Borram maquiagens, amassam os cabelos, despem algumas partes de roupas. Quando terminaram, caíram na risada. Uma analisando a outra.

- Poderíamos ter pimenta... – Milla disse rindo. – Assisti isso em um filme. A moça esfregou pimenta nos lábios e eles ficaram inchados.
- Nossa. Isso é perigoso! – Vina disse assustada e todas riram novamente. Estavam tão distraídas que nem perceberam uma nova companhia...
- Então... ainda estão por aqui? – era uma voz grossa, de homem. Pararam de rir e olharam temerosas para um homem moreno e forte que se aproximava. Reconheceram o segurança da boate. Nina bufou.
- Se tivesse nos deixado entrar, não estaríamos AQUI, não é? – ela falou desafiadora e o homem sorriu olhando para todas elas, e delas, para as garrafas de whisky e cerveja vazias no chão. – Já amanheceu. Não acham que está na hora de voltarem para a escola? Daqui a pouco essa praça ganha movimento e pode parecer bastante suspeito, cinco meninas, cinco poltronas, e muitas garrafas de bebida, bem aqui no meio.

Elas olharam ao redor pela primeira vez e perceberam os fatos. O homem manteve seu sorriso.

- Posso acompanhá-las até o castelo, se me permitirem... – ele ofereceu prontamente, e após mais uma troca de olhares, elas sorriram marotas, aceitando.

O caminho de volta para Durmstrang foi divertido. Nicolau tentava aparar os passos de todas elas, que riam abertamente e falavam alto. Quando chegaram ao castelo, o homem parou. Ali perto, nas Repúblicas, elas sentiram alguns pares de olhos em cima delas, e sorriram satisfeitas. De uma a uma, se despediram do acompanhante com abraços e beijos no rosto.

- Foi um prazer te conhecer, Lalau. – Vina falou com voz provocante e o homem riu.

Se adiantaram alguns passos. Os meninos nas Repúblicas ainda as acompanhavam pelas janelas.

- Obrigado por ficar de olho nelas por nós, Pantera Negra! – Micah gritou da janela da Spartacus, quando o homem começava a se retirar. Nicolau acenou para ele.
- Novas meninas essa semana. Show novo na boate. Apareçam por lá. – Nicolau disse sorrindo e as cinco meninas pararam, estupefatas. Olharam de Micah para Nicolau, sem acreditarem.
- Cabeça erguida. Sorriso satisfeito. Vamos voltar para a República AGORA. – Nina cochichou baixo, parecendo histérica, e sem descerem dos saltos, elas seguiram seus caminhos e entraram na Avalon, arrasadas.

N.A.: Texto idealizado por três cabeças (Eu, And e Ju), e escrito por quatro mãos (Eu, And). Ju e Lore, se quiserem fazer qualquer alteração, mandem um depoimento no meu orkut, ou uma mensagem no meu msn. (Você está engraçadinha hoje, Tandi. Dormiu com o Bozo? Não. É carnaval e eu estou presa em casa, com chuva, e uma baita inveja da Ju. Capiche?)

Saturday, February 02, 2008

- [...] não deixe de beijar o seu amor, amante, namorado ou namorante, não importa. Um beijo diz muitas coisas que não dariam escritos nesse texto. Mas é bom lembrar que um beijo é um “lacre” de um tempo que está sendo vivido ou que foi vivido. Sela um documento que tem valor e não um simples ato que nada vale. Beijar é bom mesmo, daí as belas histórias que ficaram em nossas fantasias como a da “Bela Adormecida”! E quem não gostaria de ser despertado por um príncipe? – Lavínia fez vômito e atirou a “Bruxa Atrevida” para longe, mal-humorada. – O que me deixa impressionada é o fato de Annia ter aprendido TANTO, lendo essas porcarias.

Evie, Milla e Nina riram concordando. Annia meramente levantou os olhos do livro de Literatura Mágica, e secou Lavínia. Durmstrang estava coberta de neve e ninguém se animava a sair das Repúblicas, mesmo sendo sábado.

- Será que vocês podem parar de estudar um pouquinho? É sá-ba-do! – a menina disse angustiada. Annia fechou o livro, paciente.
- O que está acontecendo, Vina? Você certamente está com algum problema. Estamos todas encrencadas com o relatório da Mira, e eu pensei que você seria a mais desesperada. Não. Você está agoniada com outra coisa, isso sim. O que foi?
- Problema algum. Só não quero gastar todo o meu final de semana trancada aqui dentro! – falou entediada. Evie girou os olhos.
- Como se tivéssemos outra opção. – respondeu riscando algumas palavras no pergaminho que tinha no colo.
- Temos, Evie. Por que não vamos até o vilarejo tomar um chocolate quente? – sugeriu. Suas amigas se entreolharam desanimadas. – Vamos? Vamos?
- Por que você não vai com Ricard? – Nina perguntou olhando pela janela, e depois para Vina.
- É muito mais fácil eu tirar vocês quatro daqui de dentro, nuas, do que arrastar Ricard comigo até o vilarejo com um tempo desses!!!
- Não acho, Vina. Ricard acabou de sair da Osíris, e pelo jeito, não está indo em direção ao castelo... – Nina avaliou e Lavínia se levantou apressada correndo até o guarda-roupa para apanhar mais um casaco e par de luvas.
- Vocês estão me devendo um chocolate quente! – disse antes de correr em direção à porta do quarto.
- Nos cobre quando o tempo estiver melhor, e não tivermos um relatório como esse pra fazer! – Milla gritou assim que a menina saiu desabalada.

Enfrentou dificuldades para correr furando a camada de gelo do chão, mas dois minutos depois, avistou Ricard adiante.

- Ricard! Me espera. – o garoto parou olhando para trás. Ela o alcançou. – Por que não disse que ia até o vilarejo?
- Por que moramos em repúblicas diferentes e eu não estava com nenhum ânimo de sair da minha e ir até a sua só para “avisar que vou comprar penas novas no vilarejo”. – ele recomeçou a andar e a menina o seguiu. – Tudo bem?
- Estou entediada. As meninas estão fazendo o relatório da Mira, mas eu dei uma boa adiantada nele ontem à noite. Não queria ficar presa o dia todo na república. Está mesmo só indo comprar penas novas? – ela perguntou levantando os olhos.
- Também tenho que comprar tinteiros novos. – ele falou sacudindo os ombros e a menina riu. – Não é um passeio interessante. Por que não volta para a República e mais tarde eu passo lá para terminarmos o relatório juntos?
- Está me dispensando, Ricard?
- Não, Lavínia. Só estou dizendo que não vai ser realmente prazeroso ir comprar penas nesse frio.
- Como se fazer um dever em plena noite de sábado fosse uma opção interessante, não é? Você ouviu alguma coisa do que eu disse sobre estar entediada?

Haviam chegado no vilarejo. A loja de penas e tinteiros ficava na Avenida Principal, mas Ricard tomou um caminho diferente, por uma ruazinha. Lavínia parou de andar.

- A loja é por ali. Esqueceu? – ela disse rindo e virando as costas pra pegar a Avenida. Ricard prendeu seu braço, parecendo pálido.
- Não. Mas podemos caminhar um pouco, não é?
- Não foi você mesmo que disse que era uma chatice? Vamos pelo caminho mais rápido e então podemos tomar um café, ou qualquer coisa quente.
- Vamos por aqui! – Ricard insistiu nervoso, a menina riu.
- Não estou a fim de me perder por essas ruas, Ric. – ela puxou a mão dele e o saiu arrastando até a Avenida. – Até parece que você está com medo de entrar aq...

Não completou a frase. No instante em que avançaram pela Avenida Principal, seus olhos pararam em uma cena que fez seu sangue congelar. Do outro lado da calçada, Victor estava beijando uma menina.

- Se acalme... – Ricard pediu colocando a mão em seu ombro. A menina se livrou.
- Por isso você não queria que eu viesse, não é? Queria que pegássemos outro caminho. Para me poupar?
- É. Para te poupar. Victor gosta de você, de verdade. Ele está sendo infantil. Acha que vai te esquecer se sair com outras garotas...
- Me poupe você, Ricard. Não vem com esse papo. Se ele REALMENTE gostasse de mim, não estaria engolindo a cara daquela...menina. – Lavínia respirou fundo e começou a voltar para Durmstrang, andando depressa. Ricard a seguiu. – Sabe que ele está ficando bom nisso? Quero dizer: já aprendeu a ser cafajeste. Me beijou naquela noite e fingiu que eu estava louca no outro dia. Falso. Cínico. Não vale nada.
- Espera aí, Lavínia. E se não foi ele? Vocês todas estavam muito bêbadas aquela noite... você pode ter confundido ele com mais alguém?!

Ela parou de andar tremendo de raiva e se virou para o amigo. Mediu as palavras.

- Eu nunca confundiria Victor “com mais alguém”, entendeu? Mas tudo bem. Tudo certo. Tudo isso é para eu aprender a deixar de ser idiota. Ele está seguindo a vida dele, eu vou seguir a minha.
- Do que você está falando?
- Seguir em frente. Não precisa me mostrar o caminho de volta. Vai lá, “comprar suas penas”. – a menina disse seca e seguiu sozinha o resto do caminho.

No matter what you say about life
I learn every time I bleed
The truth is a stranger, soul is in danger
I gotta let my spirit be free
To admit that I’m wrong and then change my mind
Sorry but I have to move on and leave you behind

°°°
Lavínia entrou no dormitório e bateu a porta com raiva, indo direto para sua cama. Deitou, afundou a cabeça no travesseiro e abafou um grito. Suas amigas a olhavam preocupadas. Milla foi a primeira a se levantar e ir até a cama dela, sentando-se na ponta.

- Está tudo bem, Vina?

Por uns instantes, silêncio. Então, aos poucos, Lavínia virou o rosto para as amigas, que agora estavam todas agrupadas do seu lado. Deixou que lágrimas escorressem sem que ela pudesse impedir e contou o que tinha visto no vilarejo.

- Não acredito. – Nina disse chocada após uns minutos.
- Está tudo bem. Acabou. – Lavínia se sentou decidida na cama limpando os olhos.
- O que pretende fazer?
- Vamos sair?
- Vina... o relatório! – Milla disse como se quisesse lembrar a impossibilidade.
- Podemos terminar amanhã. Por favor? Podemos sair, dançar, beber whisky de fogo, conhecer pessoas novas... todas temos motivos para isso! Se lembram do aniversário do Ricard?

As meninas se entreolharam pensando um momento, analisando as chances.

- Você está certa. Estamos nos devendo alguma diversão. Vamos virar a noite! – Evie disse com um sorriso maligno e divertido no rosto e as amigas concordaram.
- Que John não fique sabendo disso... – Annia disse suspirando e abrindo um sorriso maroto logo em seguida.

°°°
- Não podem entrar. Sinto muito. – o segurança que estava na porta da boate abriu os braços barrando Milla, que se adiantava. – Só maiores de idade.
- O quê?... senhor, nós temos mais de 17 anos! – Nina colocou os braços na cintura pronta para discutir, mas não afirmou com bastante convicção. O segurança riu.
- Têm mesmo? Então se importam de passar por essa linha de idade aqui? Tenho absoluta certeza que se forem maiores de idade, nada vai acontecer, certo? – ele disse com simplicidade e elas se entreolharam.
- Você está duvidando? Podemos te derrubar agora mesmo. Somos cinco.– Nina continuou tentando não parecer nervosa, o que divertiu ainda mais o homem, que tinha pelo menos o dobro do peso e da altura dela.
- Bom... então vamos lá. – o homem puxou a varinha de dentro do terno. – Vamos duelar.

Vendo que ninguém se manifestou, e se dando por vencida, Nina abaixou a cabeça com raiva. O homem guardou a varinha.

- Olhem... já estive em Durmstrang e sei como é chato isso de não poder namorar na escola. Até entendo que vocês estejam com raiva, afinal, aqui mulheres só entram se forem maiores de idade, e para os homens é...livre. Querem um conselho? Voltem para a escola e façam uma festa lá. Chamem os amigos. Bebam. Não fica bem para cinco moças tão bonitas e jovens como vocês andando por esse vilarejo, de noite, sozinhas. E os shows que mostram nessa boate não são tão agradáveis assim. Os modelos não são encorpados. – ele deu uma piscada e riu, mas elas continuaram sérias.
- Machista. – Nina disse com raiva e as outras a olharam assustadas. – Está falando isso só por que é homem, e para vocês, os shows são todos liberados. A última coisa que queremos é uma “festinha com os amiguinhos” agora, muito obrigada. Vamos arrumar outro lugar muito melhor que esse aqui. Vamos, meninas.

Nina virou as costas e saiu descendo a rua. Suas amigas lançaram um último olhar ao segurança, que sorriu simpático, então a seguiram quase correndo. Estava muito frio, e não tinham mais nenhuma opção de noitadas para mulheres no vilarejo. Mas uma coisa todas sabiam: não voltariam para Durmstrang antes de o sol nascer.

(Continua no próximo episódio...texto!)

N.A.: Tattoo – Jordin Sparks
Trecho adaptado do texto de Beth Valentim (Bolsa de Mulher).