Wednesday, February 13, 2008

Quarta-feira, 13 de Fevereiro de 1999

Era véspera do baile de dia dos namorados que o diretor ia promover e o assunto pelos corredores não era outro senão o que ele estava preparando para a festa. Todos estavam curiosos, pois os trajes peculiares que fomos informados que teríamos que usar já permitiam que idéias um tanto quanto apavorantes passassem pelas nossas cabeças. Mas decidi não pensar mais nisso, ou desistiria de ir.

Caminhava para a aula de educação física com Evi quando o professor de artes, Ivo, nos abordou no corredor. Parecia muito animado e nos entregou uma folha com algumas cifras. Olhei para Evi e ela também parecia não ter entendido.

‘Sr. Wade, você foi maravilhoso no teste em dezembro!’ Ele quase pulava de alegria. Controlei o impulso de rir

‘Obrigado professor. Tenho que admitir que foi divertido’

‘Que bom que achou! Porque não se junta ao nosso grupo? Precisamos de alguém que decore rápido as falas e tenha desenvoltura. O papel de Ren exige isso!’

‘Mas eu pensei que Alexsei seria o Ren’ Evi também parecia compartilhar desse pensamento, pois sua expressão era de espanto ‘Ele se saiu muito melhor do que eu’

‘Deveria ser, mas ele preferiu outro papel’ Deixou escapar um suspiro desanimado, mas logo sorriu outra vez ‘E também, disse que escolheria por duplas e não permitiria trocas. E vocês têm que concordar comigo que não existe química entre ele e Georgia. Preciso de vocês dois no papel principal, preciso de atores que demonstrem ter química! Quero realismo! Por favor, Sr. Wade, vai ser divertido!’

Fiquei parado olhando pra ele sem dizer nada, e dava até pra sentir a tensão, a expectativa da minha resposta. Evi sorria debochada do meu lado, já dizendo que apoiava minha candidatura ao papel. Não tinha certeza se estava fazendo a coisa certa, mas...

‘OK, eu topo’ Disse finalmente

‘Excelente! O teste final é em duas semanas, não posso dar o papel sem que passem pela última audição. Se ensaiarem a música que está nesse papel, não há como se sair mal!’ Olhei para o papel outra vez e notei que era uma música ‘E Não se esqueçam de me convidar para o casamento!’ Piscou sorrindo e Evi corou

‘Não vai haver casamento, só sexo selvagem’ Respondi depressa e ele riu, e senti o peso da mão dela no meu peito ‘EI! Doeu!’

‘Pense antes de falar bobagem da próxima vez então’ Disse zangada, mas logo sorriu ‘Então vai fazer o teste final? Quem diria...’

‘Pois é, o mundo dá voltas’ Olhei para o papel e li o nome da música ‘The Time of My Life... Isso não é daquele filme trouxa?’

‘É sim, adoro esse filme. Só espero que ele não esteja achando que vamos dançar daquele jeito. É impossível’

‘Vamos dar um jeito. O teste final é de portas fechadas, certo? Sem a platéia do outro?’ Ela confirmou com a cabeça rindo e dobrei a folha, guardando na mochila ‘E amanhã? Ainda não aceitou meu convite para ir ao baile’

‘Você ainda não conhece o sentido da palavra “não”?’

‘Conheço, mas ela geralmente vem acompanhada de uma explicação’ Insisti

‘Não acho uma boa idéia, só isso. E também, não somos namorados. Por que iria com você?’

‘Ty não é namorado da Milla e da Annia, e vai com as duas. Não é uma boa idéia por quê? Tem medo de cair em tentação?’ Provoquei. Isso sempre funcionava

‘Não tenho medo de nada’ Me olhou atravessado e ri ‘Se insiste tanto, eu vou com você. Mas não se atrase! Não vou ficar esperando, quero aproveitar a festa desde o começo’

‘Pego você às 19hs’ Fiz uma reverencia para ela passar e continuarmos o caminho e ela revirou os olhos ‘E não se preocupe, não vou me atrasar’


Quinta-feira, 14 de Fevereiro de 1999

‘Sr. Wade, pode me acompanhar, por favor?’ O professor Skoblar me abordou. Já passava das 17hs e ia começar a procurar minha roupa para a festa

‘Não sei o que inventaram, mas eu não fiz nada!’ Me defendi depressa e o professor riu

‘Você não fez nada. Mas o diretor quer falar com você. Por favor, me acompanhe’

Caminhamos apressados até o escritório do diretor Ivanovich e tentava imaginar o que ele poderia querer, mas sem sucesso. Não me lembrava de ter participado de nenhuma brincadeira de mau gosto nas ultimas semanas, não faltava às aulas e participava ativamente de todos os clubes que fazia parte. Não havia uma razão para ser chamado a diretoria, o que começou a me preocupar. Se não tinha motivos dentro da escola, acontecera alguma coisa do lado de fora.

‘Obrigado Marko’ A voz do diretor o trouxe de volta a realidade e percebi que haviam chegado à sala dele ‘Feche a porta ao sair, por gentileza. Sente-se Sr. Wade’

‘Prefiro ficar de pé, se não se incomodar’ Respondi sério. O tom de voz do diretor me deu a certeza que alguma coisa grave estava acontecendo

‘Como preferir. Vou direto ao ponto: seus pais adotivos entraram em contato comigo agora pouco, seu irmão desapareceu’ Eu automaticamente sentei-me na cadeira mais próxima, mas o diretor não deixou que eu interrompesse e prosseguiu ‘O casal que tinha a guarda dele notou que ele havia sumido essa manhã, quando não o encontraram no quarto. Eles já acionaram a policia trouxa para localizá-lo e o irmão de sua mãe solicitou também alguns aurores para ajudarem. Se você quiser ir até lá ficar com eles até que seu irmão seja encontrado, pode ir. Não se preocupe com as faltas, explicarei pessoalmente aos professores e poderá repor as aulas depois’

‘Sim, eu quero ir!’ Minha voz falhou um pouco, mas soava decidida ‘Como faço para chegar até lá? Não tenho autorização para aparatar’

‘Vou solicitar uma chave de portal ao Ministério e um professor irá acompanhá-lo. Vá até sua república arrumar a mochila, sairá em 10 minutos’

Assenti com a cabeça e corri de volta para a Spartacus. Joguei os livros em cima da cama apressado e atirei algumas roupas de qualquer jeito na mochila. Em seguida rasguei um pedaço de pergaminho e com a letra corrida, expliquei em poucas palavras o que havia acontecido. Precisava avisar a Evi que não poderia mais ir à festa, não podia sumir sem avisar ou ela ficaria chateada. Nenhum dos meus amigos estava na república para entregar o bilhete e abordei um menino de cabelos cacheados e olhos castanhos que lia um livro sozinho na sala.

‘Ei, você!’ Corri até o menino e ele abaixou o livro ‘Conhece a Evangeline Parvanov? Ela é do 6º ano, da Berkana, mora na Avalon’ O garoto assentiu com a cabeça ‘Ah que ótimo! Pode me favor um favor? Entrega isso a ela. Não sei onde ela está e estou com pressa, é importante que isso chegue às mãos dela, ok?’

‘Claro, entrego sim. É uma morena, certo?’ O garoto guardou o bilhete no bolso

‘Isso, é uma morena. Como é seu nome?’

‘Dimitri’

‘Ok, obrigado Dimitri’

O garoto voltou a se recostar no sofá e sumiu atrás do livro. Já estava no meio do caminho de volta quando esbarrei com Ty e Victor, mas não parei.

‘Que pressa é essa, Micah?’ Ty falou alto recolhendo a mochila que derrubou

‘Estou com pressa, explico quando voltar!’ Gritei em resposta sem parar de correr

‘Voltar de onde?’ Ouvi-o gritar, mas já estava longe e não votlei para responder. Queria ir embora logo

O diretor já estava me esperando com uma caixa de fósforos na mão e o professor Skoblar estava ao seu lado. Atirei a mochila nas costas e agradeci ao diretor por estar sendo liberado antes de tocar na caixa e senti o corpo sendo sugado. Caímos segundos depois no quintal da casa dos McRoy, que estava cercado de carros de polícia. Connor havia mesmo desaparecido.