Baile do dia dos namorados...
‘Posso dançar com você?’
Olhei para o lado surpresa, reconhecendo aquela voz, e segurei sua mão. Dimitri me conduziu até o meio do salão e fazia isso com tanta firmeza que até me espantei. Ele sempre foi tímido, solitário, raramente o via conversando com outras pessoas que não fossem Max e eu, mas desde que voltamos para Durmstrang em Setembro venho observando certas mudanças. Dimitri agora estava mais confiante, seguro, sua postura passou de garoto retraido para alguém com atitude e nunca mais o vi sozinho pela escola, estava sempre ladeado de mais 5 garotos de sua idade que pareciam segui-lo para todos os lados e obedecer aos seus comandos. Era estranho, não nego. Mas o que quer que tenha acontecido, fez bem a ele.
‘O que deu em você?’ Impliquei ‘Nunca gostou de dançar’
‘Com a minha irmã eu danço’ Respondeu me girando ‘Ainda mais se ela está sem acompanhante, não posso deixá-la sozinha’
‘Não sei o que aconteceu com você, mas estou gostando das mudanças, Di’
Ele sorriu satisfeito e continuamos dançando por mais algum tempo, até que decidi sentar um pouco e ele tirou uma menina da sua turma para continuar. Já estava cansada de dividir o braço do Ty com mais 3 pares de mãos e fiquei na mesa observando os casais dançarem. Estava tão concentrada que não percebi quando pararam ao meu lado.
‘Olá’ A voz do garoto ao meu lado me tirou do transe e ele sorria pra mim ‘Está guardando essa cadeira para alguém?’
‘Não, pode sentar’
‘Cafoninha a decoração, não?’ Disse sentando ao meu lado e ri
‘As intenções foram as melhores’
‘Quais intenções? De nos levar de volta a 1950? É, tarefa cumprida’ Ri outra vez e ele ficou sério ‘Estou brincando, o baile está ótimo. Não é muito moderno, mas sei que o diretor Ivanovich se esforçou’ Ele estendeu a mão para mim e sorriu outra vez ‘Derek Stankovich’
‘Evie Parvanov’ Respondi apertando e ele sorriu
‘Eu sei, você é do jornal. É namorada do Wade, certo?’ Meu sorriso evaporou no mesmo instante
‘Não sou namorada dele. Se fosse, ele estaria aqui comigo, não é mesmo?’
‘Desculpe, não quis te ofender. É que é isso o que as pessoas acham e comentam’
‘Pois elas estão erradas’
‘Se ele não é seu namorado, então quem é? Porque não vou acreditar se me disser que não tem um. É bonita demais para estar sozinha’
‘Se vai me convidar para dançar, não fique fazendo rodeios’
Ele sorriu e ficou de pé, estendendo a mão para mim. Não pensei duas vezes e segurei. Precisava salvar aquela noite...
~*~*~*~*~
Depois que fiquei com Derek no baile, meu humor havia melhorado significativamente. Além de não me tratar como um garoto, tinhamos alguns gostos em comum. Ele era do 7º ano da Mannaz, fazia parte do jornal da escola e apesar de não ser do grupo de teatro, conhecia mais peças do que eu. Mas não estavamos namorando. Gostávamos um do outro, mas apenas saíamos de vez em quando. Depois de tanto tempo com Josh, tudo que não precisava era de um namorado na mesma escola, 24hs por dia atrás de mim. Funcionava melhor desse jeito.
Já haviam se passado 4 dias desde que Micah havia desaparecido. Ninguém sabia onde ele estava ou porque saiu apressado sem se preocupar em avisar, e chegamos a conclusão que notícia ruim sempre corre depressa, logo, ele estava bem. Apenas não tinha consideração pelas pessoas que gostavam dele.
Saí exausta do teatro na noite de segunda, já cansada de responder que não sabia onde Micah estava, e tudo que queria era desmaiar na cama. Mas não foi exatamente o que aconteceu. Com exceção de Milla, já estavam todas dormindo quando cheguei. Já estava confortável enrolada no cobertor e tinha deitado há menos de 5 minutos quando ouvi a porta abrir. Sem me mexer, vi pelo espelho que era Micah. Continuei imóvel, como se estivesse dormindo. Ele olhou na direção da minha cama e sentou na da Milla.
‘Onde esteve, Micah?’ Ouvi Milla sussurrar ‘Estávamos preocupados!’
‘Como assim? Evi não leu meu bilhete pra vocês?’ Tentei não me mexer na cama, mas prestei mais atenção quando ele soou surpreso por ela não saber onde ele estava
‘Que bilhete, seu doido? Evie não sabia também onde estava, foi muito besta você insistir em levá-la ao baile e furar depois’
‘Mas eu pedi que entregassem um recado meu a ela, justamente explicando que não poderia mais ir e o porquê!’ Ele agora parecia indignado ‘Droga, não acredito que aquele pirralho não entregou! Ótimo, agora Evi está achando que fiz de propósito’
‘Tinha certeza que não faria uma coisa ridícula como essa com ela, mas já estava pensando que tinha me enganado sobre você. Quer fazer o favor de explicar o que aconteceu?’
‘O diretor me chamou no fim da tarde de quinta para avisar que meu irmão tinha desaparecido, não encontraram ele na cama pela manhã. Ele perguntou se queria ir até a Califórnia e tentar ajudar. Não pensei duas vezes e fui, mas antes escrevi um bilhete explicando tudo e como não daria tempo de procurá-los, pedi que um menino que estava a toa na Spartacus que entregasse a Evi. Não lembro o nome, mas lembro bem do rosto. Vou amassar aquela cara de sonso dele quando encontrá-lo!’
‘Ninguém entregou nada a ela, posso garantir isso. Mas e o seu irmão? Já o encontraram? Ele está bem? Foi seqüestro?’
‘Sim, ele está bem, o encontramos no sábado. E não foi seqüestro, ele fugiu’ Micah agora soava cansado e sabia exatamente o que ele contaria a ela ‘Nunca falei nada, mas Connor e eu somos adotados, e temos pais adotivos diferentes. O casal que adotou ele tem outro filho, um ano mais velho. O garoto estava com ciúmes e falou para Connor que ele não era bem vindo na casa, que seus pais o adotaram por pena e que já estavam arrependidos, iam devolvê-lo no dia seguinte ao orfanato. Ele decidiu que era melhor sumir antes que o mandassem embora, e fugiu de madrugada’
‘Mas que garotinho asqueroso! Crianças às vezes sabem ser pior que adultos. Mas pelo menos seu irmão já está bem. Ele voltou para a casa deles?’
‘Voltou, mas foi difícil convencê-lo que o Damon estava com ciúmes e era tudo mentira. Acho que ele não vai querer ficar lá, tenho certeza que vou voltar à Califórnia mais vezes esse ano por causa dele’
‘Talvez não seja bom ele ficar lá. Se o filho do casal não quer, vai transformar a vida do seu irmão em um inferno’
‘É, também acho isso, mas não queria que ele passasse por tudo de novo. Connor já morou em três casas diferentes, não vai suportar ter que passar por todo o processo de adaptação outra vez’ Ele levantou da cama mais cansado do que nunca e jogou a mochila nas costas ‘Bom, cheguei agora e nem desfiz a mochila ainda, só passei aqui porque queria ver se ela estava acordada, mas tento amanhã. Me ajude se ela não quiser me ouvir, ok? Sabe que não tive culpa dessa vez’
‘Pode deixar, eu dou uma forcinha se for preciso. Mas você já aprendeu a domar a fera, vai tirar de letra’
Ouvi os dois rindo e assim que ele saiu do quarto, Milla sumiu debaixo do cobertor e o silêncio reinou outra vez. Dessa vez não tinha argumentos para brigar, e deixaria ele explicar tudo que já ouvi sem problemas. Pela primeira vez, estava feliz por estar errada.