Saturday, February 02, 2008

- [...] não deixe de beijar o seu amor, amante, namorado ou namorante, não importa. Um beijo diz muitas coisas que não dariam escritos nesse texto. Mas é bom lembrar que um beijo é um “lacre” de um tempo que está sendo vivido ou que foi vivido. Sela um documento que tem valor e não um simples ato que nada vale. Beijar é bom mesmo, daí as belas histórias que ficaram em nossas fantasias como a da “Bela Adormecida”! E quem não gostaria de ser despertado por um príncipe? – Lavínia fez vômito e atirou a “Bruxa Atrevida” para longe, mal-humorada. – O que me deixa impressionada é o fato de Annia ter aprendido TANTO, lendo essas porcarias.

Evie, Milla e Nina riram concordando. Annia meramente levantou os olhos do livro de Literatura Mágica, e secou Lavínia. Durmstrang estava coberta de neve e ninguém se animava a sair das Repúblicas, mesmo sendo sábado.

- Será que vocês podem parar de estudar um pouquinho? É sá-ba-do! – a menina disse angustiada. Annia fechou o livro, paciente.
- O que está acontecendo, Vina? Você certamente está com algum problema. Estamos todas encrencadas com o relatório da Mira, e eu pensei que você seria a mais desesperada. Não. Você está agoniada com outra coisa, isso sim. O que foi?
- Problema algum. Só não quero gastar todo o meu final de semana trancada aqui dentro! – falou entediada. Evie girou os olhos.
- Como se tivéssemos outra opção. – respondeu riscando algumas palavras no pergaminho que tinha no colo.
- Temos, Evie. Por que não vamos até o vilarejo tomar um chocolate quente? – sugeriu. Suas amigas se entreolharam desanimadas. – Vamos? Vamos?
- Por que você não vai com Ricard? – Nina perguntou olhando pela janela, e depois para Vina.
- É muito mais fácil eu tirar vocês quatro daqui de dentro, nuas, do que arrastar Ricard comigo até o vilarejo com um tempo desses!!!
- Não acho, Vina. Ricard acabou de sair da Osíris, e pelo jeito, não está indo em direção ao castelo... – Nina avaliou e Lavínia se levantou apressada correndo até o guarda-roupa para apanhar mais um casaco e par de luvas.
- Vocês estão me devendo um chocolate quente! – disse antes de correr em direção à porta do quarto.
- Nos cobre quando o tempo estiver melhor, e não tivermos um relatório como esse pra fazer! – Milla gritou assim que a menina saiu desabalada.

Enfrentou dificuldades para correr furando a camada de gelo do chão, mas dois minutos depois, avistou Ricard adiante.

- Ricard! Me espera. – o garoto parou olhando para trás. Ela o alcançou. – Por que não disse que ia até o vilarejo?
- Por que moramos em repúblicas diferentes e eu não estava com nenhum ânimo de sair da minha e ir até a sua só para “avisar que vou comprar penas novas no vilarejo”. – ele recomeçou a andar e a menina o seguiu. – Tudo bem?
- Estou entediada. As meninas estão fazendo o relatório da Mira, mas eu dei uma boa adiantada nele ontem à noite. Não queria ficar presa o dia todo na república. Está mesmo só indo comprar penas novas? – ela perguntou levantando os olhos.
- Também tenho que comprar tinteiros novos. – ele falou sacudindo os ombros e a menina riu. – Não é um passeio interessante. Por que não volta para a República e mais tarde eu passo lá para terminarmos o relatório juntos?
- Está me dispensando, Ricard?
- Não, Lavínia. Só estou dizendo que não vai ser realmente prazeroso ir comprar penas nesse frio.
- Como se fazer um dever em plena noite de sábado fosse uma opção interessante, não é? Você ouviu alguma coisa do que eu disse sobre estar entediada?

Haviam chegado no vilarejo. A loja de penas e tinteiros ficava na Avenida Principal, mas Ricard tomou um caminho diferente, por uma ruazinha. Lavínia parou de andar.

- A loja é por ali. Esqueceu? – ela disse rindo e virando as costas pra pegar a Avenida. Ricard prendeu seu braço, parecendo pálido.
- Não. Mas podemos caminhar um pouco, não é?
- Não foi você mesmo que disse que era uma chatice? Vamos pelo caminho mais rápido e então podemos tomar um café, ou qualquer coisa quente.
- Vamos por aqui! – Ricard insistiu nervoso, a menina riu.
- Não estou a fim de me perder por essas ruas, Ric. – ela puxou a mão dele e o saiu arrastando até a Avenida. – Até parece que você está com medo de entrar aq...

Não completou a frase. No instante em que avançaram pela Avenida Principal, seus olhos pararam em uma cena que fez seu sangue congelar. Do outro lado da calçada, Victor estava beijando uma menina.

- Se acalme... – Ricard pediu colocando a mão em seu ombro. A menina se livrou.
- Por isso você não queria que eu viesse, não é? Queria que pegássemos outro caminho. Para me poupar?
- É. Para te poupar. Victor gosta de você, de verdade. Ele está sendo infantil. Acha que vai te esquecer se sair com outras garotas...
- Me poupe você, Ricard. Não vem com esse papo. Se ele REALMENTE gostasse de mim, não estaria engolindo a cara daquela...menina. – Lavínia respirou fundo e começou a voltar para Durmstrang, andando depressa. Ricard a seguiu. – Sabe que ele está ficando bom nisso? Quero dizer: já aprendeu a ser cafajeste. Me beijou naquela noite e fingiu que eu estava louca no outro dia. Falso. Cínico. Não vale nada.
- Espera aí, Lavínia. E se não foi ele? Vocês todas estavam muito bêbadas aquela noite... você pode ter confundido ele com mais alguém?!

Ela parou de andar tremendo de raiva e se virou para o amigo. Mediu as palavras.

- Eu nunca confundiria Victor “com mais alguém”, entendeu? Mas tudo bem. Tudo certo. Tudo isso é para eu aprender a deixar de ser idiota. Ele está seguindo a vida dele, eu vou seguir a minha.
- Do que você está falando?
- Seguir em frente. Não precisa me mostrar o caminho de volta. Vai lá, “comprar suas penas”. – a menina disse seca e seguiu sozinha o resto do caminho.

No matter what you say about life
I learn every time I bleed
The truth is a stranger, soul is in danger
I gotta let my spirit be free
To admit that I’m wrong and then change my mind
Sorry but I have to move on and leave you behind

°°°
Lavínia entrou no dormitório e bateu a porta com raiva, indo direto para sua cama. Deitou, afundou a cabeça no travesseiro e abafou um grito. Suas amigas a olhavam preocupadas. Milla foi a primeira a se levantar e ir até a cama dela, sentando-se na ponta.

- Está tudo bem, Vina?

Por uns instantes, silêncio. Então, aos poucos, Lavínia virou o rosto para as amigas, que agora estavam todas agrupadas do seu lado. Deixou que lágrimas escorressem sem que ela pudesse impedir e contou o que tinha visto no vilarejo.

- Não acredito. – Nina disse chocada após uns minutos.
- Está tudo bem. Acabou. – Lavínia se sentou decidida na cama limpando os olhos.
- O que pretende fazer?
- Vamos sair?
- Vina... o relatório! – Milla disse como se quisesse lembrar a impossibilidade.
- Podemos terminar amanhã. Por favor? Podemos sair, dançar, beber whisky de fogo, conhecer pessoas novas... todas temos motivos para isso! Se lembram do aniversário do Ricard?

As meninas se entreolharam pensando um momento, analisando as chances.

- Você está certa. Estamos nos devendo alguma diversão. Vamos virar a noite! – Evie disse com um sorriso maligno e divertido no rosto e as amigas concordaram.
- Que John não fique sabendo disso... – Annia disse suspirando e abrindo um sorriso maroto logo em seguida.

°°°
- Não podem entrar. Sinto muito. – o segurança que estava na porta da boate abriu os braços barrando Milla, que se adiantava. – Só maiores de idade.
- O quê?... senhor, nós temos mais de 17 anos! – Nina colocou os braços na cintura pronta para discutir, mas não afirmou com bastante convicção. O segurança riu.
- Têm mesmo? Então se importam de passar por essa linha de idade aqui? Tenho absoluta certeza que se forem maiores de idade, nada vai acontecer, certo? – ele disse com simplicidade e elas se entreolharam.
- Você está duvidando? Podemos te derrubar agora mesmo. Somos cinco.– Nina continuou tentando não parecer nervosa, o que divertiu ainda mais o homem, que tinha pelo menos o dobro do peso e da altura dela.
- Bom... então vamos lá. – o homem puxou a varinha de dentro do terno. – Vamos duelar.

Vendo que ninguém se manifestou, e se dando por vencida, Nina abaixou a cabeça com raiva. O homem guardou a varinha.

- Olhem... já estive em Durmstrang e sei como é chato isso de não poder namorar na escola. Até entendo que vocês estejam com raiva, afinal, aqui mulheres só entram se forem maiores de idade, e para os homens é...livre. Querem um conselho? Voltem para a escola e façam uma festa lá. Chamem os amigos. Bebam. Não fica bem para cinco moças tão bonitas e jovens como vocês andando por esse vilarejo, de noite, sozinhas. E os shows que mostram nessa boate não são tão agradáveis assim. Os modelos não são encorpados. – ele deu uma piscada e riu, mas elas continuaram sérias.
- Machista. – Nina disse com raiva e as outras a olharam assustadas. – Está falando isso só por que é homem, e para vocês, os shows são todos liberados. A última coisa que queremos é uma “festinha com os amiguinhos” agora, muito obrigada. Vamos arrumar outro lugar muito melhor que esse aqui. Vamos, meninas.

Nina virou as costas e saiu descendo a rua. Suas amigas lançaram um último olhar ao segurança, que sorriu simpático, então a seguiram quase correndo. Estava muito frio, e não tinham mais nenhuma opção de noitadas para mulheres no vilarejo. Mas uma coisa todas sabiam: não voltariam para Durmstrang antes de o sol nascer.

(Continua no próximo episódio...texto!)

N.A.: Tattoo – Jordin Sparks
Trecho adaptado do texto de Beth Valentim (Bolsa de Mulher).