Monday, January 28, 2008

- Você conseguiu o que queria, Luka.
- É.
- Karkaroff nem olha para ela, deveria estar comemorando. - Max insistiu.
Max observou calado o amigo por um tempo, e perguntou chocado:
- Ah não... Não me diga que você está gostando dela?
- Não vou dizer... – foi a resposta de Luka e ficou olhando para a garota loira que conversava com as amigas do outro lado do salão principal.
- Vocês não têm nada a ver um com o outro. – comentou Max.
- Mas poderia dar certo, pelo menos por um tempo... Não dizem que os opostos se atraem?
- Definitivamente você está com problemas mentais depois daqueles balaços.
Nesta hora duas garotas da Mannaz passaram por perto, sorriram para eles e continuaram seu caminho. Luka olhou para Max e disse:
- Mas só vou testar esta teoria amanhã. - e ambos riram enquanto iam atrás das garotas.

...E numa arriscada manobra, Kovac da Ansuz, pega o pomo bem debaixo do nariz do apanhador da Mannaz, encerrando a partida: Mannaz 190, Ansuz vitoriosa por 200...

Ecoavam as palavras do locutor enquanto eu dava uma volta pelo campo de braço erguido segurando o pomo de ouro, não demorou desci e no meio do campo o time comemorava. Luka se aproximou e me abraçou junto com os outros, em dado momento sussurrou ao meu ouvido:
- Precisamos comemorar, só nós dois. - E eu respondi baixo:
- Só em seus sonhos. – e ele riu cínico, enquanto recebíamos tapas nas costas dos companheiros de time.
Quando cheguei à república com minhas amigas, havia uma coruja com um ramo de flores lilás me esperando. Não precisava ser gênio para saber quem as havia mandado e acabei sorrindo quando as coloquei num vaso perto de minha cama.

- O que vamos fazer este fim de semana?- perguntou Vina.
- Estudar? Os NIEMS estão chegando... - respondeu Nina olhando para suas anotações sem reparar em nossas caretas de desgosto. Annia disse:
- Eu não vou estar aqui este fim de semana... - ficou vermelha e Evie perguntou fingindo inocência:
- O que você vai fazer que seja mais interessante que estudar como fazer a pedra filosofal conosco??
- Vou passear com John, ele esta vindo para cá e vai ficar na Spartacus. – rimos e nesta hora uma menina do primeiro ano bateu na nossa porta, avisando que eu tinha visitas.
Desci e encontrei Luka com as mãos nos bolsos olhando pela janela:
- Hã... Oi? - cumprimentei e ele se virou com uma cara séria. Já o conhecia o bastante para saber que algo estava acontecendo e perguntei:
- Aconteceu alguma coisa??
- Podemos dar uma volta? – assenti e peguei um casaco para sairmos. Após algum tempo chegamos numa praça do vilarejo e nos sentamos enquanto ele olhava para frente e começou a falar:
- Briguei com meu pai, pela lareira. - explicou.
- Vocês dois sempre discutiram, não pode ser tão sério. Ele ficou bem não? - e um sorriso irônico se formou em sua boca quando respondeu:
- Ele sempre fica bem. Ele quer que eu saia do time principal.
- Mas por quê? Ele sabe que você quer ser jogador de quadribol e isso é importante para você. – respondi.
- Sim, por ser importante para mim ele quer que eu saia. Ele diz que isso vai me fazer perder um tempo valioso, quando poderia estar aprendendo a gerir os negócios da família. Disse que posso ficar no time da escola, porque seria... Como foram as palavras dele:
“Conquistas escolares sempre contam pontos na sociedade”.
- Vocês precisam conversar. – disse simplesmente.
- Ele não vai me ouvir, vai impor sua vontade. Sabe... Algumas vezes penso em fazer como Irina. Arrumar algum trabalho longe de casa apenas para não ficar sob as ordens dele. Porque é só isso o que recebemos dele. Ordens. - disse de cabeça baixa.
Não pude deixar de reconhecer que Luka tinha razão. Tio Mikhail sempre foi autoritário e mesmo quando nos reuníamos, não notava nele, o mesmo carinho com os filhos, que caracterizava meu pai. Era sempre distante e exibia um ar arrogante, como se nos olhasse de cima, só relaxava um pouco quando ele e meu pai começavam a contar coisas de seu tempo de escola, mas quando se falava sobre tia Nadja, ele voltava a ficar sério.
Em uma conversa de meus pais que eu havia ouvido sem querer, papai dizia que a incapacidade de Mikhail para demonstrar amor pelos filhos, o levaria a ficar sozinho, tendo apenas os frios galeões como companhia. Isso era muito triste.
Aproximei-me de Luka e sem que ele pedisse, o abracei. Achei que era o que ele precisava no momento. Ficamos algum tempo assim, e quando começamos a nos afastar, Luka disse:
- Porque veio quando pedi?
- Somos amigos, era o mínimo que poderia fazer. – respondi notando como suas pupilas se dilatavam ao me olhar tão de perto. Bem devagar, ele foi se aproximando e eu fechei meus olhos, quando começamos a nos beijar, mas eu rompi o contato dizendo:
- Está na hora de irmos embora, Luka. Tenho que estudar e você já me parece melhor.
- Porque você não fica comigo Milla?
- Não quero ser mais um troféu na sua coleção.
- Não seria assim, é diferente o que sinto por você.
- Como seria diferente? Sou capaz de dizer o nome de pelo menos duas garotas que saíram com você nestes últimos dias. Isso sem me esforçar muito. Você não leva ninguém a sério. - respondi.
- Você gosta de mim. E está com medo do que os outros possam dizer. - ele disse presunçoso, e me puxou mais para perto.
- Não gosto não... Eu não tenho medo de fofocas. Solte-me Luka, ou sou capaz de arranhar esta sua cara bonita, para demonstrar o quanto “gosto” de você. - disse começando a me irritar.
- Se não gosta nem um pouco de mim, está tremendo porque??
- Não estou tremendo. – menti e me forcei a relaxar. Ele após me olhar nos olhos me soltou bem devagar, dizendo:
- Gostaria que pensasse em nós.
- Não há “nós”.
- Mas pode haver. É só você deixar de ser cabeça dura.
- Eu é que sou cabeça dura?? Você que fica insistindo em bancar o conquistador barato, mandando flores, cartinhas melosas e o pior: bregas...
- Cartinhas bregas??? Elas não são bregas! Saiba que são palavras bonitas que escolho para você, achei que você gostasse. - ele disse indignado.
- Pois saiba que não gosto, e está perdendo o seu tempo e o meu. E algumas coisas são bregas sim. Só falta aparecer por lá o poema da batatinha quando nasce. – espetei.
- Ah é?? Então não mandarei mais nada. - disse cruzando os braços em frente do peito.
- Não mande. - disse repetindo o gesto e olhando-o feio, não queria deixá-lo com a última palavra. Após no encararmos por algum tempo, comecei a me virar para ir embora, dei alguns passos e ele disse alto:
- Milla... Obrigado por me ouvir. - virei-me para ele e dei de ombros.
Voltei para a república pensando em suas palavras e me convenci de que por mais que tentássemos nunca daria certo. Somos muito diferentes.