Wednesday, January 09, 2008

Depois de uma semana com o quente sol do Texas, curtindo ressaca e piscina, fomos enviados de volta ao castigante frio de Durmstrang: as férias de natal haviam, lamentavelmente, chegado ao fim. E já no retorno às aulas, algumas novidades. Agora todas às quartas-feiras à tarde teríamos aula de Educação Física com um professor grandalhão chamado Garo Maddox. Ele era intimidador, mas gente boa. Ao menos eu, que estava acostumado com esse tipo de aula na Califórnia, não sofri nenhum baque em sua primeira aula. Já as meninas, especialmente Evi, Nina e Vina, pareciam estar sendo torturadas por um carrasco, com direito a capuz e tudo. Vina em particular não nasceu para os esportes.

‘Muito bem, podem parar aqui!’ Maddox assoprou um apito alto e a turma cessou as voltas ao redor do campo de quadribol, parando em volta dele ‘Acho que para nossa primeira aula está bom, não é?’ Disse animado e concordamos. Evi, Nina e Vina tinham um palmo de língua pra fora

‘As aulas vão ser sempre assim?’ Nina levantou a mão quase sem forças ‘Correndo em círculos?’

‘Claro que não, hoje foi só um aquecimento’ Respondeu sorrindo ‘Semana que vem vamos praticar alguns esportes’ Nina fez uma careta de dor e Vina levou a mão ao peito como se fosse enfartar ‘E falando em esportes, queria fazer um comunicado: a quem possa interessar, estarei fazendo testes para montar um time de trancabola para competir com as escolas da Europa. Soube que Durmstrang teve um desempenho bom nas Olimpíadas, apesar do 4º lugar, e acho que com treino podemos ter um dos times mais fortes da Liga Européia Estudantil. Os que se interessarem basta me procurarem para deixar os nomes. O dia dos testes será pregado no mural de avisos da escola. Agora podem ir, ou se atrasarão para a próxima aula’

Deixamos o campo de quadribol comentando a aula e nos separamos das meninas para nos trocarmos nos vestiários. Não falei nada com os garotos, mas tinha gostado da idéia do time de trancabola. Não era nenhum profissional, mas tinha uma noção do jogo e até seria legal competir pela escola. Mostrar um pouco de espírito vermelho e vestir a camisa do Instituto não faz mal a ninguém, não é? Ainda tinha algum tempo livre até a reunião do jornal e fui procurar o professor. Ele se mostrou bastante entusiasmado por ter sido o primeiro aluno a se inscrever e ficamos muito tempo conversando sobre esportes bruxos. Já estava quase na hora da reunião e voltei ao castelo, mas o barulho de uma discussão no corredor do 5º andar me chamou a atenção. Era Evi e o irmão besta dela, Max. Parei no meio da escada para ouvir.

‘E qual vai ser a sua desculpa pra ele?’ Ouvi Max falar em tom autoritário ‘Papai estava furioso porque não apareceu’

‘Sabe Max, estou começando a não me importar com o que ele pensa’ Evi respondeu no mesmo tom. Não pude evitar sorrir ‘Se ele não se importa, porque vou me dar ao trabalho?’

‘Ele se importa sim, sua mal agradecida! Veio até aqui procurá-la e não lhe encontrou. Onde esteve? Pensei que tinha dito que ficaria na escola!’

‘Não é da sua conta pra onde fui durante as férias. Meta-se na sua vida!’ Ela respondeu com raiva ‘E ele não se importa não, pois se veio me procurar, parece que deixou o assunto pra trás quando não me encontrou aqui. Se estivesse realmente preocupado comigo, e não apenas em me repreender e sabe-se lá o que mais, teria acionado até o Ministro da Magia pra me localizar!’

Houve um silêncio momentâneo e não podia ver o que estavam fazendo. Era um silêncio até constrangedor, que foi quebrado pela voz debochada dela.

‘O que foi, Max? Está tentando encontrar uma justificativa pra ele?’ Ela riu ‘Não precisa ter esse trabalho, não vou acreditar de qualquer forma’

‘Não sei o que anda contando aos seus amiguinhos, mas aviso logo que é melhor parar! Se o vovô por acaso acreditar nas mentiras que você conta, vai acabar pagando um preço alto’ Max segurou o braço dela com força e saltei da escada para o corredor

‘Algum problema, Evi?’ Falei alto, encarando ele

‘Não, nenhum. Max já estava indo embora, não é?’ Ela puxou o braço da mão dele com força e deu dois passos para trás, parando perto de mim

‘Por que não se mete na sua vida?’ Respondeu me encarando ‘Isso é assunto de família’

‘Ora, mas você não gosta de se intrometer na vida dela? Com que moral cobra isso de outra pessoa?’ Respondi o desafiando

‘Parem, não vão começar a brigar aqui no meio do corredor!’ Evi se pôs entre nós dois ‘Max, vá caçar algo de útil pra fazer e me deixem em paz! Micah, vamos embora ou Georgia vai comer nosso fígado’

Max ainda nos fitou alguns segundos e eu já estava pronto para a briga, mas acabou virando de costas e descendo as escadas. Evi me olhou com um ar cansado e saiu andando pelo corredor sem dizer nada. Ficou calada durante toda a reunião do jornal, e nem mesmo contestou quando Georgia lhe delegou a pior matéria da lista. Apenas pegou o papel e foi para sua mesa sem reclamar. Deixei meus recortes sobre o campeonato de quadribol da escola em cima da mesa e caminhei até ela. Todos já estavam ocupados demais com seus artigos para notar qualquer movimento na sala.

‘Vai mesmo escrever sobre o problema com o excesso de neve?’ Sentei-me à mesa e ela olhou para cima para me encarar. Percebi que tinha os olhos vermelhos

‘Se é isso que ela quer, sim. Não estou com animo de entrar o ano batendo boca com aquela vaca’

‘Está tudo bem?’ Indiquei os olhos vermelhos dela e ela se ajeitou na cadeira ‘É por causa do Max?’ Ela balançou a cabeça negando, mas continuou me encarando muda ‘Ok, não quer conversar, tudo bem’

‘É meu avô’ Disse por fim ‘Ele está chateado porque não fui ao enterro da vovó e nem dei uma satisfação’

‘A morte dela ainda está muito recente, é normal ele estar assim’

‘Se você visse como ele me tratou não diria isso. Era como se eu fosse uma estranha. Estava diferente, distante. Ele-’ Ela cortou a frase e encarou a mesa antes de completar ‘Ele parecia meu pai’

‘Dê um tempo a ele, Evi. Seu avô é legal, só é um pouco rigoroso. Quando a dor diminuir, ele amolece’ Ela me encarou outra vez e deu um sorriso fraco. Senti que precisava mudar o assunto ‘Já contei que me inscrevi para os testes de trancabola?’

‘Olha só quem resolveu vestir a camisa da escola!’ Evi sorriu mais animada

‘Pois é, já que estudo aqui agora, não me custa nada defender as cores de Durmstrang de vez em quando’

‘Legal, Micah. Gostei’ Disse sincera ‘Acho que desviar um pouco as atenções do quadribol vai fazer bem à escola’

‘Também acho. E fora que trancabola é mais divertido! Os testes são semana que vem, vamos ver como me saio e quem mais vai aparecer’

‘E os testes do musical?’ Ela riu e percebi que queria me provocar ‘É no fim do mês, não vai mesmo participar?’

‘Claro que não’ Georgia apareceu na mesa com as mãos na cintura. Evi revirou os olhos e a encarou ‘Micah sabe que não tem a menor chance contra Alexsei. Aquele teste foi pura sorte. Agora que isso está esclarecido, que tal trabalharmos um pouco? Parvanov, quero sua matéria na minha mesa amanhã, pois como não é de muita importância, vou decidir se entrará na edição de acordo com o que escrever’

Evi bateu continência como um soldado com um ar de deboche na cara e o sorriso no rosto de Georgia tremeu levemente. Ela empurrou uma pasta grossa na minha mão, que logo percebi serem coisas para arquivar, e saiu da sala. Evi fez uma careta imitando ela falar e ri, caminhando até o armário de arquivo para começar a guardar aquela montoeira de papel. O poder estava subindo à cabeça da Barbie e estava na hora de reagir. Pode ser intuição minha, ou algo meio obvio, mas acho que poderia contar com o apoio da Evi para uma pequena rebelião na redação do Expresso Polar...