Thursday, June 21, 2012

Mitchell

Após uma conversa com o psicólogo, resolvi procurar o professor Wade na sala que ele usava para nos dar aula do curso de Auror, e o encontrei conversando com Tyrone McGregor  e eles riam, deviam estar armando algum teste maluco para nós. Quando ele me viu, acenou para que eu entrasse.

- Hey, Callahan, o que houve?- disse o professor e eu estiquei o papel em branco decidido:

- Vim devolver o formulário. Não vou me inscrever para nenhuma Academia, senhor.

- Eu já esperava por isso, ser auror nunca foi sua primeira opção não é?

- O curso me fez aprender muita coisa não ssobre ser auror, mas sobre mim também. Eu ficaria satisfeito em ser seu colega e quem sabe, um dia, fazer parte do grupo tático, mas eu gosto muito mais de jogar quadribol, me sinto feliz. – vi quando ele passou uma moeda ao senhor McGregor, enquanto dizia:

- Você ganhou , Ty. Droga, odeio quando perco um dos bons. – e o McGregor riu:         

- Ele é um jogador bom demais para ficar indo atrás de bandidos, Micah. – e o professor Wade disse:

- O curso tem o objetivo de ajuda-los a decidir quem vai continuar conosco ou não. Você se sairia muito bem na Academia, mas sei que vai se sair melhor  rebatendo balaços. Qualquer coisa que precisar, me procure ok?

- Obrigado por tudo, senhor.- fui dispensado e quando comecei a sair, me lembrei de algo e quis saber:

- Professor me explica uma coisa...O crime de sequestro de uma criança prescreve? Mesmo que não tenha sido notificado?- e ambos ficaram em alerta, mas o professor Wade respondeu:

- Não, sequestro é um crime que não prescreve.E a notificação pode ser feita a qualquer momento.- fiquei olhando para os dois, assenti, e comecei a sair, quando o senhor McGregor me chamou novamente.

- Mitchell, há algo que você queira nos contar? Você sabe que Micah é do FBI e eu faço parte da Interpol, talvez possamos te ajudar alguma maneira...- pensei no que Oleg havia me contado sobre a família Ivashkov  e pensei que a melhor forma de proteger Leonora, seria ter ajuda das autoridades, mesmo que indiretamente. Fechei a porta e contei a eles tudo o que a minha namorada havia descoberto .


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Leonora, sexta feira à noite...


Quando acabei de ler os diários de minha avó, comecei a entender muita coisa. Não devia perder mais tempo em procurar Sasha e contar a ela a verdade  sobre nós duas. Olhei no relógio e vi que Mitchell iria demorar para voltar do treino, e como sabia que aquele era o horário que Sasha, costumava estar em casa, resolvi ir até lá e conversar com ela. Ele ficaria chateado comigo por eu não esperar por ele, mas eu teria que fazer isso sozinha.

Fui até a casa dela e quando estava chegando, vi que um homem saía pela porta da frente, e ficaram conversando de cabeças juntas por uns segundos, depois disso, ele segurou o rosto dela e lhe deu um beijo na testa e foi embora. Tudo estaria bem, se eu não o reconhecesse como um ex jogador de quadribol casado e com filhos pequenos. Não pude evitar de me sentir decepcionada.Ok, eu não tinha nada a ver com a vida dela, mas poxa, ela é minha mãe e estava agindo errado. Comecei a ir embora, quando ouvi meu nome ser chamado, me virei e vi Apolo vindo em minha direção.

- Olá, senhorita Leonora, como vai? Veio nos visitar?

- Sasha, deve estar ocupada, não deveria vir sem ligar antes...

- Não há problemas, amigos sempre são bem vindos. Venha, fará bem à patroa receber a sua visita, ela gosta muito de você e eu quero te mostrar os novos aparelhos da sala de ginástica, renovei tudo. - Eu adorava  Apolo,  e comecei a rir pela sua empolgação, que me lembrava muito de Robbie. Quando entramos na casa de Sasha, ela veio me receber toda animada e nós três começamos a conversar, e eu coloquei de lado por um tempo, o motivo real de eu estar ali, enquanto contava a ela sobre tudo que estava acontecendo na escola, os estudos, meus amigos, quando  Apolo comentou:

- E nosso amigo, deu alguma noticias sobre o tal detetive?          

- Não, TJ ainda não descobriu quem ele é, mas vai descobrir.

- TJ é o homem que saiu daqui agora há pouco,  quando  estavamos chegando? Achei que o reconhecia de algum lugar.

- Sim, é TJ McGregor. Rory e ele virão aqui amanhã, Apolo, é a sua vez de cozinhar.- vi o segurança assentir e não me contive:

- Este, TJ não  é casado?- e me arrependi, porque Sasha me olhou tensa, porém foi direta em sua resposta:

- Tenho consideração por você e só por isso vou esclarecer as coisas: Ele foi um cliente e depois se tornou meu amigo.  Rory é a esposa dele, e ela sabe tudo sobre a nossa amizade e não nos julga por isso. E amanhã, eles virão aqui, porque é dia de poker e desta vez, eu serei a anfitriã. - senti meu rosto esquentar.

- Desculpe-me , Mariska...Sasha.- me corrigi e ela me olhou séria:

- Não me lembro de haver lhe dito meu nome de batismo.-  percebi quando ela e Apolo trocaram olhares desconfiados e eu vi que devia esclarecer logo as coisas.

- É verdade, você não disse, foi o meu detetive que descobriu o seu nome e me contou.

- Porque você contratou um detetive para me investigar, Leonora? O que está acontecendo? É o homem que TJ está procurando?

- Sim, é. E não foi para investigar você especificamente, mas mulheres que tiveram bebês  em 31 de outubro de 1997, o dia em que eu nasci. Então ele descobriu que você havia sido mãe de uma menina nesta data, foi uma coincidência nós já nos conhecermos. – fiquei pasma quando vi seus olhos se encheram de lágrimas, mas ela as segurou, Apolo disse tenso:

- Porque está fazendo isso, garota? Não vê que a machuca?- e  Sasha o acalmou dizendo:

- Não se preocupe, meu amigo. Já passou muito tempo, dói menos. Sim, eu tive um bebê neste dia, mas  minha filha morreu, antes mesmo que eu pudesse segura-la...Morte súbita, é comum em bebês, foi o que me disseram.

- Quem é o pai da sua filha?- perguntei enfática e ela se esquivou:

- O bebê era meu, e de mais ninguém. Porque isso é importante para você?- e eu respondi:

- A filha de Christine Ivashkov morreu naquele dia.  -  vi que ela arregalou os olhos e olhou para Apolo, confesso que pensei que estava num filme da Disney e que ela milagrosamente ligaria os pontos, olharia para mim com reconhecimento e começariamos a cantar felizes, mas ela não o fez.

- Que absurdo! Você é filha deles, e está bem viva na minha frente, não sei porque quer saber da minha vida pessoal, acho que seria bom você ir embora, não estou gostando desta situação.- vi Apolo, se levantar com cara de poucos amigos, para me tirar dali, me aproximei dela, a olhei nos olhos e disse:

- Escute por favor: naquele dia, a filha de Christine morreu no berço, e ela não queria que George soubesse, então ela se aproveitou que uma mãe, estava muito dopada no leito de hospital e trocou as crianças. Você não entende? A  criança trocada naquele hospital era eu. Eu sou a sua filha.

- O que é que você está dizendo? Isso é surreal demais...- ela dizia me encarando, porém sem se deixar tocar.Embora, fosse dificil para mim, eu disse:

-Sasha, eu sei que é dificil de acreditar, mas poderiamos fazer um exame de DNA e ai tudo seria esclarecido, eu poderia inclusive saber sobre o meu pai... – ela começou a levantar a mão para me tocar, mas parou séria:

- Não! Isso não pode ser verdade, eu saberia se a minha filha tivesse sido tirada de mim. Você deve estar querendo irritar a sua mãe e o seu pai, e quer me usar para isso.  – eu ri sem humor algum.

- Eu poderia dizer a Christine que ela é um ogro e ela nunca iria ligar, porque não temos a menor afinidade, e George? Ele me despreza, porque sabe que não sou filha dele, acha que sou filha de um amante da Christine. Não nasci dela, nasci de você, e sinto muito que você não consiga acreditar. Eu acredito nisso, porque li os diários de minha avó e lá ela conta toda a situação, inclusive sobre a herança que ela fez chegar às mãos da minha mãe biológica. E eu sei que você recebeu uma herança alguns meses depois que eu nasci...- e ela me cortou:

- Sim, recebi uma herança de um parente e não de sua avó. Gostaria muito que esta história fosse verdade, Leonora, você é uma menina incrível, mas eu não sou a sua mãe, não poderia ser. Esqueça isso, e siga a sua vida, será melhor para todos.  – nos olhamos por alguns segundos  e eu me rendi, pois percebi que ela falava a sério:

- Peço desculpas pelo inconveniente, não queria aborrece-la. Adeus. – sai da casa dela e não olhei para trás. Eu só queria voltar para casa e dormir muito para esquecer este dia.


o-o-o-o-o-o-o-


A porta mal se fechou atrás de Leonora, e Sasha se atirou no peito do amigo, chorando. Apolo, a segurou com carinho e quis saber:
- Mariska, porque você fez isso? Aquela menina pode ser sua, porque não dar crédito a ela?
- Eu não queria acreditar quando ela começou a contar a sua história, mas quando ela falou sobre a herança, eu me convenci de que ela é minha.Céus, minha filha está viva, Apolo, e é linda, estou tão feliz por isso, é mais do que mereço.- recomeçou a chorar, e o homem a abraçou dizendo:
- Então porque você não disse que ela estava certa? Você chora até hoje pela sua menininha...
- Porque quando eu recebi aquele dinheiro, uma das condições fosse de que eu nunc a mais me aproximasse de George ou da sua família, e eu concordei sem nenhum remorso, estava magoada com ele, e havia perdido o que mais amava no mundo. Sim, eu sabia que era dinheiro da velha Leonora. Achei que era uma mãe  defendendo o casamento da filha e hoje percebo que não era isso. – como ele a olhasse confuso, ela explicou:
- Você não entende? Sem saber eu vendi a minha filha.


Continua....

Wednesday, June 20, 2012

Por Robbie von Hoult

Era a primeira vez que resolvia passar o fim de semana em casa desde março. Sempre preferia ficar em Durmstrang com Alec ou acompanhar as meninas em algum passeio do que passar dois dias em casa aturando meu pai questionando tudo que faço, mas meu namorado precisou ir para casa com o irmão e as meninas estavam ocupadas demais com seus próprios namorados, então resolvi encarar as criticas.

A casa inteira cheirava a carne cozida quando abri a porta da sala. Reconheceria aquele cheiro a quilômetros de distancia, alguém estava fazendo Hachee, carne cozida em holandês, o prato favorito de minha mãe. Segui o aroma até a cozinha e fui pego de surpresa ao ver mamãe sentada no balcão lendo uma revista e papai atrás do fogão mexendo nas panelas. O balcão estava uma bagunça, com os ingredientes do cozido espalhados por todo lado. Mamãe abriu os braços para que fosse até ela com um sorriso animado no rosto. Abracei-a apertado, estava morrendo de saudades, e sentei ao seu lado no balcão.

- O que está acontecendo aqui? – perguntei vendo a bagunça – Por que está deixando papai cozinhar? Está tentando se envenenar?
- Sua pouca fé me ofende, Robert – papai disse com um tom divertido, algo raro – Já esqueceu que era um forte concorrendo no concurso de Leonora?
- Eu sei que o senhor era um dos participantes, mas não lembro da parte do forte.
- Pois saiba que fui longe na competição e sou um excelente chef – ele pegou uma colher na gaveta e pegou um pedaço da carne, estendendo-a pra mim – Se não acredita, prove.
- Vá em frente, prove – mamãe me encorajou quando hesitei e peguei a colher.
- Uau, isso está mesmo bom – disse surpreso devolvendo a colher vazia.
- É claro que está bom, por que acha que sua mãe está comigo até hoje? Não é só pelo meu charme, mantenho-a comigo porque ela também se apaixonou pelo meu Hachee.
- É verdade, seu pai preparou esse prato em um jantar entre amigos para me convencer de que era um bom partido – mamãe disse rindo – Não acreditava muito nele, mas é tão raro encontrar um homem que saiba cozinhar que resolvi dar uma chance.
- E o resto é história... – papai completou e se debruçou no balcão para dar um beijo nela – Você sabia que o nome de sua mãe significa “Pura Beleza”?
- Que bonitinho, papai. Não sabia que era tão romântico.
- Seu pai sabe ser encantador quando quer – mamãe piscou para ele.
- Nunca julgue um livro pela capa.

Ele voltou à atenção ao Hachee, mamãe continuou folheando sua revista e puxei um jornal da mochila, abrindo no espaço limpo do balcão. Era o último exemplar do Aurora Boreal que havia salvado da destruição. Estava encucado com uma palavra-cruzada que sempre tinha nas edições. As perguntas eram as mais bizarras possíveis e estava convencido que não era uma simples brincadeira, que ele tinha algum significado. Estava encarando o quadro em branco há tanto tempo que mamãe já havia saído da cozinha e minha fixação naquele pedaço de papel acabou chamando a atenção de papai.

- O que está fazendo, Robert? – perguntou curioso.
- Não consigo concluir essa palavra-cruzada, é muito esquisita.
- É o jornal da escola?
- Mais ou menos... É um jornal clandestino, Lucian vem tentando acabar com ele, mas é pior que erva daninha. Quanto mais arrancamos, mais copias aparecem.
- Sou bom em palavras-cruzadas, diga o que tem ai.
- Sete letras. Amante de Morgana e inimigo de Artur – li a primeira pista.
- Accolon – ele respondeu de imediato e vi que cabia no espaço.
- Sim, serve. Muito bom pai!
- Mande outro.
- Oito letras. Condestável e um dos principais conselheiros de Artur.
- Bedivere – mais uma vez serviu.
- Cinco letras. Rei de Gaunes, irmão de Leonel, primo de Lancelot e de Heitor. Um dos que chegou ao fim da demanda do Graal.
- Boors – ele disse menos empolgado dessa vez, mas igualmente rápido – Filho, quem faz esse jornal?
- Ninguém sabe, mas definitivamente é um aluno – respondi e voltei a ler as dicas – Ok, esse é grande, 11 letras. Filho de Cador e que se tornou Rei após a morte de Artur.
- Constantino – papai respondeu sem nem pestanejar – Se não sabe quem faz esse jornal, por que está tão empenhado em completar isso?
- Porque acho que em algum lugar aqui, tem uma pista sobre o autor. Esse cara é muito arrogante, roubou os textos do Lucian e os publicou como se fossem seus, ele gosta de aparecer. Tem que ter uma pista.
- Talvez seja melhor não mexer com isso, não sabe com quem pode estar lidando.
- É um aluno, pai. Tem no máximo 17 anos, o quão perigoso pode ser? Vamos lá, só faltam mais alguns.

Papai hesitou em continuar me ajudando, mas acabou cedendo. Completamos todas as perguntas e vi que a palavra chave era Cinturão de Orion. Palavra estranha e sem sentido para ser o destaque de uma palavra-cruzada, o que só me deu mais certeza de que tinha algum significado oculto. A panela pediu a atenção de meu pai e deixei-o sozinho na cozinha, me acomodando no sofá e recomeçando a ler o jornal inteiro com mais atenção, mas depois de alguns minutos ele apareceu na sala e o tomou de minha mão.

- Pai! Estava lendo isso! – tentei pegar o jornal de volta, mas ele não deixou.
- O que está fazendo, Robert?
- Tentando descobrir quem é o autor do jornal, já disse. Cinturão de Orion é uma constelação e não tem nada a ver com esses nomes malucos que você ditou como resposta, não é possível que seja só uma simples palavra-chave.
- Está perdendo seu tempo com isso, quando devia estar se dedicando ao seu futuro – e já ia começar o sermão.
- Eu estou! Jornalismo investigativo! Isso é uma profissão decente, não acha? – respondi irritado.
- Você nunca se interessou por jornalismo, só está dizendo isso para justificar essa perda de tempo! – e sacudiu o jornal na minha cara – Está perdendo tempo com jornalismo quando deveria estar se preparando para a audição na Julliard!
- O que? – baixei o tom de voz em estado de choque.
- Não foi sempre esse o seu sonho? Conseguir uma vaga nessa academia? – assenti ainda em choque – Então por que não está se preparando?
- Eu não... Pensei que... Por que está me cobrando isso? Você sempre disse que arte é uma perda de tempo.
- Bom, eu não acho mais. Não quero que escolha uma profissão só para me agradar e acabe a vida inteira infeliz por isso. Se o que você quer é entrar para Julliard, vou lhe apoiar.
- Não sei bem como reagir a isso.
- Que tal começar a se preparar? Anda praticando no piano?
- Sim, pratico toda semana.
- Até quando é o prazo para enviar o vídeo de inscrição?
- Acho que semana que vem. Por quê?
- Porque vamos gravá-lo hoje. Vá para o piano agora mesmo, vou buscar a câmera.

Papai subiu as escadas correndo com o jornal na mão e quando desceu não estava mais com ele. Não vi alternativa senão sentar na frente do piano e praticar um pouco. Mamãe sentou ao meu lado para me ajudar a corrigir o que precisasse e papai ligou o laptop e ia lendo as perguntas da ficha de inscrição em voz alta para que eu respondesse e ele digitasse. Ele me filmou tocando Sonata ao Luar e lacrou tudo em um envelope pardo, garantindo que segunda-feira pela manhã estaria no correio.

Todo o apoio de papai e sua determinação em me fazer conseguir a vaga em Julliard eram ótimos, pela primeira vez em anos estávamos nos entendendo e curtindo a companhia um do outro sem brigas, mas em momento algum me esqueci do jornal. A reação dele enquanto me ditava as respostas não passou despercebida, ainda mais depois da explosão na sala quando o tomou da minha mão.

Optei por não tocar mais no assunto para não comprometer o fim de semana, mas quando pisei de volta em Durmstrang no domingo à tarde, a primeira coisa que fiz foi correr até a Kratos para falar com Lucian. Ele estava com Lenneth na sala quando entrei e expliquei toda a história, desde as respostas esquisitas da cruzada, a palavra-chave sem sentido e a reação de me pai. Ele ouviu a tudo calado e pela sua expressão, sabia que estava convencido que tinha algo maior acontecendo.

- Tem alguma ideia do que pode ser isso? – perguntei ansioso.
- Talvez, mas não posso dizer, não sei até que ponto é seguro – disse misterioso e achei melhor não insistir. Investigar tudo bem, me colocar em risco nem pensar.
- Cinturão de Orion pode ser algum tipo de senha.
- Acham que tem algo a ver com Orion? – Lenneth perguntou falando baixo.
- Não, não acredito que seja ele – Lucian não parecia inteiramente convencido quando falou – Mas em todo caso, não coloco minhas mãos no fogo.
- Se isso é uma senha, é usada em que? – ele perguntou.
- Onde quer que ele use para fazer o jornal. Lembra quando ele publicou alguma baboseira sobre aptos a ajudar encontrarão o caminho? – eles assentiram – E se o caminho inclui uma senha?
- Mas como saber para onde ir? – Lenneth perguntou.
- Correndo o risco de soar como teoria da conspiração... – eles riram – Acho que a localização muda sempre, e cada edição vem dizendo onde encontra-lo na próxima vez.
- Acha que tem algum enigma espalhado pelas matérias? Isso faz sentido... – Lucian agora havia embarcado no meu delírio.
- Não sei onde pode estar, mas estou disposto a ler um por um, dúzias de vezes, até descobrir.
- Eu ajudo! – Lenneth prontamente se ofereceu.
- Certo, vamos fazer isso – ele concordou – Tenho uma cópia de cada exemplar trancado na redação do Expresso Polar, cada um fica com uma pilha. Vamos analisar cada centímetro desse jornal até encontrarmos uma pista. Não vou me formar sem descobrir quem é esse Antaris.

Fui com eles até a redação do nosso jornal e voltamos para as repúblicas cada um com uma pilha de jornal nos braços. Sei que devia reservar todo o meu tempo livre estudando para os exames, mas estava gostando da ideia de investigar o tal Antaris. Estava convencido que as edições iam nos levar até ele e não ia descansar enquanto não provasse que estava certo. E eu nunca estava errado. 

Thursday, June 07, 2012

Voltei para a república e ela estava vazia, afinal era sexta feira. Poucos são os que passam o fim de semana na escola quando podem ir para suas casas ver suas famílias. Subi para o quarto e após me trocar, voltei a olhar as pastas que o detetive havia me dado. Uma delas trazia um presente e a outra era um dossiê detalhado sobre minha possível mãe biológica. Porque por mais que meu detetive fosse competente, só mesmo um exame de DNA, iria comprovar o meu parentesco com Sasha.
Não consegui ficar parada, e comecei arrumar o meu guarda roupa, talvez trabalho duro fizesse com que eu tivesse idéias mais claras. Quando Parv chegou eu já havia separado uma mala de roupas e sapatos que não queria mais. Ela foi pegar seu pijama e se espantou:
- Voê arrumou meu guarda roupa também?
- Sim, também separei umas roupas suas para lavar....Acho que vou arrumar o lado da Jude, será que ela se importa? - disse já abrindo uma gaveta, quando senti Parv me segurar pelo braço e me virar para ela:
- Léo, o que está acontecendo? Você parece preocupada...– e me olhou séria, me desvencilhei:
- Não, não leia meus pensamentos....
- Não vou fazer isso, eu só quero saber o que está havendo? É sexta-feira à noite e você normalmente está com o Mitchell em algum canto namorando.
- Ele foi treinar em Sofia. Hey, você também tem namorado porque não está com ele?- disse defensiva e ela respondeu:
- Treino extra de hóquei. Conte-me o que o detetive descobriu, e que está te deixando maluca assim. Somos amigas lembra?- assenti e quando abri a boca, Robbie abriu a porta e já foi entrando com uma sacola dizendo:
- Parece que cheguei no momento certo da fofoca. Estamos falando de quem??- disse pegando duas cervejas amanteigadas e nos entregando, enquanto Parv respondia:
- Vamos falar da Léo. Ela falou com o detetive e voltou preocupadissima, já fez faxina no guarda roupa dela e no meu. Daqui a pouco desce para cozinha.
- Santa Lady Gaga, a situação é grave.Conte-nos tudo e não esconda nada,Léo. O que o detetive bonitão descobriu?- Tomei um gole da cerveja e disse:
- Ele investigou todas as mulheres que tiveram meninas, e...descobriu a mulher que pode ser a minha mãe biológica.
- Sério? Isso é ótimo! Não é?- quis saber Parvati e eu me levantei impaciente:
- Sim, é. Quer dizer...Não sei....
- Leonora Marie, desembucha logo, não estou ficando mais jovem com esta espera.- resmungou Robbie e eu resolvi usar a técnica do band-aid em machucado, de puxar de uma vez, no meu caso foi falar:
- A mulher que perdeu um bebê horas depois de nascer, chama-se Mariska Dobrev, é empresária, nunca se casou e não consta o nome do pai da criança nos documentos do Hospital ou algo sobre um relacionamento sério. - Robbie abriu a boca e não o deixei falar, continuando:
- Temos o mesmo tipo sanguíneo, ela é loira, tem a idade adequada...Ah e eu a conheço. Ela é uma boa pessoa, mas o problema são os negócios dela. Ela é dona da Luxury. Sim, minha ‘mãe’ é dona do inferninho do vilarejo. Depois disso, vocês sabem que não vou mais poder ficar com o Mitchell, é claro. Como vou dizer para a familia dele que minha mãe é uma striper aposentada? O que vão pensar de mim? Eu não quero dizer isso a ele, e isso está me deixando louca.- falei e fiquei olhando para meus amigos. Parvati após alguns segundos se virou para Robbie e disse:
- Acho que vou fazer mechas californianas...
- Inaugurou um salão ótimo no vilarejo, posso marcar uma hidratação e podemos ir juntos, o que acha?- olhei para o bate papo dos dois e interrompi:
- Hey, o assunto aqui sou eu, podemos voltar ao meu problema?- Robbie se virou e disse:
- Problema?? Leonora você está nos cansando com a mania de querer terminar com o Mitchell por coisas idiotas.  E se você fizer isso, juro que darei a maior força para ele nunca mais olhar na sua cara, detesto covardes.
- Coisas idiotas? Não são...- Parvati interrompeu séria:
- São idiotices sim. E daí que a sua mãe possa ser uma stripper, é muito melhor do que a psicótica da Christine não é? Não me parece que ela seja uma pessoa ruim, já que ela ajudou você e o Finn, daquela vez.E Robbiem está certo, você está sendo covarde.Ela é ruim?
- Cautela não é covardia. Não, ela não é ruim, Sasha é legal. Muito!  Sabe... quando eu disse que fui para um Spa, eu não disse a verdade, fiquei hospedada na casa dela em Sofia. O segurança dela foi quem me ensinou a malhar.Foram muito atenciosos comigo... E a casa dela é normal, ela tem bom gosto.- expliquei:
- Viu? É uma boa pessoa e não obriga ninguém a ir ao estabelecimento dela, vai quem quer. – disse Robbie e Parv completou:
- Acho que o único problema que temos aqui é se você deixar o preconceito falar mais alto, e isso não tem nada a ver. Não somos mais aquelas pessoas.  - suspirei e respondi:
- É não somo mais...O pior é que sinceramente eu não ligo para o que ela fazia ou faz da vida, não posso e não tenho direito de julga-la, porém estou com receio de dizer a ela que sua filha não morreu e o que vai acontecer a partir daí. Ela não teve tempo de ser mãe de um bebê, será que vai querer ser mãe de uma filha adulta? Não que eu precise de uma mãe, mas...
- Léo, você só vai saber disso quando contar a ela, e acho que pelo menos amigas vocês já são, então isso não vai mudar, deixa o resto vir com o tempo. Eca, fui tão ‘Doutor Pace’ agora..- disse Parvati:
- Se você quiser, podemos ir juntos com você, até a Luxury, tenho curiosidade de ver como é lá dentro. Os garotos voltam empolgadíssimos, vamos? Diga que sim, diga que sim. – pediu Robbie animado e acabamos rindo:
- Não vou falar com ela hoje, ainda há coisas no diário da vovó que preciso entender para poder explicar como tudo aconteceu. E não vou mais pensar em terminar com o Mitchell ok? O surto passou. – ficamos conversando até tarde, quando Ozzy e Alec apareceram na república para buscar os seus pares, aproveitei e fui me deitar, teria que ir cedo para Sofia. Era o momento de conversar com o meu advogado e confirmar se aquela pasta azul, me daria a segurança que eu precisava.

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Depois de conversar com o Doutor Jarod, fui para casa e após cobrir de carinhos uma Condessa que a cada dia estava mais pesada, fui para a minha cama e continuei a ler os diários de minha avó. Havia muitos relatos das reuniões de família e inclusive uma foto rasgada que estava colada com fita adesiva, eu tinha uns quatro anos. Era o dia dos Pais e eu havia dado a George, um peso de papel roxo, feito de argila, no formato da minha mão e ele sorria, enquanto comparávamos o tamanho de nossas mãos, e nos abraçávamos para a fotografia. Fechei os olhos, ainda podia ouvir claramente nossas vozes em minha cabeça:
-“ Você gostou papai? Sim querida, é o presente mais bonito que ganhei, vai ficar comigo no escritório’....’Te amo papai’...”Eu também te amo, filha’... – não me lembro de termos trocado mais nenhum abraço depois daquele dia. Afastei as lembranças e continuei a ler os diários, e haviam muitos detalhes, que me fizeram entender o quanto minha avó me amou e lutou por mim. Adormeci e acordei com Mitchell me beijando:
- Nossa, dormi tanto assim? Você até ja voltou para casa.- e não falei mais nada, enquanto ele se deitava ao meu lado, me abraçando forte e me cobrindo de beijos. Mais tarde, estavamos na cozinha jantando e enquanto Mitchell comia com vontade, eu jogava a comida de um lado a outro no prato. Ele parou, e perguntou:
- Algum problema? Você está calada e não está comendo.
 - Conversei com o detetive.- respondi e ele me olhou mais atentamente. Deixou o prato de lado, esperando que eu me decidisse a falar o que quer que estivesse me incomodando, e eu contei tudo o que havia dito a Robbie e Parv, inclusive a parte de que pensei em terminar com ele, por causa da minha possível mãe biológica. 
- Se você quer terminar porque não me ama mais, eu aceito. Mas por causa de sua mãe ter sido uma stripper? Esqueça, arrume uma desculpa melhor, porque esta não me convenceu. – comecei a sorrir mas ele levantou a mão, e juro que nunca o vi tão zangado:
-Sabe eu odeio o George, que foi um covarde por não ter amado você, que te mostrasse que nem todos os homens fogem quando a situação fica difícil.
- Eu não sou a filha dele...
- Ah por favor, Madison não tem o nosso sangue e meu pai é maluco por ela. Aquele homem  foi um egoísta desgraçado, que descarregou a raiva numa criança indefesa e isso eu não consigo perdoar. Isso fez com que você ficasse insegura, frágil e cruel. Sim, cruel porque me ofende a cada vez que pensa que eu não posso estar apaixonado por você e que vou te deixar quando os problemas aparecerem. Pois eu não vou Leonora, não vou! –disse se levantando e com a voz alterada e eu disse:
-Entendi Mitchell, não precisa gritar. – e ele se sentou mais calmo, porém irritado e eu continuei: - Você tem razão em tudo o que disse, eu só queria que você soubesse sobre o meu passado, para não se sentir enganado, quando tudo vier à tona, pode ser um escândalo. - e ele respondeu:
- Entrei em nosso relacionamento de olhos bem abertos, sou grandinho.- e eu o olhei firme nos olhos:
- Sim, você é. E eu o amo, não vou mais pensar em terminar nosso namoro, até porque Robbie disse que se eu ousar fazer isso, ele vai te dar a maior força, talvez até te arrume uma namorada linda. – e ele deu um  sorriso de canto de boca, e tomou um pouco de água. Levantei-me fui até a sala e peguei a pasta azul, e dei a ele para ler. Após olhar os papéis, ele voltou os olhos para mim:
- Não sabia que você tinha estado comprando o controle das ações das empresas. George desconfia que você detém o poder de destituí-lo da presidência?
- Não, ainda não, mas quando souber, ele e Christine virão com tudo para cima de mim. – ele deixou a pasta em cima da mesa e veio me abraçar dizendo:
- E vamos estar prontos para enfrenta-los, Leonora. Juntos!

I don't wanna be someone who walks away so easily
I'm here to stay and make the difference that I can make
Our differences they do a lot to teach us how to use
The tools and gifts we've got yeah we got a lot at stake
And in the end, you're still my friend
At least we didn't intend
For us to work we didn't break, we didn't burn
We had to learn how to bend without the world caving in
I had to learn what I've got, and what I'm not
And who I am
I won't give up on us
Even if the skies get rough
I'm giving you all my love

Nota da autora: Trecho da música ‘I won’t give up’, Jason Mraz

Wednesday, June 06, 2012

Maio de 2016

A conversa que tive com meus pais uma semana depois de descobrir minha verdadeira origem foi a mais difícil da minha vida. Quando finalmente entenderam o que estávamos dizendo, depois de passado o choque inicial de ouvir a parte de nunca mais morrer, mamãe começou a chorar e papai ficou tão transtornado que tudo que conseguia dizer era que ia processar o hospital nem que isso lhe custasse o emprego.

Os dois se acalmaram depois de um tempo, mas mesmo vendo a foto de Emma e todas as semelhanças que ela tinha com Alexis, papai insistiu em não fazermos nada antes de um exame de DNA. Embora não fosse realmente necessário, ambos me asseguraram que nada mudaria na nossa vida, independente do resultado. E o resultado, é claro, provou que eu não era filha deles.

- Queria me ver, Dr. Pace? – bati na porta aberta do escritório dele, uma semana depois de lhe contar o resultado do exame.
- Sim, entre e feche a porta, por favor – ele indicou o sofá e sentei – Conversei com Emma e seus pais.
- E então?
- Bom, digamos que a reação deles foi melhor que a sua.
- Eles estão felizes com isso? – perguntei espantada e ele riu.
- É claro que não, mas foi mais fácil para eles aceitarem. A notícia trouxe mais explicações do que questionamentos. Os pais dela, seus pais, querem lhe conhecer. Seus pais também querem conhece-la, não é mesmo?
- Sim, querem, mas eu ainda não estou pronta para conhecê-los. Se eles quiserem conhecer Emma não me incomodo, mas ainda não estou pronta.
- Sem problemas, ninguém vai forçá-la a nada. Quando achar que está na hora, basta me avisar e arranjo o encontro.
- Como eles são?
- Não hesitou dessa vez – ele me olhou surpreso e sorri – Nikolaj e Emilia são excelentes pais e tenho certeza que irá gostar muito deles.
- Só isso?
- Isso é tudo que precisa saber. Vá para sua viagem de formatura e aproveite a semana para relaxar e esquecer isso tudo. Quando voltar, conversaremos mais sobre eles. Prometo.

Assenti sem discutir e voltei para a Atena para arrumar a mala. Partiríamos para uma semana no Hawaii no dia seguinte e tudo que pretendia fazer era tomar sol deitada em uma espreguiçadeira. Longe de Durmstrang, longe do drama. Uma semana de paz.

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A ideia da semana de paz durou menos de 24h. Na manhã seguinte, quando a professora Yelchin nos organizava para a partida, descobrimos que essa viagem seria simultânea a viagem de formatura de todas as grandes escolas bruxas do mundo. Resumindo, estaríamos hospedados no mesmo hotel que todos os alunos do 7º ano das delegações que competiram nas Olimpíadas um ano antes. Ou seja, por uma semana eu estaria no mesmo hotel que Emma Blanchard.

Estávamos hospedados no Sheraton Kauai e era um hotel tão maravilhoso e com tantas coisas a oferecer que por cinco dias não precisei de nenhuma desculpa mais elaborada para não acompanhar meus amigos nos passeios pela cidade ou em uma simples ida à praia e passava o tempo inteiro evitando contato com outras pessoas. Durante a semana inteira aproveitei tudo que o hotel oferecia, em especial o spa, com massagens diárias, ofurô e aulas de pilates. Eram tantas coisas com a intenção de relaxar você que passava boa parte do meu dia em outra dimensão, mas sempre que alguém estranho se aproximava todo o tempo gasto em relaxamento evaporava. Era extremamente cansativo. Se pudesse passaria o dia inteiro trancada no quarto, mas não podia me esconder pra sempre.

- Você vai à festa hoje – Ozzy sentou na espreguiçadeira ao meu lado.
- Er... Não, obrigada.
- Não perguntei se quer ir. É a nossa última noite aqui e eles vão fechar o parque aquático à noite pra uma confraternização com todas as escolas de magia. Todo mundo vai e você também.
- E como isso vai acontecer? Pretende me arrastar até lá à força? – perguntei sarcástica.
- Se for preciso, sim. Desde que chegamos você não saiu de dentro do hotel, Parv! Não fez nenhum passeio com a gente, não conheceu nenhum lugar. Essa viagem é para aproveitarmos nossos últimos dias juntos e você se escondeu de todo mundo. Poxa, nós mal passamos tempo juntos.
- Desculpa, também queria ter passado algum tempo com você.
- Por que esse medo todo? Já parou pra pensar que ela pode estar se escondendo de você também?
- Isso não me ocorreu.
- Anda, vamos – ele levantou da espreguiçadeira e estendeu a mão pra mim – A festa começa em uma hora e não vou deixar você passar a última noite aqui sozinha.
- E se eu entrar em pânico e me desconcentrar? Com toda aquela gente no parque vou entrar em colapso.
- Não vou sair do seu lado, pode se desconcentrar a vontade.

Peguei sua mão e deixei que ele me puxasse pra cima dele e me beijasse. Ozzy tinha razão, as viagens de formatura sempre tinham o propósito de unir as turmas e permitir que elas tivessem um pouco de diversão e tempo livre antes de cada um seguir o seu caminho. Muitos de nós nunca mais nos veríamos e até então eu não tinha aproveitado nenhum tempo livre com meus amigos. Se esbarrasse com Emma no parque, então teria que lidar com isso. Não ia sacrificar minhas últimas horas no Hawaii me escondendo.

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Sempre gostei de parques aquáticos. Subir até o topo das imensas escadas e descer a toda velocidade pelos variados tubos de água é sempre uma experiência única, mas visitar um parque aquático durante a noite é sem duvida a mais única de todas. Todos os tubos gigantes estavam decorados com luzes coloridas, uma mesa imensa com frutas e bebidas não-alcoólicas estava montada na praia da piscina de ondas e um palco havia sido montado no fim da piscina, onde um DJ ocupava todo o espaço com um equipamento de ultima geração. Todas as atrações do parque funcionavam normalmente, como se estivéssemos à luz do dia, então muitos alunos passavam correndo de um lado pro outro com bóias enormes debaixo do braço enquanto dançavam no ritmo da musica que o DJ mandava para as caixas de som.

- Relaxe um pouco, meu amor – Ozzy riu quando uma garota loira esbarrou em mim e apertei seu braço com força – Qual o problema se esbarrar com ela?
- O problema é que não vou saber o que fazer! O que digo a ela? Isso é muito estranho.
- Ela também não deve saber o que dizer, então diga apenas oi – ele sorriu e beijou meu rosto – E tem milhares de pessoas aqui, a probabilidade de você encontrá-la é mínima.
- Ah ótimo, por que foi dizer isso? Agora tenho certeza que vamos nos encontrar!
- Só porque eu disse que é improvável? – ele riu outra vez, mas eu não estava achando graça.
- Lei de Murphy. Ela não falha nunca.

Era verdade, ela nunca falhava. Separamos-nos de nossos amigos e caminhamos sozinhos até a mesa de frutas, estava morrendo de fome. Com tanto tempo relaxando acabava me esquecendo de comer e peguei um cacho de uva da mesa. Quando o ergui, outra pessoa tinha pego o mesmo cacho. Ia me desculpar e devolver o cacho quando ergui a cabeça e vi que era ela. Emma Blachard estava parada na minha frente, segurando a outra ponta dele. Soltamos na mesma hora e o cacho se espatifou no chão, rolando uva para todo lado. Congelei na mesma hora e ela virou de costas em pânico, agarrando o braço de um garoto que estava de pé ao seu lado.

- Dave, vamos embora agora! – ouvi-a dizer com a voz esganiçada.
- Em, calma. Não temos que ir embora – ele respondeu em um tom de voz reconfortante alisando seu braço.
- Sim, temos! – ela insistiu e me virei para Ozzy, que assentiu me incentivando.
- Não, não tem. Nenhuma de nós precisa ir embora – disse calma e o garoto que a segurava sorriu.

A hesitação dela era nítida, mas depois do que pareceram vários minutos, Emma me encarou. Era como se tivessem se passado três anos e Alexis estivesse mais uma vez diante de mim. A semelhança entre as duas era tão grande que por um instante me desestabilizei, mas Ozzy estava colado em mim como um guarda-costas e não houve nenhum acidente. Ela também me olhava com uma expressão estranha e por um breve segundo ouvi o nome Adam em seus pensamentos. Ozzy apontou para uma mesa vazia do outro lado da piscina e o seguimos.

- Certo... – Ozzy falou depois de um longo silencio – Oscar, mas pode me chamar de Ozzy. Sou namorado da Parvati – e estendeu a mão ao garoto.
- David, ou Dave – ele apertou-a animado – Namorado da Emma.
- Você trouxe algum baralho, Dave? – Ozzy perguntou e David riu. Dei um beliscão em sua perna.
- Olha, isso é tão esquisito pra mim quanto deve ser pra você, mas estou com fome e não peguei aquelas uvas, então vamos acabar logo com isso – disse de uma vez e acabei quebrando o clima tenso, porque ela riu.
- Isso é muito esquisito. Você é tão parecida com Adam que é como se ele tivesse crescido e virado mulher – David engasgou prendendo um riso e Emma o encarou.
- Quem é Adam?
- Meu irmãozinho. Quer dizer, nosso irmãozinho. Ele tem sete anos.
- Você se parece com alguém também. Alexis é... – parei de falar de repente e Ozzy apertou minha mão – Ela era minha irmã, nossa irmã, mas morreu ano passado.
- No acidente que permitiu que descobríssemos da troca – ela completou e assenti.
- Acho que já nos encontramos antes... – David falou pensativo e nós duas olhamos para ele, confusas – Sim, já nos encontramos! Nas Olimpíadas, foi você! Em, foi ela que quebrou a raquete na minha cabeça!
- Merlin, era você! – tapei a boca horrorizada e Ozzy começou a rir – Desculpa!
- Por que você quebrou uma raquete na cabeça dele?
- Ela atirou a raquete na minha direção, na verdade – David corrigiu e agora Emma ria sem parar – Chamei o garoto que fazia dupla com ela de gazela saltitante no calor do momento, juro que não sou homofóbico. Pedi desculpas depois, quando a forçaram a se desculpar na enfermaria.
- Robbie às vezes merece o apelido, não o julgo. Queria ter visto isso.
- Foi uma cena e tanto – Emma continuava rindo.
- E ainda assim vocês avançaram pra final?
- O jogo já tinha terminado e tínhamos perdido, não anularam o resultado – ela deu de ombros – Não acredito que era você. Como não reconheci Adam em você?
- E eu não reconheci Alexis em você.
- Bom, acho que todos concordamos que você estava muito ocupada atirando raquetes em estranhos pra notar as semelhanças – Ozzy sugeriu e David concordou.

Começamos a rir e dai em diante, a conversa fluiu com uma naturalidade impressionante. Emma não era parecida apenas fisicamente com Alexis, tinha muito de sua personalidade e era extremamente fácil conversar com ela. E David, tirando o episodio da raquete, era realmente legal. Passamos a festa inteira naquela mesa, trocando informações sobre nossas famílias enquanto todos se divertiam nos tobogãs e pista de dança. Voltamos para o hotel quando o parque ficou em silêncio e percebemos que a música havia parado. Despedimo-nos ainda no saguão, não íamos ter tempo de nos falarmos pela manhã, e prometemos uma reunião das famílias para o mês seguinte. Não achei que fosse estar preparada tão cedo, mas a verdade era que agora estava ansiosa para conhecê-los.