- Vocês não querem vir comigo? Eu não tenho noção do que fazer lá...
- Como não tem noção? Você vai ver uns caras voando em vassouras, atirando o puck de um lado a outro. E fará a mesma coisa que fazemos nos jogos dos Ducks.- disse Parvati.
- É goles, Parv. O batedor, o seu Mitchel no caso, rebate os balaços que voam descontroladamente e livra os artilheiros de uma pancada dolorosa, enquanto tentam fazer gols com a goles, e não boceje como costuma fazer nos jogos dos Ducks ok?.- disse Robbie com seu jeito de sabe tudo e continuou, após prender uma echarpe em tons de verde e prata ao redor de meu pescoço.
- Eu sei que é goles, era só pra ouvir você dando aulinha, Miss Robbinson.- Parv mostrou a língua e rimos.
- Eu só bocejo nos jogos dos Ducks, quando as ‘rainhas do gelo’ pulam nos pescoços deles. Porque você está me dando esta echarpe? Veio de alguma liquidação?- provoquei e Robbie, estremeceu ante a minha pergunta:
- Será de bom tom, você usar as cores do time do Callahan, o ‘Green Warriors’ eles são os líderes da temporada. Ah e por favor, meu bem, quando houver um gol, não grite ‘GO Ducks’! É morte certa. – e Robbie ainda citou um monte de regras sobre quadribol que eu fingia ouvir, mas estava preocupada demais com as letras das músicas para ouvir tantos detalhes de um esporte que eu não iria voltar a assistir tão cedo.
Quando cheguei ao campo de quadribol, fiquei pasma em ver as arquibancadas lotadas, me sentei perto dos torcedores que usavam verde e prata como eu, e os jogadores dos times quando deram uma volta de apresentação, Callahan acenou para mim e acenei de volta, afinal se para ele colaborar e concordar com as minhas escolhas musicais, eu faria o melhor possivel.
Ao final do jogo com a vitória do time do Mitchell, eu desci até o campo junto com outros torcedores e devo confessar que havia gostado do jogo. Depois de um tempo, ele me encontrou esperando perto dos vestiários. Havia tomado banho e se trocado.
- Estas cores ficam bem em você!- ele disse me analisando e eu me senti um pouco acalorada.
- Gestos de boa vontade são bem vistos não é?- ele sorriu e começamos a nos dirigir para o castelo, para o nosso ensaio. Depois que chegamos no castelo, fomos direto para o teatro e não havia ninguém. Claro que não haveria ninguém, as pessoas gostam de aproveitar o seu sábado para se divertir e não ficam fazendo as tarefas de escola.
Tirei as partituras da bolsa e comecei a mostrar as músicas que havia escolhido. Só de olhar, ele já demonstrou não gostar e começamos a discutir, após cinco músicas rejeitadas:
- Desculpe, mas eu não vou usar uma máscara branca, e cantar ‘ All I ask of you’ , detesto o ‘Fantasma da Ópera’. Aquele cara foi um fraco, que se deixou cegar pelo amor de uma garota egoísta e covarde...
- É uma musica linda, faz muito sucesso na Brodway e foi um dos primeiros musicais que a professora Yelchin participou. E ele não foi um fraco, temos que entender que ele sofreu muito, e amor não nos torna fracos, nos faz fortes e capazes de tudo. Por amor Christine abriu mão do homem que amava, ela sofreu a vida toda...- eu disse e ele começou a rir.
- Claro, ela abriu mão de ser a mulher de um psicopata deformado, para ‘sofrer’ na boa vida de viscondessa.E você não acredita realmente nestas besteiras não é? Não você.
-Porque não eu? Acha que eu não tenho sentimentos?
- Você faz uma coluna de fofocas, que destrói a vida das pessoas, não deve ser alguém que ‘sofra por amor’.E não vale amor platônico. – procovou.
- Para quem não gosta de ‘o fantasma da ópera’, você é muito dramático. Na minha coluna apenas faço comentários de coisas que vejo, não invento nada. Aliás, não me lembro de citar seu nome nela, não tem razão para estar me odiando assim.
- Você disse que Tiffany e um dos caras dos Ducks, estavam se ‘conhecendo melhor’. Claro que nosso namoro não resistiu à suspeita que você lançou.- lembrei que eu havia comentado isso sobre uma loirinha e um dos atacantes do time de hóquei.
- Tiffany? A garota do clube de Artes? - e ele assentiu e eu disse dando de ombros:
- Eu estava certa não é? Ela realmente estava com alguém do time de hóquei e vamos ser francos: não tenho culpa se ela nem gostava tanto assim de você.
- Mas com o tempo nos acertaríamos, já estavamos juntos há um bom tempo...
-Ah céus, você é um daqueles caras..
- Que caras?
- Daqueles que acham que basta amar demais uma garota e ela vai se sentir grata e retribuir o seu amor. Sinto dizer que isso só acontece nos filmes, garotão.
- É você deve saber bem disso, há anos corre atrás do Finnegan e até já ficou com ele, mas ele nunca te assume.- e foi como se eu tivesse levado um soco.
Meus olhos começaram a queimar, e comecei a piscar rápido, senti um nó na garganta e puxei o ar com força. Percebi que ele recuou enquanto me encarava, deve ter ficado com medo de que eu chorasse, mas eu não iria fazer isso.
- Muito bem, agora que já esclaremos as coisas, podemos decidir qual música vamos cantar? - eu disse.
- Eu sinto…
- Não temos que gostar um do outro, vamos apenas escolher uma música e seguir em frente ok? Sei que podemos fazer um bom trabalho, pois me lembro dos testes e você foi muito bem. – disse o mais fria possível e ele pareceu entender que eu não falaria mais nada e se resignou.
Começamos a sugerir músicas modernas e ironicamente acabamos nos decidindo em fazer um mash up, de ‘borderline & open your heart’ e mesmo rindo e cantando durante o ensaio, estávamos frios um com o outro.
Repetimos a coreografia, várias vezes e eu ja estava ficando cansada, e disse:
- Acho que não podemos fazer mais nada por hoje. Esta música vai ficar legal, e não creio que outros a usem. – comecei a arrumar as partituras para guardar e ele se aproximou:
- Leonora, eu fui um idiota...- me virei para ele, cortando-o:
- Aqui estão os dias que posso me encontrar com você para treinarmos nosso dueto. Caso você precise mudar, é só me avisar.- sai dali e só quando cheguei na república, foi que percebi que eu havia perdido a minha echarpe.
-o-o-o-o-o-o
Something in your eyes
Is makin' such a fool of me
You're making me
You're making such a fool of me
I see you on the street and you walk on by
You are in the street
I see you and you walk on by
When you hold me in your arms
You love me till I just can't see
oh oh oh oh oh oh oh
- Isso está uma droga!- disse Mitchell interrompendo nosso ensaio. Já era véspera da apresentação e já tinhamos ensaiado repetidamente.
- Não temos tempo para mudar agora.- disse seca e ele se aproximou e ficou perto de mim:
- A música é ótima e nós conseguimos achar o tom certo...Mas não rola química, enquanto você estiver me tratando como se eu sofresse de peste.
- Se quiser, desistir, me apresento sozinha, sempre tenho um número extra preparado.- eu disse e ele me segurou pelos braços e me puxou para perto dele:
- Eu não vou desistir de nada. Quando você disse que ficaríamos bem juntos, eu aceitei e fiz o melhor, mas se não resolvermos o nosso problema, esta música não vai funcionar e vamos fracassar.Você está parecendo um robô.- ele criticou.
- Eu estou parecendo um robô? Você é que parece estar usando um colete ortopédico.Vamos ensaiar mais, quem sabe melhora a nossa ‘quimica’. - estávamos perto um do outro e ele disse:
- O meu método é mais rápido.- e me puxou para cima dele e me beijou, no começo de forma dura, e depois foi suavizando. De repente me soltou e deu um passo atrás, e para minha sorte eu estava perto do piano e me apoiei nele, tentando aparentar que nada daquilo havia me abalado.Ficamos nos encarando e ele disse:
- Não vou me desculpar.
- Não quero desculpas. Podemos voltar a ensaiar?- respondi no mesmo tom.
Voltamos a cantar e a dançar, mas o que antes parecia artificial, começou a ficar normal, e eu não me encolhia mais quando ele se aproximava demais. Ao final do ensaio, nós dois íamos nos encontrar com nossos amigos, e após uma troca de olhares nos separamos e acenamos um ao outro. Era nosso acordo não verbal sobre não tocar no assunto do beijo.
so you choose to look the other way
Well, I've got something to say
Open your heart to me, baby
I hold the lock and you hold the key
Open your heart to me, darlin'
I'll give you love if you, you turn the key
N.Autora: trecho de ‘Borderline & Open your heart’, Glee