"Uma idéia que não é perigosa não merece nem mesmo ser chamada de idéia."
Oscar Wilde
‘Atenção!’ Georgia bateu com um martelo na mesa ‘Silêncio! Se não tivermos ordem, não vamos terminar a reunião!’
‘Já nos calamos, Sra. Presidente’ Milla disse com sarcasmo ‘Conclua’
Georgia fingiu não se importar e continuou a falar. Estávamos na reunião do Conselho da Avalon, formado pelas alunas do 7º ano. E a pauta dessa primeira reunião do ano era o trote nas calouras. Esse ano seria diferente, pois tínhamos 5 garotas mais velhas que mereciam um trote separado. Georgia encerrou a reunião distribuindo as tarefas de cada uma e saímos da sala.
‘Vou ajudar com as novatas’ Nina disse lendo seu roteiro ‘Ótimo, tenho algumas idéias já’
‘Eu também vou trabalhar com as calouras, vou supervisionar para que Nina não pegue leve demais com elas’ Annia comentou rindo
‘Eu fiquei com as mais velhas’ Vina disse olhando o meu papel e o de Milla ‘Oba, vocês também!’
‘Ótimo, assim vamos poder presentear aquela menina enjoada do 6º ano’ Milla comentou maldosa e rimos ‘Ô garotinha nojenta!’
‘Então eu já tenho uma idéia ótima! Vamos começar a trabalhar imediatamente!’ Disse empolgada e começamos a rir de um jeito sinistro. Pilar tinha razão: ser veterana era bom demais...
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‘Silêncio, por favor’ Vina pediu, gesticulando ‘Se reúnam aqui’
As calouras mais velhas pararam de conversar e se reuniram na nossa frente. Estávamos na praça da cidade com elas, em um sábado livre. Elas eram 5: Karina e Andréa, da Ansuz e Mannaz, 5º ano; Inês, do 6º ano da Othila; e Nádia e Tatiana, Berkana e Mannaz, 7º ano. O trote que deveríamos bolar tinha que estar dentro dos padrões da Avalon, ou seja, nada que nos metesse em confusão e denunciasse todo o esquema de trote nos calouros ao corpo docente da escola. Separamos alguns itens malucos e totalmente aleatórios em umas listas e distribuímos às cinco. Elas teriam que fotografar todos os itens que pedimos e nos reportar no fim do dia.
Era a 1ª parte do trote, para elas pensarem que seria simples. Mas fizemos uma pequena brincadeira com a lista da Inês. Milla já tinha tomado implicância com ela e não era pra menos. Ela era filha do Ministro da Magia da Bulgária e achava que podia chegar mandando na republica. Ninguém gostava dela, mas Georgia fazia questão de ter aquela enjoada na Avalon, pois dizia que chamava atenção positiva pra casa. Não podíamos fazer nada, ela era a presidente, então tiramos proveito do trote. Se não poderíamos tirar ela a força, íamos fazer ela querer sair.
‘Vocês têm até às 20h para nos entregar tudo. Quem deixar algum item de fora, vai pagar penitencia’ Anunciei e todas dispersaram, menos Inês. Ela leu a lista dela curiosa e veio até nós
‘Algum problema, Inês?’ Milla perguntou cínica
‘A minha lista’ Começou, em um falso tom de descontração ‘Alguns itens são um pouco estranhos. Vocês têm certeza que as outras receberam tarefas similares? Membro do corpo docente sem roupa, uma prostituta de meia idade, um anão punk... Isso é algum tipo de brincadeira?’
‘Por acaso temos cara de quem está brincando?’ Falei me mantendo séria ‘Todas receberam tarefas do mesmo nível e já saíram para tentar obter tudo da lista. Mas se acha que não consegue, é só devolver e desistir’
‘Não, eu vou conseguir. 20h, certo?’ Vina confirmou com a cabeça e ela saiu jogando o cabelo pra trás, aquele ar arrogante infestando o ar
‘Ela não vai conseguir nem começar’ Comentei quando ela se afastou
‘Não mesmo. Vai desistir e outra republica que ature a princesinha mimada’ Milla torceu o nariz
‘Só espero não termos problemas com Georgia quando ela souber das tarefas que delegamos a Inês’ Vina parecia preocupada, mas deu de ombros ‘Ah, mas também, quem se importa?’
Começamos a rir imaginando Inês desesperada tentando fotografar todas as coisas impossíveis que listamos para ela e sentamos no banco da praça para ver os outros trotes. Micah e Chris estavam com alguns garotos do 7º ano na praça comandando o grupo de calouros da Spartacus. Todos os do 1º ano estavam descalços e corriam de um lado pro outro tentando encontrar os pares certos, para calçarem outra vez, e isso dava tempo aos veteranos de encerrar o trote com os mais velhos. Victor conversava com uma estátua sob a supervisão rigorosa de Chris, e caímos na gargalhada quando descobrimos que ele contava piadas pra ela. Ricard estava sendo supervisionado por Micah, e abordava as pessoas na rua com um copo na mão, pedindo dinheiro. Algumas davam, mas outras brigavam com ele e mandavam procurar um emprego. Wes estava sem sapatos também, e pulava corda no meio da pracinha ditando o alfabeto de trás pra frente.
De vez em quando os dois vinham sentar com a gente pra observar de longe e rir, mas logo corriam pra inspecionar algum outro calouro. Os mais velhos faziam coisas como as de Victor, Wes e Ricard, e também pulavam amarelinha no meio da rua, imitavam bichos, declaravam poemas de amor a estátuas, ensaiavam uma cantada com elas e outras coisas bizarras.
Annia e Nina se juntaram ao grupo na parte da tarde dizendo que todas as calouras estavam tendo que procurar pelas mesmas coisas das nossas calouras, mas coisas mais acessíveis, como um pássaro azul ou um professor tomando café, e se largaram no banco, cansadas. Passamos o resto do sábado apenas observando nossas calouras correrem de um lado pro outro com as listas na mão, e a única que não era vista em canto algum era Inês. Será que ela estava mesmo tentando fotografar aquelas coisas? Não, impossível. Ela nunca ia conseguir...