Novembro chegou e o inverno já dava indícios de que seria o pior de todos. Era a primeira vez que os alunos de Durmstrang reclamavam do frio e poucos optavam por sair de debaixo das cobertas e do aconchego das republicas quentes nos fins de semana, principalmente os alunos das outras escolas. Mas decidida a não passar outro sábado presa naquele quarto minúsculo e ainda tendo que topar com a Inês pela Avalon, vesti meus casacos mais grossos e encarei o vento gelado da rua.
Pretendia ir ao vilarejo tomar um café e ver um pouco de movimento, mas antes passaria na Esparta para chamar Micah para me acompanhar e aproveitar para ter notícias de Dario e Filipe, pois não falava com eles há alguns dias. Estava em pé na varanda da republica pronta pra bater na porta quando ouvi a voz de Hanna. Recuei alguns passos e não dava para entender o que ela dizia, só que falava alto. A porta abriu com violência.
‘Você pode se arrepender depois, Dario’ Ouvi Hanna ameaçar o irmão
‘Já me arrependo de muitas coisas, Hanna. E deixar você entrar aqui hoje é uma delas. Sai, por favor’ E o rosto de Dario apareceu, seguido dela.
‘Olá Evie’ Disse com aquele nariz em pé, me mirando de cima a baixo
‘Oi Hanna’ Respondi no mesmo tom e revirei os olhos pra Dario quando ela passou
‘Entra Evie’ Ele disse já sorrindo e fechou a porta quando passei ‘Veio procurar o Micah? Ele está no quarto’
‘Vim procurar ele sim, mas também saber de você e do Lipe’ Tirei as luvas grossas e o capuz enquanto falava, sentindo o fogo da lareira esquentar meu rosto ‘Como está se virando por aqui? Sentindo muito frio?’
‘Não sei como vocês agüentam! Sério, eu saio daqui parecendo um pingüim de tão gordo por causa dos casacos e o frio parece que não passa’
‘Vocês ainda deram o azar de pegar um frio que nem a gente ta acostumado. E o Lipe? Já se adaptou?’
‘Você sabe como ele é, né? Claro que ta tentando se encaixar, mas não perde o jeito nerd’ Dario riu ‘Mas seu namorado está fazendo um excelente trabalho corrompendo ele. Ontem mesmo ele participou da conversa sobre um contra-ataque a Chronos e parecia empolgado’
‘Ótimo, Micah vai conseguir provocar a primeira detenção da vida do Lipe’ Revirei os olhos, mas não consegui deixar de rir. Vovô ia ter um troço.
‘Ah, pensei mesmo ter escutado a voz da garota da minha vida’ Ouvi Micah falando descendo as escadas. Parou do meu lado me abraçando e me beijou
‘Preciso sair um pouco’ Falei já tirando as luvas do bolso ‘Posso cometer um homicídio se ficar naquela republica hoje’
‘Ah, Inês’ Ele riu e quando não ri, me beijou ‘Vamos, minha Deusa. Vamos pra onde você quiser’
‘O café do vilarejo está de bom tamanho’ Ri ‘Quer ir, Dario?’
‘Sair nesse frio? Está louca!’ Falou como se tivesse convidado ele pra nadar no lago ‘Bom passeio pra vocês, mas vou hibernar esse fim de semana’
Deixamos Dario enrolado em um cobertor no sofá lendo um livro e encaramos o frio da rua. Quase ninguém circulava pelos jardins da escola, mas o café do vilarejo estava bem movimentado. A maioria das pessoas ocupando as mesas eram alunos. Conseguimos uma mesa perto da lareira e pedimos uma torta e um café expresso cada um.
Passamos quase a tarde toda no café. Era até engraçado como os assuntos nunca terminavam, era fácil demais conversar com o Micah. Diferente de como era com Josh, onde depois de meia hora eu começava a me entediar. Era estranho como ele parecia me conhecer até mesmo melhor do que eu. Era a primeira vez que sentia que podia falar qualquer coisa, que não seria julgada por isso. Sabia que podia contar a ele o que fosse, que ele não mudaria em nada comigo.
Já começava a escurecer e o café foi esvaziando. Micah já ia pedir a conta quando alguém derrubou um prato no chão e depois começou a rir alto. Reconheci a risada na mesma hora e olhei para trás. Georgia estava abaixada recolhendo os cacos de louça do chão e cutuquei Micah, indicando ela com a cabeça. Ele correu para ajudar e ela levantou ainda rindo, pedindo outro pedaço de torta. Depois veio sentar conosco.
‘Tudo bem, Georgia?’ Micah perguntou curioso ‘Sozinha aqui?’
‘Essa torta é divina, como não poderia estar bem?’ Falou pegando um pedaço enorme de torta e colocando na boca. Ela parecia um pouco fora do ar
‘Pensei que estava na Avalon. Não tem a festa com as diretoras pra organizar?’ Perguntei me divertindo com o jeito aéreo dela
‘Não posso pensar nisso agora’ Respondeu gesticulando com a colher e atirou uma cereja longe ‘Inês está me deixando louca! “Ora Georgia, seria muito bom para a sua presidência se me deixasse ajudar. Tenho contatos diretos, papai é Ministro da Magia e uma pessoa muito influente”. ARGH!’ Ela rosnou alto e nos assustamos ‘O único contato direto que ela vai fazer é com a palma da minha mão se não parar de me atormentar’
‘Sei que não é um bom momento, mas acho que é agora que entra a frase: eu avisei’ Ri e ela me olhou atravessado. Depois riu esquisito e olhou para a torta, decidindo que pedaço ia pegar
‘Não acredito que uma garota só vai vencer uma republica inteira’ Micah falou rindo ‘Vocês tem que ela pegar de algum jeito’
‘Ela tem que ter algum segredo!’ Bati a mão na mesa irritada e Micah a segurou para não fazer de novo ‘Não é possível que ela seja perfeita’
‘Claro que ela não é perfeita, mas vocês vão fazer o que? Contratar um detetive?’ Ele riu
‘Não é uma má idéia, sabem... Um detetive’ Georgia comentou distraída e sorriu quando a encaramos ‘Gente importante assim sempre tem algum podre’
‘É, aposto que ela tem os seus também!’ Falei empolgada e Micah balançou a cabeça. Ignorei ‘Mas aonde vamos achar um detetive profissional?’
‘Não precisa ser profissional, basta conhecer alguém que trabalhe em um jornal’ Georgia lambeu a colher da torta e observava o teto, curiosa ‘Tenho um contato no Profeta Diário, vou falar com ele. Se ela tiver algum segredo, ele vai descobrir’
‘Por que vocês não tomam uma medida mais rápida?’ Micah sugeriu ‘É mais eficiente revidarem logo’
‘Se tiver alguma solução imediata, pode compartilhar com a gente, porque não temos nada’ Falei irritada outra vez e ele tornou a apertar minha mão ‘O que eu queria mesmo era que ela fosse flagrada fazendo alguma coisa errada, a crista ia abaixar depressa’
‘Impossível ela ser pega em um escândalo, só se fosse alguém se passando por ela’ Georgia desviou a atenção do teto e agora fitava a taça vazia ‘Isso só seria possível com uma poção polissuco... Droga, acabou. Vou pegar mais’
‘Ela ta bem?’ Micah perguntou rindo, vendo Georgia andar meio desnorteada pelo café
‘Ela ta tomando uns remédios ai pra acalmar. A enfermeira da escola passou um monte de coisa pra ela, disse que ela tava a ponto de ter um colapso nervoso’ Respondi distraída, pois minha cabeça já estava em outro lugar. Inês precisava ser pega em um escândalo e para isso acontecer, só alguém se passando por ela. Micah tinha razão, precisamos revidar depressa. Acho que poderíamos providenciar isso enquanto o contato da Georgia não nos manda um relatório...