Ela desceu as escadas da varanda depressa, parando na cerca do quintal e correndo até a praia, procurando por Ella em todas as direções possíveis. A área estava quase deserta, com apenas algumas pessoas vagando com sorrisos no rosto, indiferentes à preocupação de Eva. Ela temia que sua filha tivesse sido levada pelo mar. Se esforçava para enxergar o mais longe possível, mas as lágrimas atrapalhavam a visão. Com um soluço, ela caiu de joelhos no chão, escondendo o rosto em suas mãos e chorando incontrolavelmente. Eva sentiu seu mundo desabar com a imagem do corpo sem vida de Ella, sendo devolvido pelas ondas à praia. A idéia dela tendo que enterrar a única pessoa que amava por completo era algo que ela não poderia suportar.
Evie saltou da cama assustada, as cobertas a prendendo na cama e a impedindo de se debater. Sentou ofegante e sentiu o rosto gelado, passando a mão nas bochechas. Foi só então que ela se deu conta de que estava chorando. Conseguiu se livrar das cobertas, saindo da cama e deixando o quarto na ponta do pé. Seu coração batia acelerado, descompassado. Era a terceira vez naquela semana que sonhava com sua mãe e sempre acordava com um aperto no peito. Ignorando o frio, saiu da república e sentou no banco da varanda, contemplando o jardim vazio àquela hora da madrugada. Ou quase vazio. Um barulho chamou sua atenção e Evie debruçou na varanda, observando algo que brilhava não muito longe dali. Olhando com mais atenção, percebeu que seu professor de Adivinhação, Boris Vladimirovich, mexia em um telescópio montado no gramado.
‘Sem sono, professor?’ Evie falou alto e o homem deu um salto, procurando a dona da voz na escuridão ‘Desculpe, não queria assustá-lo’
‘Ah, Srta. Stanislav, que belo susto me deu agora’ Ele acendeu a varinha e riu ao reconhecê-la ‘O que faz fora da cama há essa hora?’
‘Perdi o sono’ Evie respondeu caminhando até o professor, apertando o roupão quente contra o corpo ‘O que está fazendo?’
‘Ante me emprestou este magnífico telescópio para que pudesse observar as constelações e traçar alguns mapas para minha turma do sétimo ano’ Respondeu animado, espiando pela lente mais uma vez.
‘Não ficaria mais fácil fazer isso da torre de astronomia?’ Ela sugeriu, rindo.
‘Sim, muito mais fácil’ Ele respondeu e como ela o encarou sem entender, completou ‘Não conte ao Ante, mas fiquei com preguiça de localizar a torre há essa hora. Daqui posso fazer meu trabalho’ Ele piscou e ela riu ‘Venha, olhe também, já localizei uma’
Ele se afastou e Evie se aproximou, observando vários pontos brilhantes pela lente do telescópio. Seu conhecimento em Astronomia, embora limitado, permitia que reconhecesse algumas das estrelas que formavam a constelação que ele observava. Ela lhe devolveu o telescópio dando um passo para trás e ficou o observando fazer algumas anotações, inquieta. Ele notou que ela queria falar alguma coisa e parou de escrever, a encarando sorrindo.
‘Professor, é normal sonhar com alguma coisa e acordar sentindo as emoções do sonho?’ Ela perguntou, mas incerta se estava conseguindo expressar sua duvida ‘Como se o sonho fosse real, sabe?’
‘É perfeitamente normal. Se você sonha que está caindo, vai acordar com a sensação de que está caindo da cama. Se você sonha que está se afogando, vai acordar com falta de ar’ Explicou ‘Mas por que essa dúvida? Nunca teve essas sensações?’
‘Mas não é uma vez ou outra, é sempre. Tenho sonhado quase todo dia e sempre acordo chorando ou então passo o dia inteiro triste, sem saber o motivo. Hoje acordei chorando e com um aperto no coração que não consigo explicar’ Evie começava a soar desesperada enquanto explicava e ele notou
‘Esses sonhos, são sempre com a mesma pessoa?’ Ele perguntou parecendo preocupado ‘É com você ou alguma outra pessoa que conheça?’
‘Geralmente é comigo, mas às vezes tem uma criança que não sei quem é, sempre a mesma. Hoje minha mãe também estava e ela era a mãe dessa criança’ Evie notou a preocupação no tom da voz do professor e se alarmou ‘O que está acontecendo, professor?’
‘São sonhos premonitórios. Eles estão tentando lhe dizer alguma coisa. E em alguns casos, raros, porém não impossíveis, são coisas que já aconteceram. Depois das aulas de hoje, passe na minha sala e podemos conversar melhor sobre isso’
Evie assentiu com a cabeça e depois de trocarem mais algumas palavras, voltou para a república. Mas não voltou ao quarto. Amanheceu sentada no sofá da sala, pensando nos sonhos que vinha tendo e que significado eles poderiam ter, o que poderiam querer lhe dizer? A resposta nunca veio e ela adormeceu já com o dia claro, abraçada a uma almofada.
*****
‘Evie?’ A voz de Milla invadiu o quarto escuro ‘Está ai?’
‘Por onde você andou?’ Vina apareceu atrás dela, acendendo a luz ‘Não apareceu nos clubes e Georgia está atrás de você como um cão farejador por causa do jornal’
‘Você está chorando?’ Ela ouviu a voz de Annia entrando no quarto e as três se aproximaram ‘O que aconteceu?’
‘Conversei com o Dimitri’ Ela respondeu, a voz abafada pelo choro ‘Ele me contou que matou uma pessoa’
‘O que??’ As três fizeram coro, espantadas, e se sentaram de frente para a amiga
‘Aquele homem que apareceu morto no lago aqui perto, foi Dimitri’ Ela falava e era difícil compreender por causa das lágrimas, mas era impossível controlá-las ‘Disse que meu pai entregou a ele uma seringa com veneno de Grindylow e o pressionou a injetar no homem, ele acabou cedendo. Disse que se arrependeu, mas não podia fazer mais nada e que Micah testemunhou e meu pai sabe disso’
‘Merlin, que horror!’ Vina falou horrorizada ‘Então seu pai persegue o Micah por causa disso? Por que ele sabe que Micah viu o assassinato?’
‘Não, Dimitri disse que não sabe o motivo, mas começou assim que Micah pisou aqui’
‘Mas o que Dimitri vai fazer?’ Annia perguntou ‘Se ele contou isso a você, significa que vai nos ajudar?’
‘Ele quer ajudar, mas tem medo’ Evie respondeu, o choro diminuindo, mas ainda presente ‘Quem executou foi ele, sabe que vai ser prejudicado’
‘Mas ele tem 13 anos, é menor de idade’ Milla interrompeu ‘Quem vai responder processo é o seu pai, ainda mais que foi ele que instigou o garoto a fazer isso’
‘Eu sei, disse isso a ele, mas ele tem mais medo do que pode acontecer a ele quando meu pai descobrir que ele se entregou. Envolve a Sociedade também, ele não sabe o que fazer, envolve muita gente’
‘Então vamos falar com os meninos, os mais velhos da Sociedade podem ajudar, eles vão saber o que fazer’ Vina sugeriu e Annia e Milla concordaram com a cabeça
‘Não quero colocar Dimitri em perigo, não vou cobrar dele que entregue meu pai aos aurores se isso for deixá-lo em uma situação ruim’
‘Vai dar tudo certo, o pai do Chris vai ajudar’ Uma voz masculina invadiu o quarto e Evie saltou do chão no mesmo instante.
Micah estava parado na porta, ainda de mochila nas costas, e sorria cansado. Ela correu pelo quarto e o abraçou, afundando a cabeça em seu ombro e recomeçando a chorar.
‘Vai dar tudo certo, eu nunca mais vou deixar você sozinha’ Ele repetia, enquanto acariciava seus cabelos. E ela sabia que era verdade. Ele jamais sairia do seu lado outra vez.
I love you, I've loved you αll αlong
And I forgive you for being αwαy for fαr too long
So keep breαthing 'cαuse I'm not leαving you αnymore
Believe it, hold on to me αnd never let me go
Nickelback – Far Away