Em Durmstrang, após o término das aulas da semana, nas sextas feiras, nós podiamos optar em ficar em nossas repúblicas, ou ir para casa. Eu geralmente ficava na república, mas atendendo a uma pedido de minha avó, iria visita-la em sua casa, pois ela queria que eu a acompanhasse em uma das reuniões do Conselho das empresas, no sábado pela manhã. Não podia ir direto até a sua casa, pois ela não era bruxa, e morava em um bairro totalmente trouxa, então me encaminhei até o vilarejo, e peguei uma das lareiras do Ministério que era ligada direto a um prédio do serviço público trouxa, e após espanar minhas vestes para tirar o pó de Flú, peguei um taxi e fui até sua casa, em um bairro elegante de Sofia.
No sábado pela manhã, depois de participarmos de uma reunião um pouco tensa, fomoa almoçar e fomos nos distrair, fazendo algumas compras. Conversavamos sobre tudo, e vovó me falava sobre seus planos para as empresas e o porquê de algumas de suas decisões, irritarem meu pai, e isso sempre depois de querer saber da minha vida, e sobre meus amigos. Ela tinha um enorme carinho por Finn, Robbie, e Parv e ficou toda feliz, quando eu contei sobre o quanto Robbie estava feliz com o seu namorado Alec, e como Parv tem se saído bem como presidente do grêmio.
Voltávamos de uma tarde cheia de sacolas e pacotes, e eu estava com os braços carregados, quando os senti ficarem vazios. Olhei espantada, pensando em ladrão, quando vi vi Mitchell na minha frente segurando os pacotes.
- Mitchell o que faz aqui?
- Estou visitando uns primos aqui perto. Deixe que carrego isso, moças bonitas não deviamm carregar suas compras.- ele disse isso olhando de mim para a minha avó e ela sorriu, enquanto abria as portas de casa e ele depositava as compras no chão perto da porta:
- Que gentil da parte de seu amigo nos ajudar, não é Leonora Marie?- e me olhou insistente, pois eu ainda estava surpresa:
- Sim, claro. Vovó quero que conheça, Mitchell Callahan, ele é...um...um colega de escola. E esta é minha avó, Leonora Carrara.
- Estou encantado em conhecê-la senhora.- disse pgando na mão dela e curvando um pouco a cabeça e pude perceber que vovó adorou as boas maneiras dele, pois o convidou para tomar um café.
E dali, eles engataram uma conversa e eu fiquei de lado apenas observando ou respondendo quando me perguntavam alguma coisa. Mitchell estava todo falante, e eu acabei me distraindo, quando ouvi ele dizendo a minha avó que tinha esperanças de conseguir me fazer sair com ele, afinal já haviamos até nos beijado, mas que eu era tímida, quase engasguei. Vovó achou tudo muito engraçado e depois de olhar para mim, disse que eu deveria sair com Mitchell. Ele é claro, aproveitou que eu estava de guarda baixa, e me convidou para jantar.
- Escolha o lugar que quiser Leonora, podemos nos encontrar lá.- disse com olhos maliciosos, senti vontade de dar uma lição nele, por estar manipulando aquele encontro, e escolhi um caro restaurante francês, notei que ele ficou um pouco surpreso, mas se recuperou rápido.Logo que ele foi embora, achei que minha avó fosse falar alguma coisa, sobre a minha escolha, mas vovó se limitou a dizer que ele era muito gentil e ele sempre seria bem vindo.
Eu cheguei ao Chez Robert às oito em ponto. O restaurante francês, com paredes em motivos florais e espaços iluminados pela luz das velas, dispostas em candelabros antigos, era um de meus favoritos na cidade. Acabava de deixar o casaco no armário quando recebi a saudação do maitre, que sempre me recebia com minha avó. Beijou a minha mão e ofereceu um sorriso radiante.
- Ah, mademoiselle Ivashkov... é um prazer, como sempre. Não sabia que esta noite iria jantar conosco, onde está madame Carrara?
- Vovó, não virá esta noite, hoje estou com um acompanhante, e seu nome é Callahan.
- Ca... -com o cenho franzido, estudou o livro de reservas enquanto mentalmente repassava o nome-. Ah, sim, mesa para dois às oito. Calamari.
- Muito perto – murmurei e sorri.
- Seu acompanhante ainda não chegou, mademoiselle. Permita que a acompanhe até a sua mesa -com uns arranjos rápidos e eficientes, André mudou a reserva de Callahan para adaptá-la ao meu gosto, tirando-me centro do salão para um lugar mais calmo.
- Obrigada.André – sentei-me com um suspiro.
- É um prazer, como sempre. Deseja beber algo enquanto espera? – ele ofereceu.
- O de costume.
- De imediato. Mademoiselle, se me perdoa a presunção, hoje a lagosta Robert está... -beijou os dedos.
-Confiarei no seu gosto. – respondi, e o garçon saiu todo feliz, em direção á cozinha, enquanto outro chegava com o meu drink. Estava quase no fim da minha água de gilly, quando Mitchell se aproximou da mesa.
-Ainda bem que não sou um jogo de quadribol. – eu disse um pouco irritada, pois achava que ele iria me dar um bolo.
-Jamais chego tarde a um. – ele se sentou e dedicamos um momento a nos avaliarmos.
‘Pois então ele tem uma roupa decente’, pensei e o que mais me chocou: eram roupas de qualidade. Ainda que não tivesse conseguido domesticar o cabelo, estava mais arrumado do que esperava, fazendo o parecer mais velho e devo confessar, muito mais bonito.
- Uso para visitar meus parentes mais velhos, ou para ir em funerais. -comentou Mitchell, captando no mesmo instante o que eu pensava.
- Bom -ergui uma sobrancelha-, isso marca o tom da noite, não?
- Você escolheu o local. Creio que seja para celebrar a morte de sua dieta maluca.– ele recordou. Olhou ao redor pensativo e depois perguntou:
- Como é a comida?
- Excelente, é claro.
- Mademoiselle Ivashkov. –Robert, o chef, era um baixinho rechonchudo e usava smoking parecendo um pinguim, aproximou-se da mesa para me cumprimentar.
-. Bienvenue... – começou Robert e eu o respondi, vi que Mitchell se recostou na cadeira, e nos observou bater um papo em francês.
- Sidra para mademoiselle - ordenou Robert ao garçom-. E para o cavalheiro?
- Cerveja. Americana, se tiver. – Robert olhou para Mitchell e se encararam por alguns segundos, acho que estava verificando se ele não era menor de idade.
- Certamente senhor Callahan. -regressou à cozinha para falar com o chef.
- Bem, suponho que, com isso deixou claro o que pretendia... -comentou Mitchell.
- Perdão? – perguntei me fazendo de boba
- Que viéssemos num elegante restaurante francês, onde o proprietário lhe beija os dedos e pergunta por sua familia, especificamente sua avó. E assim você me colocaria em meu lugar.
- Não sei do que... -franzi o cenho e peguei o meu copo para beber e quis saber:
- Como sabe que perguntou por minha avó?
- Minha avó é franco-canadense. Provavelmente falo o idioma tão bem como você, ainda que com um acento menos fresco. - e sorriu-. E agora confirmo mais uma coisa a seu respeito: você é uma esnobe arrogante, Leonora. E não sei porque, eu gosto disso.
-Claro que não sou....- comecei a negar, mas quando ele continuou sorrindo, resolvi assumir:
- Talvez quisesse incomodá-lo um pouco –suspirei me rendi-. Queria incomoda-lo sim. Irritou-me falando para a minha avó, que nos beijamos. Ora, pelo amor de Deus, isso não é coisa que se conte para uma senhora.
- Eu não ia contar os detalhes mais picantes.- eu abri a boca indignada e ele riu:
- Gostei de sua avó, é uma mulher admirável, muito calorosa e ela é louca por você. Tudo o que quis foi fazê-la rir um pouco. Sabe, você se parece com ela, é bonita. - inclinou a cabeça e me estudou de forma intensa:
-Algum problema? –perguntei tensa, diante de sua avaliação. Notei suas pupilas se dilatarem:
-Er... Você escolheu esse vestido e este perfume para me incomodar?
-Talvez. – respondi erguendo o queixo e após respirar fundo, ele disse:
-Está funcionando -pegou o menu-. Como é a carne aqui? – me segurei para o queixo não bater na mesa, tamanha a rapidez com que ele mudou de assunto.
-Fantástica. Ainda que geralmente eu prefira o pescado –disse entrando no jogo dele e estudando o menu com uma careta.
A noite não ia como eu tinha planejado. Não só tinha me descoberto, como também tinha investido na situação para que eu ficasse como uma boba. Raj e Parv vão adorar saber disso. Depois de pedir, comentei:
-Suponho que, já que estamos em um ‘encontro’, poderíamos estabelecer uma trégua.
-Estávamos brigando? – ele perguntou levantando uma sobrancelha.
-Vamos tentar ter um jantar agradável, por favor. Odeio desperdiçar comida. – resmunguei exasperada, e tomei mais um pouco da minha sidra. Apesar de tudo, eu era uma garota prática e sabia como me virar em diversas situações e não seria um garoto bonito que iria me tirar do sério. Tentei novamente.
- Comecemos com o óbvio. Seu nome é inglês e seu sobrenome escocês, mas você não tem jeito nem de um nem outro, de onde você veio?
- Minha mãe é americana, e meu pai escocês, daqueles que usam kilt e tudo o mais, mas eu e meus irmãos nascemos nos Estados Unidos. – ele respondeu.
- E tem uma avó franco-canadense. – eu continuei e ele disse sorrindo:
- Por parte de minha mãe. Minha outra avó é irlandesa casada com escocês, é claro.
- O que o converte...
- Num cara autenticamente americano...Tem mãos macias e elegantes, eu gosto. - disse segurando a minha mão e me surpreendeu acariciando-me a palma com seu indicador.- comecei a sentir arrepios e calor ao mesmo tempo.
-Er...Huumm... – foi só o que consegui dizer, depois dele liberar minha mão, pigarreei, prestando excessiva atenção a um pãozinho dentro de uma cesta sobre a mesa.
- Você disse que tem mais irmãos... – recomecei.
- A deixo nervosa quando a toco? – ele quis saber me encarando.
- Sim, você deixa. Vamos tentar manter isso bem simples.
- Por quê?
- Porque não tem nada a ver, oras.
Suspirei aliviada quando trouxeram os primeiros pratos. Começamos a comer e após alguns minutos, ele começou a falar sobre a escola, nossos amigos e ele acabou me contando que era o filho do meio, havia o mais velho chamado Cooper e a mais nova Maddison. E aos poucos eu fui relaxando, e ficamos conversando até tarde, e estava divertido. Quando saimos do restaurante, além dele agir todo cavalheiro colocando o casaco sobre meus ombros, ele segurou a minha mão e não a soltou. Caminhamos de mãos dadas, pela rua, até o local demarcado aonde ambos faríamos a viagem via pó de flú para voltar para Durmstrang. Saimos das lareiras ao mesmo tempo, e após espanarmos nossas vestes, ficamos nos olhando por alguns segundos e ele sorriu me estendendo a mão, a peguei e começamos a caminhar em direção das repúblicas e ele disse:
- Andei pensando... Durante o jantar você falou várias vezes sobre o Finnegan....Você o quer, e depois do que vi, estes ultimos dias, ele pelo jeito parece ter algum ciúme de você, então se você fingisse ser minha namorada, ele poderia tomar alguma providência. Ele me detesta...E a reciproca é verdadeira.
- E seria só fingimento?- perguntei e ele me olhou sério.
- Seria...A menos que você mude de idéia...Acha que pode mudar?
- Não, claro que não, nós nem sentimos nada um pelo outro não é?
- Pois é...- ele respondeu e algo dentro de mim estava um pouco decepcionada e ele continuou:
- Bem, a maior parte seria armação... Talvez por umas duas semanas.
- Por duas semanas?Não será tanto tempo assim...Porque duas semanas? – quis saber e ele respondeu:
- Acho que é tempo suficiente para um lerdo como ele tomar uma atitude.
- Você acha mesmo que ele fará isso?
- Eu faria no lugar dele. E então aceita?- ele disse e após olha-lo eu disse:
- Não será fácil conviver com você por este período, mas até que você tem boa aparência. Estou dentro!- e ele sorriu dizendo:
- Mas vamos agir direito ou ninguém acreditará, teremos que ser vistos juntos, nos beijar, vou dizer por aí que estamos namorando.
- Namorando? Não acha que é exagero?
- Eu não faço as coisas pela metade Leonora, ah e por favor, nada de apelidos melosos. Bizuzu é coisa de demente e odeio o tal de ‘môôô’, isso me lembra uma vaca no pasto. – acabei rindo e disse:
- Esta bem. Há também os lugares, que eu saio com meus amigos, se você não quiser ir, por que são um pouco caros, eu posso pagar a sua parte. – eu disse e ele fechou a cara:
- Vou fingir que você não disse isso. Não sou um miserável, portanto não precisa bancar nada para mim. Conheço os lugares que vocês frequentam, você não vai passar vergonha.
- Desculpe, não quis ofendê-lo. A propósito, você tem que tratar muito bem Robert e Parvati. - exigi e ele disse:
- Serei educado com eles, desde que o sejam comigo.
- Robert e Parvati, não sei porque, gostam de você, e o tratarão bem.- eu respondi e de repente ele me puxou para ele e eu arregalei os olhos, colocando minhas mãos em seu peito:
- O que está fazendo?- disse olhando para os lados, afinal estávamos na porta da minha república:
- Vamos selar nosso acordo com um beijo, precisamos estar confortáveis um com o outro.
- Já nos beijamos antes, no teatro...- eu disse e senti meu estômago tremer. - ainda o olhei nos olhos e ele riu antes de baixar a cabeça.
- Aquilo não foi um beijo, isto sim é...
Quando terminou eu tive que buscar forças não sei de onde, para não ceder aos meus joelhos trêmulos. Ele com toda a calma do mundo, abriu a porta e depois que eu a atravessei, ele a fechou. Caminhei devagar até chegar à escadaria que me levava aos dormitórios, acabei me sentando ali para recuperar as forças. Foi onde Parvati me encontrou, ainda abalada, um bom tempo depois.