- Ah, até que enfim – Robbie comentou vendo o garoto subir no palco – Não temos muito tempo.
- Fiquei preso no treino de Hóquei, mas já estou aqui, então vamos começar logo.
- Ei Ozzy, não sabia que tinha mudado de time! – um bando de garotos dos times de Hóquei passou na porta do teatro e provocou.
- Idiotas – Ozzy bufou e virou de costas – Então, vamos acabar logo com isso, tenho mais o que fazer. E já aviso que não vou cantar musica romântica com você.
- Não precisa se preocupar, ser gay não é contagioso. Você não vai sair daqui rebolando porque passou 15 minutos do meu lado.
Ozzy olhou para Robbie muito sério e bateu a mão na tampa do piano com raiva, fechando-a com um estrondo e o impedindo de continuar tocando. Robbie olhou para ele assustado, mas ficou de pé para encará-lo de igual para igual.
- Quero deixar uma coisa bem clara aqui – Ozzy começou a falar nervoso – Sei que eu tenho milhões de defeitos e da mesma forma que eu não gosto de você pelos seus, você também tem o direito de não gostar de mim pelos meus, mas uma coisa eu não admito e é que me acusem de ser preconceituoso. Não gosto de você porque te acho seboso e mimado, não porque você é gay. Seu namorado é meu melhor amigo, nós crescemos juntos. Eu sempre soube quem ele era e isso nunca me incomodou, então não venha me acusar de homofobia.
- Desculpe, não sabia o que você realmente pensava do Alec, mas entenda também o meu lado. Quase nenhum garoto dessa escola fala comigo por medo de que, se fizerem isso, vão ser taxados. Eles me tratam como se eu fosse uma doença contagiosa que precisa ser isolada e isso faz com que eu esteja sempre na defensiva. Alec não tem esse tipo de problema porque vocês o protegem, mas quem vai me socorrer se eles resolverem se juntar pra me dar uma surra? Parvati e Leo? Amo as duas, mas o que elas podem fazer por mim a não ser gritar por socorro?
- Certo, desculpe por estourar também. O problema é que não nos suportamos e estamos sendo forçados a trabalhar juntos, era inevitável começar errado.
- É, não nos suportamos, mas vamos ter que encontrar uma maneira de fazer isso dar certo. Pelo trabalho e pelo Alec.
- Tubo bem – Ozzy sentou no chão do palco – E o que você sugere, Robert?
- Não me chame de Robert, eu odeio.
- Desculpa, mas não me sinto a vontade chamado você de Robbie.
- Me chame de Raj então, Rajesh é meu segundo nome, mas não Robert.
- Ok, e o que você sugere, Raj? Não entendo nada de música, então o que você falar está bom.
- Que bom que pensa assim, por que acho que tenho a música ideal.
Robbie sentou ao seu lado no chão e lhe entregou uma partitura. Ozzy correu o olho pela folha e começou a rir quando terminou de ler. Ao menos para trabalhar juntos no dueto eles pareciam ter chegado a um entendimento.
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O jantar já havia terminado e os alunos começavam a caminhar para suas republicas, mas Julie ainda estava longe de descansar para o dia seguinte. O dueto para a aula de teatro andava tirando seu sono e esgotando sua paciência. Sua dupla era Nina, uma garota da Avalon com quem estava sempre junto, mas as duas não andavam se entendendo desde que as aulas recomeçaram. Nina era muito bonita e popular, fazia parte da turma de elite do teatro e chamava a atenção por onde passava com seus cabelos loiros e olhos verdes, sempre gostando de ser o centro das atenções. Julie, por outro lado, era mais reservada e não gostava do exibicionismo da amiga, odiava chamar atenção de quem quer que fosse. Embora gostassem muito uma da outra, as personalidades diferentes começavam a entrar em conflito.
- Esquece, não vou cantar essa música – Julie bateu o pé – É muito exagerada, vamos escolher uma mais discreta.
- Não tem nada de errado com ela, o problema é com você! – Nina cruzou os braços e fechou a cara, irredutível – O que é? Está com medo do que vão comentar por causa de uma música?
- Você sabe que não ligo pro que os outros pensam.
- Eu achava isso mesmo, mas desde que voltamos das férias de natal já não tenho mais tanta certeza. Você voltou diferente. Voltou covarde.
- Não sou covarde, só não quero cantar essa música idiota! Será que é tão difícil assim entender que não sou como você, que gosta de chamar atenção?
- Sei que você é reservada, mas dizer que não gosta de chamar a atenção pra não dizer que prefere se esconder é diferente. Essa é outra diferença entre nós, eu sei quem eu sou e não tenho problema com isso.
- Eu sei quem eu sou e também não tenho problemas, mas ninguém tem nada com isso. Não gosto que se metam na minha vida!
- Ok Julie, diga o que quiser e tente se convencer de que está dizendo a verdade – Nina jogou a mochila nas costas e abriu a porta da sala – Quando decidir ser você mesma me avisa, e ai voltamos a falar do trabalho.
Nina saiu da sala e bateu a porta, deixando Julie sozinha. Ela ainda segurava a partitura com a letra da música e não conseguiu evitar que começasse a chorar. A porta abriu outra vez e ela se apressou em secar as lágrimas, mas não foi rápido o bastante. Alec viu seus olhos vermelhos assim que entrou na sala.
- Está tudo bem? – ele sentou ao seu lado na mesa – Vi Nina sair batendo a porta e isso nunca é bom sinal.
- Está sim, só estamos nos desentendendo quanto à música. Ela quer uma coisa que eu não quero.
- Essa? – ele apontou para o papel e pegou de sua mão, lendo – Por que não quer cantar ela? É perfeita.
- Não vou me sentir confortável cantando isso na frente da turma inteira. Isso combina com ela que é espalhafatosa, não comigo.
- Tem certeza que o problema é só esse? – Alec insistiu. Ele sabia que a amiga não estava sendo sincera, mas não podia fazer nada a menos que ela falasse a verdade.
- Eu gosto dela, de verdade, mas somos tão diferentes que não conseguimos mais não brigar. E isso me deixa mal, porque odeio brigar com as pessoas que gosto.
- Vocês são mesmo água e vinho, mas sempre se deram tão bem, o que aconteceu?
- Ela me acusa de não estar sendo verdadeira. Não sei o que ela quer que eu faça, mas não vou mudar por causa dela.
- Bom, o que quer que seja, acho uma pena que se afastem. Vocês se gostam, tentem se entender. E essa música é ótima, acho que vai se divertir cantando.
- Não sei se consigo.
- Ao menos tente. Você já leu direito essa letra? Musica mais perfeita pra vocês duas nesse momento não existe.
- É, tenho que concordar, mas vai ser difícil me soltar dessa forma.
- Faça como eu, ignore os olhares dos hipócritas de plantão. Ninguém tem nada a ver com a sua vida.
- Eu tento, mas é difícil.
- Vou ajudar você a superar isso, não se preocupe. E não vamos dizer a Ozzy e Oleg que você estava chorando. Você é o nosso Yoda, se eles descobrem que você também tem momentos de fragilidade onde não sabe como agir, vão sair por ai dando cabeçada nas paredes.
- Certo, isso fica entre a gente – ela agora riu.
- Já consegui fazer você sorrir, muito bom – ele beijou sua testa – Agora vamos, está tarde. Amanhã, de cabeça fria, você procura a Nina pra conversar.
Julie assentiu e levantou da mesa junto com o amigo, voltando para as repúblicas. Alec tinha razão, ela e Nina gostavam uma da outra e precisavam encontrar um jeito de se entender outra vez, e talvez terem sido sorteadas para fazer um dueto juntas fosse ajudar a resolver o problema.
Take time to realize
Oh oh, I'm on your side
Didn't I, didn't I tell you
Take time to realize
This all can pass you by
Didn't I tell you
But I can't spell it out for you
No, it's never gonna be that simple
No, I can't spell it out for you
If you just realize
What I just realized
That we'd be perfect for each other
And we'll never find another
Just realize
What I just realized
We'd never have to wonder
If we missed out on each other, but
Realize - Colbie Caillat