Lembranças de Lucian P. Valesti
- Tinha que ser com ela?!
- Você só está assim justamente porque é com ela! Tenho certeza que se fosse com outra garota não estaria tão exagerada!
- Sim, você tem razão! As outras garotas eu posso ter dúvida se elas estariam afim de você ou não.
- Quer parar com isso? Quantas vezes eu já te falei que ela é minha amiga, minha melhor amiga! É como uma irmã pra mim!
- Não acho que é isso que ela pensa! – Liseria falou e eu bufei.
- Francamente, Liseria, você está inventando essas coisas. Você está com o namorado dela e mesmo assim nem eu nem a Lenneth estamos falando nada, estou?
- Você não tem motivos pra reclamar. – Ela falou, emburrada.
- E você tem? Sério, Lis, chega disso. Estamos perto do Dia dos Namorados, não vamos brigar.
- Sim e você vai passar a semana inteira ensaiando com ela e sei lá mais quantas semanas! – Ela falou novamente e eu bufei cansado. A segurei pelo braço e a beijei, apesar dela reclamar no início, depois ela se entregou ao beijo com vontade.
- Se depois disso você ainda tiver dúvidas, você é louca. – Eu falei e sai andando. Ela ficou um tempo parada mas depois veio atrás de mim e me segurou.
- Desculpa, não vou duvidar de você. Só que você sabe que tenho ciúmes!
- E você sabe que não faz sentido! E não tem como mudar, você ouviu a professora. Agora, por favor não vamos tornar as coisas mais difíceis do que são.
Ela se deu por vencida e eu suspirei aliviado. Às vezes namorar com a Lis era ruim por isso: ela morria de ciúmes da minha melhor amiga. E não havia motivos para isso, pois eu e a Lenneth éramos melhores amigos, ela era como uma irmã pra mim. O motivo dessa implicância toda era que a Val me conhece a mais tempo que a Lis e nos damos muito bem juntos.
Por isso fiquei feliz com o sorteio das duplas do dueto. Não que eu não quisesse fazer dupla com a Lis, mas fiquei feliz ao ser sorteado com a Lenneth. Eu e ela tínhamos uma afinidade enorme e sei que faríamos um excelente dueto. Por ironia do destino, acabou que Lis e Patrick, o namorado da Val, fariam o par juntos. No início até tentamos trocar, mas como a professora era irredutível, eu e Val aceitamos numa boa, mas Lis e Patrick nem tanto.
Me despedi de Lis na frente da biblioteca, pois ela queria fazer algumas pesquisas para o seu dueto, enquanto eu iria encontrar com Lenneth no vilarejo. Como eu estava trabalhando na livraria e teríamos algumas tarde livres para ensaiar, Ferania permitiu que eu e Lenneth nos encontrássemos na livraria e até ensaiássemos um pouco. Quando Lis entrou na biblioteca, Orion saiu e me saldou e fomos andando conversando até as portas do castelo.
- Francamente, o Dia dos Namorados deveria ser chamado de o Dia dos Idiotas. – Ele resmungou e eu revirei os olhos. Sabia o que ele pensava sobre os namoros, e apesar de descordar eu o deixava continuar falando.
- Ah qual foi, Orion? Namorar é maravilhoso.
- Ah claro, ficar todo meloso, com apelidos idiotas, abraçadinhos o tempo todo e gastando dinheiro com presentes e bombons. Eu passo.
- Não sei porque você pensa assim. Na verdade acho que sei sim: você precisa de uma namorada!
- Nem vem com essa. – Ele resmungou, me olhando torto. – Já basta eu ter que aturar as namoradas de amigos meus. A namorada do Toghia é um porre. – Ele falou. Toghia era um amigo dele de infância que estudava em Beuxbatons. Orion não gostava da namorada dele, pois se via obrigado a dividir o tempo do amigo com ela. Sei que isso soa estranho, mas o que eu posso fazer? Mas hoje, talvez por ser perto do dia dos namorados, me irritei mais fácil com isso.
- Você não deveria falar dela assim! Ela não faz seu amigo feliz? Devia gostar dela.
- Eu não entendo porque ele está com ela! Eu sou obrigado a dividir ele com ela o tempo todo quando estamos de férias. Ela tem problemas psicológicos isso sim. Todas são assim!!
- Chega Orion, está exagerando.
- Mas é a verdade. Todo mundo quando começa a namorar só pensa nos namorados e a namorada adora escravizar o garoto. Não vê a Liseria? Você deveria dar um pé na bunda dela, porque ela também vive no seu pé. – Ele falou isso como se fosse algo banal, mas me irritou profundamente. Eu o puxei com força e olhei em seus olhos.
- Olha aqui, eu não vou permitir que fale assim da minha namorada ouviu? Se você falar desse jeito novamente você vai ver como posso ficar irritado. Eu não permito que meu melhor amigo fale isso dela, acha que vou deixar você? – Eu enfatizei o menosprezo e virei-lhe as costas seguindo a passos largos até o vilarejo.
----------------
- Desculpa o atraso! – Eu falei, ofegante, quando cheguei correndo na livraria. Lenneth me esperava sentada num dos bancos do lado de fora, conversando com Ferania. Sorri para as duas e Ferania se levantou.
- Vou deixá-los trabalhar. Se quiserem privacidade, podem ir pro segundo andar da loja. – Ela sorriu e entrou.
- Vamos subir? – Lenneth perguntou e eu achei que era uma boa idéia, pois se decidíssemos cantar, não queria platéia antes da hora, por isso entramos na livraria e nos sentamos em alguns dos sofás do segundo andar.
- Então, já pensou em alguma música? – Eu perguntei, quando nos sentamos. Ela sorriu animada e tirou uma folha do bolso.
- Eu pensei em algumas, mas não tenho certeza. O problema é que a maioria que pensei era para cantar com o Patrick, teríamos que mudar. Não acho que a Liseria iria gostar se cantássemos “Are you the one”. – Eu ri e ela sorriu também.
- É o meu problema também, já tinha algumas idéias para cantar com a Lis. Como “Ever Dream”, “All I ask of you”. O Patrick está aceitando isso numa boa? – Eu perguntei e ela bufou, o que foi suficiente para eu entender.
- Ele não fica reclamando, mas sei que não gostou. Queríamos cantar juntos. – Ela falou, mas logo ela olhou pra mim antes de falar novamente. – Mas estou muito feliz de cantar com você!
Começamos a conversar sobre as músicas e pouco depois estávamos de pé, ensaiando alguns passos. Chegamos a conclusão que talvez fosse mais fácil começar com a coreografia, já que não conseguíamos decidir qual música usar. A música que queríamos tinha que ser especial, que representasse a nossa amizade, e seria difícil. Estávamos rindo e dançando alguns passos de valsa quando uma música começou a tocar. Ela era lenta e bonita e sem perceber fomos envolvidos pela música.
Dançamos lentamente, e eu rodopiei Lenneth, enquanto cantávamos juntos da música. Terminamos a música abraçados, os olhos bem próximos um do outro. Ficamos nos olhando assim, sem fôlego pela dança e pela música e não sei bem o que houve ali.
- Interrompo alguma coisa? – Ferania falou, com um sorriso no rosto, no topo da escada. Nos afastamos e começamos a rir.
- Não, claro que não. Algum problema? Precisa da minha ajuda? – Eu logo perguntei e Ferania disse que não.
- É só que já é quase 6 da noite, vocês tem que voltar pro castelo. – Ela falou e nós dois nos assustamos.
- Já?! Perdemos a noção da hora! – Lenneth falou. – Droga, tinha combinado de me encontrar com o Patrick às 5!
- E eu ia no gabinete do Professor Renomaru antes de encontrar com a Lis. – Nós falamos e reunimos nossas coisas, correndo escada abaixo.
- Vocês formaram um lindo dueto! Cantem essa música! – Ela gritou enquanto saíamos pela porta da loja. Acenamos para ela e corremos para o castelo. Parecíamos duas crianças, pois corríamos rindo e sem precisar falar nada, nós dois decidimos usar aquela música.
-----------------
- Desculpa a demora, professor. – Eu falei, ofegante ao entrar no gabinete dele. Tinha passado antes para encontrar com Lis e disse que tinha que correr. Ela não ficou muito feliz, mas disse que me esperava para jantarmos juntos.
- O que o fez se atrasar? Nunca aconteceu isso. E você sabe também que não gosto muito disso. – Ele falou, apontando para uma pequena pilha de folhas. Semanalmente, o professor escolhia um dos alunos do clube para ter aulas particulares com ele, de modo que todos pudessem desenvolver suas habilidade igualmente.
- Desculpa. Estava ensaiando para uma atividade da professora Yelchin. Será um dueto.
- Está bem. Quero que leia esses textos e use a alquimia para transmutar aquele relógio velho em um novo. Seu dueto é com a Liseria, sua namorada?
- Não, foi um sorteio. Eu e a Lenneth vamos cantar juntos. – Eu falei, já me concentrando nos papéis, que eram textos antigos sobre alquimia, mas percebi quando ele sorriu.
- Que ótimo, vocês trabalham bem juntos. – Ele disse, supervisionando o meu trabalho. Ele riscou uma runa que eu tinha escrito e trocou por um “ankh” e eu levantei a sobrancelha, pois não sabia que podia misturar as alquimias de origens diferentes, mas ele assentiu. – Me diga uma coisa, Lucian, ela está mesmo namorando?
- A Lenneth? Está sim, começou a namorar com o Patrick Boris nas Olimpíadas, fazem um bonito casal.
- É mesmo? Sabe de uma coisa? – Ele perguntou e eu sorri, acostumado ao modo como ele se aproximava dos seus alunos do clube. – É uma pena... Sempre achei que vocês dois terminariam juntos, formariam um lindo casal.
- Como é que é? – Eu perguntei, tossindo. – Nada disso, professor!
- É sim. Sempre apostei em vocês, é meu casal favorito, sempre torci por vocês.
- Ela é só minha amiga, Reno.
Eu falei, mas ele sorriu, dando de ombros. Ele não mais falou nada, mas o ouvi falando algo bem baixo que soou como “é o que você pensa”. Decidi ignorar isso, mas me peguei pensando em nós dois cantando e dançando aquela música. Balancei a cabeça rapidamente, voltando a me concentrar, Reno estava só me deixando confuso de propósito, tenho certeza.