Lembranças de Lucian P. Valesti
15 de Dezembro de 2015
- Lucian, eu estou nervosa! – Lenneth falou sentada do meu lado, inquieta. – Essas garotas são excelentes!
- Se acalma, você vai se sair muito bem, tenho certeza! – Eu a encorajei e apertei sua mão. Do outro lado dela, Robbie apertou sua outra mão.
- Você vai ser a estrela, minha querida, não tenho dúvidas. Respire e se acalme! – Ele falou. – Você se lembra da letra da música, não lembra?
- Sim. Mas e se na hora der branco? E se eu errar? – Lenneth falou, ficando com a voz um pouco fina demais. Julie se debruçou sobre mim para falar mais perto de Lenneth.
- Você não vai errar. Você tem ensaiado para isso! – Ela falou e Lenneth sorriu. – Vai detonar esse monte de metida!
- Lenneth Valkyrie Aesir. – O funcionário do teatro chamou e Lenneth pulou na cadeira. Ela se despediu de nós e entrou em uma sala lateral.
Ele seria a próxima a se apresentar e enquanto isso assistíamos uma garota cantando uma versão, um pouco exagerada, de Total Eclipse of the Heart. Apenas eu, Robbie e Julie tínhamos vindo assistir à apresentação, pois fora muito corrido, além é claro de Reno.
Hoje de manhã, a menos de 4 horas atrás, Lenneth apareceu na minha porta suando e nervosa e teve dificuldades de falar, mas então conseguiu dizer que Reno e Georgia haviam conseguido uma audição para ela em uma escola de música muito famosa. A audição seria hoje, dentro de algumas horas e ela tinha que estar em Sofia antes das 12. Como já eram 10 da manhã, estávamos atrasados, mas Reno disse que iria nos ajudar a chegar lá. Ela me pediu que fosse com ela, pois estava nervosa e além de mim, pediu que Julie e Robbie fossem juntos também, já que eram, respectivamente, a melhor amiga e o “treinador” dela.
Eu deixei um recado com o Orion e pedi que ele avisasse a Liseria da emergência e que iria procurá-la assim que voltasse. Não pensei duas vezes e às 10:30, estávamos nós quatro no gabinete de Reno, que sorriu e nos conjurou uma chave de portal. Teríamos então 2 horas e meia para pensarmos em um figurino e uma música para Lenneth apresentar.
A escolha da música era livre, mas eu e Robbie divergíamos na opinião. Ele achava que ela tinha que cantar algo mais clássico, mas eu achava que ela tinha que cantar algo que combinasse com ela, pois todas estaria cantando algo clássico. Julie ficou do meu lado e ganhamos por votação, então selecionamos uma música atual que combinava com Lenneth. Acabou que foi um equilíbrio entre minha opinião e a de Robbie. Selecionamos “The Phantom of the Opera”, mas na versão do Nightwish, e um dos professores da escola faria a voz masculina.
Chegou a hora da apresentação de Lenneth e todos nós ficamos nervosos, enquanto a luz diminuía e uma neblina subia no palco. Ouvi os murmúrios de surpresa de todos e fiquei feliz ao perceber também que gostaram da criatividade. A neblina era obra de Reno, que conseguira com um dos funcionários um gerador de gelo seco.
O piano começou a tocar, imitando um órgão, seguido por uma única guitarra, enquanto a música começava a tocar e Lenneth surgia no meio do palco, vestida em um vestido longo e branco, muito belo. Sua voz estava linda e ela não esquecia da letra e começou a atuar enquanto cantava também. De repente, o professor chegou, com uma capa negra e uma máscara e começou a cantar. O dueto dos dois foi magnífico, em uma boa sintonia. Fiquei admirado como um profissional sabia se adaptar tão bem aos outros.
Mas o ápice da apresentação foi Lenneth conseguir manter a longa nota, enquanto o professor gritava “Sing my Angel”. O esforço era grande, dava para ver isso, mas ela manteve com perfeição, digna da cantora em quem ela se inspirava e me causou arrepios.
Ao longo de toda a apresentação, eu não conseguia tirar os olhos de Lenneth... Ela estava linda... E a forma como ela cantava, envolta em neblina, com um vestido longo... Ela parecia aquela garota da festa do Halloween do ano passado e isso quase me fez perder o ritmo cardíaco.
Quando ela terminou de se apresentar, fazendo uma referência para o público, nós batemos palmas de pé e vi quando Robbie enxugou uma lágrima e percebi que eu e Julie também tinha os olhos marejados, enquanto Reno ostentava um sorriso orgulhoso. A apresentação foi excelente.
Lenneth voltou para o nosso lado e perguntou como foi, vermelha de cansaço e sem graça e choveram elogios. O fato dela parecer com aquela garota não me saia da cabeça e quando ela me abraçou, assim que desceu do palco, eu senti um perfume. Não soube como reagi, mas fiquei calado, esperando o momento certo... Era o mesmo perfume daquela garota...
A Lenneth poderia ter sido aquela Dama de Branco?! Mas por que ela faria isso? E o que isso significaria para mim? Minha cabeça estava envolta em milhares de dúvidas...
Tiveram mais algumas candidatas, totalizando mais umas 2 horas mais ou menos e depois o júri se reuniu por mais uma meia hora. Lenneth estava cada vez mais nervosa e até mesmo Reno fazia piada, tentando acalmá-la. Por fim os professores se reuniram no centro do palco e disseram que iriam anunciar as cinco vencedoras, em ordem de posição.
As quatro primeiras vagas foram preenchidas por três garotas e um garoto, e a tensão no salão era enorme. Lenneth tremia, de mãos dadas a nós três e ficava batendo o pé no chão, nervosa.
- A última qualificada, considerada por nós como a melhor, é... – Uma das professoras falou e Lenneth apertou minha mão com força. Ela olhou para mim e eu sorri, querendo acalmá-la. – Lenneth Valkyrie Aesir.
Quando anunciaram seu nome, Lenneth começou a chorar e tapou a boca com as mãos, enquanto nós explodíamos em aplausos e comemoração. Ela me abraçou com força e eu a levantei do chão, rodopiando enquanto ríamos. Depois Robbie a abraçou também e Julie por último, antes de Reno abraçá-la com carinho.
--------------------------------------------------------------
Saímos do teatro eram umas 5 da tarde e Reno nos levou para comemorar e fomos tomar café em um bonito restaurante que ele conhecia. Ele disse que seria por sua conta e brindamos pela vitória de Lenneth, que estava radiante.
As aulas da escola seriam principalmente nas férias, dando a chance dela conciliar o estudo de canto com o estudo em Durmstrang. Claro que ela teria que se empenhar mais, mas ela estava tão animada que nem isso a desanimava.
Só saímos do restaurante por volta das 7 e Robbie e Julie pediram para visitar uma loja rapidamente, e acabou que eu e Lenneth ficamos sozinhos. Não resisti e falei.
- Lenneth. – Eu a chamei e ela se virou para mim. Eu a abracei com força e senti eu perfume, confirmando minhas suspeitas. – Esse perfume... É o mesmo que a garota usava naquela festa de Halloween.
- Que?! – Ela perguntou, meio confusa. Então ela entendeu e arregalou os olhos.
- Me diga a verdade: era você?
- Não! Eu comprei esse perfume hoje, junto do vestido! – Ela explicou sorrindo. Eu a encarei por mais uns instantes.
- É verdade... Faz sentido, nunca te vi usando esse perfume... Mas é que você estava parecendo com ela. – Eu falei e me arrependi na hora, pois ela me olhou estranho.
- Ainda pensando nela?
- Não. – Me apressei a dizer. – Só que você parecendo com ela me fez lembrar, só isso, logo você. – Eu acabei falando, meio baixo e me apressei. – Deixa pra lá.
Ela ia perguntar algo novamente, mas fui salvo pelos outros que chegaram. Reno perguntou se estávamos prontos e conjurou uma chave de portal, que usamos dentro de um beco, para ninguém ver.
Chegamos na escola pouco depois e continuamos conversando sobre o ocorrido, até que Robbie falou.
- Marquem esse dia! O dia em que nasce uma estrela! A estrela que eu ajudei a fazer nascer! – Ele falou rindo e rimos juntos. Estávamos agora só nós quatro, pois Reno tinha ido na frente. – Dia 15 de Dezembro de 2015!
Então eu gelei e fiquei parado, olhando para frente. Eles continuaram rindo, até que Lenneth percebeu e me olhou preocupada.
- Aconteceu alguma coisa?
- A Liseria vai me matar...
- O que foi? – Julie perguntou.
- Hoje é nosso aniversário de namoro... 3 anos. – Eu falei, coçando a cabeça. Eles arregalaram os olhos.
- Ai por Odin... – Robbie falou. – Como, logo VOCÊ, esqueceu?
- Não sei, envolvido demais com isso tudo.
- Vai logo atrás dela então. – Julie falou e eu me despedi deles correndo.
Nunca corri tão rápido e logo cheguei na Avalon. Bati na porta alarmado e Leo que me atendeu. Eu logo perguntei da Liseria e ela levantou uma sobrancelha e soube que não era um bom sinal.
- Ela saiu, Chefinho... Estava bem chateada.
- Ai Odin... Para onde ela foi?
- Ela foi na direção do lago. – Leo falou e eu agradeci e sai correndo.
No caminho para o lago, passei pela Kratos e peguei o presente que tinha comprado para ela. Nem tive tempo de embrulhar e levei o vestido ainda embalado, enquanto corria.
Encontrei Liseria sentada na beira do lago. Ela estava sentada no chão com um papel do seu lado e um embrulho. Vi que o papel estava amassado e o embrulho também e que ela estava chorando.
- Liseria! – Eu falei quando cheguei perto. Ela me olhou de cima abaixo com olhos irritados e tristes.
- O que foi Lucian?
- Me desculpa. Eu... – Eu me sentei do seu lado, mas ela se levantou e ficou de pé diante de mim. Eu sabia que não tinha como me desculpar e não sabia o que fazer.
- Está arrependido? Está me pedindo desculpas? Engula suas desculpas! – Ela gritou, jogando o papel e o embrulho em mim, com raiva. Ela me virou as costas e saiu pisando forte, mas eu me levantei e fui atrás dela.
- Liseria, espera, me escuta por favor! São tantas coisas na minha cabeça recentemente! Me fugiu completamente! – Eu a alcancei e a fiz virar-se para mim. Ela se debateu e se afastou de mim novamente, cruzando os braços e me encarando. – Olha, eu sei que não tenho desculpa, ter esquecido do nosso aniversário, é grave. Mas pedi que te avisassem, surgiu uma emergência.
- Desde quando é emergência acompanhar sua “amiga” à Sofia? – Ela perguntou, dando ênfase as aspas. – Desde quando é certo colocar isso acima de sua namorada?!
- Eu não coloquei acima...
- Então porque você só veio me procurar agora?! Teve o dia todo para vir, mas estava lá se divertindo, enquanto apoiava a sua querida amiga e eu ficava que nem uma idiota aqui te esperando!
- Liseria, por favor... – Eu tentei me aproximar, mas ela me empurrou com força e saiu chorando. – Liseria!
Eu corri atrás dela e a segurei novamente. Eu não sabia o que fazer, pois tudo que ela falara era verdade.
- Chega Lucian, estou cansada de ser sempre a segunda. Eu sou sua namorada, mereço respeito e atenção! Nem sei mais se sou sua namorada.
- Você é. – Eu tentei falar, mas ela me olhou feio. Eu suspirei e vi que não tinha nada que eu pudesse fazer... – Liseria, eu preciso de um tempo para pensar. Não gostei do que fiz com você, você não merece o que eu fiz.
Ela ficou calada, ainda me olhando zangada, mas vi que tinha ficado abalada quando pedi um tempo.
- Eu preciso me achar. Preciso me ajeitar de modo a dar a você o que você quer e merece...
- Tenha o tempo que você deseja, Lucian.
Ela falou e passou correndo por mim. Ela chorava e me empurrou ao passar e eu soube que não deveria ir atrás dela agora.
Se eu precisava de tempo para pensar, ela também precisava...