16 de Dezembro de 2015
- Cara, ainda não consigo acreditar que logo você, o cara mais meloso e certinho que conheço, esqueceu o aniversário de namoro! – Ozzy falou surpreso, enquanto observávamos o lago congelado. Estava frio, mas queria conversar sozinho com ele e havíamos trazido uma garrafa de whisky de fogo com a gente.
- Eu não sei, Ozzy, coisas demais na minha cabeça. – Eu falei e ele levantou uma sobrancelha.
- Quer uma ajudinha? Divide comigo!
- Sem ler minha mente! – Eu falei preocupado e ele riu.
- Tudo bem! – Ele falou ainda rindo. – Você pode dividir comigo o que quiser.
- É, acho que preciso dividir... Cara eu não sei bem o que tem acontecido comigo. Estou confuso.
- O que tem acontecido?
- Várias coisas. Essa história do jornal clandestino, último ano de escola, sentimentos estranhos...
- Ainda está pensando naquela garota da festa de Halloween?
- Não. Na verdade ontem pensei um pouco, mas é porque a Lenneth me fez lembrar dela.
- A Lenneth? – Ele perguntou e eu contei como ela estava parecida na hora da canção. – Mas por que a Lenneth iria fazer isso?
- Ela disse que não foi ela... Mas não sei... Por um momento eu quis que fosse. – Eu admiti e ele arregalou os olhos.
- Como assim, Lucian?
- Ozzy... Eu estou gostando da Lenneth. – Ele quase engasgou com o whisky e começou a tossir.
- Desde quando?! E como assim gostar? Que nível de gostar?
- Gostar como mulher, como namorada... Já até sonhei com ela. – Eu falei, bebendo mais um gole. – Desde o início do ano, na verdade, desde as férias.
- Por que não me falou?
- Você já tinha muitas coisas na cabeça e com que se preocupar que não fosse com os sentimentos conflitantes de seu amigo. – Eu falei.
- Lucian, justamente por ser meu amigo que eu queria te ajudar. – Ele falou, mas vi que percebeu a que coisas eu me referia.
- E também porque eu senti vergonha... Me senti sujo, tive nojo de mim por estar gostando de outra garota enquanto estava namorando a Liseria. Tentei carregar isso sozinho.
- Alguém mais sabe?
- Agora, apenas você e o Orion.
- O Orion?! – Ele ficou surpreso e começou a rir.
- Um dia eu estava muito cabisbaixo e precisava dividir com alguém e ele ouviu. Sei como é estranho se abrir logo com ele, que odeia relacionamentos.
- Muito estranho... Ás vezes tenho minhas dúvidas quanto ao Orion, mas se ele te ouviu tudo bem.
- Eu sei... Mas foi importante me abrir com alguém. E agora estou me sentindo mais leve, tanto por ter falado com você quanto por ter pedido um tempo com a Lis. Preciso pensar... E ela não merece ter um namorado pela metade... Se eu já nem posso lembrar de nossos aniversários, tem algo de errado.
Ozzy concordou e continuamos conversando por quase uma hora. Eu estava me sentindo bem agora, mais leve por dividir com meu melhor amigo o que estava acontecendo... Mas ainda era difícil decidir o que fazer.
17 de Dezembro de 2015
Hoje era o dia da apresentação e todos estavam agitados e nervosos.
Eu e Lis não conversávamos desde o dia da briga e pelo que Julie, Leo, Parvati e a própria Lenneth me contavam, ela ainda estava muito irritada. E eu não a culpava. Me sentia mal por ter feito isso com ela e me culpava. Precisava dar um fim nisso. Ou eu voltava a namorar com Lis, só que 100% ou tinha que terminar...
Nós não estávamos ensaiando para a apresentação, já que nosso número era junto, mas eu continuava lendo e relendo a música, muitas vezes cantando sozinho...
A professora Georgia nos deu tempo para pensar e não insistia que ensaiássemos nem nada. Mas hoje de manhã eu sabia que tínhamos que decidir algo. Em respeito ao restante da escola e do público achava que devíamos tentar cantar, e depois resolvermos nossas diferenças.
Mas estava decidido a terminar o namoro...
Passei o dia 16 inteiro pensando nisso, ainda mais depois da conversa com o Ozzy. Liseria não merecia ser tratada dessa maneira. Escrevi muito no meu diário aquela noite, escrevendo como me sentia por ter tratado-a daquela forma e sobre o que sentia sobre Lenneth...
Procurei a Liseria ainda de manhã e foi Lenneth que atendeu a porta da Avalon. Ela sorriu solícita para mim, mas eu sorri meio receoso. Ela me disse que Liseria não estava e pedi que a avisasse que eu a estava procurando.
Voltei para a Kratos, mas no meio do caminho, encontrei com Reno.
Obviamente, o jornal clandestino lançou uma nota sobre nossa briga, acusando de que se eu não podia nem manter um namoro, como poderia ser um bom editor e dizer que os textos eram meus? Eu não tive forças nem para me irritar, mas participei regularmente da reunião com o Diretor e retiramos os exemplares de circulação.
Era sobre isso que Reno queria conversar.
- Lucian, posso falar com você? – Ele perguntou e indicou o caminho para o vilarejo. Eu assenti e o segui. Nós fomos para a livraria de Ferania e ela nos arranjou uma sala reservada.
- Alguma novidade, Reno?
- Sim, uma bem importante. Descobri quem é o atual Arthur, o líder da Kings & Shadows.
- E qual é? – Eu logo perguntei, sério.
- Laercus Fredereik Goulard. – Ele falou e eu me surpreendi.
- O pai do Orion?!
- Exatamente ele... – Ele falou e ficou calado uns instante, voltando a falar em seguida. – E eu acredito que o tal Antaris seja o que atende pelo nome de Mordred, filho de Arthur.
- Peraí, você acha que Orion é o Antaris?! – Eu falei chocado e Reno balançou a cabeça.
- Não tenho certeza. Nem sempre o filho de Arthur deve ser necessariamente filho biológico dele. Mas é certo que eles estão escondendo a verdadeira identidade de Mordred... Por isso gostaria de saber: você acha que Orion poderia ser o Antaris e Mordred?
- Eu acredito que não! – Eu falei rapidamente. – Orion pode ser estranho, mas não acho que ele faria isso.
- Tudo bem... Concordo com você. Em parte. Vou continuar pesquisando... – Ele falou, olhando um tempo para o nada. – E você e Liseria como estão?
- Na mesma. – Eu respondi depois de um tempo.
- Se gosta dela, corra atrás. Nunca deixe alguém que você ama ir embora. – Ele falou, levantando-se e apertando minha mão. – Boa apresentação hoje, irei assistir com certeza.
Eu agradeci e ele saiu. Eu fiquei mais um tempo sentado pensando em suas palavras. Ele me fez mais certeza ainda de que não devia fazer isso com a Liseria e que deveria terminar nosso namoro. Pois o que eu sentia pela Lenneth crescia cada vez mais...
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Quando entrei na Kratos, uns 10 minutos depois da conversa com Reno, ela estava completamente vazia e fui logo para o meu quarto. Queria descansar um pouco antes de procurar a Liseria novamente. E depois, provavelmente precisaria conversar com a Georgia também, acho que não teríamos como apresentar...
Então ouvi um barulho no meu quarto e abri a porta alarmado.
Era Liseria. Ela estava sentada na minha cama e reuni a coragem para falar. Mas então ela me ouviu entrando e levantou os olhos.
Ela chorava, seus olhos estavam vermelhos e misturavam dor, raiva e incredulidade. Então vi que ela segurava alguma coisa nas mãos e reconheci meu diário.
- O que você está fazendo? – Eu perguntei, tendo como primeira reação a raiva por invadirem minha privacidade.
- O que você está fazendo?! – Ela gritou, descontrolada. – O que você pensa que está fazendo, Lucian? Então é por isso que quis um tempo, para poder pensar mais em sua querida Lenneth?
- Liseria, quem te autorizou a ler meu diário? – Eu perguntei irritado e fui até ela. Ela segurou o diário, mas eu o tirei dela e ela se levantou com raiva. – Isso são coisas pessoas!
- Para o inferno com suas coisas pessoas! Então é verdade! Eu sempre soube! Sempre! Você sempre preferiu a Lenneth! Eu devia saber disso já!
- Liseria, deixe-me falar! – Eu falei, alteando a voz. – Eu... Eu sempre gostei de você, enquanto namorávamos sempre fui fiel.
- Ah, mas beijou uma garota no Halloween?! E não me falou!
- Você viu isso também? – Eu perguntei chocado e ela começou a chorar mais.
- Eu odeio você, Lucian! Eu te odeio. – Ela falou e passou por mim, me empurrando, mas eu a segurei.
- Deixe-me falar! Eu preciso falar agora... – Eu falei e ela ficou calada. – Eu não queria que descobrisse assim, não era para você descobrir assim! Eu pedi um tempo pois precisava pensar.
- É verdade então? – Ela perguntou, a voz fria agora.
- Sim. – Eu falei e ela virou-me as costas, chorando. Eu a segurei novamente. – Liseria espere, deixe-me terminar. Eu nunca traí você. O que senti por você, o que sinto, é verdadeiro e nunca foi uma mentira. Esses anos em que namoramos foram muito importantes e cresci muito. Mas não posso controlar o que sinto. Eu estou gostando da Lenneth, cada vez mais.
Liseria começou a chorar ainda mais. Ela começou a tremer e sentou-se na cama, tapando o rosto com as mãos. Eu sentei do seu lado e fiquei calado. Fomos namorados por tanto tempo, que nos conhecíamos muito bem e ainda gostava muito dela.
- Liseria, eu ainda gosto muito de você. Mas não posso mais ficar te tratando assim. Acho que devíamos terminar. – Ela chorou ainda mais e eu mesmo comecei a chorar, tendo dificuldades de falar. – Me desculpe... Mas eu nunca traí você... Nunca faria isso.
- Eu não quero mais nada entre nós, Lucian... Se é verdade que gosta dela, não há nada que possamos fazer. Ela gosta de você, sempre gostou e eu sempre soube disso. Não posso competir com ela. – Ela falou entre soluços. Eu tentei abraçá-la, para apoiá-la, mas ela se afastou, levantando-se rapidamente. – Me deixe em paz Lucian, não quero mais nada entre a gente.
Ela saiu correndo do quarto e eu não a segui. Fiquei chorando no quarto, com as mãos no rosto. Depois de um tempo peguei meu diário e vi as marcas de lágrimas dela, as páginas que ela leu. Eu tinha certeza que tinha lacrado o meu diário! Quem teria aberto-o e deixado ali para ela ler? Não tinha como saber... A república estava vazia e Liseria não queria mais falar comigo.
Acho que adormeci...
Foi Ozzy que me acordou e quando olhei pela janela, vi que já era de tarde. Ele parecia preocupado e me perguntou o que houve. Eu contei que tínhamos terminado e tudo que tinha acontecido e acabei chorando novamente. Ele ficou calado e tentou me acalmar, mas depois de um tempo disse que a Georgia estava lá embaixo e que Liseria estava sumida. Fui logo falar com ela, pois já imaginava o que tinha acontecido.
Georgia explicou que Liseria tinha pedido ao diretor para ir embora e que ele autorizara. Então expliquei para ela o que tinha acontecido entre nós e ela tentou me acalmar, dizendo que estava tudo bem. Eu disse que iria na apresentação, mesmo que tivesse que cantar sozinho, mas ela queria que eu ficasse na república. Mas eu não queria ficar parado pensando e os acompanhei.
- Onde está Liseria? – Robbie perguntou, nervoso quando chegamos.
- O que aconteceu, chefinho? – Leo perguntou quando viu meu semblante. Mas foi Georgia que respondeu.
- Liseria está bem, mas não está em condições de cantar. Teremos que cancelar a apresentação deles dois. – Ela falou e todos começaram a falar juntos, pois faltavam poucos minutos para a apresentação e a nossa era a primeira.
- Mas se mudarmos agora, o público pode ficar insatisfeito. – Finn comentou e alguns concordaram com ele.
- Eu posso cantar sozinho. – Eu falei, mas Robbie me cortou.
- Lenneth, por que não canta você? Você conhece a música e tem muita sintonia com o Lucian! – Ele terminou de falar e nós dois nos olhamos. Algo surgiu naquele olhar, não sei explicar o quê.
- Lenneth você gostaria de cantar? – Georgia perguntou e Lenneth assentiu. – Lucian, e você?
Eu fiquei um pouco calado, pensando. Voltei a olhar para Lenneth, antes de responder.
- Sim.
- Então, vamos correr com os preparativos! – Georgia falou, batendo palmas e colocando todos para se moverem.
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Eu já ouvia o barulho das pessoas entrando no teatro e já estava na posição para começar a cantar. Lenneth estava do outro lado do palco, pois entraríamos de lados opostos. Ela sorriu para mim, me encorajando.
Eu corri até ela e a abracei com força.
- Obrigado por existir. – Foi tudo que tive coragem de dizer e voltei correndo para meu lugar. Ela ficou me olhando sem entender, meio vermelha, de uma forma muito bonita. Mas logo ouvimos Georgia anunciando o espetáculo e nos concentramos em cantar.
We loved and laughed and played and joked
Sang Christmas songs and talked to folks
Sleighed the fields and skied the slopes then to the lodge for dinner
But now it's time for us to go as our hearts melt like chimney snow
There's just one thing I want to know can we do this next winter?
Oh, oh, what a Christmas to remember
You've made this a Christmas to remember
Springtime feelin's in the middle of December
Though the fire is hot we'll just have to let it simmer.
N.A.: A Christmas to Remember, Kenny Rogers.