Wednesday, January 04, 2012

- Estão prontos? – Georgia se aproximou de Ozzy e Parvati nos bastidores – Robbie está terminando seu solo, vocês entram em seguida.

Ambos assentiram e ela sorriu animada, os deixando sozinhos outra vez. Quando Robbie encerrou sua apresentação e agradeceu ao público, caminhou para trás do piano e deu a introdução da música que eles iam cantar. Os dois entraram no palco e enquanto interpretavam a canção, era inegável a química que existia entre eles. Embora eles não conseguissem enxergar ou admitir, ela estava lá. Deixaram o palco sob muitos aplausos e deram a vez a Finn.

Todas as apresentações foram um sucesso. Apesar do nervosismo de se apresentar pela primeira vez para um público daquele tamanho, todos se saíram bem e houveram ainda alguns pedidos de bis. Depois de brindar o sucesso nos bastidores com seus alunos, Georgia os liberou para aproveitarem o resto da festa e depois irem para suas casas para as festas de fim de ano. O clima entre Lucian e Lenneth durante o dueto era o mais romântico possível, mas depois as coisas ficaram estranhas, então assim que foram liberados Alec puxou Lucian para longe da multidão, enquanto Julie levava Lenneth para o lado oposto.

- Tenho que confessar que não achei que fosse ser tão divertido – Ozzy admitiu encostando-se em uma mesa com Oleg, Leo e Parvati.
- Eu também não estava botando muita fé nisso, mas gostei bastante – Oleg concordou se servindo de um whisky de fogo que o garçom carregava.
- Desculpa interromper o papo - Mitchell parou ao lado deles e pegou a mão de Leo – Podemos conversar um instante? – e ela assentiu, lançando um olhar rápido na direção de Parvati antes de se afastar com o garoto. Oleg inventou uma desculpa qualquer e saiu na direção oposta logo depois.
- Você se saiu muito bem, parecia bem à vontade no palco – Parvati comentou quando os dois ficaram sozinhos.
- Estava um pouco nervoso quando entrei, mas aquilo parecia tão natural pra você que acabei relaxando.
- Que bom, porque ainda vamos fazer muito disso até o fim do ano.
- E eu vou estar em cada uma das apresentações – Parvati ouviu a voz familiar e se virou espantada.
- Lukas! – ela não esperava ver o namorado ali e ficou sem reação por alguns segundos antes de abraçá-lo – Por que não disse que viria?
- Quis fazer uma surpresa. Você estava ótima – disse orgulhoso e segurou seu rosto, lhe dando um beijo apaixonado – Merlin, como senti falta disso.
- Também senti sua falta.
- Lusth – ele se virou para Ozzy com a mão estendida, que ainda estava parado na mesa se sentindo desconfortável.
- Hölzenben – ele apertou sua mão, cordial – Como anda a vida de centro reserva profissional?
- Não tenho do que reclamar. Como disse a Parv da última vez que nos falamos, estou vivendo um sonho que não sabia que tinha.
- Que bom que está gostando. Sou um grande fã do Vancouver Canucks, assisti a seu último jogo pela TV no vilarejo. O gol que fez em cima do Blackhawks foi sensacional, o goleiro ainda deve estar sentindo o gosto do disco.
- Foi um jogo e tanto mesmo. Olha, sei que nunca tivemos um bom relacionamento, mas Parvati diz que você a ajudou muito depois de tudo que aconteceu e qualquer um que tenha feito algo de bom a garota que eu amo merece o meu respeito – ele estendeu a mão outra vez e Ozzy a apertou – Podemos apagar o passado?
- Já nem lembro mais dele.
- Ótimo. E se é mesmo fã do Canucks, quando tiver uma folga dos estudos, ligue e coloco você no melhor lugar do estádio para assistir ao jogo.
- Vou ligar, pode ter certeza. Preciso ir agora, Lucian não está muito bem e vou levá-lo para casa. Feliz Natal – e apertou a mão de Lukas outra vez – Aproveite sua nova vida, está vivendo o meu sonho – e Lukas sorriu, sem imaginar o quanto aquelas palavras eram verdadeiras.
– Feliz Natal – Parvati o abraçou, algo que nunca haviam feito antes. Foi um abraço estranho – Nos vemos no casamento da Kat.

Ele se afastou do casal e deu uma última olhada antes de descer para o primeiro andar da casa de shows. Lukas havia puxado-a para um abraço e beijava sua testa, mas seu olhar ainda estava em Ozzy. Era um olhar triste e ele sabia o motivo. Abaixou a cabeça e desceu as escadas, triste também.

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25 de dezembro de 2015


- Pois não? – a voz no interfone ecoou na rua silenciosa.
- Oi, boa noite. Estou procurando Edgar e Oscar Lusth, eles estão? – Parvati respondeu, tentando equilibrar as duas caixas que segurava enquanto mantinha o casaco nos ombros – É Parvati Karev quem fala.
- Sim, reconheci-a pelo monitor – e o homem na pequena tela em sua frente sorriu – Eles estão em uma festa de Natal em família, muita gente lá dentro. Não posso sair daqui, mas se não se incomodar de procurá-los sozinha, pode entrar.
- Eu os encontro, obrigada. Feliz Natal.
- Feliz Natal – ele deu outro sorriso simpático e o portão automático abriu.

O portão por si só já era intimidador, alto, negro e com um enorme L dos Lusth desenhado no meio, mas a casa era ainda pior. Não, não era uma casa. Definitivamente era uma mansão, Parvati pensou. Uma mansão vitoriana do século 17 que lembrava muito as repúblicas de Durmstrang, mas era dez vezes maior. Suas paredes eram de tijolo em um tom de bege, com colunas de madeira por todo lado em verde, todas muito bem trabalhadas com o símbolo da família. O telhado era de telhas verde água e lilás e as janelas eram quase todas ovais, com entalhes tão lindos que ela demorou mais que o normal percorrendo o caminho de pedras admirando-as. Os quartos não tinham varanda, exceto o do último andar, que ela sabia ser o quarto de Ozzy pelo que Jack havia dito.

- Está perdida, senhorita? – um elfo doméstico apareceu do seu lado e a tirou do transe. Seus grandes olhos negros piscavam amigáveis e ela sorriu.
- Não, só estava admirando. É muito bonita.
- Sim, o mestre tem uma bela mansão. É preciso muitos elfos como Elvis para mantê-la limpa, mas é um prazer trabalhar para a família Lusth.
- Você é um elfo livre? – perguntou, mas imediatamente se arrependeu. Sabia que muitos elfos eram livres, mas o que não eram ainda se ofendiam com a hipótese.
- Ah sim, Elvis é um elfo livre. Todos os elfos que trabalham aqui são livres, mestre Ilana não gosta de trabalho escravo – disse orgulhoso, fazendo Parvati sorrir.
- Estou procurando Edgar e Oscar, sabe onde posso encontrá-los?
- Mestre Edgar está logo ali – ele apontou para um banco na varanda da casa – Mestre Oscar está com os primos, vou procurá-lo para a senhorita.
- Obrigada, Elvis.

O elfo entrou na casa apressado e Parvati se aproximou da varanda onde Edgar estava sentado sozinho. Estava todo enrolado em cachecóis e as grossas luvas que protegiam suas mãos estavam cobertas de neve. As crianças que corriam pelo jardim atirando bolas de neve uma nas outras indicavam que, minutos antes, ele fazia parte da brincadeira. Ela se aproximou e sentou ao seu lado, e só então ele levantou a cabeça para encarar quem o fazia companhia.

- Oi. Está perdida? – perguntou sem ânimo.
- Não, estava procurando você – ela esticou uma das caixas que tinha na mão, a de madeira, para ele – Vim lhe trazer isso.
- O que é? – ele pegou a caixa mesmo que desconfiado.
- Não sei. Alexis... – sua voz morreu ao dizer o nome da irmã – Alexis queria que ficasse com isso.
- Ela também falou com você no Halloween – não foi uma pergunta, mas ela assentiu assim mesmo – Sinto sua falta. Tudo que ela queria era que você e meu irmão entendessem que nunca fizemos parte dessa guerra e nos gostávamos de verdade. Ainda gosto, na verdade. É como se ela ainda estivesse aqui, não consigo esquecer o que sinto.
- Eu sei, e eu sinto muito que tenhamos envolvido vocês nisso tudo. Sei o quanto minha irmã gostava de você e queria poder consertar as coisas, mas é tarde demais.
- Meu avô diz que nunca é tarde demais para reconhecer seus erros.
- Então nesse caso, pode me perdoar pelos meus? – ele a encarou com um olhar triste e distante, mas assentiu.
- Era o que Alexis queria, que todos nos déssemos bem – ele olhou para a caixa no colo e abriu a tampa. Tinham muitas coisas dentro, mas a única que Parvati reconheceu foi um álbum de fotos. Edgar o abriu e um sorriso se espalhou em seu rosto. O primeiro desde o acidente – Nossas fotos de infância. Como o Lawyfer era baixinho quando criança.
- Está incompleto – ela observou à medida que ele virara as páginas – Acho que ela quer que você o termine.
- Obrigado – ele fechou o álbum e a abraçou antes de levantar e entrar na casa.
- Sabia que essa foi a primeira vez que Eddie sorriu, desde que sua irmã e Jack morreram? – ela ouviu a voz de Ozzy e virou para vê-lo parado ao lado da porta por onde o irmão tinha acabado de passar, com uma caneca soltando fumaça em uma das mãos – Não ouvi toda a conversa, mas obrigado.

Ele se aproximou do banco e ela ficou de pé, parada de frente para ele. Quando se despediram depois do show, Parvati sabia que ele estava chateado por causa da conversa com seu namorado. Lukas não sabia a verdade e estava sendo legal, a culpa era dela. E embora soubesse que nada que fizesse repararia o dado causado por aquela atitude que teve, não podia simplesmente fingir que nada aconteceu.

- Não vim só para falar com seu irmão, vim para lhe pedir desculpas.
- Desculpa pelo que?
- Pela vaga que era sua e dei a Lukas – ele abaixou a cabeça e soltou uma risada forçada – Vi que ficou chateado no sábado e tem todo o direito.
- Parvati, pare – ele a encarou sério – Não vamos fazer isso.
- Mas eu preciso me desculpar com você.
- Está bem, já se desculpou, não precisa dizer mais nada. Está tudo bem, é sério. Eu quero ser auror, não ia poder jogar profissionalmente. Estou feliz que alguém bom como Lukas está no meu lugar.
- Posso ao menos terminar de falar? Não vou me estender, mas ensaiei pra isso e não quero que tenha sido em vão. Prometo não tocar mais no assunto.
- Você não vai deixar pra lá se eu disser não, não é? – ela fez que não com a cabeça e ele riu – Está certo, fale.
- O que eu fiz foi errado, sei disso, mas não posso voltar atrás e desfazer. Acredite, se pudesse já teria feito isso e mudado muitas coisas, mas não é possível. Sei também que nada que eu faça vai compensar isso, mas ainda assim posso fazer o que está ao meu alcance para ao menos tentar – ela estendeu a outra caixa que havia trazido a ele – Feliz Natal.
- Você comprou um presente?
- Abra logo.

Ele largou o eggnogg que tinha na mão e desfez o laço na caixa, tirando a tampa. Seus olhos se arregalaram e a caixa foi ao chão quando ele pôs as mãos em seu conteúdo. Uma camisa do Vancouver Canucks estava esticada em suas mãos, com o autógrafo de todos os jogadores do time de Hóquei. Ozzy passou quase um minuto encarando a camisa em silêncio, então puxou Parvati para um abraço entusiasmado e em seguida segurou seu rosto, a beijando rápido. Só percebeu o que tinha feito quando a soltou e ela tinha a mesma expressão espantada que a dele quando viu o presente.

- Merlin, desculpa! – se apressou em dizer, sentindo o rosto esquentar. O dela já estava da cor de um tomate – Mil desculpas! Não estava pensando direito, foi a empolgação. Teria beijado até o diretor Ivanovich se ele me desse um presente desses.
- Agora você me ofendeu.
- Ok, um pouco exagerado, mas você entendeu. Desculpe.
- Tudo bem, sem problemas. Posso assumir então que gostou do presente?
- Se eu gostei? Digo até que isso compensa sim ter perdido a vaga.
- Fico feliz que tenha gostado. Pedi a Lukas que me ajudasse com isso e ele nem hesitou.
- Tenho uma coisa para você também – ele guardou a camisa na caixa – Vamos lá dentro, está na árvore.
- Se não se importa, prefiro esperar aqui. A casa está muito cheia e bebi um pouco em casa, não estou em condições de me concentrar.
- Certo, sem problemas. Volto logo.

Ele entrou outra vez e Parvati se viu sozinha na varanda. A bagunça no jardim continuava, a guerra de bolas de neve cada vez mais intensa. Não pode evitar pensar que, muito provavelmente, todas aquelas crianças nunca morreriam. Como devia ser saber que é imortal desde o dia em que nasceu? Não ter a opção de escolher e simplesmente aceitar aquele destino como se fosse a coisa mais normal do mundo? Uma delas subiu a varanda correndo e se escondeu atrás dela, não devia ter mais que seis anos. Quando uma bola de neve destinada ao menino a acertou em cheio, ele sorriu pedindo desculpas e pulou a grade, fugindo para os fundos do jardim.

- Foi pega pela guerra? – Ozzy estava de volta com uma caixa pequena na mão e riu, apontando para seu casaco sujo de neve.
- Servi de escudo para um deles, acabou de pular a grade e fugir.
- Tommem. Ele sempre faz isso – ele esticou a caixa a ela e sorriu – Feliz Natal.
- Uma caixa pequena assim... Devo ficar preocupada?
- Eu beijei você num impulso, mas não sou louco. Não é nada demais, na verdade.
- Ozzy... – ela abriu a caixa e tirou uma pulseira dourada com um pingente pendurado.
- Existe uma tradição, um pouco idiota até, que é fazermos uma tatuagem em homenagem a nossa imortalidade no dia do ritual. Não acho que vou conseguir convencê-la a fazer parte disso, então a pulseira é para que saiba que é uma de nós, é parte da família. Esse símbolo é um-
- Uróboro. O símbolo da Imortalidade.
- Exato.
- É lindo. Obrigada.

Ele a ajudou a prender a pulseira e Parvati a admirou em seu pulso, um sorriso sincero no rosto. Ficaram de frente um para o outro sorrindo, sem dizerem nada, por um longo tempo, até que o clima começou a ficar desconfortável e Parvati quebrou o silêncio.

- Preciso voltar, disse a meu pai que sairia só por meia hora. Não quero que fique preocupado.
- Quer que a leve pra casa? Sei que não fez seu teste de aparatação ainda.
- Não precisa, o motorista me trouxe aqui, está esperando lá fora – ela o abraçou outra vez, o mesmo abraço desconfortável de uma semana atrás – Obrigada pelo presente.
- Obrigado pelo meu também, foi o melhor que recebi acho que da vida inteira.

Eles quebraram o contato depressa e Ozzy ficou observando Parvati descer a estrada de pedras que levava aos portões da mansão. Só quando já não podia mais vê-la entrou em casa. Parou no meio da sala e tirou a camisa que havia ganhado da caixa, sacudindo para que seus primos a vissem. Uma roda se formou ao seu redor no mesmo instante, e enquanto se gabava do presente para eles, já pensava em acordar cedo na manhã seguinte para mandar colocá-la em uma moldura de vidro e pendurar na parede do quarto.


I really can't stay - Baby, it's cold outside
I've got to go away - Baby, it's cold out there
This evening has been - Been hoping that you'd drop in
So very nice - I'll hold your hands, they're just like ice

Baby It’s Cold Outside – Casey Abrams & Haley Reinhart version