- Vocês não querem vir comigo? Podemos fazer uma sessão de filmes trash, a tv é ótima, Mitchell quem escolheu. Imagina ver ‘Piranhas 3D’?- comentei e observei Robbie e Parvati trocarem olhares maliciosos entre eles.
- Eu já tenho planos, e não vou ficar de vela.Já é dificil quando vocês estão juntos no grêmio...Ou na biblioteca...Ou no salão de jantar...- zoou Parv e Robbie completou:
- Adoraria uma sessão trash, mas já fiz planos com Alec. Não vou empatar, quando vocês tão claramente no estágio seis.
- Estágio seis? Que isso?- perguntei e Robbie riu:
- Vai me dizer que você não sabe o que é o estágio seis? É do manual básico em relacionamento.- e Parv riu:
- Robbie, ela parou de ler as revistas adolescentes, agora que está firme com o Mitchell, não sabe do ‘estágio seis’.- olhei feio:
- haha, muito engraçado que coisa é esta de estágio seis que não estou sabendo? E eu odeio não saber das coisas.- e Robbie assumiu um tom professoral:
- Amiga, um relacionamento sério é composto de vários estágios, começa com o estágio um que é:- e apontou para Parv que respondeu:
- Assumir que está a fim.- e Parv começou a contar nos dedos, enquanto respondia:
- Estágio dois: passar o fim de semana juntos.Vocês fazem muito isso.- e Robbie continuou, enquanto eu prestava atenção:
- Estágio três: dar a cópia das chaves, sabemos que Mitchell a tem, ou ele não teria pego você esparramada em cima do Finn e pirado de ciúmes, e causado toodo aquele drama.
- Eu não estava esparramada em cima do Finn, cai por acidente, quantas vezes vou ter que dizer isso?- e eles riram, e continuaram:
- O número quatro é o fim de semana sensual: pelas olheiras que você chegou aqui semana passada, é claro que já passaram deste estágio. Amiga, não é só Deus que mata ok?- joguei uma almofada nele que riu:
- O estágio cinco são férias prolongadas, também já tiveram isso, e o estágio seis é morar junto. Ops, já moram juntos.Estágio seis completado.
- Nós não moramos juntos.- eu disse defensiva e ambos riram:
- Seus empregados compram as frutas que ele gosta para o café da manhã?
- Sim, mas é uma cortesia, assim como fariam com qualquer hóspede...
-E ele tem roupas na sua casa, posso até dizer que você separou um espaço no closet para as coisas dele. – disse Parv e Robbie não perdeu a deixa continuando:
- Vocês enfeitiçaram uma cama juntos e o mais decisivo: compraram uma super tv cheia de recursos, trocaram os sofás...
- Ele comentou com Oleg,que se acontecer algum acidente durante os jogos ou no treinamento de auror, o contato de emergências, é o seu.
- O segurança dele, o Soren, meu pai quem tem um nome destes? Bem, o segurança dele, reforçou a segurança da sua casa.- disse Parv e eu abria e fechava a boca como se fosse um peixe, olhando para os dois e ambos riram:
- Viu? Vocês moram juntos.- finalizou Robbie e depois de olhar para eles, disse séria:
- Isso não pode continuar assim.- e eles pararam de rir.
- Ai droga, Robbie! Sabia que ela não estava preparada para ouvir a verdade, já está pensando em besteira...- disse Parv e eu ralhei com ela:
- Pára de ler meus pensamentos, é falta de educação.
- Não preciso, sua cara diz que você está apavorada e se te conheço vai fazer alguma coisa para sabotar seu namoro. Não ouse terminar com o Mitchell de novo, nós gostamos dele.
- Não vou terminar...Mas morar junto?A família dele não gosta de mim...Nem saímos da escola ainda...E se não der certo? - e Robbie me segurou pelos braços olhando em meus olhos:
- Querida, vocês estão apaixonados, e isso é o importante aqui. E sei que lá do Paraíso, vovó está torcendo por vocês dois, acalme-se. – assenti e Parv completou:
- A única certeza que temos é que viver o presente intensamente, pode fazer um futuro melhor.Não se prenda às convenções Léo, sobre serem jovens ou a aprovação das famílias. Com o tempo tudo vai se ajeitando.Nossa, a convivência com o doutor Pace está me contaminando. – rimos e nós três nos abraçamos e nos despedimos, mas eu estava com a cabeça cheia, precisava pensar em toda esta coisa dos ‘estágios’.
-o-o-o-o-o-o-
A reunião havia começado da forma usual: a apresentação dos relatórios, os comentários, George até havia começado a me provocar sobre o concurso, mas quando ele começou a ver que membros do Conselho estavam animados, comentando sobre as receitas, a publicidade positiva que havia sido gerada e me cumprimentavam pela iniciativa, ele fechou a cara e não tocou mais no assunto, e se apressou em continuar a reunião. Terminamos cedo e eu voltei para a casa que a vida inteira eu conheci como sendo a casa de minha avó, mas agora era minha. Eu ainda me sentia estranha em entrar na casa e não encontrar vovó esperando por mim e o serviço de chá pronto, mas eu tinha que seguir em frente. Mantive todos os empregados, mas fiz algumas mudanças na casa, deixando tudo com a minha cara. Claro que Robbie, me deu algumas dicas, inclusive me deu a idéia de transformar o sotão em uma academia já que eu agora levava a sério, esta coisa de malhar. Optei por manter muitas coisas da vovó pela casa, como seus livros preferidos, suas fotos antigas com meu avô, alguns objetos queridos e muitas fotos nossas, que retratavam a minha infância. Segurei o porta retratos com uma foto em que eu usava marias chiquinhas e estava ao lado do meu avô. Eu exibia toda orgulhosa, meu primeiro dólar de prata dado pela fada do dente, eu tinha seis anos. Ao longo da minha vida, eu nunca entendi o porquê destas fotos estarem aqui e não na casa de meus pais, e agora eu sabia. Entendia o porquê das mães das outras crianças sempre irem nas festas da escola e no meu caso, eram vovô e vovó que sempre estavam presentes, e quando meu avô morreu, eu tinha quase nove anos, vovó tomou para si todas estas obrigações. Ela havia sido a minha mãe em todos os sentidos, e eu sentia muita falta dela. Enxuguei o rosto, coloquei a foto no lugar e subi para o sotão, acompanhada de Condessa, que desde o Natal, morava na casa, e como vovó adorava bichos de estimação e minha gata estava feliz aqui, não me incomodava. Era sempre bom saber que pelo menos algo familiar estaria em casa me esperando.
O sótão não era como os dos filmes, todo sujo, escuro e empoeirado. Era limpo, organizado, porém havia muitas caixas por lá, que eu precisava olhar antes de mandar pintar e comprar os aparelhos de ginástica.
Comecei a olhar umas malas antigas, quando uma pequena caiu e se espalhou, deixando alguns diários cairem no chão. Reconheci a letra de minha avó e abri um deles.Vi que eram coisas do seu começo de casamento, suas dúvidas...No começo fiquei constrangida de ler coisas tão pessoais e coloquei de lado, mas em algumas havia trechos de músicas antigas, receitas, lembrei que para vovó devia ter sido dificil, orfã e pobre, casar aos dezoito anos, com um homem de trinta e cinco anos, temperamental e rico. Naquelas páginas, pude entender as dúvidas dela, seus medos, e saber que eles haviam tentado ter filhos por muito tempo, até que conseguiram minha mãe. As palavras felizes, as esperanças...Folheando mais rapidamente, pulei vários estágios daquele crescimento e li que criaram minha mãe como se ela fosse dona do mundo e ela agia como tal. Algumas vezes, eles brigaram por isso, fizeram as pazes...Vovô era um pai babão, dava tudo o que a filha queria, não a punha de castigo mesmo que ela houvesse levado suspensão da escola e minha avó, impunha limites, até que quando ele morreu, minha avó parou de fazer as vontades de minha mãe, agora uma mulher adulta e mãe de duas filhas, porém continuava extremamente mimada. Claro que as coisas não sairam bem, mas quem poderia culpa-las? Ambas tinham gênio forte e queriam tudo à sua maneira.
Pensei que se vovó escrevia tudo em diários, poderia haver alguma coisa relacionada ao meu nascimento, e me animei. Comecei a procurar pelos outros, e encontrei alguns, Condessa resmungou com fome, e eu decidi levar aqueles diários comigo para a sala, e enquanto minha gata comia a sua lata de atum, eu tomava uma xicara de café e ia folheando os diários e voltei um pouco para o tempo antes do casamento de meus pais.
Li sobre os muitos namorados de minha mãe, sua expulsão da escola secundária, por conduta inadequada, sobre suas companhias que vovó não aprovava, e depois quando ela conheceu George Ivashkov, filho de familia rica e e decidiu que ele seria seu marido.
Tornei a ler, mas vovó havia dito isso mesmo: Christine decidiu que George seria dela, e se empenhou para consegui-lo, mesmo ele sendo alguns anos mais velho. Vovó até pensou que ela realmente gostasse dele, mas após o casamento as brigas começaram e eles viviam como cão e gato, tendo se separado algumas vezes, mesmo quando minha mãe estava grávida de Camille.
Nossa, isso estava rendendo mais que novela mexicana. Senti que Condessa se deitou sobre meus pés, mas nem e mexi continuei a ler, até que cheguei na parte onde vovó falava sobre a segunda gravidez de Christine e que desta vez ela suspeitava que teria um menino, e que todos estavam muito animados, pois este bebê faria com que finalmente George rompesse com sua jovem amante, e ele e Christine, seguissem com o seu casamento.
Como assim o segundo filho dela seria um menino? George tinha uma amante?- me perguntei enquanto procurava pela continuação e quando encontrei comecei a ler sem nem me preocupar em acender as luzes. Seu relato era tão contundente, que parecia que eu estava vendo as cenas como se fossem um filme.
'O parto de minha filha foi doloroso, mas a menina mesmo prematura, tinha bom tamanho e parecia forte. George estava viajando a trabalho e viria assim que possivel, estranhei porque ele não quis saber o sexo da criança. Depois que deixei Camille com a babá, voltei para passar a noite com Christine, na maternidade, embora ela tenha insistido que não era preciso, mas algo me incomodava, e achei melhor estar com minha filha.
Quando cheguei ao hospital passava da meia noite, quase não havia movimento nos corredores. Entrei, no quarto e a vi colocando o bebê dentro do berço, e sua feição era dura ao olhar para a criança, não era a mesma mãe amorosa que eu havia visto horas antes. Já havia ouvido sobre depressão pós parto, e comecei a me preocupar.
-O que houve Christine? Você está bem? Não deveria estar em repouso?- e olhei para o bebê e notei que a roupa estava mal arrumada e também percebi coisas diferentes, como o tom do cabelo, que estava mais claro, e a criança parecia maior. Fiquei apreensiva:
- Estou muito bem.- tentei me aproximar e ela se colocou na frente, dizendo:
- Mãe, preciso de sua ajuda.É para salvar meu casamento, é sobre este bebê....
- Como assim? Seu marido, estava animado quando contei que o bebê nasceu.
- Você disse a ele o sexo?
- Não, ele só queria saber se você estava bem, e que ele estava a caminho....O que aconteceu Christine?- e ela se virou para mim nervosa:
- O que vou lhe dizer, mãe, não pode sair daqui, de maneira nenhuma. Jure por todos os santos e pela saúde desta criança, que você não vai contar a ninguém o que aconteceu. Não foi minha culpa, eu só fiz o que era preciso para salvar meu casamento...Mamãe,não conte a ninguém ou sou capaz de me matar.... JURE!- ela disse tão nervosa que jurei, inclusive beijei o crucifixo que eu usava no pescoço. Ela se acalmou, pois sabia que eu falava a sério, e após olhar para a criança mais uma vez disse:
- O bebê morreu.- e eu me desvencilhei dela e me aproximei do berço e vi que a criança dormia bem.
- Não diga tolices, Christine, sua filha está bem.
- Agora que dei um jeito, é claro que ela está bem.- ela respondeu sarcástica.
- Seria bom você dormir um pouco, não está falando coisa com coisa - e ela me encarou e deu uma risada estranha.
- A boa e velha Leonora, aquela que é perfeita em tudo, querida por todos, acha que a filha enlouqueceu, tsc, tsc...
- Não filha, você esta exausta, seu parto foi complicado....- tentei dizer mas ela me interrompeu:
-A menina estava no berço e dormia tranquila, levantei para vê-la e ela estava fria, deve ter morrido enquanto dormia. Na hora saí para o corredor para pedir ajuda, mas sabia que por mais que tentassem meu bebê estava morto, e se ela acordasse que futuro ela teria? Estava sem respirar a tempo demais, para voltar a ser uma criança normal, e ai sim George não teria mais motivos para ficar comigo, e eu não vou acabar a minha vida cuidando sozinha de uma criança retardada.Então, consegui um outro bebê.
-Como assim, Christine? Onde está minha neta, o que você fez?- segurei seus braços com força e ela se soltou:
- Por ironia, uma moça no final do corredor teve um filho quase na mesma hora e está sedada. Troquei nossas crianças, afinal nenhum filho de alguém como ela teria futuro mesmo.
- Não se pode roubar o filho de uma mãe assim, isso é monstruoso.Não posso aceitar isso...
- Não me interessa, agora esta criança será filha de George, seu único defeito é ser filha daquela mulher...Mas você jurou segredo. Se contar, não só eu, mas esta criança também morrerá.
- Christine, converse com seu marido, ele vai entender....
- Entender o quê? – e era George parado na porta do quarto, e Camille se transformou e começou a chorar:
- Que eu me enganei, não esperava um menino George, tive uma menina, desculpe-me querido...sinto-me uma fracassada.- e ele entrou no quarto e a amparou:
- Não tem problemas, querida, vamos cuidar da nossa filha com todo amor e carinho. – e ele após beijar Christine na testa, se aproximou do bercinho e segurou a criança e nesta hora ela abriu os olhos, e George sorriu:
- Veja ela tem os meus olhos...
- Sim, ela é toda você meu amor.- disse minha filha e ela tinha uma expressão calculista no rosto e George continuou:
- Ola, Leonora Marie, eu sou o seu pai.- senti um baque, e abri a boca para acabar com aquele teatro, quando ouvimos um grito de cortar o coração e as pessoas começarem a correr no corredor....’.
- Leonora? O que houve, meu amor?- meus olhos estavam tão embaçados pelas lágrimas, que sabia que era Mitchell, pelo som de sua voz.Soltei o diário e me agarrei a ele e comecei a soluçar, e embora ele estivesse todo suado por causa do treino, não me importei. Ele se sentou no chão e me segurou em seu colo até que eu parasse de chorar.
- O que aconteceu, Leonora? Porque você está triste? São os diários da sua avó?
- Ela não é minha avó.- eu disse e tornei a chorar e ele ficou sem entender, após algum tempo, eu disse, depois de assoar o nariz:
- Eu sempre quis entender, o porque eu não era amada por meus pais, e lendo os diários de vo...dela, eu entendi.
- Certo, você entendeu porque seus pais são dois estúpidos, lendo uns diários velhos, parabéns economizou uma fortuna com terapeutas.- ele disse tentando soar engraçado, mas eu o olhei séria e disse:
- Eles não são os meus pais. Fui roubada da maternidade no dia em que nasci. – apontei para mim mesma e completei: - Esta pessoa aqui na sua frente? É uma farsa!