Monday, May 14, 2012

O tempo chuvoso, tão raro nessa época do ano em Sofia, me pegou desprevenido quando aparatei de dentro da estação de trem para o portão da minha casa. Elvis, um dos nossos elfos domésticos, cuidava de uma das muitas plantas de minha mãe e sorriu animado quando me viu. Joe, o segurança da casa, conversava com ele enquanto tentava proteger os dois da chuva com uma sombrinha gigante.

- Mestre Oscar, não o esperávamos em casa esse fim de semana – Elvis disse surpreso e Joe assentiu.
- Mudança de planos de última hora – respondi sem muita animação.
- Problemas com a namorada? – Joe perguntou e assenti – Então nada melhor do que vir para o conforte da sua casa.
- Tem alguém em casa?
- Mestre Ilana chegou nesse instante – Elvis respondeu animado como sempre.
- Obrigado.

Caminhei até a casa sem me importar com a chuva. Fui direto até o quarto de minha mãe avisar que estava em casa e ela teve a mesma reação de surpresa que Elvis e Joe, mas me abraçou animada. Era sempre bom vir pra casa e ser mimado.

- Por que não avisou antes que viria? Quase não me encontrou aqui. Ia para Paris com seu pai, mas ele precisou adiar por conta de um problema e uma das boates.
- Decidi de ultima hora, Parvati e eu não estávamos nos entendendo e achei melhor dar um espaço pra ela e aproveitar pra ver vocês.
- O que houve? Não é possível que já estejam brigando!
- Não é nada demais, ela só ficou braba porque defendi o ponto de vista de Julie nessa briga idiota das duas. Nem ao menos fiquei ao lado de Julie, só disse que entendia e ela ficou uma fera.
- Ela é sua namorada, é o seu dever defender o ponto de vista dela, não da outra parte da confusão.
- Julie é minha melhor amiga! – disse indignado, mas ela só riu e balançou a cabeça.
- Seu pai tem mais de 200 anos e também nunca me entendeu, não sei por que ainda me surpreendo.
- O que quer dizer com isso? – olhei torto pra ela e mamãe riu ainda mais, beijando minha testa.
- Não se preocupe, vocês vão se entender. Só evite tomar partido de outras pessoas de agora em diante.
- Farei o possível para me lembrar disso.

Passei um dia agradável em casa. Com papai fora cuidando dos problemas da empresa e nenhum dos meus irmãos por perto para me atormentar, não precisei dividir a atenção da minha mãe com ninguém. Conversamos sossegados como há muito tempo não fazíamos e à noite saímos para jantar em seu restaurante favorito, mas como tudo que é bom dura pouco, quando chegamos em casa encontramos Katarina esparramada no sofá. Mamãe logo se apressou em abraçá-la, feliz por vê-la em casa.

- Pensei que o propósito de você casar era que não a veria mais por aqui o tempo todo – disse meio azedo depois que mamãe subiu para trocar de roupa.
- Também amo você, maninho.
- O que veio fazer aqui, afinal?
- Falar com você. Passei aqui para ver se tinha vindo para casa antes de ter que ir até Durmstrang e Joe disse que tinha saído para jantar com a mamãe.
- E não podia esperar até amanha? Está tarde.
- Por que está tão rabugento? O assunto é sério, é sobre a sua namorada.
- O que houve? – notei o tom grave na voz dela e fiquei preocupado.
- Vou contar a história desde o começo, assim você tira suas próprias conclusões e quem sabe elas digam que eu estou errada. Merlin sabe o quanto quero estar errada.
- Está me assustando.
- Deveria ficar mesmo. Lembra que achei curioso ela, uma humana normal, ter sobrevivido ao ritual e voltado com poderes e tudo mais? – assenti e ela continuou – Resolvi pesquisar, queria entender isso melhor e encontrei um livro muito antigo na biblioteca pessoal do vovô que falava sobre o assunto. Acontece que qualquer pessoa pode se tornar Imortal, porque o que nos torna assim não é a nossa linhagem sangüínea, mas sim o encantamento. Por isso é tão importante que somente poucas pessoas saibam como fazê-lo, por isso o processo de escolha para os futuros Mestres é tão rigoroso. Se qualquer um tivesse acesso a isso, teríamos um mundo cheio de pessoas que não podem morrer e ia virar um caos.
- Ok, então você descobriu o que já sabíamos. Por que esse pânico todo?
- O livro diz que pessoas que não descendem de famílias de Imortais podem passar pelo ritual, mas não adquirem habilidades especiais. Isso eu acertei, elas fazem parte da nossa linhagem sangüínea.
- Os Karev são Imortais? – perguntei confuso.
- Não. Procurei por eles em todos os livros de registro e não tem nada.
- Então está querendo dizer que Parvati não é uma Karev? – ela assentiu e me senti tonto – Acho que preciso sentar.
- Procurei outra explicação, qualquer coisa que pudesse indicar que estou errada, mas não encontrei. E tem mais.
- O que mais? – minha voz já soava desesperada.
- Quando não encontrei outra possibilidade, procurei os registros do nascimento dela no hospital. Olhei todas as fichas de crianças nascidas no dia 8 de abril de 1998 e tem uma família de Imortais nelas. Os Blanchards. Eles tiveram uma menina naquele dia, Emma.
- E onde eles estão? Não tem nenhuma Emma Blanchard em Durmstrang. Ela estaria na nossa turma, eu saberia.
- Não sei onde estão também e não podia sair perguntando pras pessoas sem um bom motivo ou iam desconfiar que estou escondendo alguma coisa. Mas onde quer que eles estejam, tem uma família de Imortais muito intrigada com a falta de habilidades da filha.
- Merlin... Como vou contar isso a ela?
- Não sei, mas mais cedo ou mais tarde nossa família vai saber o que vocês fizeram e quando souberem que ela pode ler mentes, perguntas vão começar a ser feitas. Uma hora ela vai descobrir, então melhor que seja agora.
- É, acho que sim.
- Esse era o destino dela. Acho que o universo encontrou uma maneira de consertar as coisas.
- E matou duas pessoas como dano colateral? Desde quando você acredita nessas bobagens?
- Não importa no que acredito, tem que contar a verdade a ela.

Conversamos mais um pouco e quando Katarina foi embora fiquei sozinho na sala com o pensamento longe. Era tarde, não adiantava voltar a Durmstrang e tirar o sono dela, o melhor era pegar o primeiro trem pela manhã. Não consegui pregar o olho a noite inteira. Quando o dia amanheceu, me despedi de minha mãe dizendo que queria me entender com Parvati logo e sai. Antes das 10h já estava de volta à escola e fui direto para a Atena.

- O que você quer? – uma aluna do 3º ano perguntou hostil quando abriu a porta.
- Falar com a minha namorada, por quê? Algum problema com isso?
- Ela não quer falar com você e nos proibiu de deixá-lo entrar até ela mandar.
- Olha, não estou com paciência pra discutir com pirralhos, dá pra sair da frente?
- Você não tem autorização de entrar – outra garota apareceu e de repente a sala estava cheia delas, todas bloqueando minha passagem, e começamos a bater boca.
- O que está acontecendo? – Leo apareceu na escada atraída pela discussão.
- Preciso falar com a Parv e não me deixam entram – respondi olhando diretamente para ela – É importante.
- Deixem-no passar – Leo ordenou, percebendo o tom de urgência na minha voz. Elas protestaram, mas obedeceram – O que houve? – ela perguntou quando a alcancei na escada.
- Vocês são mais parecidas do que imaginam – respondi a encarando sério – Ela não é uma Karev.
- Como é que é? – Leo engasgou.
- Longa história, mas preciso contar a ela primeiro – alcançamos a porta do quarto e entrei sem bater.
- Ozzy, está cedo, agora não – Parv já falou sem paciência quando me viu.
- Parv, é melhor ouvir o que ele tem a dizer.

O tom de voz de Leo, além do fato dela ter me apoiado, fez com que Parvati abaixasse a guarda e me ouvisse. Calmamente contei a ela a conversa que tive com Katarina e estava esperando que ela começasse a chorar ou entrasse em desespero, mas a única reação que Parvati teve foi ficar parada no meio do quarto, encarando o vazio como se Leo e eu não estivéssemos presentes. Aproximei-me cauteloso e a abracei, mas ela não correspondeu ao abraço e continuou imóvel, e foi então que compreendi. Parvati havia entrado em estado de choque.

((Continua...))

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