"Aceite com sabedoria o fato de que o
caminho está cheio de contradições. Há momentos de alegria e desespero,
confiança e falta de fé, mas vale à pena seguir adiante."
Paulo
Coelho
Depois que Ozzy contou a Parvati sobre sua
verdadeira origem, a noticia se espalhou como rastilho de pólvora. Leo correu
até a Kratos para contar a Robbie e em questão de minutos a sala da Atena já
estava ocupada por Lucian, Finn, Lenneth, Julie, Mitchell e um Alec e um Oleg
apavorados. Todos queriam saber o que
Parvati faria, mas quando Ozzy desceu ao encontro dos amigos uma hora depois,
não estava acompanhado.
- Então? – Lucian perguntou ansioso – Como ela
está?
- Mal. Conseguiu falar alguma coisa depois de um
tempo, mas só repete o quanto a vida é injusta.
- Já chega – Julie levantou do sofá irritada – É
minha vez de falar com ela.
- O que vai fazer? – Leo perguntou alarmada,
conhecia Julie o suficiente para saber que ela talvez não fosse a pessoa mais
adequada para lidar com a situação.
- Conversar com ela, já devia ter feito isso
antes.
- Acho que não é uma boa ideia, deixe que nós
cuidamos disso – Ozzy sugeriu e ela lhe lançou um olhar atravessado.
- Ninguém aqui tem o direito de decidir quando e
como eu devo falar com ela. Lembre-se que vocês são amigos e namorado, mas família
só eu.
- Bom, tecnicamente... – Robbie começou, mas
parou no meio – Vou ficar calado.
- Foi a decisão mais sábia de toda a sua vida –
Julie respondeu atravessado e foi em direção às escadas – Ninguém sobe,
entendeu?
Ela não precisou olhar pra trás para saber que
ninguém ia segui-la. Parvati estava encolhida na cama quando ela entrou e moveu
apenas a cabeça para ver quem tinha chegado ao quarto. Resmungou algo que Julie
não entendeu e cobriu a cabeça com o cobertor para ignorar sua presença. Julie
fechou a porta e caminhou até a cama, montando em cima dela e começando a lhe
bater.
- Ai, para, o que está fazendo? – Parvati já
estava sem a coberta e tentava se defender dos tapas da prima, mas choramingava
mais do que se protegia.
- Eu sou a vida e estou lhe dando uma surra! –
Julie acertou um tapa em sua cabeça e o arco que ela usava voou pelo quarto – O
que vai fazer a respeito? Lutar comigo ou choramingar feito um bebê?
- Você é maluca! Sai de cima de mim! – Parvati
empurrou a prima, mas continuou apanhando.
- Anda, reage! Vai deixar a vida lhe dar uma
surra sem nem ao menos tentar vencê-la? – um soco acertou seu braço com força –
Você é assim tão inútil e fraca?
- Para com isso! – Parvati conseguiu acertar um
tapa no rosto de Julie, fazendo-a recuar – Desculpa!
- Foi assim tão difícil?
- Você é maluca.
- Funcionou, você reagiu.
- Já está sabendo então?
- Sim, e se falar outra vez que a vida é injusta
vou voltar a lhe bater.
- Não foi você quem foi trocada na maternidade, é
muito fácil dizer que estou exagerando.
- Parvati, por Merlin! Você foi trocada na
maternidade, ok, isso não é legal, mas me diz onde está a injustiça da vida? É
porque você foi criada por uma família horrível que a maltratava e deixava você
trancada por dias sem comida em um porão ou porque de repente sua verdadeira
família é ainda mais maravilhosa que a que lhe criou e você poderia ter
crescido ainda mais mimada?
- Falando assim fico parecendo idiota...
- Se soa idiota é porque é idiota. Olha, eu
entendo que não é uma noticia para se comemorar com fogos de artificio, mas
você pesou a mão no drama. Você não perdeu uma família, você ganhou outra.
- Karen vai ficar devastada.
- Não, não faça isso! – Julie disse severa – Não
comece a chamá-la de Karen, ela é sua mãe, não importa o que o seu sangue diga.
E tio Demetri é seu pai, assim como eu sou e sempre vou ser sua prima.
- Muita coisa faz sentido agora, como mamãe
sempre dizendo que eu não parecia com nenhum dos meus primos porque era única.
Todos vocês se parecem, eu sempre fui a única que não lembrava ninguém.
- É, eu costumava achar que você era tão pentelha
que ninguém queria se parecer com você.
- Engraçadinha – Julie riu - Tive que descobrir
que não somos realmente parentes pra nos entendermos?
- É, gostamos de dificultar as coisas – Parvati
deu um sorriso fraco e Julie puxou algo do bolso, estendendo a ela – Já devia
ter devolvido isso a você.
- Seu colar. Você está usando a pulseira – disse
apontando para o pulso direito da prima.
- Seu colar, não meu. Nós duas esquecemos a promessa,
mas eu fiz pior quando o tirei. Não vou mais fazer isso e espero que continue a
usar o seu. Agora, mais do que nunca, não podemos esquecer o que eles
significam.
- Família – Parvati colocou o colar de volta no
pescoço e estendeu a mão a Julie.
- Família – ela respondeu a segurando e as duas
sorriram.
Agora elas sabiam que a promessa que fizeram
quando tinham sete anos nunca mais seria quebrada.
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Nunca uma sessão de terapia com Martin Pace foi
tão aguardada por Parvati. Embora estivesse se sentindo melhor depois de
apanhar da prima e ouvir o que ninguém tinha coragem de dizer, ainda sentia-se
perdida e sem saber o que fazer a seguir. Sabia que precisava contar aos pais,
mas como começar aquela conversa? Eram tantas explicações para dar até chegar
àquela descoberta que ela se sentia mal só de pensar no assunto.
Alheio aos últimos acontecimentos em Durmstrang,
Martin ouviu atentamente à história que estava sendo contada por Parvati e
Ozzy. Ouvia com tanta atenção que, à primeira vez que o nome do suposto bebê
trocado por Parvati foi mencionado, não fez a ligação. Foi só quando Ozzy o
disse pela segunda vez que veio o estalo. Ele levantou com um salto do sofá e
correu até as pastas de alunos do curso de Auror em Hogwarts.
- Como é o nome da menina? – perguntou passando
as pastas em um ritmo frenético.
- Emma Blanchard... – Parvati repetiu olhando
curiosa para Ozzy – Por quê? Você a conhece?
- O nome soou familiar... Ah, achei! – ele
estendeu uma pasta aos dois – Emma Blanchard, 18 anos, aluna da Lufa-Lufa e
melhor da turma do curso de auror em Hogwarts.
- Merlin... É ela, não tenho a menor duvida –
Parvati não conseguiu impedir que uma lágrima escorresse pelo seu rosto
enquanto fitava a foto na ficha – Não precisa nem perder tempo fazendo um exame
de DNA.
- Como tem tanta certeza? – Martin perguntou.
- Porque ela é a Alexis, três anos mais velha –
Parvati entregou a foto a Ozzy.
- É, é ela mesma – ele confirmou.
- Merlin, tenho mesmo que contar à minha mãe? –
Parvati abaixou a cabeça – Não posso fingir que nada disso está acontecendo?
- Você não tem que fazer nada, Parvati – Martin
disse tranqüilo e Ozzy o encarou surpreso.
- Ela não precisa contar aos pais?
- Se ela não quiser, não. Você deve contar? Sim.
Você precisa? Não. Você tem que fazer o que achar certo, mas esse segredo virá à
tona mais cedo ou mais tarde. Cabe a você decidir se prefere deixar que eles
descubram através de outras pessoas ou por você.
- Eu quero contar, mas não sei como. Vou precisar
explicar tantas coisas até chegar a como descobri isso, eles vão me internar
naquele hospício outra vez, nunca vão acreditar.
- Você não precisa fazer isso sozinha, vou estar
com você – Ozzy apertou sua mão – E Katarina também, ela e seu pai são amigos
há anos, trabalham juntos. Quando ela confirmar sua história, eles vão
acreditar.
- Ouça o que Oscar está dizendo. Conte tudo a
eles e quando vocês estiverem preparados para entrar em contato com a outra
família, vou estar aqui para ajudar. Emma é minha paciente, ela confia em mim,
eu mesmo contarei a ela.
- Como... Como ela é? – Parvati não se conteve,
embora não tivesse certa de que queria ouvir a resposta.
- Quando me fizer essa pergunta sem hesitar, terá
sua resposta. Conversamos outra vez semana que vem.
Martin os dispensou sem deixar que ela
contestasse sua resposta e Parvati se deu por vencida. Ele tinha razão, ela não
estava pronta para saber detalhes de como era a verdadeira filha dos Karev. No
momento, tudo que precisava ocupar sua mente era o que seria a conversa mais
difícil que já teve com os pais em 18 anos. E quanto mais ela demorasse a
contar, mais doloroso seria, então ela já estava decidida: ia pra casa no
próximo fim de semana e contaria tudo, começando pelo dia em que sua irmã
morreu.