Iago e eu caminhamos até a sorveteria e ao contrário do que imaginávamos ela estava cheia. Mas logo conseguimos uma mesa e ficamos tomando sorvete com calda quente, rindo e conversando.
- Ah, mas eu não levo muito jeito pra Herbologia, nunca fui muito ligado a plantas. Mas gosto de frutas. - dizia Iago enquanto roubava as cerejas que havia em meu sorvete.
Notamos quando Luka entrou na sorveteria e vinha acompanhado de Nadja Zolkoff, uma morena alta da Ansuz, que fazia parte do grupo da Geórgia, as tais garotas populares. Notei que Iago ficou rígido ao meu lado e tornei a olhar para os dois. Ela cochichou algo no ouvido de Luka e ele assentiu enquanto vinham em nossa direção.
- Oi Karkaroff, Kovac. Podemos sentar com vocês? Está tão cheio e a mesa de vocês é ótima. - ele perguntou.
- Claro, temos lugares sobrando. – respondi após olhar para Iago.
Começamos a conversar sobre coisas comuns, até que os garotos começaram a falar do assunto que os alimenta: Quadribol, até que em determinada hora ela disse:
- Não consigo entender como vocês gostam tanto de quadribol. É tão violento e tão sujo não é Milla?
- Também acho, mas sabe que passei a apreciar os jogos? Alguns jogadores são muito bons em campo. - e coloquei a mão sobre a de Iago que a pegou sorrindo.
- Milla costuma jogar conosco nas férias por brincadeira. Por sorte o irmão dela joga muito bem, e ela só fica voando de um lado a outro, apreciando a paisagem. – provocou Luka.
- Não seja mentiroso Luka. Não tenho a obrigação de ser uma boa jogadora, afinal eu não sonho com a carreira no quadribol. - respondi.
- Claro que uma garota não deve nem pensar em jogar quadribol, ficariam masculinizadas. - disse Nadja.
-Além de que algumas não teriam cérebro para tanto. - disse Luka e o excesso de chauvinismo estava me irritando.
- Mas algumas jogam muito bem e fazem parte das seleções de seus países, vejam a Moran, da seleção da Irlanda. Ela é bem bonita e muito inteligente. - comentou Iago e Luka concordou, dizendo ter lido a última entrevista dela na Só Quadribol.
- Ah é? Você acha a Moran bonita jogando quadribol? Talvez eu deva jogar também. - provoquei e ele e Luka começaram a rir com gosto ao gritinho horrorizado de Nadja.
- Claro que isso seria um delírio né? Você não faria uma coisa idiota destas. Seria massacrada no primeiro jogo. E imagina o que falariam de você. Nem pensar! - disse Nadja.
- E você é pequena demais, o vento te levaria embora. – disse Luka e Iago riu junto com ele.
- Porque seria uma catástrofe? Já pensaram que talvez a violência nos jogos diminua se as garotas começarem a entrar em campo? Podemos ser tão boas quanto os rapazes.
- Isso não vai acontecer, Milla. Nunca uma garota conseguirá jogar aqui, sem correr riscos. E imagina termos que separar os vestiários, porque não haveria lugar pros bobs e cremes delas rsrsrs. – disse Luka.
-E se quebrarem uma unha? Olha o desastre mundial: jogo em dia de chuva. – completou Iago e ele e Luka começaram a gargalhar com gosto e Nadja ria com uma cara tonta junto com eles e disse entre uma risadinha e outra:
- Sabe que sinto falta deste seu bom humor Iago? Fomos tão felizes juntos. Oops! Escapou. - ela disse pondo a mão na boca quando viu que eu parei de rir. Olhei para Iago e ele estava calado, e Luka tinha um brilho divertido no olhar. Parecia que ele queria ver o circo pegar fogo.
Respirei fundo e olhei para Nadja e sorri dizendo:
- Iago é sempre muito engraçado mesmo. Sabe, o papo está ótimo, mas eu preciso ir embora, ainda tenho alguns pergaminhos para escrever. Tchau. – Iago rapidamente pôs o dinheiro na mesa e se despediu deles, vindo atrás de mim. Tentou por a mão em meu ombro, mas ao ver o olhar feio que lancei para ele, ele recolheu a mão. Andamos por um tempo, e de repente me virei zangada:
- Quer dizer que uma garota não pode jogar quadribol porque iria quebrar as unhas e o mundo sairia do eixo?
- Ou então vocês escorregariam nos cremes delas? ¬¬.
- Ah não, nós ficaríamos lendo a revista de fofocas, enquanto os machões suam jogando de verdade no campo.
- Lud, você ficou braba por isso? Sabe que é zoeira. - e começou a rir, mas parou, quando viu que eu não ria.
- Sim, eu percebi que a testosterona ali estava nas alturas. Tudo muito engraçado. E sua ex estava saudosa, só faltou dizer de cima dos 2 metros de altura dela:
"Iago larga esta anã e volta pra mim". Tá arrependido de estar comigo? Se quiser pode voltar lá. – disse irritada.
- Não vou voltar para lá, porque você está aqui. Você ficou com ciúmes dela? – ele perguntou incerto.
- Ciúmes eu? Qual é... Imagina se vou ter ciúmes daquilo. Só acho que você estava muito empolgado zombando das mulheres, nós podemos ser tão boas quantos vocês nos esportes.
- Sim, algumas podem ser mesmo. Mas não consigo imaginar você jogando quadribol, Lud.
- Porque posso confundir os aros com um espelho? É... Eles têm a forma parecida mesmo. ¬¬
- Não é por isso Lud, você não é assim. É que você é... (aposto que ele ia dizer baixinha, mas pensou melhor) - Leve e aqui nós jogamos duro, podemos nos machucar sério. Já levou um balaço na cara? Não! Já deslocou um ombro e teve que continuar jogando? Não, e nem queira, aquilo dói muito. É melhor você ficar na torcida, é mais seguro.
-Algumas vezes o "mais seguro", é o que machuca mais sabia? – comecei a andar e percebi que ele vinha atrás, levantei a mão fazendo um sinal e ele entendeu que eu queria ficar sozinha. Antes de ir, ele ainda disse:
- Você é que é importante para mim, Lud.
Percebi que por mais argumentos que usasse Iago iria ter a mesma opinião, talvez se ele tivesse uma prova de que as mulheres podem jogar igual, ou melhor que um garoto e ele perceba que este tipo de preconceito é ridículo. O pior era que Luka, que às vezes se mostrava tão moderno, pois Irina era tratadora de dragões, pensava igual. Talvez um dia eu possa mostrar a eles que posso ser tão boa quanto um menino num jogo.
Além de precisar engolir o fato de Nadja se mostrar arrependida por terminar o namoro com Iago, me deixou abalada.