O jantar de aniversário de Evie já havia terminado e, lentamente, começávamos a ir embora. Todos ainda estavam chocados com o fato de que Ty quem deu uma verdadeira aula de etiqueta à mesa quando começaram a servir os pratos e depois do susto, encarnamos bastante nele. O avô e o tio dela ficaram pagando a conta quando sai, e paramos na porta para esperarmos Victor e Ricard, que estavam no banheiro.
‘Ty, acho que você assustou todo mundo quando começou a dizer o que fazer com todos os talheres!’ Evie comentou rindo e todos concordaram ‘Foi chocante!’
‘É, ele é realmente uma caixinha de surpresas... ’ Jolie olhou para ele ainda incrédula e ele riu
‘Foram anos ouvindo berros histéricos e sendo atingido por uma vareta quando curvava a coluna ou pegava o talher errado’
‘Evie, você precisa levar essa turma na casa do vovô quando tiver a família toda reunida!’ Pilar falou animada ‘Já foi engraçado quando o Micah foi lá, imagina essa gente toda?’
‘Vou providenciar isso’ Respondeu e logo sua atenção foi desviada para a rua que dava no restaurante. Ela abriu um enorme sorriso ‘Dimitri!’
Um garoto magro, pálido e de cabelos cacheados vinha caminhando na direção do nosso grupo e abraçou Evie sorridente. Cumprimentou Pilar e logo começou a se desculpar por perder o jantar, voltando a abraçá-la. Depois falou rapidamente com cada um dos outros e Evie o puxou de volta para continuar o apertando. As meninas pareciam estar se divertindo e achando engraçado, mas minha atenção ficou presa no rosto do garoto. Já havia visto ele diversas vezes pela escola, mas só agora sabia que ele era irmão dela. Sem perceber comecei a caminhar para trás e me afastar do grupo.
‘Micah, onde está indo?’ Chris perguntou confuso ‘Eles ainda não voltaram’
‘Micah?’ Ty reforçou ‘Ei, espera!’
Continuei andando sem olhar para trás, mas podia ouvir os passos de Ty, Chris e Iago me alcançando. Passaram na minha frente e bloquearam o caminho, me forçando a parar.
‘O que aconteceu? Você está meio pálido’ Iago comentou olhando meu rosto
‘Nada, só estava voltando para a republica, está tarde’
‘Ah claro, e nós acreditamos!’ Ty riu ‘Não adianta tentar nos enrolar, Micah’
Os três cruzaram os braços me encarando e não via outra saída senão contar a eles. Não sabia o que poderia fazer sozinho, talvez pudessem ajudar de alguma forma.
‘Ok, eu não fui 100% sincero quando disse que tinha contado toda a história do incidente com Max e os outros’
‘Por que algo me dizia que ele não tinha contado tudo?’ Ty olhou de Iago para Chris balançando a cabeça
Fiz sinal para não me interromperem mais e contei a eles toda a história, dessa vez sem buracos no meio. Quando cheguei à parte que o garoto tirou a máscara, os três se espantaram.
‘Está dizendo que Dimitri matou aquele homem?’ Chris falou quando terminei ‘Não é possível!’
‘Foi ele, eu sei o que vi. Nunca mais vou esquecer o rosto daquele garoto, e nem a cara de desespero dele quando viu o que tinha feito’
‘Micah, porque não nos contou isso antes?’ Iago falou alto e abaixou a voz ‘Por que não falou quem era o garoto?’
‘Porque eu não sabia que ele era irmão dela!’ Respondi entre dentes ‘Não fazia idéia de quem ele era, até agora!’
‘Espera, volta um pouco!’ Ty interrompeu com uma cara de espanto ‘Você disse que o homem que deu a seringa pro Dimitri disse que era pai dele. Então o cara...? E o outro...?’
‘Sim, é o pai da Evie! E o Max também!’ ficamos nos encarando mudos por alguns instantes, até que Chris quebrou o silencio
‘Não, não pode ser’ Andava de um lado para o outro enquanto falava ‘Conheço Dimitri, ele não é desse tipo. Não duvido de Max ou do pai dela, mas o Dimitri não!’
‘Não sei se ele é ou não desse tipo, mas se continuar sendo instruído por aquele homem, esse vai ter sido só o primeiro. Max também já matou alguém, e duvido que tenha sido apenas uma vez. Evie está morando numa casa com duas pessoas perigosas’
Ficamos os quarto calados alguns segundos, assimilando as coisas. Chris comentou algo sobre escrever a seu pai assim que chegasse a republica e Ty dizia que ia contar aos tios, mas não ouvi o resto. Iago fez sinal para eles mudarem de assunto e Victor e Ricard nos alcançaram. Ricard revirando os olhos e Victor rindo alto.
‘Victor nunca jantou fora. Ele estava tirando fotos até com o vaso sanitário no banheiro’ Ricard comentou com ar de reprovação e rimos
‘Claro que já jantei fora, mas não num lugar como esse! O banheiro é maior que meu quarto!’ Victor continuava rindo ‘Vou colocar as fotos no mural da república’
Eles continuaram avaliando o banheiro do restaurante, mas minha atenção se dissipou da conversa e voltou para a porta do restaurante onde Evie ainda abraçada o irmão, rindo. Eles pareciam ter uma ligação forte. Continuei encarando os dois e demorei a perceber que todos me olhavam com sorrisos de deboche.
‘O que foi?’
‘Micah ama Evie, Micah ama Evie’ Ty e Victor repetiram isso mais de 5 vezes com uma voz afetada e em tom de canção. Revirei os olhos ‘Micah ama Evie, Micah ama Evie’
‘Merlin, quantos anos vocês têm? Seis?’
‘Fala a verdade, quanto tempo você gastou procurando aquele presente pra ela?’ Ricard perguntou rindo ‘Deve ter levado uma eternidade. E custado uma fortuna, claro!’
‘Marcou um golaço com ele!’ Chris engrossou o coro
‘Eu presto atenção quando você fala...’ Iago me imitou com uma voz idiota e eles riram
‘Não encham meu saco’
‘Ih ficou brabinho!’ Ty fingiu estar com medo e não consegui evitar rir ‘Acalme seu coração, meu jovem. Ela também gosta de você, não há o que temer’
‘Se não gostava, depois desse presente tão “especial” passou a gostar. O amor é lindo...’ Victor provocou fazendo uma careta débil
‘Se ao menos eles admitissem que gostam um do outro, o mundo seria diferente’ Ricard falou com uma cara desapontada e revirei os olhos
‘Ok, vocês estão certos, eu gosto dela! Satisfeitos?’ Falei impaciente
‘Gosta “ela é legal pra matar o tempo” ou gosta “essa é pra casar”?’ Ty perguntou debochado
‘Só respondo na presença do meu advogado’ Respondi com a mesma cara idiota dele e sai andando em direção ao castelo
‘Huuuum! Ouço sinos!’ Victor falou alto e ouvi o coro de aprovação dos outros
Ele e Ty recomeçaram a cantar, dessa vez com todos ajudando, e vieram os quatro atrás de mim sem interromper a cantoria até a república, quando ameacei azará-los enquanto dormiam. Agora eu sabia que não teria mais paz.