‘Quando eu virar a ampulheta, vocês terão 20 minutos para transmutar todos os objetos enfileirados utilizando apenas os processos alquímicos que ensinei’ A professora Kollontai pegou uma ampulheta pequena do armário e colocou em cima da mesa, encarando os grupos ‘Atenção... Valendo!’
Ela virou a ampulheta na mesa e Reno abriu espaço esticando os braços, não nos deixando se aproximar da bancada onde tinha uma fila de 30 objetos diferentes. A turma estava dividida em dois grupos para a gincana de alquimia, garotos x garotas. Reno era o líder do nosso grupo e Annia comandava o time das meninas. Ricard e Ty tentaram ajudá-lo, pois sabiam um pouco mais que eu e os outros, mas Reno faltava dar um ataque de nervos quando alguém tentava sugerir alguma coisa, então cruzei os braços e me limitei a observar, na esperança de entender algo que me ajudasse na prova.
Do outro lado da sala, cada menina estava responsável por um objeto e Annia ia de uma em uma ajudando nas transmutações já em andamento, apenas terminando os processos. Não era nem preciso ser muito esperto para ver que elas iam terminar os 30 objetos anos luz a nossa frente.
‘Acabou!’ A professora pegou a ampulheta da mesa e as meninas ergueram as mãos, se afastando da bancada ‘Reno, levante as mãos, acabou o tempo’
‘Mas falta a finalização, essa ampulheta está errada, não se passaram 20 minutos ainda!’ Ele contestou.
‘A ampulheta está correta, largue a varinha e o estojo’ Ela repetiu e ele ia interromper, mas tossi alto.
‘Quando um burro fala o outro abaixa a orelha’ Comentei perto dele e Chris riu.
‘Me chamou de burra, Sr. Wade?’ A professora perguntou, mas não parecia irritada, e sim achando graça.
‘Não professora, desculpe. É só uma expressão que sempre ouvi da minha avó, não chamei a senhora de burra não’ Me expliquei depressa e todo mundo riu.
‘Ah sim, melhor assim’ Ela sorriu ‘Vamos então a contagem’
Todos agora estavam afastados das bancadas e ela foi primeiro na nossa, contando quantos objetos haviam sido transmutados e analisando a perfeição de cada um. Em seguida foi até a bancada das meninas e depois de alguns minutos olhando um por um, fez uma anotação na prancheta e caminhou até sua mesa.
‘Os meninos transmutaram 17 objetos por completo e as meninas...’ Ela fez um pouco de mistério e já via algumas comemorando ‘As meninas conseguiram 27 transmutações perfeitas. 10 objetos a mais. Vitória delas!’ Todas agora comemoravam e faziam piadinhas debochadas pro nosso lado, enquanto Reno praguejava baixo ‘Como premio, trouxe essas sacolinhas com chocolates de páscoa. Peguem aqui na mesa e podem sair. Sr. Wade, fique mais um pouco, quero falar com o senhor’
‘Ninguém mandou chamar a professora de burra...’ Ty comentou zombeteiro quando passou pela minha mesa
‘Vou esperar você lá fora’ Evie passou e me dei um beijo no rosto, sacudindo a bolsinha com chocolate pra mim.
‘Professora, eu não chamei a senhora de burra, eu juro’ Já cheguei à mesa dela me justificando ‘Era só uma maneira de dizer pro Reno calar a boca, pois já tínhamos perdido’
‘Eu sei, Sr. Wade, não foi por isso que pedi que esperasse’ Ela riu e abriu uma gaveta, tirando um livro velho ‘Disse que sempre ouviu isso de sua avó. Por acaso é essa aqui?’
‘É ela sim, mas bem mais nova’ Confirmei vendo a foto dela na contracapa de um livro de Alquimia, quando devia ter seus 30 anos ‘De onde a conhece?’
‘Morgana foi minha professora de Alquimia aqui em Durmstrang’ Ela respondeu feliz por ter reconhecido minha avó na foto ‘Esse livro foi escrito por ela e peguei emprestado quando ainda era aluna e nunca tive a chance de devolver. Disseram que ela havia sido demitida, mas nunca cheguei a saber se era verdade. Pode fazer isso por mim? E diga a ela que me foi muito útil’
‘Minha avó morreu há 4 anos, professora’ Respondei de cabeça baixa, olhando sua foto no livro
‘Oh Merlin, eu sinto muito, não sabia’ Ela se assustou e sua voz morreu um pouco ‘Como foi isso?’
‘A policia disse que foi suicídio’
‘Morgana jamais cometeria suicídio’ Ela disse ofendida
‘É, foi o que disse a eles, mas não me ouviram’ Dei de ombros, um pouco triste ‘Não sabia que ela havia sido professora aqui. Ela nunca disse nada’
‘Ela foi minha melhor professora. Alquimia sempre esteve no meu sangue, mas não me atraia tanto quanto meu avô queria. Foi sua avó que fez despertar essa paixão toda que hoje eu tenho pela Alquimia’
‘Posso ficar com o livro?’ Perguntei ainda olhando sua foto. Ela era mais nova, mas não mudara quase nada. Era hipnotizante vê-la sorrindo como se fosse pra mim através da foto.
‘Claro! Se era dela, é seu por direito. É um dos melhores livros sobre Alquimia que já foi escrito. Quem sabe não o ajude a passar nos meus exames?’
‘É, vou precisar mesmo de toda ajuda possível’ Ri um pouco mais animado ‘Obrigado’ Agradeci pelo livro e sai da sala. Evie estava sentada na escada comendo um bombom e levantou quando me viu.
‘E ai?’ Perguntou ansiosa ‘Está encrencado ou algo parecido?’
‘Não, ela só queria me dar isso’ E mostrei o livro a ela ‘Queria que devolvesse a minha avó, ela foi sua professora aqui em Durmstrang’
‘Oh meu amor, sinto muito’ Ela percebeu que havia ficado chateado e me abraçou, mexendo no meu cabelo ‘Você sabia que ela tinha dado aula aqui?’
‘Não fazia idéia. Parece que foi a uns 30 anos atrás e saiu da escola de uma hora pra outra, pois ela disse que não teve chance de devolver o livro’ Sorri ao virar o livro e mostrei a foto para ela ‘Olha minha avó, devia ter uns 30 anos aqui’
‘Ela era bonitona!’
‘Lógico que ela é bonitona, de quem você acha que puxei essa beleza toda?’ Falei brincando e ela riu, beijando meu rosto ‘Agora fiquei curioso... Por que ela nunca mencionou que foi professora de alquimia? E por que ela foi demitida?’
‘Isso eu não sei te responder, mas sei de alguém que talvez possa’ Ela comentou sorrindo e como fiz cara de quem não entendeu, ela continuou ‘Meu avô, ora! Ele dá aula aqui há mais de 30 anos, com certeza conheceu sua avó’
‘É verdade, seu avô é quase uma lenda aqui’ E ela riu ‘Mas ele está dando aula agora, depois falamos com ele. Se importa se não acompanhar você na biblioteca agora? Queria ler um pouco do que ela escreveu nesse livro’
‘Tudo bem, não se preocupe. Vá ler o livro da sua avó, nos vemos no almoço’ Ela sorriu e me beijou, subindo em direção a biblioteca. Eu sentei na escada e abri o livro, sem vontade de fazer mais nada senão ler o que talvez fosse o último vestígio de vida da minha avó. Acho que ela nunca imaginou que ia me fazer tanta falta.