"É nos momentos de decisão que o seu destino é traçado."
Anthony Robbins
Evie e Micah deixaram o escritório de meu avô e ele me deixou sentado no sofá tomando um copo com água e açúcar enquanto mexia em alguns papéis em sua mesa e ouvi quando ele chamou o diretor através de um espelho de duas vias. Não demorou nem cinco minutos para Igor Ivanovich aparecer e vovô começou a relatar tudo que eu havia contado a ele. O diretor apenas balançava a cabeça, incrédulo, e juntos tomavam decisões sobre o que fariam em seguida. Vez ou outra o diretor pedia que eu confirmasse algo que vovô dizia, mas eu só conseguia balançar a cabeça sem dizer nenhuma palavra.
‘Andrei, não podemos deixar isso passar’ O diretor falou se mexendo desconfortável na poltrona ‘Uma aluna morreu nos terrenos da escola! Daqui a pouco os alunos vão sentir a falta dela!’
‘Não vai passar, Igor, não se preocupe’ Vovô falou confiante ‘Mas o importante agora é não divulgar que essa menina está morta. Mande uma nota ao jornal notificando o desaparecimento dela, apenas isso. Josef verá que ela está sendo procurada, isso já vai fazê-lo recuar alguns passos. E até que ele venha a escola atrás do meu neto, já terei tudo sob controle’
‘Espero que saiba o que está fazendo, Andrei’ O diretor não parecia muito à vontade com a idéia do meu avô, mas não viu outra saída senão aceitar ‘Enfim, vou enviar uma carta ao Profeta Diário, quero isso publicado na edição de amanha’
‘Com licença, Andrei’ Alguém bateu na porta e o professor de poções entrou ‘Trouxe a poção que me pediu. O que está acontecendo?’
‘Acompanhe-me até minha sala, eu explico no caminho’ O diretor levantou da poltrona e saiu da sala, empurrando o professor Klasnic para fora ‘Boa noite, professor’
‘Tome, beba isso e se acomode no sofá, voce vai dormir aqui hoje’ Vovô falou me entregando uma caneca com a poção que o professor trouxe ‘Amanha de manha vamos resolver essa história. Boa noite’
O cheiro da poção era horrível e a aparência não ajudava muito, mas bebi o conteúdo de uma vez só e nem tive tempo de me aconchegar no sofá, pois apaguei no mesmo instante. Acordei com a claridade entrando pela janela e vi meu avô sentado em sua mesa escrevendo em um pergaminho. Ele notou que estava acordado e sorriu gentil, enrolando o pergaminho e amarrando na pata de uma coruja antes de despachá-la pela janela aberta.
‘Sonhei com corujas a noite toda’ Falei levantando e caminhando até ele ‘Podia ouvi-las tão bem que era como se estivessem aqui’
‘Não foi sonho, passei boa parte da madrugada despachando corujas para algumas pessoas que podem ajudar’ Vovô respondeu achando graça e me estendeu uma xícara de café ‘Beba, vamos sair em 5 minutos’
‘Aonde vamos?’ Perguntei experimentando um pouco do café forte que ele fazia.
‘Pôr um fim definitivo nessa história’
*****
‘Qual é o quarto dele?’ Vovô perguntou quando entramos na Chronos, a nova casa de Max.
‘Quinto andar, a última porta do corredor’ Reno respondeu ‘Ele ainda não saiu’
‘Obrigado, Sr. Kollontai. Dario, venha comigo’
Mesmo a contragosto, segui vovô pelas escadas até o quarto onde Max dormia. A porta estava entreaberta e ele nem mesmo bateu antes de entrar, pegando Max e Luka de surpresa. Luka ainda estava de pijama, mas Max já estava com o uniforme quase completo.
‘Vovô?’ Ele se espantou ‘O que faz aqui?’
Mas vovô não respondeu. Caminhou até a cama de Max e sem ele esperar, agarrou sua orelha com a mão e o ergueu com um puxão rápido. Max gritou de dor e Luka reagiu, mas foi puro impulso, pois não saiu do lugar, ele não teria coragem de enfrentar um professor de graça. Fiquei parado na porta perplexo e abri caminho quando vovô passou arrastando Max pela orelha escada abaixo, seguindo os dois sem reação. Passamos por Reno na sala e ele sufocou uma risada, o que acabou me fazendo rir também. Mas bastou um olhar severo do meu avô para o sorriso evaporar do meu rosto e os segui pelo resto do caminho em silencio.
‘Vovô, pare!’ Max protestava, sem sucesso. As poucas pessoas que já circulavam cedo pela escola presenciavam a cena e davam risada ‘Está me envergonhando na frente de todo mundo!’
‘Você quer falar de vergonha, Maximillian?’ Vovô falou ríspido, quando entramos no castelo e o corredor estava vazio ‘Que tal a vergonha que você me faz sentir em ser seu avô? Que tal a vergonha que está prestes a fazer nossa família passar?’
‘Do que está falando?’ Max tentou se desvencilhar mais uma vez, mas tropeçou nas escadas e desistiu.
Vovô não respondeu outra vez e continuou o arrastando escada acima, até que chegamos ao seu escritório. Ele destrancou a porta com a varinha e empurrou Max para cima do sofá, trancando quando entrei. Max se sentou revoltado, mas assim que abriu a boca para falar, vovô foi mais rápido.
‘Tatiana Petrov’ Vovô falou de cara e a expressão no rosto de Max era de puro pavor ‘Já sei de tudo que aconteceu, Dario estava lá e viu quando ela caiu do palco e morreu. Viu também o seu desespero e quando Josef chegou, dando sumiço ao corpo dela’
‘Vovô, eu não tive culpa! Foi um acidente!’ Max disse desesperado ‘Se ele estava lá, pode confirmar!’
‘Dario disse que a culpa não foi sua, mas essa mentira não pode ter continuidade’ Vovô foi enfático ‘O que acha que vai acontecer quando encontrarem o corpo dessa menina, Maximillian? Acha que vão acreditar na história que seu pai irá plantar? Podem acreditar de inicio, mas a verdade sempre vem à tona!’
‘Eu não pedi que ele sumisse com ela, só entrei em pânico e não sabia quem chamar!’ Ele se defendeu.
‘Não importa quais foram as suas intenção, essa farsa tem que acabar. Você vai se entregar a Suprema Corte dos Bruxos e contar o que aconteceu’
‘Com todo respeito, vovô, mas o senhor está louco?’ Max se espantou com o que ele sugeriu ‘Não posso me entregar, serei preso!’
‘Se você se entregar, não será preso’ Falei pela primeira vez ‘Eu vou ser sua testemunha de defesa, eles vão usar a minha memória em uma penseira para ver que você não teve culpa’
‘É sua única alternativa, Maximillian’ Vovô tornou a falar e seu tom de voz era irredutível ‘Se não se entregar, eu o farei. E não permitirei que Dario testemunhe ao seu favor, será condenado como cúmplice de Josef por encobrir um crime’
‘O senhor vai me entregar?’ Max parecia chocado.
‘Não tenho alternativa. Não irei acobertar essa mentira, estamos falando de uma vida que foi tirada de uma menina de 17 anos, dentro dos terrenos de uma escola. Prefiro ver meu neto preso do que solto e sendo levado a seguir uma vida como a que seu pai leva’
‘Se eu me entregar, vou acabar denunciando meu pai’
‘Está na hora de você escolher de que lado está, Maximillian’ Vovô caminhou até ele e apertou seu ombro ‘Seu pai cometeu atos monstruosos e já tirei Evangeline de seu poder, mas para que tire você também, terá que querer. Se decidir ficar do lado dele, não contará mais com o nosso apoio e estará por conta própria, sabe disso’ Max balançou a cabeça em concordância e a abaixou em seguida ‘Está em suas mãos decidir o que fazer. Tome a decisão mais sábia’
Vovô soltou seu ombro e Max continuou de cabeça baixa, sem coragem de nos encarar. Pela primeira vez, vi meu primo abaixar a guarda e pude ouvir o barulho de um choro contido e ao mesmo tempo desesperado. Um choro de quem tinha apenas alguns segundos para definir o rumo de uma vida toda. Decidir se continuava leal a quem sempre foi ou salvava a si mesmo e abandonava o próprio pai.