Por Dario Stanislav
Já passava da meia noite e meus companheiros de quarto roncavam alto, mas eu ainda não havia pregado o olho. Andava tentando encurralar meu primo Max, na tentativa de conseguir que ele soltasse qualquer tipo de informação adicional que nos ajudasse a manter tio Josef cada vez mais afastado de Evie e Dimitri, mas não estava obtendo sucesso. Evie havia sugerido usarmos veritasserum e apesar de ter relutado no inicio, agora considerava a possibilidade. Desistindo de dormir de uma vez por todas, arranquei as cobertas e me agasalhei, saindo da república.
Não poderia entrar no laboratorio de poções sem passar pela sala do professor, mas sabia que o estoque de poções perigosas e proibidas da Reis & Sombras continha alguns frascos da poção da verdade, que era sempre usada ilegalmente quando melhor convinha ao líder do grupo. E lá poderia entrar sem problemas. Desci as escadas de pedras geladas e fui direto ao armário também de pedra. Eram muitos frascos, alguns etiquetados e outros sem identificação, mas logo reconheci o veritasserum. Tinha apenas um frasco e o guardei no bolso, mas me distrai lendo os outros rótulos, quando ouvi passos descendo as escadas de pedra. Na urgência de desaparecer de vista, derrubei alguns frascos de poções, mas não teria tempo de limpa-los, então deixei tudo para trás e me lancei para trás de uma mesa de pedra, onde aconteciam os rituais mais tradicionais da Sociedade. Os passos iam ficando cada vez mais próximos e arrisquei espiar pelo canto da mesa. Max descia as escadas de mãos dadas com uma garota, que reconheci como uma das meninas da Avalon.
‘Quem está ai?’ Max falou alto, olhando desconfiado para os frascos de poções quebrados no chão.
‘Não tem ninguém, Maxie’ A menina disse parecendo ansiosa ‘É aqui, não é? Se as pessoas soubessem como esse lugar é fantástico...’
‘Vá com calma, Tatiana’ Max falou em tom de aviso e vi o sorriso no rosto da garota morrer um pouco ‘Não esqueça do nosso trato. Não trouxe você aqui para não cumprir a sua parte’
‘Ok, ok, mas é que é um absurdo uma sociedade secreta funcionar debaixo do nariz de toda essa gente e ninguém sequer desconfiar!’ Ela voltou a se empolgar e percebia que Max a olhava com cautela ‘E você há de concordar que vocês não são dos mais discretos. Eu descobri sobre a movimentação sem muito esforço!’
‘Houveram alguns deslizes, mas nada que não possa ser encoberto’ Max deu de ombros, se justificando ‘Não toque nisso!’
Tatiana se assustou com a voz grave dele e saltou para trás, deixando cair um frasco de cor púrpura. Max agitou a varinha depressa e conseguiu evitar que o vidro batesse no chão e o liquido se espalhasse. Ele a olhou irritado, mas Tatiana riu sem dar importância e correu para o outro lado da masmorra, desaparecendo por uma passagem apertada. Max correu atrás dela praguejando e os dois apareceram no topo de uma espécie de palco, de onde o líder costumava fazer pronunciamentos. Sua altura era de aproximadamente 3 metros e se tinha uma visão de toda a masmorra. A vista que se tinha lá de cima era uma imagem que não sairia mais da minha cabeça, pois foi no alto daquele palco de pedra que derrotei Max na luta com espadas, sob o olhar atento de dezenas de membros da sociedade.
‘Aqui em cima é onde Arthur faz todos os pronunciamentos e dá as sentenças, certo?’ Tatiana perguntou curiosa, rodeando o palco deslizando os dedos pelas pedras frias.
‘Sim, é aqui. Quer parar um pouco?’ Max pediu irritado, vendo-a correr em círculos ‘Você não pode sair entrando correndo pelas passagens, e se tiver mais alguém aqui embaixo?’
‘Relaxa, Maxie, você está muito estressado’ Tatiana parou atrás dele e passou a mão em seus cabelos, fazendo Max mexer a cabeça lentamente ‘Quando fica nervosinho assim, me lembra sua irmã’
‘O que tem a Evie?’ Max reagiu ao ouvir o nome dela e parecia incomodado, tirando as mãos dela de seus cabelos.
‘O que foi? Não posso falar da maninha? Pelo que sei, vocês nem se falam mais. Duvido até que saiba que ela está grávida. Imagino só quando o pai de vocês souber...’ Tatiana soltou a bomba e sorriu debochada, observando Max atentamente.
‘Isso não é da sua conta, deixe-a em paz’ Ele respondeu ranzinza e percebi que ele não sabia, mas não havia gostado da ameaça de contar ao tio Josef.
‘Maxmillian Parvanov defendendo a irmãzinha que fala mal dele?’ Tatiana ironizou ‘Eu morro e não vejo tudo!’
‘Deixe a Evie em paz’ Max repetiu, a encarando sério ‘Não se meta com a minha família, ouviu?’
‘Merlin! Isso é o que eu estou pensando??’
Tatiana ignorou a ameaça e correu até a parede, alisando algo gravado nela. Max parou atrás dela para ver também e Tatiana abriu a bolsa, puxando uma câmera de dentro e fotografando a parede tão rápido que Max nem teve tempo de impedir.
‘O que está fazendo?’ Max tomou a câmera da mão dela com brutalidade ‘Eu disse que não poderia registrar nada, por que trouxe isso? Não devia mesmo ter confiado em você, depois de saber que foi você que escreveu aquela matéria sobra as repúblicas de Durmstrang!’
‘Max, é o símbolo de Grindelwald, com a frase que marcou a vida dele!’ Tatiana apontava para a parede agitada ‘Eu preciso ter essa imagem, as pessoas precisam ver isso!’
‘NÃO!’ Max se irritou quando ela tentou recuperar a câmera ‘Não foi esse o combinado, você não pode contar a ninguém que esteve aqui!’
Tatiana pareceu se conformar e olhou mais uma vez para o símbolo na parede, mas em um movimento rápido, saltou para cima de Max e tomou a câmera de sua mão. Max perdeu a paciência de vez, partindo para cima na tentativa de tomá-la de volta e os dois começaram a travar uma batalha pela posse da câmera. Max puxava de um lado e Tatiana puxava do outro e já conseguia visualizar a câmera se partindo em vários pedaços. Max era absurdamente mais forte e levava vantagem, mas a garota não desistia. Tatiana deu um vacilo e Max deu um puxão com mais força, transformando a câmera em duas e fazendo a garota perder o equilíbrio. Tatiana cambaleou para trás e o salto que usava virou, fazendo-a despencar dos 3 metros de altura do palco. O barulho do corpo dela atingindo o chão de pedra fez com que me encolhesse atrás da mesa e ouvi meu primo gritar.
‘TATIANA!’ Ainda em choque, vi Max se atirar na beirada do palco com a mão estendida ‘TATIANA! RESPONDE!’
Mas não houve resposta. Consegui me mover de onde estava e olhei pelo outro lado da mesa, onde conseguia ver o corpo dela estendido no chão. Ela estava completamente torta e um filete de sangue escorria pelos caminhos entre as pedras, o pedaço quebrado da câmera solto em sua mão aberta. Recolhi-me outra vez, horrorizado, e agora não podia ver mais nada, apenas ouvir que Max descia as escadas desabalado e começava a chorar de desespero. Ouvi quando ele chamou meu tio pelo espelho de duas vias e segundos depois ele já aparatava dentro da masmorra.
‘O que esta garota estava fazendo aqui, Maximillian?’ Tio Josef esbravejou, sem demonstrar qualquer tipo de pena pela garota.
‘Eu estava mostrando a sociedade a ela, ela não ia contar a ninguém’ Max se explicou, gaguejando ‘Não tive culpa, pai! Foi um acidente, ela perdeu o equilíbrio e caiu!’
‘Ela não ia revelar nada a ninguém e trouxe uma câmera fotográfica?’ Ele ignorou os apelos de Max e continuou brigando ‘Você é um irresponsável mesmo, uma decepção! Meus filhos só me dão desgosto!’
‘Pai, por favor’ Max suplicou, aos prantos ‘Não foi minha culpa, não ia deixar que nada saísse daqui. Desculpa!’
‘Saia daqui, anda!’ Ouvi meu tio caminhar pela masmorra e mexer no corpo dela ‘Suma daqui antes que alguém o veja!’
‘O que o senhor vai fazer?’ Max não se moveu.
‘Vou limpar a sua bagunça, não foi pra isso que me tirou de casa a essa hora da madrugada?’ Ele continuou sendo estúpido com Max ‘Volte para sua república e não se atreva a sair de lá até o horário das aulas. Não ouse mencionar que esteve aqui hoje. Se alguém lhe interrogar, você esteve comigo’
‘Mas não temos permissão de sair no meio da semana’ Max estava tão assustado que ainda o respondia, quando já deveria ter ido embora.
‘Sou seu pai, tiro você dessa escola quando bem entender. Agora suma daqui, ande! Não me faça mandar outra vez!’
Depois do ultimo aviso, Max não emitiu mais nenhum som e ouvi seus passos apressados correndo escada acima. Eu continuei imóvel atrás da mesa, sem saber quando poderia sair dali, e fui obrigado a ver meu tio Josef remover o corpo sem vida de Tatiana do chão, enrola-lo em um lençol branco e limpar o chão sujo de sangue, antes de desaparatar com ela de lá. E quando fiquei sozinho outra vez na masmorra, comecei a chorar.