Anotações de Leonora Carrara - Ultima semana de janeiro 2015
Quando Mitchell e eu voltamos para a escola, pensei que teríamos a rotina de namorados que eu via entre Parv e Lukas e mesmo entre Robbie e Alec, mas nao foi o que aconteceu. Mitchell tinha que se dividir entre os treinos de quadribol, as aulas para auror, e eu além de estar no jornal, estava muito ocupada com o concurso de culinária que acabou movimentando até mesmo os alunos da escola, vários vinham comentar que seus pais haviam se inscrito no site, que mandei montar para o concurso, o que facilitava que eu acompanhasse tudo, de um laptop que comecei a usar e o carregava comigo para todo lugar. Acabei acertando um anúncio com Lucian e além de continuar a coluna de fofocas, também divulgavamos as receitas mais votadas, que ao final da votação on-line, eram avaliadas pela banca julgadora que se reunia duas vezes ao mês. E sempre que tínhamos uma folga nas aulas, Mitchell e eu nos encontravamos para namorar e tudo ia muito bem entre nós. Meu namoro com Finn foi breve, e sem querer acabava comparando-o ao de agora. E embora, Mitchell e eu não ficassemos grudados o tempo todo, nosso tempo juntos era de qualidade. Ok, a quem eu quero enganar com esta frase de workaholic de consciência pesada? Bastava ter um canto vazio que nos agarrávamos como se não houvesse amanhã, mas também conversávamos e fazíamos planos como um casal normal.
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Sexta-feira, após o almoço
- Vocês têm certeza de que não podem vir?- perguntei mais uma vez para Robbie e Parv, enquanto arrumava uma mochila com algumas roupas.
- Não posso, amada. Tenho que terminar o trabalho que a professora Mira passou, olha que vergonha, até você fez o seu antes do meu.Tem algo errado no mundo.- rimos e olhei para Parv, que se mostrava chateada.
- Você acha que eu iria recusar comida boa, de graça e a oportunidade de boas risadas, se não tivesse aula? O doutor Pace já está na minha cola, e se eu faltar amanhã, posso dar adeus à carreira de auror. Porque Mitchell não vai com você?- e eu bufei:
- Porque ele já foi para Sofia, para encontrar a família, nem quis almoçar.Mas devemos voltar juntos para cá, domingo á noite.
- Há algum problema entre vocês? – ela quis saber e respondi:
- A mãe dele não gosta de mim.Acho que é questão de tempo...
- Como assim não gosta de você? Estavam todos bem, no casamento da irmã do Ozzy.Você até dançou com o pai dele.- disse Robbie e eu olhei para Parv e ela entendeu o que eu queria saber:
- Desculpe, estava com o filtro no máximo e não captei nada, mas pela aparência achei que tudo estivesse normal. Meus pais gostaram deles, e que história é esta de ‘questão de tempo’, vai terminar? Ele falou alguma coisa? - ela perguntou e eu neguei com a cabeça e Robbie se agitou:
- Vocês não podem terminar só porque a mãe dele não gosta de você, pirou? Ele é o melhor namorado que uma garota pode ter, e amiga, vocês se amam, todo mundo vê isso. E o mais importante: EU gosto do Mitch, e ele é muito amigo do Alec. Viu? Boas razões apra você não terminar com ele.
- Será que um namoro pode sobreviver quando a mãe do cara que você ama não te considera boa o bastante, ou nas palavras dela: ‘ainda se fosse a outra, Ivashkov’.- resmunguei.
- Ela falou isso na sua cara? Quem ela pensa que é? Não conhece aquela vaca da Camille. – disse Robbie nervoso e eu respondi:
- Claro que ela não falou comigo, ela é uma ‘Forbes’, e tem o mínimo de educação, então ela finge. Acabei ouvindo sem querer um comentário dela com o marido, depois da festa, na casa da tia dele. Eu havia voltado para pegar minha bolsa, que deixei na entrada, eles nem me viram.
- Não faça nada precipitado, Léo. Você contou ao Mitchell? – quis saber Parv.
- Não, e não vou contar, ele adora os pais e não quero que briguem por minha causa. Por favor, não comentem nada ok?Tudo vai se resolver.- eles concordaram e os deixei na república, e fui pegar o trem. Tinha muitos pensamentos conflitantes a respeito de Mitchell na cabeça, que sumiram quando abri o bolso da frente da minha mochila para pegar a minha passagem, e encontrei um bilhete com a caligrafia dele.
‘Estou contando os minutos para domingo. M.”
Remexi mais um pouco na bolsa e encontrei uma saquinho de veludo e dentro havia uma pulseira de prata, cheia de pequenos berloques, do tipo que as pessoas usam para ter sorte, como trevo de quatro folhas, ferradura, um coração onde havia nossas iniciais.Sorri feito boba.
- ‘Problema da mãe dele se não gosta de mim, ele gosta...E muito!’.- disse a mim mesma enquanto admirava a pulseira em meu pulso.
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Quando cheguei na Itália, foi uma correria só, pois eram muitos participantes, e o senhor Vincenzo, já havia organizado boa parte das eliminatórias, e no sábado quando teriamos a prova final com a presença de juizes, escolheriamos as 3 finalistas desta etapa. Por ser uma causa beneficente, convidamos algumas celebridades, entre eles um chef americano de origem italiana chamado, Rocco Di Spirito, que estava fazendo um programa para seu canal de televisão e era amigo do avô do Damon, e como ele ofereceu a estrutura do estúdio, fomos todos para lá. Eu entrava na estúdio destinado ao programa quando ouvi alguém me chamar, me virei e era a mãe do Finn. Sorri quando nos abraçamos:
- Minha querida que saudades de você. Está linda! – ela disse amorosa e eu a abracei novamente:
- Você está muito bem, tia Moira.O que faz aqui?
- Finn está dando entrevista junto com o time, no estúdio do lado, para um programa de esportes e você sabe que a única coisa que entendo deste jogo é que quando ele defende o...o...
- Puck.- completei e ela riu concordando:
- Isso! Quando ele defende o puck, é bom para ele e para o time.- rimos e eu disse:
- Só aprendi, porque tive que ver muitos dos jogos dele na escola. Quer ficar um pouco aqui, enquanto ele termina as entrevistas? Estou esperando a ultima jurada do concurso de culinária. Rocco Di Spirito, vai apresentar o programa.
- Ah que maravilha, adoro o programa dele. Sabe que sempre uso o azeite da sua empresa e pedi a todas as minhas amigas que o usassem, Finn me contou da sua luta em salvar a fábrica, conte comigo, querida.
-Obrigada, tia, isso me ajuda e muito. Quer ser minha convidada para ver o programa e depois vamos comer em algum lugar e matar as saudades?- ficamos conversando por um tempo e logo Finn se juntava a nós, junto com alguns colegas do time, que ele apresentou a nós duas. No começo ele estava um pouco seco comigo, mas depois começou a conversar normal e logo estávamos rindo, dos comentários deles sobre a entrevista, e seus novos amigos eram muito engraçados, além de bonitos, e algumas vezes não entendiam algumas palavras que diziamos, e um deles veio colocando a mão sobre meu ombro, me convidando para sair e eu sem disfarçar, retirava sua mão e seus colegas o zoaram. O tempo foi passando e o diretor do programa veio me avisar que a convidada de Rocco teve um imprevisto e não iria comparecer, e isso poderia invalidar esta etapa do concurso.
- Por Odin, o que faço agora? Não posso dizer ao Rocco que não vai ter mais concurso e a gravação dele ser prejudicada. E se tiver, a prova pode ser invalidada porque não temos todos os juízes imparciais do regulamento. – comentei aflita, peguei o celular para ligar para o avô de Damon, quem sabe ele poderia conhecer alguém quando tia Moira, disse:
- Se você precisa de gente famosa para dar audiência ao programa, poderia convidar Finn e os amigos, o time deles é famoso ou não dariam entrevista para televisão daqui não é? – ela disse e olhei suplicante para Finn e ele quis saber:
- É importante para você? Só me apresento na próxima temporada, mas os caras aqui, já estão na ativa...
- Sim, e eu ficaria muito agradecida se você e seus amigos me ajudassem.
Ele conversou com os amigos e após ligarem para o técnico, que ainda estava no estúdio ao lado, concordaram. Corri até o diretor e conversei com ele, e ele só faltou pular de alegria, quando os rapazes entraram no estúdio. E Rocco, como já conhecia e era fã do Bolzano na Itália, adorou os novos convidados, e os apresentou á platéia, que ficou eufórica, pois em sua maioria eram mulheres. Quando o programa acabou e as três vencedoras da etapa tiravam fotos com os convidados, eu respirei aliviada, abraçando tia Moira e sua ótima idéia.O diretor do programa veio contente dizer que o show havia sido lider de audiência, e que se numa próxima oportunidade quisesse trabalhar com eles novamente, era só ligar para ele.
Depois de tudo resolvido, agradeci a todos os amigos do time do Finn, e prometi me tornar a sua mais nova torcedora, ganhei pares de ingressos, e um deles, o engraçadinho do Enrico, disse que se um dia eu precisasse de um guia na cidade, era só ligar para ele, claro que ele recuou quando Finn rosnou para ele, dizendo que estava brincando, mas piscou para mim quando Finn não estava olhando. Embora eu tivesse muita coisa para fazer, optei por ficar com Finn e sua mãe, e fomos passear por alguns pontos turisticos que ficavam lindos à noite e ela adorou. Como ficamos paseando até tarde, no dia seguinte optamos por voltar todos juntos para Sofia, acompanhei Finn até a casa de sua mãe e depois fomos para a minha casa, onde eu ficaria para esperar por Mitchell.
Já era começo da tarde de domngo, e Finn estava sentado na sala, e fui buscar alguma coisa para comermos, e quando voltei acabei tropeçando e ele agilmente me segurou, e começamos a rir, pois eu sempre fui estabanada.Mitchell nos encontrou assim e disse:
- O que está acontecendo aqui? – e antes que eu abrisse a boca, vi que sua mãe, que estava com ele me olhava sarcástica. Finn, notando o clima tenso disse:
- Léo, é melhor eu ir embora...
- Não, você não vai, porque a casa é minha e recebo quem eu quiser aqui, especialmente meus amigos.- respondi olhando Mitchell, que havia me olhado de cima a baixo e se demorou nos meus pés descalços, quando me encarou novamente, havia julgamento em seus olhos:
- Passaram o fim de semana juntos?- perguntou frio e antes que eu respondesse, sua mãe disse:
- Eu disse que era perda de tempo tentar ter alguma amizade com esta garota Mitchell, nota-se que ela não é para você.
- Sim, passamos.- respondi o mais fria possível, mas por dentro eu fervia de irritação com o comentário da mãe dele, e ela o puxou pelo braço:
- Vamos embora, querido. Já vimos o bastante.- e ele começou a se virar com ela, quando eu explodi:
- Isso, esconda-se atrás da mamãe, sem saber realmente o que está acontecendo.- provoquei.
- Não ouse falar assim com meu filho...- ela se virou defensiva e sua voz se elevou um pouco, e eu respondi mais alto:
- Abaixe o tom, pois está na minha casa e aqui quem grita sou eu. Eu não a convidei para vir.- ela ofegou, talvez porque ninguém nunca tenha falado assim com ela e Mitchell disse nervoso:
- Não fale assim com a minha mãe.
- Ela que não fale comigo deste jeito, ela nunca ouviu dizer que em briga de...de casal ninguém mete a colher?- respondi e ele novamente me olhou e encarou novamente Finn, dizendo:
- Busco as minhas coisas assim, que possível...- não deixaria ele ter a última palavra:
- Não se dê ao trabalho, eu as mando para você. – ele saiu e a porta ficou entreaberta, fui até lá e a bati com força.
- Léo, sinto muito...Você está bem? - ouvi Finn perguntando enquanto meus olhos começaram a arder, mas respirei fundo e disse:
- Vou buscar minha mochila, preciso voltar para a escola agora, você vem comigo?
-Sim, claro.
Eu sabia que iria chorar e muito, mas o inferno congelaria se eu chorasse na frente de um ex-namorado.