Lembranças de Lucian P. Valesti
As primeiras semanas de aula sempre são bem agitadas para mim.
Nessas primeiras semanas preciso dividir meu tempo entre Namorada, Jornal, Grêmio, Time de Hockey, Amigos, Escrever, Ler e Estudar, e agora também trabalho na Livraria.
Não estou reclamando, pelo contrário, eu gosto muito disso tudo e têm um valor especial para mim cada uma dessas pequenas coisas.
Aprendi ao longo dos anos com meus pais que devo dar valor às pequenas coisas e é o que eu mais tento fazer, prestando atenção a detalhes. Claro que às vezes estou tão avoado que não percebo muitas coisas.
Ah claro, a primeira semana de aula é o momento ideal para os professores quererem falar com seus alunos. Eu em especial costumo ter dois professores no meu pé: a Professora Arkdain e o Professor Kollontai.
- Senhor Valesti, é um prazer tê-lo novamente na escola! Sinto que esse ano será cheio de surpresas! – A professora Silmeria Arkdain me cumprimentou quando eu passei em sua sala de aula para encontrar com Liseria. Eu não faço adivinhação, ao contrário do que muitas imaginam. A aula dela estava mais uma vez lotada esse ano, o que confirmava sua fama na escola, pois ela realmente tinha alguns poderes mediúnicos.
- Bom dia professora Arkdain. Como foram as férias? – Eu perguntei sorrindo, enquanto abraçava Liseria pelo ombro.
- Maravilhosas, Edmund e eu visitamos Stonehenge no solstício! Eu pude sentir o pulsar de vida daquela terra! Você deveria ir lá.
- Obrigado, professora, tentarei um dia. – Eu falei, já tentando sair dali, pois sabia o que ela queria. Ela porém conseguiu me segurar mais um pouco.
- Você também deveria voltar as minhas aulas, senhor Valesti. – Ela falou sorrindo.
- Eu também já falei isso, mas ele é tão teimoso! – Liseria falou, rindo, enquanto apertava minha bochecha.
- Viu? Sua namorada também incentiva. – Silmeria falou animada. Eu suspirei antes de falar.
- Professora, eu já disse: não tenho nada contra adivinhação, acho muito interessante por sinal. Mas é impossível para mim estar em três lugares ao mesmo tempo. – Eu comentei dando de ombros.
- Mas quem disse que Aritmancia não é um tipo de adivinhação? Ou a literatura? Ou a história? – Ele perguntou, ficando cada vez mais animada. E isso é perigoso pois ela costuma me animar também.
- O professor Müller não vai gostar muito de ouvir isso! – Eu comentei rindo, tentando mudar de assunto. – Me desculpe professora, mas precisamos ir, temos que organizar algumas coisas do jornal.
- Tudo bem, mas um dia convenço você a participar de minhas aulas. – Ela falou, jamais desistindo. – Lucian, eu realmente acho que o seu talento e inteligência deviam trabalhar no futuro da humanidade! De qualquer forma bom trabalho no jornal.
Eu me despedi e fui almoçar com Liseria, enquanto ela ainda ria. Não é que eu não goste de adivinhação como eu falei. A habilidade de prever o futuro é algo que eu admiro e acho importante, porém não é uma das minhas prioridades. Eu cursei apenas um ano de adivinhação, mas no ano seguinte tive que parar, pois tinha muitas coisas para me dedicar. Desde que eu cursei a matéria, a professora Arkdain dizia gostar da minha escrita e ver em meus olhos o potencial para a adivinhação e a vidência. Mas como nunca tive nenhum poder mediúnico, nunca liguei muito.
Começar a trabalhar na Livraria da Fer, a Livraria da Travessa, foi quase como um sonho. No sábado às 8 eu já estava de pé e às 9 já estava na Livraria para conversar com Ferania e seus pais, que iriam hoje justamente para me dar as primeiras explicações. Depois disso a Livraria ficaria sob o comando de Ferania, meu, de Filius e Lucy, primos de Ferania, que administrariam a livraria durante a semana.
- Quando a Ferania nos contou que tinha contratado você, nós sabíamos que tinha escolhido a pessoa certa! – A Sra. Schon falou, me abraçando quando cheguei.
- Seja bem vindo meu jovem. Fico feliz que queira trabalhar conosco. Sua experiência na livraria de seus pais e seu gosto pelos livros serão excelentes. – O pai de Ferania falou, apertando minha mão com energia.
- Eu que agradeço a oportunidade!
- Podem viajar tranqüilos, comigo e com o Lucian na livraria, quando voltarem a livraria terá dobrado de tamanho! – Ferania falou entusiasmada.
Na primeira parte da manhã, Ferania, seus pais e seus primos, que eu já conhecia, me apresentaram a livraria, que eu também já conhecia. Eu passei muito de meus finais de semana nessa livraria, sempre acompanhando e ajudando os pais da Ferania. Depois eles me pediram que organiza-se o estoque novo de livros e me levaram para um dos depósitos.
Assim que cheguei no depósito me senti em casa. Ele não era um depósito como os demais, cheios de caixas e poeira. O depósito da livraria era um pequeno casebre afastado da cidade, muito aconchegante e cheio de livros. Ele era na verdade uma mini-biblioteca e me senti em casa. Organizar os novos livros nas prateleiras foi fácil.
- Você se sente em casa, não? – Ferania falou, me ajudando a arrumar uns livros.
- Claro, aqui é sossegado, bonito e cheio de livros. E a lareira torna o local ainda mais atraente. – Eu falei rindo e apontando para ela.
- Então vamos transformar no seu local secreto? Sim, estou deixando esse depósito aos seus cuidados. Será seu. Com uma condição: ainda sou sua professora, então por favor nada de trazer ninguém aqui. – Ela frisou e eu fiquei vermelho, pois entendi o que ela quis dizer. Ela riu enquanto me ajudava e eu prometi que aquele lugar seria apenas meu.
Naquela tarde atendi alguns clientes, a maioria alunos que me reconheceram. Foi mais fácil lidar com eles já que os conhecia do Instituto e pude dar um tratamento mais pessoal a eles. Ferania ficava na livraria também, conversando animada com todos. Na hora do almoço, já tínhamos atendido uma boa quantidade de alunos e fechamos a loja para o almoço. Liseria veio almoçar comigo e com Ferania e conversamos animados sobre o início do ano.
- O Halloween está chegando e ainda não organizaram nada! – Liseria falou indignada para mim.
- O Conselho Estudantil ainda não preparou nada? – Ferania também perguntou curiosa. Eu fiz que sim com um muxoxo antes de explicar.
- Com as Olimpíadas e os diversos preparativos que estamos organizando, ainda não tínhamos parado para pensar nisso. Mas vou conversar com os outros membros para que possamos organizar tudo.
Já no meio da tarde, Lenneth e Julie vieram me visitar, aproveitando que Liseria tinha saído. Infelizmente, as duas garotas mais importantes para mim, minha melhor amiga e minha namorada, às vezes não se dão muito bem. E esse é o principal motivo da Julie e Lenneth terem se aproximado, pois as duas tem uma relação de tapas e beijos com Liseria.
- Olha que lindo o meu amigo trabalhando, parece até de verdade! – Lenneth falou ao me abraçar.
- Uau, Lucian, você e a professora Schön conseguiram uma boa clientela hoje. – Julie falou, olhando em volta admirada, pois algumas prateleiras já estavam vazias.
- Sim, hoje o dia foi cheio. Aqui na livraria podem me chamar apenas de Ferania, até na aula se desejarem. – Ferania falou, e começou a conversar animada com Julie, enquanto Lenneth sentava numa das poltronas e me olhava organizar os livros da sessão de história.
- Lucian, como está a festa de Halloween? – Ela perguntou.
- Ainda nem temos planos. Liseria perguntou a mesma coisa, mas o Grêmio ainda não conseguiu organizar nada.
- Eu sei, nós falamos sobre isso ontem na República. Eu e ela concordamos que vocês estão demorando muito!
- Eu sei, mas temos tido tanta coisa para resolver com as Olimpíadas.
- E se pedissem ajuda, por exemplo aos professores ou às pessoas do vilarejo? Acho que eles adorariam ajudar. – Ela falou, e eu tive uma idéia.
- Você me deu uma excelente idéia! – Eu falei animado e desci da escada onde estava, abraçando-a. Eu fui logo falar com Ferania e com Julie, e Lenneth me seguiu sem entender.
- Fer, e se organizássemos a festa de Halloween aqui no vilarejo? Você acha que a escola deixaria?
- Aqui? Acho que sim, mas por que você diz isso?
- Porque poderíamos contar com todos do vilarejo e com suas dependências. Imagina como os comerciantes poderiam faturar mais. Fora que com a ajuda de todos, a festa pode ser maior. Veja só, eu e você poderíamos cuidar dos convites e decoração, a boate do Ozzy seria perfeita para organizar o som, e ainda temos a Florean e a Skavurska para comidas e o Café para bebidas!
- Parece uma excelente idéia! Não acho que o diretor seria contra. E tenho certeza que o Oscar iria adorar a idéia! – Ferania falou animada também. Julie e Lenneth se entreolharam animadas.
- Eu vou agora mesmo falar com ele. Desculpa, posso sair mais cedo? – Eu perguntei, meio sem jeito.
- Claro, vai logo procurá-lo e depois me diga o que resolveram. Vou começar a mexer meus pauzinhos também.
- É uma ótima idéia, Lucian! – Julie falou animada, quando saímos nós três juntos.
- Obrigado, mas a idéia foi da Lenneth. – Falei rindo. – Só uma coisa, não contem a ninguém, quero manter segredo até ter tudo certo. Eu vou indo na frente gente, tenho que procurar o Ozzy ainda.
Me despedi dela e corri a procura do Ozzy. Imediatamente ele adorou a idéia e ficou todo animado como eu. Nós dois visitamos a boate de seus pais para perguntar se eles aceitariam e a resposta foi positiva. Em seguida fomos para o Instituto conversar com os outros membros do Conselho, como o Jack.
Na semana seguinte, após uma batalha entre Ozzy e Parvati, que teve a intervenção da professora Mira, ficou decidido que a festa seria no vilarejo. Conseguimos o apoio de todos os comerciantes e cada um dividira uma parte das responsabilidades. E o melhor que eu não tinha pensado, uma idéia brilhante do Ozzy, a festa seria a fantasia! Que a professora Mira tornou-se obrigatório.
- Julie, você vai me ajudar! – Lenneth falou para Julie, ao saberem de que seria uma festa a fantasia.
- Ai, o que você está pensando, não gosto quando você fala assim.
- Você vai me ajudar a realizar um sonho! – Ela falou com os olhos brilhantes.
- O que? – Julie perguntou esquiva.
- Quero que me ajude a beijar o Lucian. Quero ficar com ele ao menos um dia. – Lenneth falou um pouco vermelha e Julie engasgou.
- Você ta maluca?! Se a Liseria descobre eu e você viramos patê! Fora que o Lucian nunca ficaria com você namorando ela.
- Eu sei disso. Por isso vai ser escondido e ele jamais saberá que fui eu! E até parece que temos medo da Liseria.
- O que está pensando? – Julie perguntou, dando-se por vencida, e começando a ficar animada. – Eu te ajudo.
Lenneth sorriu de felicidade e abraçou a amiga, enquanto contava para ela a sua idéia. Julie era a única pessoa do mundo para quem Lenneth contara que gostava de Lucian. Apenas ela e Phil sabiam disso.