- Acho que vou declamar um poema…Quem sabe algum trecho de Hamlet, talvez...- começou Robbie fazendo um ar sério e levantou a mão segurando uma maçã e eu disse:
- Se for aquele do ‘ser ou não ser’ não perca seu tempo, todo mundo já sabe que você é. – rimos.
- Todos que pisam num palco e pensam que conhecem Shakespeare, declamam aquele trecho. Precisamos ser originais, não é um diretor qualquer, é a primeira dama da Brodway que vai nos julgar. – disse Parvati e começamos a pensar em músicas que mostrassem o nosso eu, e devo confessar, aquela foi a nossa primeira noite insone, do começo de nosso 6º ano. Mal eu sabia que muitas outras viriam.
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Depois da aula de Artes, fomos para o Grêmio e após a nomeação da Parvati, para presidente, e as advertências sobre a semana das republicas, por mais que isso fosse importante, eu confesso que só tinha pensamentos sobre o tipo de apresentação que faria. Achava engraçado ver que todos os meus amigos estavam passando pelos mesmo problemas, e sempre acabavamos dando palpites uns nas músicas dos outros. Acabou sendo comum vê-los treinando passos de dança pelo corredores, com alguma revista com peças da Brodway na mão ou simplesmente cantando nos chuveiros, afinal todos queriam impressionar. Eu sempre fui eclética em relação à música, e ouvia muita coisa diferente em meu iPod, então tinha a impressão de que se cantasse ‘House is not a home’, poderia impressionar a professora e mostraria um pouco sobre mim.
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Era o final de uma sexta feira agitada, e Parvati, Robbie e eu fomos até a Kratos, pois queriamos relaxar e seria engraçdo ouvir as músicas que os rapazes iriam cantar e quando chegamos lá, o time de hóquei estava reunido na sala e as expressões eram desanimadas.
- Que caras são estas? Alguém morreu?- quis saber Parvati e Ozzy respondeu sério:
- Nosso goleiro titular morreu.- e o encaramos.
- Finn, é o goleiro principal e está sentado ao seu lado, como pode ter morrido?Dãã!.- e antes que Parvati e Ozzy começassem mais uma de suas discussões, Finn, respondeu:
-O professor Maddox,nos avisou que terá que me cortar do time, por falta de patrocinio.
-Vocês perderam o patrocínio? Mas são bons e estão bem na liga...Porque isso agora?- perguntei e Connie disse:
- Não, Leonora, você não está entendendo: o único sem patrocínio, é o goleiro, o resto do time está normal. Parece que foi opção do patrocinador, excluir o Finn. E se ele não tiver apoio financeiro...
-Terá que sair do time, pois todos têm que ter o mesmo patrocinador, e se um jogador não o tiver, todo o time pode ser expulso da liga...- terminei e encarei a cara desolada de meu amigo de infância e ele disse:
- Caras, desculpem...Não sei o que eu possa ter feito para irritar os donos da ‘Vespa’. Se jogassemos numa liga bruxa, isso não seria problema, mas na liga fora da escola...
- Não esquenta, podemos conversar com nossos pais e eles nos ajudam.- disse Ozzy e Parvati disse:
-A mudança de patrocinador agora, vai gerar especulação e isso pode ser negativo para vocês, e principalmente para o Finn.Qualquer faculdade trouxa que o queira, vai querer saber porque ele teve problemas com patrocinador, e mesmo que ele não tenha feito nada, ficará queimado.
- Não falem com seus pais ainda, eu acho que posso ajudar.- e todos me encararam e eu disse constrangida.
- Eu não havia me ligado antes, mas...O dono desta empresa, Vespa...é o meu pai.
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Voltei para Atena, peguei uma mochila, joguei umas roupas dentro e me dirigi ate a estação de trem do vilarejo, o trem para Sofia saía toda sexta à noite, e quando entrei a locomotiva começou a se movimentar. Cheguei a Sofia, pela manhã e fui para a parte trouxa, onde tomaria um taxi até a minha casa.
Ao chegar, fui direto para a sala de jantar procurar o meu pai, que costumava levantar cedo e devia estar tomando seu desjejum, antes de ir para o escritório. Sim, meu pai vai ao escritório inclusive aos sábados. Mas para minha surpresa, não havia ninguém por ali, perguntei para a governanta sobre ele, e ela informou que meus pais estavam passando o final de semana, nos Alpes Suíços e que somente minha irmã estava em casa. Fui para meu quarto tomar um banho e quando sai do banheiro, Camille estava sentada na minha cama.
- Não a convidei para entrar em meu quarto.Retire-se.- disse e ela ignorou:
- Esta casa também é minha e vou aonde quero. Você é que é a visita. O que veio fazer aqui?
- Preciso conversar com nosso pai sobre um assunto que não lhe diz respeito.
- Huumm...Então é mais grave do que pensei. Mas deixe-me adivinhar: é um assunto relacionado àquele seu amigo, o gostosão e lesado: Finnes.
- O que você sabe sobre o Finnegan?- soltei antes que controlasse a minha língua e ela me encarou venenosa:
-Sei que ele é a sua paixãozinha platônica desde a infância. Achou que eu não iria fazer nada, depois da humilhação que você me fez passar? Sim, eu sei que o time de hóquei, poderá ser expulso da liga, afinal eu mesma contei ao papai que Finnes, ficava me assediando e que já estava ficando com medo que ele me atacasse ou forçasse algo, afinal ele pode entrar aqui a qualquer hora, é seu amigo. É claro que pedi para não dar queixa, pois não suportaria a humilhação, e papai me atendeu. Está vendo como é mexer com algo que não lhe pertence? Sempre há consequências.
- Você é uma vaca ordinaria!- disse e fui para cima dela, que correu para cima de minha cama, fugindo:
- Ordinária, porém magra. Toque em mim, e eu faço papai cortar o patrocinio de todos os esportes daquela escola, e espalho que foi sua culpa. Você já é excluída por ser uma baleia, não será dificil as pessoas acreditarem.- e ela estava perto da porta e disse, antes de sair:
- Não duvide de que posso fazer isso, Leonora. Afinal convenci papai a ir para os Alpes num fim de semana, posso fazer muito mais, eu sou a filha amada, nunca se esqueça disso.
Fiquei parada no meio do quarto e pensando em suas ameaças e o que fazer para reverter a situação. Camille, podia ser a ‘filha amada’, mas eu era a filha que tinha o poder do dinheiro. Era hora de equilibrar o jogo.
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Quando voltei para a escola, faltavam apenas vinte minutos para o começo da aula de Artes e eu não iria perder isso por nada no mundo. Joguei minha mochila de qualquer jeito, na sala da república e corri para o castelo. Cheguei a tempo de ver os últimos alunos entrando no auditório. Finn, também estava atrasado e me esperou:
- Hey, Leo. Você demorou a voltar, estavamos preocupados, está tudo bem?
- Sim, tudo. Amanhã o técnico vai te chamar de volta ao time. – respondi e ele me encarou:
- Sério? Mas você não brigou com seu pai não é? E porque está usando toda esta maquiagem? E estas roupas chiques?
-Faz parte da minha apresentação (menti e continuei). Não! Eu não briguei com meu pai. Eu briguei com a vaca da minha irmã, que pediu a ele para te tirar do time, porque ela acha que você pode agarra-la a qualquer momento e força-la a algo, e ela até pediu ele não dar queixa de você como um predador sexual. Maldita dos infernos....
- Desculpe Leo, você e sua irmã têm problemas sérios, mas eu conheço a Camille. Ela nunca falaria algo assim, ainda mais de mim, você deve estar exagerando. Fica toda nervosa e não pensa...
- Exagerando? Você está me chamando de maluca? – alterei a voz:
- Não grita comigo, Leonora. Eu nao te chamei de maluca, apenas sei o quanto você pode dramatizar alguma coisa. Ainda mais se Camille estiver por perto, você se torna irracional. - olhei para ele incrédula e disse:
- É você é um lesado mesmo, não sei porque ainda me preocupo com você, seu babaca. – passei esbarrando por ele, entrei no auditório. Os garotos me encararam em expectativa,então só acenei com a cabeça e fui para perto de Parvati e Robbie. Alec, namorado de Robbie, saiu de seu lugar para que eu me sentasse. Nesta hora a professora após nos dar boa noite, sentou na primeira fileira e começaram as apresentações dos alunos. E o melhor, no palco haviam vários alunos que eram músicos e era só dizer a música para eles e teríamos acompanhamento, da banda da escola.
- Conta tudo, ou vou morrer sufocado de curiosidade, e eu ainda não fiz meu solo, para a nossa Diva. E se isso acontecer, eu venho te puxar pelo pé. - disse Robbie baixinho, numa pequena pausa, mas a professora Yelchin nos cortou:
- Eu também gostaria de ouvir o que a senhorita Ivashkov tanto conta a vocês dois, afinal deve ser algo muito mais proveitoso, do que o meu tempo. – ficamos vermelhos de vergonha e eu disse:
- Desculpe professora, não vai mais se repetir. – e após ela me lançar aquele olhar frio, ela recomeçou a chamar os alunos. Ficamos calados e passamos a ouvir nossos colegas. Yanic, subiu ao palco todo convencido e usava um chapeu de lado, pegou um violão e após alguns acordes, ouvimos, ‘Bilionaire’, e foi engraçado porque esta música realmente, era ele.
Oh everytime I close my eyes.
I see my name in shining lights.
Yeah a different city every night oh
I swear the world better prepare
for when i'm a billionaire.
Depois de batermos palmas entusiasmadas, Lucian subiu ao palco e ele havia feito um mash up de suas musicas favoritas, então ouvimos ‘Dreamer, Nothing else matters e Bard’s Song’, numa voz muito afinada e porque não dizer sexy. Ele saiu do palco vermelho feito um tomate, com os nossos assobios.
I’m just a dreamer
I dream my life away
I’m just a dreamer
Who dreams of better days
Never cared for what they do
Never cared for what they know
Open mind for a different view
And nothing else matters
Tomorrow will take us away
Far from home
No one will ever know our names
But the bards' songs will remain
Liseria foi a apróxima, e não fez feio e subiu ao palco e eu pensava ouvir anjos com sua voz clara e límpida, enquanto ela entoava "Ever Dream", Nightwish, de uma banda trouxa, muito famosa em nosso mundo:
"Would you do it with me
Heal the scars and change the stars
Would you do it for me
Turn loose the heaven within I'd take you away
Castaway on a lonely day
Bosom for a teary cheek
My song can but borrow your grace"
Depois foi a vez de Oleg Karpov, que cantou Grow Up, música de outra banda trouxa muito conhecida chamada, Simple Plan, e todos estávamos empolgados.A professora, parecia gostar do que ouvia.
I'm impolite and I make fun of everyone
I'm immature but I will stay this way forever
Until the day I die, I promise I won't change
So you better give up
Quando pensei que não conseguiria ouvir ninguém melhor, Lenneth, subiu ao palco, usando um daqueles vestidos da renascença e cantando "All I need", do Within Temptation, e foi simplesmente lindo.
'Can you still see the heart of me?
All my agony fades away
When you hold me in your embrace
Don't tear me down for all I need
Make my heart a better place
Give me something I can believe
Don't tear me down
You've opened the door now, don't let it close'
Claro que Robbie, veio depois e também estava muito elegante, com seu terno e gravata, e eu não imaginava que ele tinha uma voz tão bonita e cantou ‘Defying Gravity’, e senti lágrimas nos olhos ao ouvi-lo.
'I'm through accepting limits
'Cuz someone says they're so
Some things I cannot change
But till I try, I'll never know!
Too long I've been afraid of
Losing love I guess I've lost
Well, if that's love
It comes at much too high a cost'
Depois dos aplausos, penso que a professora quis animar um pouco as coisas, e chamou Ozzy, que não se fez de rogado e cantou ‘Highway to hell’ do AC/DC, e quando saiu do palco deu um leve esbarrão em Parv para provocar.
No stop signs, speeding limit
Nobody's gonna slow me down
Like a wheel, gonna spin it
Nobody's gonna mess me around
Parvati, subiu ao palco toda empolgada e depois de começar a cantar ‘Don’t rain on my parade’, ela desceu e ia andando entre o público, fazendo um show. A professora parecia estar gostando da apresentação, pois até sorria, e ao final Parv foi muito aplaudida, e a professora disse:
- Bom trabalho, senhorita Karev. – não preciso dizer que Parv foi aos céus rsrs.
Don't tell me not to fly,
I simply got to
If someone takes a spill, it's me and not you
Who told you you're allowed to rain on my parade
Orion veio logo depois e parecia que alguns dos garotos haviam combinado de usar jaquetas pretas de couro e óculos escuros em suas apresentações, e o visual ficou muito bonito.
‘this ain't a song for the broken-hearted
Nor silent prayer for faith-departed
I ain't gonna be just a face in the crowd
You're gonna hear my voice
When I shout it out loud
It's my life
It's now or never
I ain't gonna live forever
I just want to live while I'm alive
(It's my life)’
Depois de Parvati, foi a minha vez, e eu havia ensaiado uma música que adorava, mas quando subi ao palco, estava tão irritada pela discussão com o Finn, e resolvi mudar de música. Avisei ao pessoal da banda o nome da música, e enquanto os violinos começavam andei pelo palco, como se estivesse no meio de uma discussão com namorado imaginário. Comecei tímida mas àa medida que fui ficando mais confiante, me soltei mais. Percebi quando a professora Yelchin, se inclinou para a frente, prestando atenção.
Don't make me over
Now that you know how I adore you
Don't pick on the things I say
The things I do
Just love me with all my faults
The way that I love you
I'm begging you
Accept me for what I am
Accept me for the things that I do
Accept me for what I am
Accept me for the things that I do
Quando terminei, ela me olhou e acenou com a cabeça, fazendo um sinal de aprovação e eu me segurei para manter a compostura e não sair dando gritinhos e pulando. Era a vez de Finn, e nos encaramos enquanto eu descia do placo, já sabia que ele iria cantar sua música favorita “Over the Raimbow’, mas me espantei quando ao invés dos acordes de uma viola havaiana, chamada uquelele, eu escutei o som de piano, enquanto me sentava ao lado de Parv e Robbie. Olhei para o palco e era o próprio Finn, tocando. Ele me encarou e cantou uma música, de um filme trouxa que nós adorávamos quando pequenos:
So,If you´re mad, get mad
Don't hold it all inside
Come on and talk to me now
But hey, what you've got to hide
I get angry too
But I'm a lot like you
When you're standing at the crossroads
Don't know which path to choose
Let me come along
Cause even if you're wrong...
I'll stand by you
I'll stand by you
Won't let nobody hurt you
I'll stand by you.
Depois de todas as apresentações, a professora Yelchin subiu ao palco e após nos encarar séria disse:
- Eu estou simplesmente chocada! – e ficamos tensos e ela continuou:
- Sempre acreditei naquele ditado antigo que diz que ‘um raio não cai duas vezes no mesmo lugar’, mas vejo que terei que substitui-lo. Pela segunda vez em minha vida, o palco deste auditório, recebeu alunos extremamente talentosos e eu me sinto orgulhosa de estar aqui e presenciar isso. Valerá muito a pena trabalhar com vocês. – sorrimos feitos bobos e ela disse:
- Muito bem, todos para suas repúblicas, a audição está terminada. Os verei na próxima aula.
Saimos do auditório e nosso grupo era muito ruidoso enquanto íamos em direção às nossas repúblicas, quando cheguei na Atena, senti um toque no meu cotovelo e vi que era Finn.
-Podemos conversar um pouco?- fiquei um pouco para trás e o encarei esperando:
- Desculpa dizer que você era irracional, foi rude e eu não gostei disso, você sabe que é importante para mim. – e eu o olhei e disse:
- Sou importante para você? Mesmo?- e ele me disse sorrindo:
- Claro que é, afinal é a minha melhor amiga, é a irmãzinha que eu não tenho...(ficamos nos encarando e ele pigarreou). - E obrigado por falar com o seu pai ok? Foi legal.Estamos bem?
- Não foi nada, Finn, o que os amigos não fazem uns pelos outros não é? E sim, nós estamos bem. Agora vou indo, estou exausta e amanhã temos aula. – entrei e subi direto para o meu quarto e não foi surpresa, ver que Parvati, Jude e Penny estavam me esperando.
- E então?? – perguntaram ao mesmo tempo e eu respondi cansada:
- Estamos bem.Tudo vai ficar bem. – as garotas se aproximaram e me abraçaram, e depois me ajudaram a me trocar e me empurraram para a minha cama, e assim que me deitei adormeci. Sonhei que estava na Brodway, encenando ‘O fantasma da Ópera’ com um mascarado que me abraçava forte, enquanto cantava:
All I want
Is freedom,
A world with
No more night...
And you
Always beside me
To hold me
And to hide me...
Love me -
That's all I ask
Of you...
N. da Autora: Algumas das músicas citadas no post foram colaborações de Renan, Tandi e Ju. Afinal, cada um destes personagens, é um pedacinho de nós quatro, e estas músicas os definem.