Novembro de 2015 - Segunda-feira
- E ela não ligou de volta ou tentou visitar?
- Pela milésima vez, não! – respondi sem paciência e Ozzy bufou do meu lado – Eu não tentei ligar pra ela como minha mãe queria, temia entrar em pânico se ela começasse a fazer perguntas.
- É, foi provavelmente uma sábia decisão. Isso não é bom, Parvati... – ele escorregou na poltrona – Se Kat está interessada em saber seu estado de saúde, pode estar suspeitando de alguma coisa.
- Acha que ela desconfia do que fizeram?
- Não, não acho que ela chegou a cogitar isso, mas ela está sentindo cheiro de coisa errada.
- Quando eu pedi a atenção de todos, isso incluía os dois sentados na platéia! – ouvimos a voz da professora Georgia nos olhando de cima do palco – Pra cá, agora.
Levantamos das poltronas e nos juntamos aos outros alunos no palco. Aquele era o meu primeiro para os shows, Leo e Robbie haviam me convencido a não abandonar o grupo e depois de uma conversa com a professora, ela havia aceitado minha volta. Estávamos todos um pouco desanimados naquela segunda, o pai de Finn havia morrido no fim de semana e todos nós fomos ao enterro, mas comparecemos ao teatro assim mesmo a pedido do próprio Finn, que ficou em casa por mais uns dias.
- Fico muito feliz que não estejam mais brigando, mas quando estão na minha aula exijo total atenção – ela brigou assim que pisamos no palco.
- Estávamos ouvindo lá de baixo – Ozzy falou e assenti, embora fosse mentira.
- Ah é mesmo? E o que o Lucian vai cantar? – ela cruzou os braços esperando a resposta.
- Jingle Bells? – ele arriscou e todo mundo riu.
- Muito engraçado, Sr. Lusth, mas precisamos de cantores aqui, não comediantes – ela entregou uma partitura para ele e outra pra mim – Vocês vão fazer um dueto.
- Baby It’s Cold Outside – ele leu o titulo da música e fez uma careta – Que música é essa?
- Como pode não conhecer essa música? – olhei pra ele incrédula, quase irritada pela estupidez.
- Sou obrigado a conhecer todas as músicas com temática natalina?
- Não, só os clássicos.
- Ok, chega – ela interrompeu – Se não conhece a música, dedique-se mais aos ensaios. Robbie estará aqui no teatro em todos os seus tempos vagos para ajudar.
- Sim, e não vou querer discussões idiotas nos meus ensaios – ele falou autoritário e ri, mas ele me encarou sério e vi que não estava brincando.
- Os outros dois duetos serão Leonora e Mitchell, com Have Yourself A Merry Little Christmas, e Lucian e Liseria, com A Christmas To Remember. Vamos fazer também dois números com grupos, um com as meninas e outro com os meninos.
- Todas as músicas vão ser de natal? – Oleg perguntou sacudindo a partitura e vi que tinha escrito Let It Snow nela.
- Sim, o show vai ser na véspera das férias de natal, no clube do vilarejo. O público vai ser adulto, muitas pessoas importantes, temos que manter o clima natalino.
- Na boate do meu pai? – Ozzy perguntou surpreso.
- Sim, mas só o primeiro show será nela. O próximo, em fevereiro, será em Sofia – todo mundo se agitou, mas ela interrompeu a animação com um único gesto – Em janeiro falaremos dele, agora vamos falar sobre a ordem das apresentações, Dario e eu já determinamos elas...
Ela puxou um papel da pasta e começamos a ditar a ordem em que nos apresentaríamos no show, como seria cada apresentação e a possibilidade de encaixar uma apresentação solo para Leo e eu, dependendo do tempo que todas as outras apresentações tomariam. Eram quase 21h quando ela nos liberou e os ensaios começariam, oficialmente, no dia seguinte. E eu já estava animada.
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Nossa escala para o ensaio com Robbie começou na terça-feira mesmo. Logo depois da aula de Alquimia Ozzy e eu fomos para o teatro. Leo estava saindo quando chegamos, tendo terminado de passar a música de sua apresentação solo, já que Mitchell também estava na Alquimia conosco.
Robbie era muito exigente, mas já estávamos acostumados com o jeito enérgico dele quando o assunto é música e não tivemos nenhum problema. Ozzy apanhou um pouco para pegar o ritmo da música, que tinha um jeito diferente de ser cantada – ele precisava começar as partes dele antes que eu terminasse as minhas – mas no fim já estava errando menos. Mais algumas horas de ensaio e estaríamos afinados para o show. O problema maior seria a coreografia, afinal, não podíamos ficar parados feito duas estátuas no palco. Essa parte ia ficar por conta da professora e já estava prevendo muitos aborrecimentos.
Saímos do teatro às 17h, depois de quase duas horas de ensaio, e Alec, Oleg e Julie estavam entrando para começarem os seus. Os dois nos cumprimentaram animados, mas Julie evitou me encarar quando passou do meu lado. Abaixei a cabeça desanimada e Ozzy percebeu.
- Ela vai amolecer – ele falou caminhando ao meu lado – Julie é durona, mas vai ceder.
- Jack disse que eu preciso fazer alguma coisa, mas não sei o que. Já tentei de tudo, mas ela ainda me culpa por tudo que aconteceu.
- Você vai encontrar um meio de se aproximarem outra vez. Confie um pouco em si mesma e tenha paciência.
- Paciência é a palavra de ordem, não é? – bufei e ele riu.
- Ah, Oscar, Parvati, que bom que os encontrei – o professor Wade nos interceptou no corredor – Podem me acompanhar, por favor?
Olhamos-nos intrigados, mas assentimos e o acompanhamos até a sala de duelos, onde aconteciam as aulas do curso. Não fazia idéia do que ele queria, será que estávamos indo mal nas aulas? Nem ele nem a professora O’Shea tinham nos dado uma avaliação negativa até agora e não estávamos mais brigando, então não conseguia imaginar qual era o problema. Quando chegamos à sala um homem estava de costas se despedindo de outra dupla das aulas, uma menina da Avalon e outra da Andrômeda. Elas saíram e ele nos mandou esperar, indo falar com o homem, que quando virou o reconheci como Dr. Martin Pace, o psicólogo que havia conversado com todas as duplas do curso quando ele começou. Eles conversaram por alguns minutos e depois se despediram. O Dr. Pace passou por nós dois nos cumprimentando e desapareceu no corredor.
- Entrem, por favor – ele sinalizou para entrarmos e apontou para as duas cadeiras na sua mesa.
- Aconteceu alguma coisa, professor? – Ozzy perguntou preocupado – Não estamos indo bem?
- Por que o Dr. Pace ainda está conversando com as duplas? – perguntei preocupada também.
- É exatamente sobre isso que quero conversar. O Dr. Pace ainda está aqui, porque depois da avaliação inicial que ele fez das duplas e de alguns relatórios que ele fez depois de acompanhar as aulas, algumas duplas vão continuar com as sessões.
- E nós somos uma dessas duplas? – Ozzy tinha o tom de voz mais desanimado do mundo. Se eu tivesse conseguido dizer alguma coisa, minha voz sairia parecida.
- Dr. Pace observou que existe um problema com confiança e isso pode atrapalhar o desenvolvimento de vocês no curso.
- Pensei que estávamos nos saindo bem – falei cansada.
- Vocês não estão indo mal, mas acho que podem melhorar. E enquanto não resolverem o que quer que esteja atrapalhando, não vão evoluir nas aulas.
- Certo, e o que precisamos fazer então? Só continuar com as sessões? Quantas? – Ozzy agora soava meio desesperado.
- Dr. Pace já consultou a grade de vocês e as consultas serão as quintas às 15h. Quantas sessões serão ou se vão ser mais de uma por semana fica a critério dele. As sessões serão aqui e começam essa semana, ele estará esperando os dois.
Assentimos e levantamos, saindo da sala. Não estava acreditando que íamos ter que fazer terapia de casal por causa do curso. Já estava começando a me arrepender de ter escolhido ser auror, mas ao menos esse ano estávamos nos entendendo. Se fosse no ano passado, eu já teria apresentado minha carta de desistência. Agora tudo que tínhamos que fazer era convencer o psicólogo de que não tínhamos problema nenhum e não estender as consultas. Ozzy era um manipulador de mentes, não podia ser difícil, não é?