Monday, May 13, 2013


- Seu currículo é realmente muito bom. Ter trabalhado por tantos anos no jornal do Instituto é realmente algo impressionante, ainda mais como Editor-Chefe. – O avaliador, um dos Editores do Profeta Diário Búlgaro, o senhor Nikolay Nalbantovi, falou enquanto folheava o meu currículo.
Nalbantovi era alguém novo para o cargo que ocupava e não tinha mais do que 40 anos, vestia-se de roupa social, mas não terno e tinha o cabelo raspado. Eu o conhecia, obviamente, pois começara a carreira como repórter do Profeta e era conhecido pela sua inteligência e por falar diversos idiomas. Ele também era amigo de Reno e foi o Reno que me conseguiu essa entrevista.
- Como todo repórter, não podia confiar em uma única fonte, ainda mais uma tão dúbia como o Kollontai. – Ele falou rindo, para descontrair, pois confesso que eu estava bem nervoso. – Por isso procurei me informar sobre você com outros professores e funcionários do Instituto. Recebi excelente recomendações de todos, principalmente dos responsáveis pelo Jornal. Meus parabéns.
- Obrigado, senhor. E obrigado também pela chance para essa entrevista. – Eu falei corando e ele sorriu.
- É comum o jornal contratar novos repórteres juniores nessa época. Bom, agora quero que me fale um pouco sobre você: por que decidiu pelo jornalismo?
- Eu sempre gostei de ler e sempre fui muito curioso, pode-se dizer que eu gosto de aprender. Desde pequeno, meu hobby era devorar livros e aos poucos isso foi se transformando em uma vontade louca de escrever. Quando comecei a escrever, não consegui mais parar, portanto, assim que entrei para Durmstrang, decidi me inscrever no jornal.
- Que ramos de escrita você gosta mais? Que área do Profeta você gostaria de trabalhar, por exemplo?
- Minha paixão é a literatura fantástica e adoraria trabalhar em uma área voltada para o lazer e a cultura em geral. Mas tenho interesse também pela coluna internacional, pois gosto de conhecer um pouco de cada cultura e país.
- Entendo... E me fala um pouco sobre o que você acha que faz bem e o que você acha que precisa melhorar.
- Acho que as duas coisas estão interligadas, quero dizer, as duas têm a ver. – Eu falei, após pensar um pouco. – Sou bom em me adaptar, em aprender e observar, de modo que consigo me dedicar plenamente ao que tem que ser feito. Mas o que preciso melhorar tem a ver com isso: como tento sempre me adaptar, eu acabo aceitando coisas demais, sem saber impor limites na quantidade de trabalho.
- E me conte sobre uma dificuldade que você passou. Pode ser pessoal.
- Bom, esse ano que passou eu tive bastante dificuldades. – Eu falei, com um sorriso. – Fui sequestrado e mantido refém por quase um dia inteiro. Além disso, passei o ano inteiro duelando contra um jornal clandestino.
Continuamos conversando por quase uma hora, onde tentei mostrar o quanto me interessava a vaga. Ao final da entrevista, Nalbantovi apertou minha mão e me acompanhou até o salão de entrada do prédio do Profeta, onde Reno, Alec, Robbie e Lenneth me aguardavam. Reno havia arranjado aquela entrevista para nós três, visto que todos pensavam em seguir a carreira jornalística. Alec também tinha sido entrevistado por Nalbantovi antes de mim, enquanto Robbie havia sido entrevistado por outro Editor. Reno e Nalbantovi se cumprimentaram e conversaram, enquanto Lenneth apertava minha mão, esperando ele sair para perguntar como tinha sido. Eu, Alec e Robbie trocamos olhares nervosos, mas sorrimos uns para os outros.
- E aí, como foi? – Ela perguntou assim que ficamos sozinhos.
- Acho que fui bem! – Eu falei feliz e ela abriu um largo sorriso me abraçando forte. Reno sorriu e bateu a mão no meu ombro. Alec e Robbie também me deram tapinhas de parabéns.
- Vocês têm grandes chances, o Nikolay gostou muito de vocês, Alec e Lucian. Eles têm bastantes vagas e há grandes chances de vocês dois serem contratados. E você também teve uma excelente entrevista, Robbie, acredito que você também tem uma vaga garantida. – Reno falou sorrindo e abrimos largos sorrisos. – Nikolay me disse que devem receber o resultado na semana que vem. Olha que presente de formatura!
- Verdade! – Robbie falou animado. – Se for daqui a uma semana realmente, vai chegar no dia seguinte à nossa formatura!
- Que ótima forma de começar a vida adulta! – Alec falou rindo, enquanto caminhávamos pelas ruas de Sofia.
Era horário de almoço e os restaurantes e cafés estavam lotados. Como a sede do Profeta ficava no Palácio Nacional da Cultura, Reno nos convidou para almoçar por ali e fomos em um restaurante simples que ele conhecia.
Após o almoço, nós o acompanhamos até uma floricultura, em que o ajudamos a escolher um arranjo de orquídeas para Julie. Reno estava todo feliz de ter uma nova filha e iria visitar a esposa com o Archer.
- Nos vemos em Durmstrang depois, então. – Reno falou, quando entramos no Ministério da Magia Búlgaro, para usarmos as redes de flu. Lenneth ainda era muito nova para os testes de aparatação e eu e os garotos iríamos fazê-lo no final dessa semana.
- Dê os parabéns à Julie por mim, Reno. – Lenneth falou, enquanto Reno cumprimentava a todos.
- Mande um abraço por nós para ela. E muito obrigado, Reno. Por tudo. – Eu falei, muito sincero e Reno sorriu para mim, olhando para cada um de nós.
- Vocês merecem tudo de melhor. Não costumo demonstrar, mas desejo isso para todos meus alunos, principalmente para aqueles que considero como filhos. – Ele falou e virou-se, ainda sorrindo. Senti que nós quatro ficamos emocionados e felizes, de verdade.

*************

Eram os últimos dias em Durmstrang e havia todo um sentimento por trás disso.
Dessa vez eu preferi não me envolver com a festa de formatura. Apesar de ser parte do Grêmio e adorar participar dessas organizações, essa seria a minha última festa em Durmstrang e queria aproveitá-la, sem ter que me estressar com decisões e preparações. Seria minha despedida de Durmstrang.
Eu também queria aproveitar essa última semana direito. As últimas semanas haviam sido muito corridas e eu mal tive tempo de respirar direito ou passar mais tempo com a Lenneth.
Fizemos os NIEM’s e estávamos todos muito ansiosos pelos resultados. Para mim, que pretendia seguir a carreira como jornalista, os resultados mais importantes eram os de História e Literatura Mágica, mas também estava ansioso pelos demais resultados. Podem me chamar de nerd, mas gosto de ir bem em todas as matérias, já que me dedico a todas igualmente. Bom, quase igualmente. Os resultados só seriam enviados após nossa formatura, então todos podiam relaxar e esperar para enfrentar esse “problema” apenas quando ele chegasse.
E havia ainda o caso do Orion.
No mesmo dia que eu fui resgatado, fui hospitalizado e fiquei de cama na enfermaria do Instituto. A enfermeira me obrigou a ficar pelo menos 24 horas em observação, em que tomei as mais diversas poções, algumas extremamente ruins! Mas essas 24 horas não foram ruins, já que recebi muitas visitas e só fiquei sozinho na hora de dormir, quando a Enfermeira ameaçou fazer todo mundo tomar a mesma poção que eu.
Meus amigos passaram o dia inteiro comigo, contando de como foi trabalhar com os aurores dos Chronos. Para Ozzy, Parvati, Oleg e Mitchel, aquela ação em conjunto com aurores profissionais serviu para deixá-los ainda mais animados com a carreira que tinham escolhido. Eles também me fizeram repetir o pouco que eu lembrava do sequestro. Os dois aurores que foram capturados comigo, também foram me visitar e agradeci muito pela ajuda deles.
Quanto ao Orion, tem muita coisa a ser dita. Na semana seguinte ao sequestro, fui chamado à Corte de Magia Búlgara para dar meu depoimento. No dia anterior, eu havia sido levado para Londres, para dar meu depoimento para o clã Chronos que participaria do Julgamento no dia seguinte.
A situação para Orion e o pai, além de todos os membros da K&S capturados, era muito séria. Igor estava disposto a levar o julgamento a sério e garantir que fossem punidos. E os Chronos o ajudavam nisso, fazendo questão de manter a custódia dos presos. A situação ficava ainda mais séria para Orion devido ao fato de ter atacado aurores profissionais e usado uma Imperdoável em mim. O jornal clandestino também foi usado como forma de acusação, pois era visto como uma forma de incitar e tentar controlar os alunos contra o Instituto e o Ministério.
Além de mim, os dois aurores que foram capturados comigo, Reno e Igor depuseram contra os acusados. O julgamento levou o dia inteiro e me cheguei a ficar surpreso e indignado quando a defesa de Orion declarou problemas psicológicos para tentar reduzir sua pena. Os Chronos responsáveis pela acusação imediatamente discordaram do proposto e o clima no julgamento ficou pesado.
Por fim, o júri deu a sentença: o pai de Orion, Laercus, e outros membros da K&S foram condenados à Azkabhan, pois os Chronos exigiram mantê-los sob custódia. Orion e todos os outros alunos envolvidos foram expulsos de Durmstrang e ficariam presos por um tempo na prisão búlgara de bruxos. Todos também deveriam pagar multas ao Ministério, à Durmstrang e às vítimas diretas de suas ações, como eu e os aurores profissionais. Patrick, por ter ajudado na investigação, não foi expulso de Durmstrang e não seria preso, porém teria que fazer trabalho voluntário para o Ministério.
O veredito foi considerado favorável para nós, visto que a liderança da K&S seria mantida sob custódia dos Chronos. Porém, não aceitamos a pena de Orion e seus seguidores. Por mais que eles tivessem sido expulsos e terem suas vidas marcadas por essa pena, em poucos anos eles poderiam sair, por bom comportamento e outras medidas de redução de pena. Além disso, seríamos ingênuos demais em acreditar que a família de Orion não encontraria uma forma de reduzir suas penas.

*************

“Esta é a última edição do jornal desse ano, e também minha última edição como Editor-Chefe, por isso decidi escrever algo diferente da costumeira apresentação da edição, como sempre faço.
Gostaria de dedicar esse espaço a todos que fazem esse jornal: Leonora, Robbie, Alec e Edgar, sem o trabalho de vocês esse jornal nunca teria passado pelo que passou e esse ano foi mais uma vitória de todos nós. O dedico também a cada um de nossos leitores, tantos os fiéis, que nos apoiaram nesse ano difícil, quanto os não tão fiéis assim, mas que respeito o interesse por procurar formas diferentes de ver o que costumamos mostrar.
Esse ano foi cheio de surpresas e acontecimentos e essa edição final serve para relembrar um pouco deles. Houveram momentos tristes e difíceis, mas também houveram excelentes momentos, na vida de cada um de nós.
Acredito de verdade que o jornal ajudou a todos crescer e amadurecer, não apenas os envolvidos em sua confecção, mas a todos do Instituto. Particularmente, esse jornal serviu, e muito, para a construção do meu caráter e muito cresci com ele.
Por isso deixo aqui meu agradecimento ao jornal. E o que é o jornal, se não seus leitores? Por isso quero agradecer a cada um de vocês por todo o apoio e incentivo ao longo desses 7 anos que faço parte do jornal.”
                                               - Lucian P. Valesti, Editor-Chefe do Expresso Polar.

*************

- Por que ela quer que eu vá na frente? – Eu perguntei indignado, quando cheguei na porta da Avalon para buscar a Lenneth. Julie que me atendera e já estava vestida para nosso baile de formatura. Ela estava muito bonita em seu vestido e finalmente depois de tanto tempo do acidente com o Jack, conseguia sorrir mais naturalmente e como eu ficava feliz de vê-la assim.
- É um pedido dela, estou só passando adiante! – Ela falou sorrindo marota.
- Você sabe o que ela está aprontando, não sabe? – Eu perguntei.
- É claro que eu sei. Mas não vou te contar.
- Muito obrigado. – Eu falei resmungando, mas sorri. – Vejo vocês na festa então, mas não demorem! Estou curioso e sabem como fico ansioso por causa disso!
Ela fechou a porta rindo e sai andando na direção do castelo, ainda um pouco indignado de ter que chegar no baile sem meu par. Quebrava a cabeça tentando imaginar o porquê disso, mas não conseguia pensar em nada. Só sabia que ela devia estar armando alguma surpresa e que obviamente a Julie iria ajudá-la.
A trilha para o castelo estava cheia de alunos em roupas de gala e muito animados. O clima estava agradável e uma bela lua cheia iluminava o caminho para todos. Não haviam familiares ali, visto que a trilha ligava as repúblicas ao castelo e os familiares, quando chegavam iam diretamente para o salão do castelo. Várias pessoas acenavam para mim e sorri para vários, enquanto caminhava calmamente. Por impulso, decidi tomar um caminho mais longo, que passasse pelo vilarejo, para que eu pudesse vê-lo uma vez antes de partir. Eu adorava a forma como o vilarejo ficava a noite, quase vazio e silenciosos, a não ser pelo barulho abafado da música da boate, com um céu cheio de estrelas. Isso sempre me fazia sentir mais leve e calmo, além de servir para ver como somos insignificantes perante a imensidão do Universo. Não que essa “insignificância” fosse ruim, pelo contrário, ajudava a clarear os pensamentos e perceber como cada momento devia ser visto como especial e único.
Eu estava muito feliz. Esse ano extremamente complicado estava acabando, mas eu sentiria falta dele. Foi um ano bom, apesar de todos os problemas que eu tive. Foi um ano em que fortaleci grandes amizades, em que aprendi a confiar melhor nas pessoas, ou melhor, em confiar nas pessoas certas. Foi um ano cheio de oportunidades para mim, onde finalmente comecei a postar minhas histórias e fiquei feliz quando foram bem recebidas por todos. E claro, foi o ano em que comecei a namorar a Lenneth.
Pensava justamente nela, caminhando agora pela trilha norte, quando comecei a ouvir uma música clássica, muito bela ao fundo, e a sentir o cheiro de flores. Percebi então que havia uma neblina perto do chão. Vi luz um pouco fora da trilha, logo após um arbusto e percebi que a música vinha dali. Logo saquei minha varinha, contornando o arbusto com cautela, curioso de saber do que se tratava, mas preocupado também.
Então eu sorri e abaixei a varinha, ficando parado em uma pequena pista de dança improvisada, com castiçais ao meu redor e velas flutuando pelo ar.
- Foi mais ou menos por aqui onde tudo começou, você lembra? – Ela perguntou e eu assenti. Como poderia esquecer o dia em que mudou minha vida para sempre? - Mas acho que começamos da forma errada, não acha? – Lenneth falou, sorrindo para mim.
Ela estava lindíssima, usando o mesmo vestido de duas camadas da primeira vez que nos beijamos. Ela usava a mesma máscara branca e mesma maquiagem de antes. Apenas seus cabelos não estavam como da outra vez, completamente ruivos. Ela conseguia estar ainda mais linda do que aquela primeira vez, em que cheguei achar que era uma alucinação.
Caminhamos lentamente um na direção do outro e a peguei nos braços, para que nos beijássemos. Ela me abraçou com força e nos beijamos por um longo tempo. Quando nos afastamos, ela sorriu para mim e eu fiz uma reverência para ela, pedindo-a que dançasse comigo, pois a música mudara para uma valsa. Começamos a dançar lentamente, nossos rostos próximos, olhos nos olhos.
- Como sabia que eu passaria por aqui? – Eu perguntei, curioso e contente.
- Eu te conheço muito bem. – Ela falou, com um lindo sorriso no rosto. – E se você não viesse, o Ozzy ia dar um jeito de te trazer pra cá.
- Ah, além da Julie, o Ozzy também sabia e ajudou?
- Claro! Todo mundo ajudou um pouco. Robbie e Leo escolheram as músicas, Parvati me ajudou com o vestido, Alec e Oleg me ajudaram a preparar essa pista de dança. Até mesmo Reno e Ferania ajudaram!
- Uma armadilha perfeita em grupo, hein? – Eu falei sorrindo.
- Tudo por você.
- Não, tudo por nós. – Eu falei e a beijei mais uma vez.
A música terminou lentamente, mas continuamos abraçados por um tempo, para só depois voltarmos para o castelo.
Seria a primeira vez que eu chegaria atrasado, mas eu não me importava.

Now, when I hold your face so close to mine
I see a place where the sun will shine,
With you it is divine

Looking down into those eyes, I know
I'll be lost and never found again
Kiss me once and I will surely melt and die
Kiss me twice and I will never leave your side...
Dreams Come True

N.A.: Dreams come True, Hammerfall.