Thursday, May 30, 2013

“Anyone can achieve their fullest potential. Who we are might be predetermined, but the path we follow is always of our own choosing. We should never allow our fears or the expectations of others to set the frontiers of our destiny. Your destiny can’t be changed, but it can be challenged. Every man is born as many men and dies as a single one.”

NCIS - 7.07 End Game


Eu me lembro com clareza da formatura do meu irmão, em junho de 2016. Lembro-me muito bem que era uma rara noite de leve calor em Durmstrang, pois havia adquirido há pouco tempo a habilidade de ver todo o futuro das pessoas apenas ao tocá-las e precisava constantemente usar luvas. Aquela noite, porém, o tempo me obrigou a deixá-las no dormitório. E é por isso que me lembro tão claramente de tudo.

A festa começou assim que anoiteceu. Tendo como inspiração a década de 40, os formandos estavam todos vestidos com roupas da época e alguns alunos de outros anos também aderiram à moda. Eu entre eles, com um terno de risca de giz que me deixou com ares de mafioso, algo que Lawfer passou a noite inteira repetindo.

A decoração dos jardins estava particularmente nostálgica. O tema do baile era memórias e todo o caminho até o salão estava decorado com fotografias ampliadas dos formandos em seus sete anos em Durmstrang. Fotos deles sozinhos, fotos em grupos e também muitas fotos deles com amigos ou parentes de outros anos. Lawfer encontrou uma foto dele com Lucian e ao lado dela havia uma de Parvati abraçada a uma Alexis completamente pintada. Era do dia em que ela se tornou membro da Atena.

Enquanto Lawfer se divertia procurando fotos do irmão, observei Ozzy e os amigos olhando suas fotos. Como esperado, sempre que passavam em frente às fotos que tinham Jack demoravam um pouco mais e não conseguiam evitar o olhar saudoso. Era bom saber que ele não havia sido esquecido na homenagem aos formandos.

A festa foi bem bacana. A banca tocava apenas músicas da época, mas foi muito divertido mesmo mamãe tendo me feito dançar com ela inúmeras vezes. Já passava da meia noite quando me rendi ao cansaço e como Lawfer e eu íamos embora com nossos pais naquela noite mesmo, comecei a procurar meu irmão e seus amigos para parabenizá-los pela formatura e me despedir. E foi quando o que de fato tornou aquele baile memorável aconteceu. À medida que ia cumprimentando um por um, via flashes do que o futuro reservava para cada um deles.

Oleg deixou a Bulgária no final de agosto. Quando ele apertou minha mão entusiasmado e me puxou para um abraço, tive a primeira visão da noite, de sua formatura na academia do FBI. Na cena seguinte ele corria pelas ruas de Nova York na companhia de uma morena, o distintivo de detetives da NYPD balançando no pescoço de ambos. Depois ele estava no Egito, em frente às pirâmides de Gizé. Estava mais velho, outra aparência, com barba e cabelos longos. Conversava com um homem, parecia intimidá-lo, a arma presa em sua cintura à mostra. Depois o vi em um bar sujo, ainda no Egito. Era a mesma época da visão anterior, sua aparência era a mesma, mas dessa vez ele conversava com a mulher estava com ele em Nova York. Ela falava e ele ouvia atentamente, parecendo animado. Na última visão que tive, ele estava saindo de um taxi com uma mochila de viagens nas costas, de frente para o Big Ben. Oleg se mudou para Londres para se juntar a uma equipe de profilers da Scotland Yard e nunca mais retornou à Bulgária, exceto para passar as festas de fim de ano com a família.

Alec continuou na Bulgária. Assim que deixou a escola, conseguiu um emprego no Profeta Diário e foi aceito na Universidade de Sofia no curso de jornalismo. A primeira coisa que vi foi sua formatura na Universidade. Depois a visão mudou bruscamente e vi Alec recém-formado em Nova York, sendo recebido pelo irmão do aeroporto. Depois, ainda na cidade, o vi entrando no edifício do New York Times. A visão mudou outra vez e agora vi um Alec mais velho, na casa dos 30 anos, em uma zona de guerra. Carregava um gravador na mão e falava rápido nele, agachado para se proteger das bombas e tiros que cercavam o local. Minha última visão foi do mesmo Alec de 30 e poucos anos, agora limpo e de terno, recebendo o Pulitzer em uma cerimônia cheia de pompa. Oleg estava na primeira fileira, aplaudindo o irmão de pé. Alec continua morando em Nova York e embora ainda trabalhe para o New York Times, também é um Best-seller de livros de romance e usa o codinome Victoria St. Clair. Seu caminho cruzou com o de Robbie alguma outras vezes, mas eles nunca mais passaram de amigos.

Finn se mudou para a Itália logo depois da formatura, para ocupar a vaga de goleiro no time de Hóquei Bozzano. A primeira coisa que vi foi ele cercado de garotas, no auge da fama. A cena mudou e ele estava sendo transferido para o Montreal Canadians. Tive outro flash e vi Finn vencendo o campeonato da NHL e recebendo o troféu Memorial Hart, prêmio dado ao MVP da temporada, e o time recebendo a Copa Stanley. Num futuro mais à frente, o vi mais velho sendo amparado por sua esposa enquanto recebia emocionado das mãos de seu filho, que era sua cópia aos 20 anos, o troféu King Clancy por sua liderança e contribuição em causas humanitárias.

Lucian conseguiu um emprego no Profeta Diário para escrever para a seção cultural e internacional e começou assim que o verão terminou. Assim como Alec, ele também estudou jornalismo na Universidade de Sofia. Mas a primeira visão de Lucian que tive já não era mais no jornal. Ele estava de volta a Durmstrang, ministrando as aulas de Literatura Mágica e parecia ser o professore favorito dos alunos. A próxima visão tinha Lucian em uma livraria, cercado de fotógrafos e uma multidão com um livro na mão, esperando por seu autógrafo. E como era impossível ver o futuro de Lucian sem ver o da Lenneth, a última visão dele que tive foi do casamento dos dois, anos depois. Lucian se tornou um escritor de muito sucesso, realizando seu sonho de escrever livros de fantasia. A série lançada por ele ficou mundialmente conhecida, tanto no mundo bruxo quanto no trouxa.

Lenneth só se formaria no ano seguinte. Em seu último ano ela disputou o Torneio Tribruxo em Hogwarts, um lugar que a marcou, pois lá lutou para defender amigos em um ataque. E lá também nasceriam as sementes de uma banda, onde ela e um amigo seriam os fundadores, que viria a fazer muito sucesso entre os trouxas, misturando músicas pesadas e lentas, mas sempre dentro do gênero de metal e melódico com a bela voz lírica de Lenneth. Em minha primeira visão ela estava no primeiro grande show de sua banda. Cantava uma música muito bonita e usava um corpete negro. Na próxima visão a banda recebia um prêmio por um de seus álbuns. Na cena seguinte, Lenneth cantava ao lado de seu ídolo, a cantora Tarja, em um dueto diante de uma multidão em um festival de música. A última visão que tive foi de Lenneth descobrindo que estava grávida no meio de um show. A primeira filha deles nasceu oito anos depois que Lenneth se formou. O maior sucesso da banda até hoje é a música “Flight of the Valkyrie”, que foi sua primeira composição, em homenagem a uma de suas melhores amigas.

Julie também ficou na Bulgária depois da formatura. Seu tio conseguiu uma vaga no estágio do St. Alborghetti para ela assim que deixou a escola. Um ano depois, foi aceita para curso de medicina da Universidade de Sofia e passou a conciliar as duas coisas. Minha primeira visão foi de uma Julie mais velha, já médica formada, atendendo uma paciente na emergência do hospital. A visão mudou e vi a mesma paciente, agora recuperada, tomando café com Julie em um bistrô de Sofia. Minha última visão foi das duas andando na rua de mãos dadas com uma menina de no máximo 5 anos saltitando na calçada e fazendo as duas rirem. Julie nunca deixou Sofia. A menina que elas adotaram ainda bebê foi batizada de Jaqueline, mas Julie sempre a chamaria de Jackie.

Leo formou-se com louvor em Adminsitração na Universidade de Sofia e além de trabalhar nas empresas que herdou da avó, criou uma fundação que pesquisa problemas de coração e dá suporte a transplantados. Meu primeiro flash foi dois anos depois da formatura, em seu casamento com Mitchell, que já era capitão do time de quadribol dos Abutres de Vratsa. A visão mudou e vi Mitchell recebendo o bastão de ouro como melhor jogador do campeonato. Logo em seguida vi Leo descobrindo que estava grávida de duas meninas.  A última visão foi dos dois bem mais velhos sentados num jardim rodeados de netos. Leo sempre foi uma ativa colaboradora de uma ONG que realiza sonhos de pacientes terminais junto com Finn e Mitchell. Suas filhas foram batizadas de Cher e Madonna. Cinco anos depois tiveram dois meninos chamados Jagger e Lennon.

Robbie foi aceito em Juilliard com o vídeo que seu pai enviou de seu solo no piano. Partiu para Nova York ainda em agosto, acompanhado de Leo, Parvati e Ozzy, deixando Alec para trás. O namoro terminou logo no inicio do verão. A primeira imagem que vi foi de Robbie sozinho no palco de um teatro, tarde da noite, praticando no piano. Parecia esgotado, mas continuava tocando. Na visão seguinte, um Robbie mais velho se apresentava para uma platéia lotada no Carnegie Hall, que contava com Parvati e Leo na primeira fila, e era aplaudido de pé. A visão mudou de uma forma brusca. O cenário era o mais diferente possível de um palco. Robbie estava em um hospital e Julie o atendia. Tinha a mão esquerda enfaixada e chorava enquanto ouvia o que a amiga dizia. A visão mudou e Robbie estava sozinho em casa, deprimido, olhando seu piano. Depois de um longo período de depressão, onde Parvati e Leonora não saíram de seu lado, Robbie descobriu que podia reger uma orquestra tão bem quando tocar em uma. Ele hoje é compositor e um dos mais respeitados maestros do mundo.

Parvati foi para a França no final do verão para estudar na Academia de Aurores de Paris. Minha primeira visão foi dela em um terraço com a Torre Eiffel ao fundo levando uma surra em um treino de artes marciais. Ela tinha hematomas por todo o corpo, mas não desistia. Quando a visão mudou, ela estava parada em um beco e apontava uma arma para um homem que também tinha uma em punho. A expressão no rosto dela era bem diferente da que me lembrava, parecia perigosa. Sua arma disparou e o beco desapareceu. Estava vendo agora uma Parvati mais velha. O cenário era o carnaval de Veneza. Ela observava a multidão atentamente e vi Ozzy se aproximar. Também estava mais velho e tinha um semblante sério, mas sorriu ao vê-la. A última imagem que vi foi dos abraçados em um parque vendo um menino de 4 anos brincando no escorregador. Alex nasceu três anos depois que os dois se reencontraram. Parvati deixou a CIA para cuidar em tempo integral do filho e só retornou onze anos depois, quando ele foi para a escola.

Ozzy não deixou a Bulgária de imediato. Manteve a vaga que conquistou na Academia de Aurores e como haviam combinado, no final de agosto o namoro com Parvati terminou. Cada um tinha um caminho a seguir. Minha primeira visão foi de sua formatura na Academia. Ele conversava em particular com um homem de terno preto e a conversa terminou com ambos apertando as mãos selando um acordo. A visão mudou e vi meu irmão em Berlim, de terno preto, perseguindo a pé um homem que fugia de carro. Ele saltou de uma ponte e caiu em cima do carro do homem, arrancou-o de dentro dele, lhe nocauteando e atirando dentro do carro outra vez, assumindo o volante. No flash seguinte ele já estava mais velho, quase 30 anos, e parecia muito sério e importante, com o mesmo terno preto, enquanto escoltava um prisioneiro. A visão mudou e Ozzy estava em uma rua de Paris com um pedaço de papel na mão, diante de um prédio. Uma senhora de idade o recebeu e o convidou para entrar com um sorriso simpático no rosto A visão seguinte tinha Ozzy vasculhando as ruas de Veneza e encontrando uma Parvati surpresa em um café. A senhora que o recebeu era a avó de Parvati, com quem ela morou quando estava em Paris. Eles se casaram um ano depois e nunca mais se separaram.

Quanto a mim? Bem, eu me formei em Durmstrang dois anos depois, entrei para a faculdade de arquitetura na Universidade de Sofia e depois fui trabalhar para uma empresa na própria cidade. Casei com a mulher da minha vida 15 anos depois que decidi parar de envelhecer, quando cheguei aos 30 anos. Estava na mesma feira onde ia encontrar Alexis no dia do acidente quando uma mulher de 20 e poucos anos me abordou, dizendo ter a impressão de me conhecer de algum lugar. Quando ela estendeu a mão se apresentando e a toquei, um turbilhão de imagens invadiu minha mente. Não eram flashes do futuro, mas do passado. Vi todos os momentos importantes que vivi com Alexis de uma só vez e soube naquele instante que era ela. “Eu encontro você na feira” foi a última coisa que ela me disse ao telefone antes do acidente.

Esperei 30 anos, mas ela finalmente me encontrou.


'Cause you talk to me and it comes off the wall
You talk to me and it goes over my head

'Cause it's you
It's always you
I, I always knew
Oh, it's you

The Vaccines – I Always Knew

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Encerro aqui minha participação no Instituto Durmstrang, assim como também encerro o blog. Se será temporariamente ou permanentemente ainda não sabemos, mas o espaço continuará sempre aqui, ativo ou não, para quem quiser ler as histórias já postadas. =)

Sunday, May 26, 2013

Duas semanas antes do final do ano letivo...

Right from the start
You were a thief, you stole my heart
And I, your willing victim
I let you see the parts of me
That weren't all that pretty
And with every touch
You fixed them

Confesso que após  a descoberta de que Sasha era minha mãe, não me esforcei muito para encontra-la novamente, nos vimos na delegacia e depois algumas vezes na promotoria quando fui dar depoimentos e colher sangue para os exames de DNA. Ela tentou se aproximar, mas seu advogado a segurou pelo braço e ela me acenou e eu retribui. Mitchell vivia me cobrando sobre isso mas eu sempre usava a formatura da escola, as empresas ou o jornal como desculpa. Somente Parv e Robbie entendiam o real motivo da minha hesitação: medo por não saber o que esperar desta nova pessoa em minha vida ou da situação em si. Cresci rejeitada por pai e mãe e agora descubro que tenho os dois? Ok, que Sasha não é Christine, o que por si só já é um bônus, mas George? Ele continua sendo ‘senhor’ para mim, mesmo sendo meu pai biológico, não vamos romantizar a situação. Eu e ele tínhamos um acordo não verbal de que cada um continuaria no seu espaço, simples assim.
Era sábado de manhã e como não tinhamos nada programado, Mitchell e eu demoramos a nos arrumar para irmos ver as roupas que usaríamos no baile de formatura. Haviamos acabado de tomar o café da manhã, quando ouvi barulho na porta da frente e Soren veio falar conosco:
- Senhorita Leonora, a senhora Dobrev está ai, quer recebê-la?- olhei em dúvida para Mitchell e ele respondeu por mim:
- Sim, nós vamos receber a senhora Dobrev. Nos dê alguns minutos.- Soren saiu e me virei para Mitchell:
- O que faço agora? Não preparei nada....O que eu digo? Er... se eu não quisesse vê-la o que ele faria?- e ele me abraçou:
- Se você não quiser receber alguém, Soren nao permitirá que esta pessoa se aproxime de você, posso garantir. E quanto ao que falar...ela se propôs a ser sua amiga quando você precisou, porque não continua daí? Todos merecem uma chance. – respondi:
- Ela é uma boa pessoa. Não importa o que digam...– ele assentiu e me deu um beijo me encorajando. Fui para a sala e Sasha estava distraída olhando as fotos de quando eu era pequena.Minha gata Duquesa estava sentada no sofá olhando sério para ela.
- Olá! – disse enquanto me aproximava e minha gata miou, na certa querendo saber o que havia de diferente naquela situação e eu a afaguei nas orelhas, enquanto Sasha se virava para mim e pude notar as olheiras e o ar preocupado enquanto dizia:
-Você parece feliz nestas fotos, apesar de tudo...
- Ah eu fui bastante feliz enquanto crescia. Vovô me estragou demais e vovó era mais mãe do que uma avó...(vi seu olhar dolorido e disse) - Desculpe, sente-se por favor.- [vi que ela soltou a contragosto a fotografia em que eu tinha uns sete anos e tentava me equilibrar numa bicicleta vermelha, era vovô quem me segurava, era o dia do meu aniversário e minha avó fez festa na escola onde eu estudava, Christine e George não foram, é claro]. Sasha e eu nos olhamos por algum tempo e ela disse:
- Sei que não marquei hora, mas esta situação não pode mais ficar assim, me orgulho de ser uma pessoa que vai direto ao ponto, para você é tudo muito novo, assim como para mim. – assenti e ela continuou:
- Gostaria que continuássemos amigas, não quero forçar uma convivência, pois temo  embaraça-la por conta de quem sou, mas basta que você saiba que pode contar comigo, se precisar. Soube que o baile de formatura de vocês terá como tema os anos 40, então eu ficaria muito contente se você aceitasse este presente.- e me entregou uma caixa preta de veludo.
- Sasha, não precisava... Ai que coisa linda!- disse olhando para o lindo colar de ouro com um pingente de borboleta toda em pedras preciosas, que mudavam de cor conforme a luz. - É uma peça vintage. Ficará lindo com meu vestido...- disse e ela respondeu:
- Fico feliz que tenha gostado, agora eu preciso ir, pois já tomei muito do seu tempo. Estes são os meus números de telefone, se precisar de qualquer coisa...-
- Você gostaria de ver outras fotos de quando eu era pequena? Estão espalhadas pela casa, tenho alguns álbuns....- disse enquanto pegava o cartão e ela me olhou curiosa, e continuei:
- Serei honesta com você. Eu já queria conhecê-la melhor, mesmo antes de saber que temos um laço de sangue. Gostaria de poder dizer que sou uma ótima pessoa e que sou a filha que todos os pais querem, mas estaria mentindo, não tenho muitos amigos, sou uma pessoa egoísta, não divido, mas os poucos amigos que tenho sabem que se alguém mexer com eles a encrenca é comigo, não costumo ligar para o que as pessoas pensam, talvez um dia eu a chame de mãe, mas até lá será que podemos voltar ao tempo em que passei na sua casa? Adorava nossas conversas...– e ela sorriu concordando e passamos algumas horas muito divertidas vendo albuns antigos, depois saimos juntas para jantar com Mitchell num restaurante famoso e foi inevitável não sermos fotografados todos juntos.
Claro que mesmo com as coisas que movimentaram a escola no ano que passou, como o sequestro de Lucian, a nova familia de Parvati, a morte de minha avó, eu descobrindo que fui roubada na maternidade, eram assuntos comentados pelos corredores, volta e meia ouvia piadinhas, indiretas e me fazia de surda, a cada nova matéria no jornal, as pessoas se divertiam muito. Estavamos sentados no salão principal almoçando, quando escutei uma vozinha esganiçada:
- E ai como se sente sendo alvo das fofocas, Leonora?  O legal é que agora quando eu te chamar de vadia, posso dizer que está no sangue.- disse Tiffany, segurando um jornal de Sofia, ela era de uma república rival e que para variar eu não gostava muito, uma vez que era a ex namorada do Mitchell.- meu primeiro impulso seria voar no pescoço dela e torcer como se fosse uma galinha de borracha, mas eu havia prometido a tia Karen me comportar, respirei fundo e disse o mais calma possivel:
- Tiffany, soube que você foi aprovada para trabalhar como desfazedora de  feitiços no Gringotes de Sofia...é verdade?
- Começo em setembro, mas não tente desviar do assunto...- a ignorei e continuei:
- Sempre me disseram era que os funcionários do banco, são pessoas confiáveis, que não falam demais, afinal o banco possui muitos segredos...E neste momento eu me sinto inclinada, a transferir todas as minhas contas para outra agência. Acho que seus chefes vão entender quando eu fizer isso por sua causa não é? Os duendes são chefes muito compreenssivos...
- Você não ousaria...
- Estes anos todos e você não sabe do que sou capaz? Ainda mais se mexerem com a minha mãe. - ela ficou pálida e começou a se afastar e eu disse:
- Não vai dizer mais nada? Mas presta bem atenção ao que vai dizer,  não vamos ficar na escola para sempre. - e seu rosto ficou avermelhado:
- Peço desculpas pelo que falei, não devia ter falado mal de sua mãe e de você.- dei um meio sorriso:
- Que bom que nos entendemos. Agora me faça um favor:  volte para o ralo de onde você saiu. - virei-me para continuar o meu almoço quando Robbie comentou:
- E eu achando que se você virasse a mão na cara dela, ia quebrar a unha e arruinar o trabalho da sua manicure, mas manda-la para o ralo machucou muito mais.- rimos e continuamos com o almoço.

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Dia da Formatura

Se tem uma coisa que podia dar como certo, é que o dia da formatura iria amanhecer claro e com uma brisa leve e não me enganei. Não estava calor, até porque Durmstrang não tem o apelido de geleira à toa, mas estava um clima agradável para quem era acostumado com temperaturas abaixo de zero. Fui escolhida como oradora da turma, acredito que foi uma pegadinha, mas no fundo eu gostei, então havia preparei meu discurso, e não o mostrei a ninguém, nem mesmo a Mitchell. E foi engraçado porque alguns colegas estavam começando a ficar com medo do que eu iria falar, ser colunista de fofocas, gera este tipo de reação nas pessoas.
A cerimônia correu como o planejado, o diretor Ivanovitch, fez um discurso muito bonito e emocionado, haviamos escolhido a professora Georgia como nossa paraninfa, e a aplaudimos entusiasmados quando terminou seu discurso breve e recebeu seu buquê de flores.
Apesar da tensão, quando fui chamada, respirei fundo e fui para o lugar aonde eu teria que discursar. Caminhei e olhei para todos os meus colegas formandos e depois para a platéia, localizei Sasha e Apolo sentados em seus lugares, próximos aos pais de Robbie e Parv, que os haviam recebido muito bem. E para meu espanto, George estava sentado não muito longe e me encarava sério. Ergui o queixo e comecei:
- Muitos de nós aqui se lembram de quando tinhamos cinco anos, e nos perguntaram o que queriamos ser quando crescessemos...As respostas iam de astronautas, presidente, ou no meu caso princesa.- sorri e vi alguns sorrisos e continuei:
- Aos dez eles perguntaram novamente e respondemos: estrela de rock, jogadores de quadribol, hóquei... bem no meu caso eu ainda queria ser princesa. Mas agora nós crescemos e eles querem uma resposta séria...(dei um tapa no pulpito fazendo barulho) - Quem diabos sabe? Este não é o momento de tomar decisões rápidas e precipitadas, é o momento de cometer erros.Muitos! – disse dramática e ouvi o diretor arfar e vi Robbie colocar a mão na boca  para não rir alto:
- É o momento de pegar o trem errado, e ficar preso em algum lugar, mesmo que seja olhando para o nada. Apaixonar-se muito... ou em alguns casos para sempre (olhei para Mitchell e depois pisquei para Parv e Ozzy). - Estude filosofia, mesmo que ela não dê uma boa carreira. Mude de idéia e mude de novo, porque nada é permanente. O nosso tempo nesta vida é limitado, então não o gaste vivendo a vida de outro alguém. Não deixe que o barulho da opinião dos outros cale a sua própria voz interior. Tenha coragem de seguir o seu próprio coração e a sua intuição. Eles de alguma maneira já sabem o que você realmente quer se tornar. Hoje enquanto nos despedimos dos sete anos vividos aqui nesta escola, olhamos para próximo capítulo de nossas vidas e as aventuras que virão...Faculdades, carreiras, viagens, casamentos...Tudo aquilo que parecia tão longe está aqui, ao nosso alcance e eu confesso que estou apavorada, pois chegou rápido demais, e mesmo eu sendo uma pessoa bem cínica, sentirei falta deste lugar. Como Shel Silverstein escreveu: “Não há finais felizes. Os finais são a parte mais triste. Então só me dê um meio feliz e um começo muito feliz”. – olhei para meus amigos formandos, para os professores e depois para a platéia: - Muito obrigada a todos vocês por me darem um começo muito feliz aqui. Parabéns aos formandos de 2016! - e todos jogamos nossos chapéus para cima. Estávamos oficialmente formados.

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O tema do nosso baile de formatura era ‘Memórias’, e foi contratado um profissional para fazer fotografias dos formandos em preto e branco como ícones dos anos 40 que seriam intercaladas com fotos antigas dos nossos sete anos na escola, que haviam sido encontradas por Finn no arquivo do jornal e emolduravam as paredes do salão que havia sido decorado como os grandes clubes da época com mesas redondas, toalhas de linho brancas e talheres de prata e taças de cristal, um palco para a banda se apresentar com um lindo piano de cauda.Para a decoração do salão usamos como referência filmes como Gilda, Casablanca, Cidadão Kane ou o Falcão Maltês, eu adorei fotografar como Gilda, e acabei usando um vestido muito parecido com o dela, azul marinho com luvas combinando, acompanhado de uma estola de pele branca. O colar que ganhei de Mariska, combinou perfeitamente.E Mitchell assim como a maioria dos rapazes usava um smoking que o deixava muito bonito.
Era uma noite muito feliz, a banda contratada intercalava sucessos antigos com atuais, e estavam vestidos iguais às bandas da época. Minha mesa era perto da mesa dos pais de Robbie, Mitchell e Parv e não demorou e as familias resolveram ficar juntas.  Tia Moira, mãe de Finn estava sentada junto de Mariska e as duas conversavam animadas os mais variados assuntos. Dancei com Finn, enquanto Mitchell dançava com sua irmã Madison, Camille que acompanhava Cooper, irmão de Mitchell procurou ser educada comigo e vice versa. George me parabenizou pela formatura e deu um pequeno sorriso quando citou meu discurso, dizendo que já aguardava o meu próximo quando me formasse na Universidade de Administração. Meus olhos deviam estar saltando das órbitas quando Mitchell me segurou pela cintura e me levou para os jardins e como a música chegava até lá, começamos a dançar enquanto conversávamos:
- Você está muito chocada com seu pai?
- Ele estar aqui já é um choque, elogiar meu discurso então...
- Ainda não disse, mas gostei muito do discurso, parabéns.- sorri e completei:
- Viu a cara do diretor quando bati na mesa? Achei que ele fosse infartar.- rimos e eu quis saber:
- O que George, Mariska e você conversavam tão sérios mais cedo?
- Ah aquilo? Seu pai queria saber quais são as minhas intenções e eu disse que vou me casar com você, aproveitei e comuniquei também à sua mãe.
- O QUÊ?- devo ter gritado porque as pessoas que dançavam ao nosso redor nos olharam curiosas e ele riu me girando.
- Sei que somos jovens e que você tem que terminar a faculdade e eu me dedicar ao começo da minha carreira no time, mas eu sei o que eu quero para o meu futuro. Então quando seu pai quis saber porque estávamos morando juntos, eu disse a ele que pretendo me casar com você, daqui a uns dois anos.
- Certo, para tranquilizar George você disse que nos casaríamos. Ele nunca quis saber nada sobre mim e não vai começar agora. Vou falar com ele...- disse irritada e Mitchell me segurou quando ameacei me soltar e disse me olhando firme:
- Não faça isso agora, acho que ele ainda está perdido com toda a situação, e esta conversa não foi diferente da que ele teve com Cooper, ele só está agindo como pai, quer você goste ou não. Eu não disse isso por ele, foi por nós,  sua mãe não ficou surpresa. Então vai responder ou não?
- Qual foi a pergunta? – e ele  se afastou um pouco e apoiou um dos joelhos no chão e disse, enquanto meus olhos se enchiam de lágrimas:
- Acredito que, para duas pessoas se amarem, para se comprometerem uma com a outra, elas têm de tomar uma decisão. E essa decisão tem que ser vivida, todos os dias, mesmo quando as coisas estão difíceis, mesmo quando parece que o melhor é desistir. Essa decisão é a escolha de continuarem amando uma a outra, apesar de todas as dificuldades que surgirem no caminho. Então eu gostaria de saber Leonora, se você quer se casar comigo?- disse enquanto pegava a minha mão e colocava em meu dedo um anel que tinha uma safira azul no centro e era rodeado por pequenos diamantes brancos, igual ao da princesa Diana e eu respondi:
- Sim, Mitchell, eu vou me casar com você e não vou desistir.- e nos beijamos de forma apaixonada. Mal sabia que aquele seria o primeiro de muitos dias felizes em minha vida.

You'll never love yourself
Half as much as I love you
You'll never treat yourself right darlin'
But I want you to
If I let you know
I'm here for you
Maybe you'll love yourself like I love you
It's you
Oh it's you
They add up to
I'm in love with you
And all these little things


Nota da Autora: Shel Silverstein, foi um foi um poeta, compositor, músico, cartunista e autor de livros de crianças americano.Seu livro mais conhecido é ‘A árvore generosa’.
Discurso de Leonora foi um apanhado de discursos feitos em filmes como Crepúsculo, The Midlle, e pela internet.
O pedido de casamento de Mitchell é baseado no filme ‘Lado a Lado’.
Trechos das músicas: Give me a reason (Pink) e Little Things (One Direction)




Thursday, May 16, 2013

Junho de 2016 – Última semana de aula.

A última semana de aula antes das férias em Durmstrang era sempre livre. As aulas terminavam na penúltima semana e gastávamos os últimos dias aproveitando o tempo razoavelmente quente que começava a dar as caras, mas esse ano era diferente. Quando o verão terminasse, não voltaríamos a ver a nossa tão amada geleira. Era, literalmente, a última semana em Durmstrang.

Pela primeira vez desde que entrei para o Instituto o lago não estava congelado e a grande maioria dos alunos estava aproveitando o dia ensolarado – algo tão raro por aqui – para nadar. Leo tinha acabado de sair da república com Mitchell desfilando com um biquinho e eu terminava de me arrumar para encontrar Ozzy quando minha coruja entrou pela janela cuspindo um envelope na minha cabeça. Tess odiava o calor, certamente estava mal humorada. Reconheci o brasão da Academia de Auror no selo e abri com tanta pressa que quase rasguei a carta, mas a euforia de saber se havia ou não sido aceita no programa se esvaiu quando li o conteúdo. Eu havia sido aceita, mas não pela academia búlgara e sim pela francesa. Uma vaga me esperava em Paris e deveria me apresentar no dia 1º de setembro.

Paris. Eu mataria por uma oportunidade de me mudar para a capital francesa no passado, mas agora? Não sentia a menor vontade de deixar a Bulgária se isso significava ficar longe de Ozzy.
Merlin, Ozzy. Como ia contar a ele que ia embora? A batida na porta me tirou do transe e o próprio entrou. Tinha um sorriso maroto no rosto que só tornava tudo ainda mais difícil.

- Não troquei de roupa ainda – disse quando ele me abraçou e beijou meu pescoço.
- Não faz mal, tenho outros planos para o nosso dia – disse animado e o tom de sua voz gritava encrenca.
- Oz, preciso conversar com você sobre uma coisa.
- É caso de vida ou morte? – neguei com a cabeça e ele me beijou – Então pode esperar. Quero sua ajuda para pregarmos uma última peça na escola.
- O que? – disse me soltando do abraço – Não, nem pensar. Nem comece!
- Ah Parv, qual é! Vai ser divertido!
- Não, nada disso. Jurei a minha mãe que ia me comportar esse ano.
- Você também jurou que ia me odiar até morrer e adivinha só? Você me ama e nunca vai morrer.
- Não! Sai de perto de mim, não quero confusão.
- Ultima peça, última peça, última peça – ele voltou a me agarrar e sussurrava as palavras – Última peça, última peça...
- Droga, eu odeio você! O que tem em mente?

Ele abriu um sorriso no melhor estilo Grinch e estendeu a mão para que o acompanhasse. E eu acordei pensando que ia apenas nadar no lago.

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Foi um dia produtivo. Começamos colocando corante no poço de onde saia toda a água utilizada dentro dos limites do castelo. Todas as torneiras e chuveiros passaram o resto do dia expelindo água vermelho sangue. Gerou certo pânico no inicio, mas não demorou muito para que um dos professores percebesse que era uma pegadinha de algum formando e os ânimos acalmaram, mas a água continuou vermelha. Depois despejamos uma caixa inteira de sabão em pó na fonte que ficava no pátio do castelo. Era tanta espuma que em questão de segundos ela começou a se espalhar como um monstro de filme de terror trash. E por último, com outra caixa de sabão em pó e envolvendo apenas os formandos que não corriam mais risco de serem expulsos e já estavam de roupa de banho no lago, transformamos o corredor principal do castelo em uma enorme pista de escorregar. Os professores bem que tentaram, mas foi difícil conter mais de 30 alunos deslizando pelo tapete de borracha estendido no corredor cheio de espuma. Em determinado momento alguém apareceu com um rádio e a brincadeira virou uma festa.

Escorregamos um pouco também, mas abandonamos a diversão porque insistia que precisávamos conversar. Ozzy ainda tinha uma caixa com quase 200 grilos que pretendia soltar no dia seguinte na hora do café da manhã, mas não podia esperar mais para contar. Puxei-o até o pátio, que ainda estava tomado de espuma, e sentamos em um dos bancos no meio delas.

- O que houve? Ficou séria de repente.
- Recebi minha carta da Academia de Auror pouco antes de você me buscar na Atena.
- E então? Não conseguiu a vaga? – perguntou alarmado vendo minha expressão desanimada.
- Consegui, mas não aqui. A vaga é em Paris.
- O que? Mas isso é muito longe! – disse levantando do banco – Você vai?
- Não sei, não pensei ainda, você chegou logo e começamos a fazer as brincadeiras. Não pensei que tivesse que decidir, achei que estudaria aqui.
- Se você for, como vamos continuar juntos? – abaixei a cabeça sem responder e ele soltou minha mão – Acho que já respondeu.

Ozzy saiu andando pelo gramado e fiquei sozinha no pátio cercada de espuma.

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- Você só pode estudar se for em Paris ? – Leo perguntou depois que contei tudo a ela e Robbie na republica e assenti.
- E você vai? – Robbie completou.
- Não sei o que fazer. Não quero terminar com ele.
- Mas você também não pode simplesmente decidir não ser mais uma auror porque seu namorado vai estudar em outro país – Robbie disse de um jeito estranho e olhamos para ele – Recebi uma carta de Juilliard hoje. Fui aceito.
- Robbie, isso é incrível! – Leo se atirou em cima dele e também sorri, embora ainda estivesse triste.
- É, maravilhoso. Mas também passei na seleção para ser colunista do Evening Prophet. Se escolher ele, fico na Bulgária e continuo com Alec. Se optar por Juilliard...
- Juilliard sempre foi seu sonho, você precisa ir – disse espantada por ele estar considerando não ir.
- E quanto a você?
- Ser auror nunca foi meu sonho. Escolhi porque gosto da carreira, mas nunca sonhei com isso.
- Posso entrar? – Ozzy bateu na porta aberta. Parecia abatido, mas sorriu para mim – Pode vir comigo?

Olhei para Leo e Robbie, mas eles me incentivaram a ir com o olhar e levantei da cama, segurando sua mão. Ozzy não disse nada até que estivéssemos diante do lago, agora já vazio com a noite começando a cair.

- Desculpe por sair daquele jeito. Fiquei chateado, mas não pensei que você estava pior.
- Eu não quero ir se isso significa ficar longe de você. Não preciso ser auror, posso tentar um estágio no Sunday Prophet, já fui editora do jornal.
- Não, você precisa ir. Batalhou o ano inteiro no curso e escolheu a carreira, não é justo ficar por minha causa.
- Mas eu quero ficar com você.
- Eu também quero ficar com você, mas não quero que olhe para mim no futuro e sempre lembre que não seguiu a carreira que escolheu por minha causa.
- Ozzy...
- Foi bem aqui a primeira vez que a vi, sabia? – ele falou olhando para o lago – Tínhamos acabado de sair do jantar de boas vindas e estava considerando patinar com Lucian quando você passou com Jack e Julie. Lembro dele dizer que você era bonita e eu disse “um dia vou casar com ela” – ele olhou pra mim e dei um sorriso fraco – Foi aqui também que percebi que estava apaixonado por você de verdade, pouco antes daquelas férias de verão. Você estava com Leo e Robbie bem ali naquela árvore e eu não conseguia me concentrar no treino porque não tirava os olhos de você.
- Foi aqui também que tivemos nossa primeira discussão, depois do verão – disse rindo.
- E que discussão! – ele riu também – Aqui também passamos nosso primeiro dia dos namorados juntos, embora você ainda estivesse com Lukas.
- Claramente esse lago é importante.
- Sim, por isso a trouxe aqui, porque vou lhe fazer uma promessa. Quando o verão acabar, nós vamos seguir nossos caminhos separados. Vou ficar na Bulgária e você vai para Paris. Não sei dizer o que vai acontecer nesses três anos que vamos ficar longe um do outro, quais decisões vamos tomar e se elas vão nos levar ainda mais para longe um do outro, mas uma coisa eu posso dizer: eu vou encontrar você outra vez – não queria, mas comecei a chorar e ele segurou meu rosto – Não interessa se você vai seguir em frente e se casar com um bonitão francês, eu vou achar você onde estiver e roubar você de volta. Fiz uma vez e vou fazer de novo.
- Eu te amo, seu bocó – consegui rir um pouco, embora ainda chorasse – Não vou me casar com nenhum francês.
- Mas você pode, só não vai durar porque você sempre vai voltar para os meus braços – ele me puxou para mais perto e me beijou – Também te amo demais.
- Fim do verão, então? – disse o abraçando e enterrando o rosto em seu pescoço. Ele me apertou com força, como se não quisesse mais soltar.
- Fim do verão. Temos dois meses até lá, vamos fazer valer.
- É bom mesmo você me achar, nem que leve mais do que três anos.
- Eu vou. É uma promessa.

Continuamos abraçados por muito tempo, ninguém queria soltar primeiro. Eu sabia que promessas de que não perder contato nunca eram cumpridas, mas de alguma forma eu sabia que aquela era diferente. Podia ser a vontade de acreditar que aquele não era o fim definitivo, mas no fundo eu sabia que, independente do que acontecesse, íamos nos encontrar outra vez. 

Monday, May 13, 2013


- Seu currículo é realmente muito bom. Ter trabalhado por tantos anos no jornal do Instituto é realmente algo impressionante, ainda mais como Editor-Chefe. – O avaliador, um dos Editores do Profeta Diário Búlgaro, o senhor Nikolay Nalbantovi, falou enquanto folheava o meu currículo.
Nalbantovi era alguém novo para o cargo que ocupava e não tinha mais do que 40 anos, vestia-se de roupa social, mas não terno e tinha o cabelo raspado. Eu o conhecia, obviamente, pois começara a carreira como repórter do Profeta e era conhecido pela sua inteligência e por falar diversos idiomas. Ele também era amigo de Reno e foi o Reno que me conseguiu essa entrevista.
- Como todo repórter, não podia confiar em uma única fonte, ainda mais uma tão dúbia como o Kollontai. – Ele falou rindo, para descontrair, pois confesso que eu estava bem nervoso. – Por isso procurei me informar sobre você com outros professores e funcionários do Instituto. Recebi excelente recomendações de todos, principalmente dos responsáveis pelo Jornal. Meus parabéns.
- Obrigado, senhor. E obrigado também pela chance para essa entrevista. – Eu falei corando e ele sorriu.
- É comum o jornal contratar novos repórteres juniores nessa época. Bom, agora quero que me fale um pouco sobre você: por que decidiu pelo jornalismo?
- Eu sempre gostei de ler e sempre fui muito curioso, pode-se dizer que eu gosto de aprender. Desde pequeno, meu hobby era devorar livros e aos poucos isso foi se transformando em uma vontade louca de escrever. Quando comecei a escrever, não consegui mais parar, portanto, assim que entrei para Durmstrang, decidi me inscrever no jornal.
- Que ramos de escrita você gosta mais? Que área do Profeta você gostaria de trabalhar, por exemplo?
- Minha paixão é a literatura fantástica e adoraria trabalhar em uma área voltada para o lazer e a cultura em geral. Mas tenho interesse também pela coluna internacional, pois gosto de conhecer um pouco de cada cultura e país.
- Entendo... E me fala um pouco sobre o que você acha que faz bem e o que você acha que precisa melhorar.
- Acho que as duas coisas estão interligadas, quero dizer, as duas têm a ver. – Eu falei, após pensar um pouco. – Sou bom em me adaptar, em aprender e observar, de modo que consigo me dedicar plenamente ao que tem que ser feito. Mas o que preciso melhorar tem a ver com isso: como tento sempre me adaptar, eu acabo aceitando coisas demais, sem saber impor limites na quantidade de trabalho.
- E me conte sobre uma dificuldade que você passou. Pode ser pessoal.
- Bom, esse ano que passou eu tive bastante dificuldades. – Eu falei, com um sorriso. – Fui sequestrado e mantido refém por quase um dia inteiro. Além disso, passei o ano inteiro duelando contra um jornal clandestino.
Continuamos conversando por quase uma hora, onde tentei mostrar o quanto me interessava a vaga. Ao final da entrevista, Nalbantovi apertou minha mão e me acompanhou até o salão de entrada do prédio do Profeta, onde Reno, Alec, Robbie e Lenneth me aguardavam. Reno havia arranjado aquela entrevista para nós três, visto que todos pensavam em seguir a carreira jornalística. Alec também tinha sido entrevistado por Nalbantovi antes de mim, enquanto Robbie havia sido entrevistado por outro Editor. Reno e Nalbantovi se cumprimentaram e conversaram, enquanto Lenneth apertava minha mão, esperando ele sair para perguntar como tinha sido. Eu, Alec e Robbie trocamos olhares nervosos, mas sorrimos uns para os outros.
- E aí, como foi? – Ela perguntou assim que ficamos sozinhos.
- Acho que fui bem! – Eu falei feliz e ela abriu um largo sorriso me abraçando forte. Reno sorriu e bateu a mão no meu ombro. Alec e Robbie também me deram tapinhas de parabéns.
- Vocês têm grandes chances, o Nikolay gostou muito de vocês, Alec e Lucian. Eles têm bastantes vagas e há grandes chances de vocês dois serem contratados. E você também teve uma excelente entrevista, Robbie, acredito que você também tem uma vaga garantida. – Reno falou sorrindo e abrimos largos sorrisos. – Nikolay me disse que devem receber o resultado na semana que vem. Olha que presente de formatura!
- Verdade! – Robbie falou animado. – Se for daqui a uma semana realmente, vai chegar no dia seguinte à nossa formatura!
- Que ótima forma de começar a vida adulta! – Alec falou rindo, enquanto caminhávamos pelas ruas de Sofia.
Era horário de almoço e os restaurantes e cafés estavam lotados. Como a sede do Profeta ficava no Palácio Nacional da Cultura, Reno nos convidou para almoçar por ali e fomos em um restaurante simples que ele conhecia.
Após o almoço, nós o acompanhamos até uma floricultura, em que o ajudamos a escolher um arranjo de orquídeas para Julie. Reno estava todo feliz de ter uma nova filha e iria visitar a esposa com o Archer.
- Nos vemos em Durmstrang depois, então. – Reno falou, quando entramos no Ministério da Magia Búlgaro, para usarmos as redes de flu. Lenneth ainda era muito nova para os testes de aparatação e eu e os garotos iríamos fazê-lo no final dessa semana.
- Dê os parabéns à Julie por mim, Reno. – Lenneth falou, enquanto Reno cumprimentava a todos.
- Mande um abraço por nós para ela. E muito obrigado, Reno. Por tudo. – Eu falei, muito sincero e Reno sorriu para mim, olhando para cada um de nós.
- Vocês merecem tudo de melhor. Não costumo demonstrar, mas desejo isso para todos meus alunos, principalmente para aqueles que considero como filhos. – Ele falou e virou-se, ainda sorrindo. Senti que nós quatro ficamos emocionados e felizes, de verdade.

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Eram os últimos dias em Durmstrang e havia todo um sentimento por trás disso.
Dessa vez eu preferi não me envolver com a festa de formatura. Apesar de ser parte do Grêmio e adorar participar dessas organizações, essa seria a minha última festa em Durmstrang e queria aproveitá-la, sem ter que me estressar com decisões e preparações. Seria minha despedida de Durmstrang.
Eu também queria aproveitar essa última semana direito. As últimas semanas haviam sido muito corridas e eu mal tive tempo de respirar direito ou passar mais tempo com a Lenneth.
Fizemos os NIEM’s e estávamos todos muito ansiosos pelos resultados. Para mim, que pretendia seguir a carreira como jornalista, os resultados mais importantes eram os de História e Literatura Mágica, mas também estava ansioso pelos demais resultados. Podem me chamar de nerd, mas gosto de ir bem em todas as matérias, já que me dedico a todas igualmente. Bom, quase igualmente. Os resultados só seriam enviados após nossa formatura, então todos podiam relaxar e esperar para enfrentar esse “problema” apenas quando ele chegasse.
E havia ainda o caso do Orion.
No mesmo dia que eu fui resgatado, fui hospitalizado e fiquei de cama na enfermaria do Instituto. A enfermeira me obrigou a ficar pelo menos 24 horas em observação, em que tomei as mais diversas poções, algumas extremamente ruins! Mas essas 24 horas não foram ruins, já que recebi muitas visitas e só fiquei sozinho na hora de dormir, quando a Enfermeira ameaçou fazer todo mundo tomar a mesma poção que eu.
Meus amigos passaram o dia inteiro comigo, contando de como foi trabalhar com os aurores dos Chronos. Para Ozzy, Parvati, Oleg e Mitchel, aquela ação em conjunto com aurores profissionais serviu para deixá-los ainda mais animados com a carreira que tinham escolhido. Eles também me fizeram repetir o pouco que eu lembrava do sequestro. Os dois aurores que foram capturados comigo, também foram me visitar e agradeci muito pela ajuda deles.
Quanto ao Orion, tem muita coisa a ser dita. Na semana seguinte ao sequestro, fui chamado à Corte de Magia Búlgara para dar meu depoimento. No dia anterior, eu havia sido levado para Londres, para dar meu depoimento para o clã Chronos que participaria do Julgamento no dia seguinte.
A situação para Orion e o pai, além de todos os membros da K&S capturados, era muito séria. Igor estava disposto a levar o julgamento a sério e garantir que fossem punidos. E os Chronos o ajudavam nisso, fazendo questão de manter a custódia dos presos. A situação ficava ainda mais séria para Orion devido ao fato de ter atacado aurores profissionais e usado uma Imperdoável em mim. O jornal clandestino também foi usado como forma de acusação, pois era visto como uma forma de incitar e tentar controlar os alunos contra o Instituto e o Ministério.
Além de mim, os dois aurores que foram capturados comigo, Reno e Igor depuseram contra os acusados. O julgamento levou o dia inteiro e me cheguei a ficar surpreso e indignado quando a defesa de Orion declarou problemas psicológicos para tentar reduzir sua pena. Os Chronos responsáveis pela acusação imediatamente discordaram do proposto e o clima no julgamento ficou pesado.
Por fim, o júri deu a sentença: o pai de Orion, Laercus, e outros membros da K&S foram condenados à Azkabhan, pois os Chronos exigiram mantê-los sob custódia. Orion e todos os outros alunos envolvidos foram expulsos de Durmstrang e ficariam presos por um tempo na prisão búlgara de bruxos. Todos também deveriam pagar multas ao Ministério, à Durmstrang e às vítimas diretas de suas ações, como eu e os aurores profissionais. Patrick, por ter ajudado na investigação, não foi expulso de Durmstrang e não seria preso, porém teria que fazer trabalho voluntário para o Ministério.
O veredito foi considerado favorável para nós, visto que a liderança da K&S seria mantida sob custódia dos Chronos. Porém, não aceitamos a pena de Orion e seus seguidores. Por mais que eles tivessem sido expulsos e terem suas vidas marcadas por essa pena, em poucos anos eles poderiam sair, por bom comportamento e outras medidas de redução de pena. Além disso, seríamos ingênuos demais em acreditar que a família de Orion não encontraria uma forma de reduzir suas penas.

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“Esta é a última edição do jornal desse ano, e também minha última edição como Editor-Chefe, por isso decidi escrever algo diferente da costumeira apresentação da edição, como sempre faço.
Gostaria de dedicar esse espaço a todos que fazem esse jornal: Leonora, Robbie, Alec e Edgar, sem o trabalho de vocês esse jornal nunca teria passado pelo que passou e esse ano foi mais uma vitória de todos nós. O dedico também a cada um de nossos leitores, tantos os fiéis, que nos apoiaram nesse ano difícil, quanto os não tão fiéis assim, mas que respeito o interesse por procurar formas diferentes de ver o que costumamos mostrar.
Esse ano foi cheio de surpresas e acontecimentos e essa edição final serve para relembrar um pouco deles. Houveram momentos tristes e difíceis, mas também houveram excelentes momentos, na vida de cada um de nós.
Acredito de verdade que o jornal ajudou a todos crescer e amadurecer, não apenas os envolvidos em sua confecção, mas a todos do Instituto. Particularmente, esse jornal serviu, e muito, para a construção do meu caráter e muito cresci com ele.
Por isso deixo aqui meu agradecimento ao jornal. E o que é o jornal, se não seus leitores? Por isso quero agradecer a cada um de vocês por todo o apoio e incentivo ao longo desses 7 anos que faço parte do jornal.”
                                               - Lucian P. Valesti, Editor-Chefe do Expresso Polar.

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- Por que ela quer que eu vá na frente? – Eu perguntei indignado, quando cheguei na porta da Avalon para buscar a Lenneth. Julie que me atendera e já estava vestida para nosso baile de formatura. Ela estava muito bonita em seu vestido e finalmente depois de tanto tempo do acidente com o Jack, conseguia sorrir mais naturalmente e como eu ficava feliz de vê-la assim.
- É um pedido dela, estou só passando adiante! – Ela falou sorrindo marota.
- Você sabe o que ela está aprontando, não sabe? – Eu perguntei.
- É claro que eu sei. Mas não vou te contar.
- Muito obrigado. – Eu falei resmungando, mas sorri. – Vejo vocês na festa então, mas não demorem! Estou curioso e sabem como fico ansioso por causa disso!
Ela fechou a porta rindo e sai andando na direção do castelo, ainda um pouco indignado de ter que chegar no baile sem meu par. Quebrava a cabeça tentando imaginar o porquê disso, mas não conseguia pensar em nada. Só sabia que ela devia estar armando alguma surpresa e que obviamente a Julie iria ajudá-la.
A trilha para o castelo estava cheia de alunos em roupas de gala e muito animados. O clima estava agradável e uma bela lua cheia iluminava o caminho para todos. Não haviam familiares ali, visto que a trilha ligava as repúblicas ao castelo e os familiares, quando chegavam iam diretamente para o salão do castelo. Várias pessoas acenavam para mim e sorri para vários, enquanto caminhava calmamente. Por impulso, decidi tomar um caminho mais longo, que passasse pelo vilarejo, para que eu pudesse vê-lo uma vez antes de partir. Eu adorava a forma como o vilarejo ficava a noite, quase vazio e silenciosos, a não ser pelo barulho abafado da música da boate, com um céu cheio de estrelas. Isso sempre me fazia sentir mais leve e calmo, além de servir para ver como somos insignificantes perante a imensidão do Universo. Não que essa “insignificância” fosse ruim, pelo contrário, ajudava a clarear os pensamentos e perceber como cada momento devia ser visto como especial e único.
Eu estava muito feliz. Esse ano extremamente complicado estava acabando, mas eu sentiria falta dele. Foi um ano bom, apesar de todos os problemas que eu tive. Foi um ano em que fortaleci grandes amizades, em que aprendi a confiar melhor nas pessoas, ou melhor, em confiar nas pessoas certas. Foi um ano cheio de oportunidades para mim, onde finalmente comecei a postar minhas histórias e fiquei feliz quando foram bem recebidas por todos. E claro, foi o ano em que comecei a namorar a Lenneth.
Pensava justamente nela, caminhando agora pela trilha norte, quando comecei a ouvir uma música clássica, muito bela ao fundo, e a sentir o cheiro de flores. Percebi então que havia uma neblina perto do chão. Vi luz um pouco fora da trilha, logo após um arbusto e percebi que a música vinha dali. Logo saquei minha varinha, contornando o arbusto com cautela, curioso de saber do que se tratava, mas preocupado também.
Então eu sorri e abaixei a varinha, ficando parado em uma pequena pista de dança improvisada, com castiçais ao meu redor e velas flutuando pelo ar.
- Foi mais ou menos por aqui onde tudo começou, você lembra? – Ela perguntou e eu assenti. Como poderia esquecer o dia em que mudou minha vida para sempre? - Mas acho que começamos da forma errada, não acha? – Lenneth falou, sorrindo para mim.
Ela estava lindíssima, usando o mesmo vestido de duas camadas da primeira vez que nos beijamos. Ela usava a mesma máscara branca e mesma maquiagem de antes. Apenas seus cabelos não estavam como da outra vez, completamente ruivos. Ela conseguia estar ainda mais linda do que aquela primeira vez, em que cheguei achar que era uma alucinação.
Caminhamos lentamente um na direção do outro e a peguei nos braços, para que nos beijássemos. Ela me abraçou com força e nos beijamos por um longo tempo. Quando nos afastamos, ela sorriu para mim e eu fiz uma reverência para ela, pedindo-a que dançasse comigo, pois a música mudara para uma valsa. Começamos a dançar lentamente, nossos rostos próximos, olhos nos olhos.
- Como sabia que eu passaria por aqui? – Eu perguntei, curioso e contente.
- Eu te conheço muito bem. – Ela falou, com um lindo sorriso no rosto. – E se você não viesse, o Ozzy ia dar um jeito de te trazer pra cá.
- Ah, além da Julie, o Ozzy também sabia e ajudou?
- Claro! Todo mundo ajudou um pouco. Robbie e Leo escolheram as músicas, Parvati me ajudou com o vestido, Alec e Oleg me ajudaram a preparar essa pista de dança. Até mesmo Reno e Ferania ajudaram!
- Uma armadilha perfeita em grupo, hein? – Eu falei sorrindo.
- Tudo por você.
- Não, tudo por nós. – Eu falei e a beijei mais uma vez.
A música terminou lentamente, mas continuamos abraçados por um tempo, para só depois voltarmos para o castelo.
Seria a primeira vez que eu chegaria atrasado, mas eu não me importava.

Now, when I hold your face so close to mine
I see a place where the sun will shine,
With you it is divine

Looking down into those eyes, I know
I'll be lost and never found again
Kiss me once and I will surely melt and die
Kiss me twice and I will never leave your side...
Dreams Come True

N.A.: Dreams come True, Hammerfall.


Sunday, December 16, 2012


Por Lenneth Aesir

- Lucian! Cheguei! – Eu falei abrindo a porta com rapidez e um largo sorriso no rosto. Era Domingo, no horário do almoço, e eu havia chegado mais cedo do que de costume, querendo fazer uma surpresa para Lucian.
Me espantei quando vi o quarto completamente vazio. Percebi então que a república toda estava vazia, pois ninguém tinha voltado ainda para a escola. Mesmo assim entrei no quarto e me deitei na cama de Lucian. Eu sentia um mau pressentimento, mas não sabia explicar o porque. Fiquei deitada olhando pro teto por algum tempo, até que decidi ir procurá-lo. Conhecendo-o bem como eu conhecia, sabia que ele deveria estar ou na Livraria da Ferania, ou no estoque da loja (o que eu iria adorar que estivesse) ou na Biblioteca da escola.
Fui direto para a livraria, mas encontrei apenas um dos primos de Ferania no local.
- Filius, você viu o Lucian? – Perguntei.
- Não, não o vejo desde ontem de tarde. Já olhou no depósito? – Ele respondeu.
- Ainda não, vou dar uma olhada, obrigada.
Sai correndo na direção do depósito da livraria, com um sentimento de preocupação crescente no peito. O depósito estava apagado, o que era uma má indicação, mas mesmo assim abri a porta com a chave reserva que Ferania havia me dado. Não havia ninguém ali e pelos restos de lenha na fogueira, ninguém estivera ali o final de semana inteiro.
Corri de volta para o castelo, mas não o encontrei nem na biblioteca, nem na sala de alquimia. Já estava quase ficando de noite e voltei correndo para a república, esperando encontrá-lo ali. O sentimento de preocupação havia virado quase um pavor, crescendo rapidamente.
Abri a porta do quarto dele às pressas, mas encontrei apenas Ozzy, Oleg e Alec, que haviam acabado de chegar. Para minha sorte, Lawfer e Eddie estavam com eles.
- Oi Lenneth, tá tudo bem? – Ozzy perguntou quando entrei sem fôlego no quarto.
- Lawfer, o Lucian foi pra casa esse final de semana? – Perguntei, rapidamente e quando ele me olhou confuso, senti um aperto enorme no peito.
- Ele não foi pra casa. Ele ficou na escola para estudar, por que? – Mal ele terminou de falar e eu comecei a chorar.
Oleg foi o primeiro a me fazer sentar, mas logo os cinco estavam ao meu redor, querendo me acalmar e saber o que houve.
- Eu não estou encontrando o Lucian! – Eu consegui falar depois de um tempo.
- Já procurou na livraria? – Alec perguntou.
- Procurei em todos os lugares! Ele não está em lugar algum! – Respondi, voltando a chorar.
- Calma, Lenneth, deve ter uma explicação. – Oleg falou, tentando me acalmar.
- Eu acho que ele foi sequestrado. E Reno e Ivanovich não estão na escola!– Eu consegui colocar minhas suspeitas para fora e vi quando todos ficaram preocupados.
- Oleg, que é aquilo perto da cama do Orion? – Ozzy perguntou e todos olhamos para a cama de Orion.
Parecia não ter nada a primeira vista, mas logo o nosso treinamento em alquimia nos mostrou que havia ocorrido uma transmutação ali. Oleg correu até o local e se ajoelhou, colocando a mão no chão. O chão ficou brilhante de imediato, indicando realmente de que houvera alquimia no lugar.
Alec e Oleg então deram as mãos e fecharam os olhos. Senti quando os dois usavam seus poderes para escanear o quarto e outros lugares começaram a brilhar. Ozzy se ajoelhou ao lado da cama de Oleg e tocou um dos pés da cama com a varinha, procurando desfazer o último feitiço feito ali. Imediatamente o pé quebrou e a cama caiu de lado.
- Houve uma luta aqui. – Lawfer falou assustado e vi a preocupação espalhando-se pelo rosto de todos.
- Precisamos falar com os aurores. – Oleg falou e assentimos. Consegui me recompor e saímos correndo juntos para o Castelo. Haviam sequestrado Lucian.

Por Lucian Valesti

Senti uma dor forte na nuca e minha cabeça começou a doer. Tentei me mexer, mas vi que estava com os pés e braços amarrados a uma cadeira.
Estava recobrando a consciência, mas acho que era melhor ter continuado desacordado. Minha cabeça latejava e girava, de modo que eu não conseguia abrir os olhos ou mexe-la demais. Ouvi então vozes perto de mim, de duas pessoas discutindo e abri os olhos devagar.
Eu estava preso em uma sala oval e muito grande, iluminada por tochas que brilhavam em vermelho, azul e verde. Podia ouvir gotas caindo do teto e percebi que devia estar no subterrâneo.
Eu estava preso em um dos lados da sala e no lado oposto haviam dois homens que eu não conhecia, presos pelas mãos e pés do mesmo modo que eu. Orion e Patrick discutiam no meio do sala, com Orion andando de um lado para o outro, enquanto Patrick gesticulava e apontava para os dois homens. Fingi estar desacordado, mas tentei prestar atenção na conversa deles.
- Eles são aurores, Goulard, aurores! – Patrick falava, visivelmente nervoso.
- Já mandei me chamar de Mordred aqui! – Orion falou enfurecido, mas Patrick o ignorou.
- Você acha que já não sabem do sumiço deles? – Ele falou apontando para os homens e para mim. – É loucura!
- Calado. – Orion falou com raiva e apontou a varinha para a garganta de Patrick e notei que o último tremia. – O que queria que eu fizesse? Largasse eles onde estavam?
- Eles estavam se passando por alunos! Deveríamos ter largado eles no vilarejo, ou em qualquer lugar.
- Chega. Cansei de ouvir sua voz idiota, saia daqui. – Orion ordenou e vi que Patrick estava enfurecido, mas calou-se e saiu. A porta do salão foi batida com força e Orion berrou de raiva, chutando a cadeira de um dos homens. A cadeira caiu no chão com um baque surdo, mas o homem nem se mexeu, completamente apagado. Notei que os dois usavam roupas de alunos e percebi que deviam ser Gary e o outro garoto, que na verdade eram aurores disfarçados.
Fechei os olhos novamente, antes que Orion percebesse que eu estava acordado, mas o ouvi andando até mim. Então senti um puxão forte no cabelo e minha cabeça foi puxada para trás.
- Eu sei que está acordado, seu verme. – Ele falou, perto do meu ouvido. Eu abri então os olhos e dei uma cabeçada nele. Isso doeu tanto em mim quanto nele, mas eu estava amarrado e ele não. Ele me deu um soco forte na barriga e eu tossi, sem fôlego. – Isso é por mexer nas minhas coisas. E isso. – Ele falou, me dando mais um soco na barriga, me fazendo gemer. – É pelo soco de ontem.
- Você é um idiota. – Eu consegui falar apesar da dor e cuspi em seu rosto, me preparando para levar outro soco, mas então a porta se abriu e Orion virou-se para ela.
Três figuras encapuzadas de preto entraram e pela altura suspeitei que eram alunos. Eles se ajoelharam diante de Orion e retiraram os capuzes. Reconheci os outros dois alunos do dia seguinte, e o terceiro era um aluno do 6º ano.
- Mordred. – O aluno mais velho falou e eu fiquei imaginando que tipo de problemas eles tinham de ficar usando um nome diferente do nome de Orion. – Os aurores encontraram outra câmara nas masmorras de Durmstrang.
- Droga. – Orion praguejou. – Devem ter traidores entre nós.
- Nós sempre soubemos que há traidores entre nós, antigos membros que não mais nos respeitam. – O outro garoto falou e vi como os quatro pareciam irritados com esse fato.
- Mas eles vão nos respeitar e aprender com quem estão lidando. – Orion falou e me olhou de forma cruel. Ele se aproximou de mim e eu usei o máximo de controle que eu tinha para não tremer. – Crucio.
A surpresa com a maldição foi grande, mas extremamente rápida, dando lugar a uma dor como eu nunca senti. Segurei o grito por alguns segundos, sem querer dar esse prazer a Orion, mas pouco depois comecei a gritar de dor. Parecia que meu sangue fervia dentro de mim e minha cabeça parecia que ia explodir. Me debatia na cadeira e com o movimento cai no chão, me contorcendo de dor. Com os olhos semi cerrados, pude ver o brilho louco nos olhos de Orion e seus comparsas. Senti muito medo, pois pareciam que eles estavam dispostos a me matar.
- Goulard! – Ouvi Patrick gritar, entrando na sala novamente. Consegui perceber quando ele derrubou Orion e o contato do feitiço acabou e eu conseguir respirar, com dificuldade. – Você ficou maluco? – Patrick gritou para Orion, enquanto os outros três jovens o seguravam.
- Crucio! – Orion gritou apontando para Patrick e ele também começou a se contorcer. Orion aplicou o feitiço por pouco tempo e quando terminou Patrick arfava. – Não te torturo mais por ser de nossa ordem, mas se ousar me tocar e interromper novamente, acabo com você.
- Você perdeu todo o juízo?! – Patrick falou, conseguindo se recuperar. Ele se soltou dos outros alunos e empurrou um com o ombro, saindo pela porta apressado. Orion indicou com a cabeça e dois dos alunos o seguiram.
- Ainda não entendo como esse inútil entrou para nossa irmandade. – Orion falou e o outro aluno concordou. – Onde estávamos?
Ele apontou a varinha para mim novamente e falou “Crucio”. Senti mais uma forte onda de dor pelo corpo e não sei quanto tempo durou, mas acabei perdendo a consciência.
Acordei algum tempo depois com um cheiro forte debaixo de meu nariz e tossi, vendo que era Orion que segurava um pano perto do meu nariz, para me acordar.
- Por que? – Eu consegui perguntar e ele riu. O outro jovem estava verificando os aurores presos.
- Porque eu quis. – Ele falou, mas vi sua narina dilatando.
- Você é louco...
- Não, sou ambicioso. – Ele corrigiu sorrindo. – Quero tudo para mim e do melhor, e não meço esforços para tal.
- Por que eu? Por que roubar meu trabalho e me perseguir tanto? Não tem capacidade e tem que copiar os outros? – Eu gritei e vi seu rosto ficar sério.
- Crucio! – Ele falou e eu voltei a gritar, mas pouco depois ele parou e se aproximou de mim. – Você tem tudo, e sempre com tanta facilidade. Sempre as melhores notas, o queridinho dos professores, queridinho das garotas, cheio de criatividade e amigos, sempre apoiado por todos. Sempre os locais de destaque em jogos, em festas. Enquanto eu estou sempre esquecido, em segundo plano. Crucio! – Ele voltou a me torturar após falar, sentindo prazer nisso. – E sua família sequer é puro-sangue! Eu deveria ter isso tudo!
- Você é doente! – Eu falei, quando ele parou de me torturar novamente. – E a culpa é sua se você é um inútil e ninguém gosta de você! – Falei com raiva e vi o brilho nos olhos de Orion. Não me arrependi do que disse, mas senti medo, pois ele estava fora de si e poderia fazer qualquer coisa. Ele apontou a varinha mais uma vez para mim.

Por Lenneth Aesir

Com Ivanovich e Reno fora da escola, precisávamos procurar outra pessoa de confiança para contarmos do sumiço de Orion, alguém que nos levaria a sério. Fomos direto para o Castelo, na esperança de encontrar um dos professores o mais rápido possível. Tivemos mais sorte do que eu esperava.
Em nossa direção vinham duas pessoas conversando e eu as reconheci de imediato. Um deles era um famoso jogador de Quadribol e ex-aluno de Durmstrang. O outro fora aluno de Beauxbatons e ganhara fama como sócio de uma das maiores lojas de jogos bruxos do mundo, além do trabalho como auror. E o melhor: os dois eram membros do Clã Chronos.
- Senhores! – Eu gritei, correndo na direção deles e seguida pelos meus amigos.
- Ei, ei, calma! Não precisam ter pressa, o Ty dá autógrafos para todos! – O homem loiro falou sorrindo, mas vi que os dois estavam conversando seriamente.
- Você é o Griffon Chronos, não é? E você Tyrone MCgregor? – Eu perguntei apressada e eles assentiram.
- Algum problema? – Tyrone perguntou e então vi o rosto de Griffon se iluminar.
- Você não é Lenneth? – Ele perguntou e quando fiz que sim ele sorriu. – Ty, você está ficando velho se esqueceu o rosto de uma jovem tão linda. Ela é amiga da Arte!
- É verdade, tem fotos das duas no quarto dela. – Tyrone falou sorrindo e eu balancei a cabeça apressada.
- Sim, sou eu, mas não temos tempo pra isso! Meu namorado foi sequestrado!
- Calma, isso é uma acusação séria. – Tyrone falou, ficando mais sério. – Tem certeza disso? Qual o nome do seu namorado?
- Lucian Valesti. – Assim que falei os dois se entreolharam e soube que eles entenderam a minha preocupação.
- Você sabe onde ele foi visto pela última fez? – Griffon perguntou e Oleg respondeu.
- Não sabemos. Todos nós não estávamos na escola e quando voltamos vimos sinal de luta no quarto dele. Venham com a gente.
- Esperem! – Griffon falou antes que começássemos a correr. – Killi e Thain estavam protegendo-o. – Griffon comentou e ignorou nossos olhares curiosos. Ele chamou outros bruxos perto de nós e deu uma série de ordens e logo os aurores corriam na direção do Castelo ou do vilarejo. – Ty, temos que avisar os outros. Vou pedir que Seth ou Uthred venham pra cá, precisamos das habilidades deles.
- Vou entrar em contato com Reno e Ivanovich. E vou emitir uma ordem de vigia e se necessário captura para todos os membros que conhecemos da K&S. – Tyrone comentou e Griffon concordou. – Vocês. – Ele falou olhando sério para gente. – Quero que voltem para o Castelo e fiquem lá até encontrarmos o Lucian.
- Nem pensar! – Todos nós falamos juntos e Tyrone ficou sério, começando a falar para nos convencer. – Ele é nosso amigo!
- Ty, olha para eles. – Griffon nos interrompeu, com um sorriso no rosto. – Dá para entender porque são amigos da Arte e companhia. Se tentarmos impedi-los, aí que eles vão fazer de tudo para encontrar o amigo sozinhos.
- Você quer deixar eles caçarem a K&S? – Tyrone falou meio receoso.
- Qual é, Ty! Nós fizemos exatamente a mesma coisa quando tínhamos a idade deles!
- Tudo bem. – Tyrone riu. – Mas quero que fiquem perto de nós e nos obedeçam! – Nós concordamos e ele sorriu quando viu que Ozzy ia perguntar mais alguma coisa. – Deixa adivinhar, sua tropa de elite tem mais membros, não tem?
Quando Ozzy concordou, Tyrone disse mandou que ele e Oleg o seguissem, pois iria com eles para chamar o resto dos nossos amigos. Griffon então pediu que eu, Alec, Lawfer e Eddie mostrássemos o quarto, enquanto ia perguntando sobre várias coisas como: se sabíamos quando ele tinha sido sequestrado, se alguém tinha visto algo etc.
- Não se preocupe, Lenneth, vamos encontrar o Lucian. – Ele falou, querendo me animar. – Se eu não conseguir, tenho certeza que a Arte me mata. E eu tenho medo dela! – Ele falou rindo e sua jovialidade e calma foram capazes de aliviar minha tensão.

Não encontramos nada a mais no quarto e Griffon disse que iria nos levar para investigar o subsolo do vilarejo, para ver se descobríamos algo. Estávamos saindo naquela direção quando Patrick veio correndo até mim.
- Lenneth, espera! – Ele falou, tentando se aproximar de mim. Mas Robbie, que disse que não combinava como ele participar de buscas e apreensões, mas iria nos ajudar a tentar encontrar alguma pista nova, foi o primeiro a lhe barrar o caminho e fechar a cara para ele.
- Saia Patrick, já temos problemas demais sem você para nos atrapalhar. – Falei fria e virei as costas.
- Lenneth, é importante! – Ele falou, tentando passar pelos garotos, mas eles logo o empurraram. – Eu sei onde Lucian está!
- Você o que? – Eu falei, me virando para ele. Todos o encaravam sério e ele fixou o olhar em mim.
- Foi o Orion, ele sequestrou o Lucian.
- Como você sabe? – Griffon perguntou e Patrick baixou a cabeça.
- Porque eu o ajudei.
- Você fez o que?! – Ozzy perguntou com raiva e ninguém conseguiu segurá-lo, enquanto ele dava um soco no rosto de Patrick. Ele fez a mesma coisa que eu queria fazer, só que foi mais rápido.
- Eu sei que errei! – Patrick falou na defensiva. – Por isso vim avisar vocês! Vocês tem que ir rápido, Orion está maluco! Ele usou a Crucio no Lucian!
- Onde eles estão? – Griffon falou sério e Patrick contou rapidamente como chegar onde estavam.
Julie apertou minha mão e me olhou preocupado, pois eu havia ficado pálida quando ouvi da Crucio. Meus olhos ficaram cheios de lágrimas, pois tive muito medo de Orion usar outra Maldição, uma muito pior.


Por Lucian Valesti

Senti que Orion iria me torturar mais uma vez e que agora colocaria toda a sua raiva nisso, mais do que já tinha colocado. Mas então a porta se abriu rapidamente e Orion se virou para encarar a pessoa que entrava.
Eu fiquei de boca aberta, pois quem entrava era a versão mais velha de Orion. O mesmo cabelo loiro, um pouco grisalho apenas, o mesmo nariz em pé e feições como se estivesse sentindo um cheiro ruim embaixo do nariz o tempo todo. Ele vestia-se com uma capa negra e pelo modo de andar percebi que ele estava acostumado a ser obedecido.
Imaginei que fosse o pai de Orion, mas achei estranho a expressão dele ficar sombria ao ver o pai, enquanto ele e o outro aluno se ajoelhavam.
- Saia. – O homem falou e o outro aluno lançou um olhar rápido para Orion, mas o homem falou novamente. – Eu não vou falar uma segunda vez.
O tom de ameaça foi suficiente para o jovem sair correndo e fechar a porta as suas costas. O homem, lembrei que o nome era Laercus, olhou rapidamente para mim e para os aurores e depois fixou o olhar no filho. Vi que Orion ficou incomodado, ainda mais pelo fato de ainda estar ajoelhado. Laercus se aproximou lentamente de Orion e ficou próximo a ele, olhando-o de cima.
- Levante-se. – Laercus finalmente falou e Orion se levantou.
- Pai.
- Cale-se! – Laercus falou com autoridade e até mesmo raiva. – Você perdeu todo o juízo? Quer estragar o que venho coinstruindo ao longo dos anos?
- Mas você não entende! – Orion começou a falar, mas Laercus lhe deu um tapa forte no rosto e ele se calou, reprimindo a raiva.
- Eu mandei você ficar calado! – Ele falou, com a voz fria. – Começo a pensar que foi um erro dar a você o título de Mordred. Mordred era um homem ambicioso, às vezes cruel, mas acima de tudo astuto e inteligente! Você não passa de mimado e incapaz!
Eu ouvia aquilo tudo chocado, sem conseguir acreditar que estava vendo um pai e um filho “conversando”. Comecei a me indagar se sempre fora assim, pois explicava muita coisa sobre Orion. Vi então que Orion ficou com raiva, tanto por eu estar ouvindo, quanto pelo teor da discussão.
- Você que é incapaz! – Ele gritou e acho que o pai dele só não o bateu por ficar chocado. – Você diz que levou anos para construir algo, mas não fez nada! Foi graças a mim que a Kings & Shadows está voltando ao topo!
- Você acha que é muito ter um simples jornal clandestino? Que isso ajuda em algo para nossa irmandade? E você estraga tudo com erros imbecis! – Laercus esbravejou, apontando para os aurores.
- Você atacou e sequestrou aurores. Não apenas aurores, mas membros do Clã Chronos! E além disso, sequestra um queridinho da escola, do Clã, do maldito Kollontai! Você sabia que a namorada dele é amiga de uma das líderes do clã? Enquanto você passou anos tornando-se esse incapaz e mimado, ela cresceu caçando e agora enfrenta vampiros. Você acha que tem alguma chance contra ela ou qualquer um do Clã? Ah vejo, que não sabia de nada disso.
Laercus falou com um sorriso cínico e deu as costas para Orion, andando até os aurores.
- Mais uma prova de que não é capaz de criar uma rede de informações, de vigiar seus subordinados e fazer nada direito. Acredito que não sabia que um dos seus está indo dedurar você.
- Ninguém faria isso.
- Ah, faria. Você não sabe escolher nem seus seguidores, vai saber escolher inimigos? Se tivesse se envolvido com aurores do Ministério, talvez fosse possível sair ileso disso. Mas os aurores dos Chronos são incorruptíveis e eles têm livre ação em qualquer território que assinou o Tratado de Alderan.
- O que podemos fazer então? – Orion perguntou e notei que ele começava a ficar preocupado, finalmente percebendo tudo que fizera.
- Nós? – Laercus riu. – Eu não vou fazer nada. Você cavou a própria cova e você deve sair dela do seu jeito!
- Você não faria isso comigo.
- Faria e vou fazer. – Laercus falou irritado. – Vou lhe ajudar o mínimo possível depois que for capturado, pelo nome de nossa família. Mas antes, não farei nada por você. – Ele falou e virou as costas.
- Espere! – Orion começou a ir atrás dele, mas nesse momento a porta se abriu e várias pessoas encapuzadas entraram.
- O que aconteceu? – Laercus perguntou, olhando-os sérios.
- Os Chronos estão invadindo esse local, precisamos tirá-lo daqui, Artur. – Um dos homens mais velho falou e Laercus ficou pálido. Ele então olhou com raiva para Orion.
- Vamos. Mordred acabou para você.
- Para vocês todos, Laercus! – Ouvi uma voz gritar quando a parede no meio da sala explodiu.
Os homens encapuzados começaram a lançar feitiços e Laercus correu para o meio deles, enquanto um grupo de pessoas entravam correndo pelo buraco aberto pela explosão. O primeiro que entrou, e quem havia gritado com Laercus, era um homem loiro que eu não conhecia, mas lançava feitiços com habilidade.
Fiquei surpreso quando vi todos os meus amigos aparecendo também e ao mesmo tempo feliz e irritado quando vi que Lenneth era a primeira deles. Eles correram até mim e me cercaram, pois viram que Orion corria na minha direção com alguns outros jovens encapuzados.
Lenneth me beijou, enquanto Eddie me desamarrava e o restante dos meus amigos faziam um círculo para nos proteger. Lenneth olhou meus ferimentos com surpresa, mas logo vi seu semblante se tornar de raiva, enquanto ela apontava sua varinha para Orion.
Eu estava sem varinha e não podia fazer muita coisa, mas me lembrei que ainda estava com as luvas de Reno e as usei para proteger meus amigos quando algum feitiço poderia atingi-los. Os homens encapuzados estavam sendo subjulgados pelos aurores e mais de um estava caído inconsciente no chão.
A batalha foi rápida e os aurores logo subjulgaram todos, mas então percebemos que Laercus e Orion haviam fugido. Alguns aurores correram na direção da outra porta para seguí-los, mas ouvimos barulho de duelos e pouco depois o grupo voltou com Orion e Laercus presos. Reno e Ivanovich os seguiam e vi o rosto do diretor brilhando com a vitória.
Lenneth me abraçou e começamos a chorar. Nossos amigos nos davam tapinhas nas costas e mais de um brigou comigo por ter feito tudo sozinho. Como se isso a fizesse lembrar de algo, Lenneth me derrubou por cima dela e me jogou no chão, colocando seu joelho em meu peito, enquanto brigava comigo entre lágrimas.
- Se sumir de perto de mim de novo, eu juro que eu te mato! – Ela falou e eu sorri.
Mas a adrenalina começou a diminuir e meus ferimentos voltaram a doer. Fiquei deitado no chão, sem conseguir me levantar, e Lenneth deitou minha cabeça em seu colo, enquanto alguns aurores tratavam de meus ferimentos e meus amigos me contavam o que tinha acontecido.

Thursday, November 22, 2012


O Hall estava cheio e em silêncio, com todos os alunos da escola reunidos, do primeiro ao último ano.
O Hall era reservado para festas da Escola e para receber os novos alunos, antes de serem alocados em alguma das repúblicas. Na verdade, depois que você entrava para uma república, você só voltava para o Castelo para aulas, clubes, ou quando tinha que falar com algum professor, já que os quartos deles ficavam localizados no Castelo.
Ah, o Hall também era usado para avisos importantes do Diretor.
Mas hoje o Hall estava lotado e a raiva de Ivanovich era visível, motivo pelo qual o ar estava tenso e ninguém falava nada.
Todos os professores estavam ali, com exceção do Reno, assim como todos os alunos e funcionários, desde enfermeiros a bibliotecários. Haviam outros três homens com Ivanovich, que olhavam para os alunos atentamente e pareciam decorar o rosto de cada um.
- Vocês sabem o que é isso? – Ivanovich falou, balançando no ar um pergaminho. Eu já sabia do que se tratava, pois estava em sua sala quando ele recebera aquela carta.

- Vocês estão bem? – Reno falou preocupado assim que abriu a porta da sala do diretor, onde eu, Lenneth, Ozzy, Alec e Oleg esperávamos sentados, acompanhados por Ivana e Ferania.
- Ele está Reno, mas eles estão passando dos limites. – Ivanovich falou, entregando o papel para Reno. Enquanto ele lia, seu olhar ficou arregalado e ele olhou de mim para o Diretor, e ao final da ameaça não foi preciso perguntar como aquilo tinha chegado até mim.
- Lucian resolveu investigar, sozinho, ele descobriu o padrão por trás do jornal clandestino e viu uma das reuniões. – Ferania explicou e Reno me olhou irritado.
- Eu te avisei para ficar longe disso, Lucian. – Ele falou, mas eu o encarei.
- Não podia ficar fugindo, eles estão mexendo diretamente comigo.
- Basta. – Ivanovich falou sério e todos ficaram calados. – O que o Lucian fez já não é importante, por mais que eu concorde que foi errado, mas está feito. Quero um fim nisso, quero descobrir quem está envolvido e acabar de vez com essas reuniões.
- E eu o apoio. – Reno falou e Ivanovich assentiu. – Já comecei a investigar os membros que consegui identificar, pedi ajuda a alguns amigos aurores e estamos seguindo os principais membros.
- Inclusive o Laercus?
- O pai do Orion? – Ozzy perguntou surpreso.
- Ele é o líder da Kings and Shadows. – Reno falou e a surpresa se espalhou pelo rosto de todos, já que apenas eu sabia disso. – Mas não temos certeza se Orion está envolvido.
- Quero-o investigado também. Quero acabar logo com isso. Ivana.
- Sim, Diretor? – A professora Ivana falou, também muito séria.
- Quero que peça para os professores vigiarem Orion Goulard a todo momento, assim como pessoas que ele mantenha contato frequente. Ferania, quero que tente manter uma vigilância também no vilarejo. Mas senhores, mantenham isso em segredo, não quero que mais ninguém...
Ele vou interrompido por uma batida na janela que nos fez sobressaltar. Havia uma coruja cinza pousada no parapeito e ela trazia uma carta lacrada. Ivana foi até a janela e a abriu, deixando espaço para a coruja entrar. A coruja porém, ficou parada e após Ivana pegar a carta, levantou voo imediatamente.
- Igor, é do Ministério. – Ela falou e vi o semblante nervoso de Ivanovich ficar ainda mais profundo. Ele pegou a carta e leu rapidamente. Seus olhos brilharam de raiva e ele entregou a carta para os professores lerem.
- De novo, não... – Reno falou, ao terminar de ler a carta.
- O que houve? – Lenneth perguntou.
- Reno, contate Tyrone e os Chronos, eles vão nos conseguir mais tempo e se conseguirmos que eles mandem aurores, o Ministério não vai ousar interferir.
- O que aconteceu? – Oleg perguntou preocupado e Ivanovich suspirou antes de responder.

- Isso é uma carta do Ministério da Magia, informando que pretendem enviar aurores para a escola! – Ele falou, sua voz séria e cortante. – Que pretendem interferir diretamente na escola, já que, nas palavras deles, sou “incapaz de lidar com uma situação dessas e coloco em risco a integridade física dos alunos”! Agora me digam: alguns de vocês já pararam para saber um pouco da história de Durmstrang? Quantas vezes o Ministério interviu na escola e como isso terminou? – Ninguém respondeu, e Ivanovich ficou um tempo calado encarando os alunos. – Na última, quase causou uma rebelião de alunos! Alunos sendo vigiados e seguidos, professores controlados! É isso que vocês querem novamente? – Ivanovich falou, a voz mais alteada no momento. O salão permaneceu em silêncio e ninguém tinham coragem de sequer soltar a respiração. – É isso que eles querem fazer e vão fazer. Isto porque há entre vocês um mimado, covarde, que não tem coragem de se mostrar e falar diretamente. Mas tem muita coragem para roubar arquivos pessoais, inventar mentiras, e atacar professores em um jornal fajuto e clandestino. Mas isso vai acabar aqui.
- Esses são aurores britânicos, enviados para investigar o jornal clandestino. – Ivanovich falou e indicou os homens de pé. – Eu os chamei para evitar uma intervenção direta do Ministério, pois eles ao menos, irão respeitar vocês e a nós de certa forma. Mas vamos investigar o jornal e, marquem o que digo, vamos descobrir os responsáveis e serão punidos. Não pensem que será apenas uma repreensão ou uma detenção. No mínimo, os responsáveis serão expulsos e farei tudo ao meu alcance para levá-los a corte! Por isso dou apenas essa chance a vocês: quem tiver informações sobre o jornal deve dá-las até amanhã. Podem me procurar em meu gabinete, ou um dos aurores, e isso será levado em consideração, para reduzir a sua punição. – Os alunos continuaram calados, mas vi como muitos ficaram pálidos, principalmente os calouros, que faziam um esforço para não tremer. Os discursos de Ivanovich eram famosos, mas nenhum dos alunos tinha visto-o daquela forma. – Estão dispensados.
Foi necessário todo o controle de muitos dos alunos, e também dos monitores e professores, para evitar uma debandada. Estavam todos assustados e todo lugar que se olhava, haviam grupos de pessoas conversando sobre a ameaça de Ivanovich. Muitos se questionavam o que tinha causado isso, mas logo vi pessoas me olhando de lado e soube que a notícia de que eu havia sido ameaçado pelo Antaris era conhecida por todos. Mas eu não me importava, queria tanto quanto o Ivanovich pegá-los.

A ameaça de Ivanovich surgiu algum efeito.
Vários alunos se entregaram para ele, assumindo que enviaram matérias para o jornal clandestino. Segundo Ferania, eles foram interrogados levemente pelos aurores, o que, segundo o Ozzy, ainda era muito ruim, e ficou claro que nenhum deles tinha informações importantes do jornal ou dos responsáveis por ele. Todos seguiam o padrão sugerido em cada edição por Antaris para o envio de matérias e ninguém sabia quem as reunia e publicava.
Apesar dessas confissões, o clima em Durmstrang ficou pesado. Haviam aurores dos Chronos por toda a parte, vigiando todos os alunos, sem exceção. Ivanovich declarou um toque de recolher e as trilhas de Durmstrang eram patrulhados por professores e aurores. No vilarejo vizinho, não era muito diferente, pois os aurores iniciaram buscas lá, começando pela câmara que eu encontrei. Os moradores os ajudavam nessas buscas e foi descoberta uma passagem subterrânea que ligavam mais três câmaras como a primeira.
Um ano do 6º ano foi pego pelos aurores tentando queimar um monte de pergaminhos já na primeira noite da intervenção. Os pergaminhos continham rascunhos de dezenas de matérias antigas, e algumas novas, que ele confessou que pretendia publicar no jornal clandestino. Como ele não havia se entregado quando teve chance, Ivanovich o suspendeu por duas semanas, até ter uma idéia melhor do que fazer.
Eu e os meus amigos tentávamos levar nossas vidas normalmente, mas era difícil. Como estávamos em perigo, recebemos uma pequena escolta que nos vigiava sempre que estávamos no Castelo. Até mesmo meu irmão e o do Ozzy receberam proteção, fortalecida por alguns seguranças do tio Oscar.
E claro, havia ainda a atenção dos alunos. Como tudo naquela escola, a notícia de que eu fora ameaçado por Antaris espalhara-se mais rápido do que fogos de artifício e eu recebia atenção indesejada. Alguns eram para me dar apoio, me incentivando e elogiando o fato de eu não ter me rendido à Antaris. Mas outros me culpavam pela ira de Ivanovich e pelos aurores, me encarando longamente nos corredores.
Quanto a Orion, ele pareceu preferir ignorar que era seguido pelos aurores e procurou cooperar em toda a investigação que fizeram em suas coisas. Porém, vi que ele me olhava de um modo diferente. Orion odiava ter sua privacidade invadida, logo, acho que me culpava por tudo que estava acontecendo. Mas eu o encarava sério e ele era sempre o primeiro a desviar o olhar. Depois de tanta coisa que eu soubera sobre ele, e seu pai, não tinha como tratá-lo da mesma forma.
- Bom dia, Lucian. – Gary, um aluno do 5º ano da minha república, falou quando apareci na porta de entrada. Eram 7 da manhã de uma sexta-feira e a república já estava bem agitada. Com a confusão de aurores e tudo mais, Ivanovich tinha adiantado o horário de início das aulas, para que o toque de recolher não atrasasse as aulas. 
- Bom dia, Gary. Alguma novidade?
- Apenas o de sempre. – Ele deu de ombros, indicando com a cabeça os aurores patrulhando a área. – O professor Kollontai o estava procurando, como falei que estava dormindo, ele pediu que o procurasse na sala dele. Pediu para levar Lenneth também.
- Obrigado. – Eu falei e Gary me acompanhou até Avalon, onde encontrei Lenneth e fomos juntos para o gabinete do Reno. Gary se despediu de nós na entrada do Castelo, enquanto íamos para o gabinete do Reno, no segundo andar.
- Tem uma coisa boa dessa intervenção. – Lenneth falou, de mãos dadas comigo.
- O que? Mal podemos nos ver a noite. – Eu falei e ela riu.
- Seu bobo... Não teve uma edição do jornal ainda. – Ela comentou e eu assenti.
- Eles não seriam loucos a esse ponto. – Comentei, mas como tínhamos chegado no gabinete de Reno, bati na porta e ele a abriu com um largo sorriso. Ele parecia feliz, preocupado e apressado, tudo ao mesmo tempo. Ele nos abraçou e sua alegria nos contagiou e começamos a sorrir, mesmo sem saber do que se tratava ainda.
- O que houve? Viu o pomorim dourado? – Lenneth perguntou e ele sorriu.
- Não, uma andorinha prateada! Julie entrou em trabalho de parto! – Ele falou sorrindo e vimos uma pequena mala arrumada em cima de uma das cadeiras. – Ela me mandou avisar com o patrono e vou aparatar direto para Paris.
- Que maravilha, Reno! – Lenneth falou feliz e lhe demos os parabéns. – Como ela está?
- Ela está bem, bem tranquila agora. A irmã e Archer estão com ela. Eu preciso mesmo ir, mas queria falar com vocês antes, para dar a boa notícia e um aviso. – Ele falou, ficando mais sério e olhando direto para mim. – Não façam nenhuma besteira. Eu e Igor - Ele comentou e eu lembrei que Ivanovich era padrasto de Julie. - Estaremos longe e não poderemos ajudá-los e esse seria o momento ideal para que a K&S tente algo. Não se metem em mais perigosos do que já estão.
- Não vamos, Reno, não se preocupe. – Lenneth falou, apertando minha mão e engoli em seco, diante do olhar pesado e acusador dos dois.
- Muito bem. Haverão outras pessoas cuidando de vocês, mas um pouco de precaução nunca é demais. – Ele abriu uma das gavetas de sua mesa e tirou dois pares de luvas brancas com inscrições em vermelho e nos entregou. As inscrições formavam círculos alquímicos e haviam vários símbolos usados na alquimia. – Mandei preparar essas luvas especiais para vocês. Elas já possuem círculos alquímicos em sua formação, então podem fazer alquimia sem precisar desenhar seu próprio círculo. Cuidado mais uma vez.
Nós pegamos as luvas agradecidos e Reno abraçou cada um de nós sorrindo. Então ouvimos uma batida na porta e Ivanovich apareceu, tão feliz e ansioso quanto Reno. Nós os parabenizamos também e ele nos deu o mesmo aviso que Reno, antes dos dois saírem correndo.
- Essas luvas são demais! – Eu falei olhando para elas. Lenneth colocou a sua e para nossa surpresa a luva dela ficou invisível.
- Uau, ele pensou em tudo! – Ela falou admirada e eu concordei. – Fico tão feliz pelo Reno. A perda do outro filho foi um baque forte para ele e para a esposa.
- É verdade, mas os dois são fortes, e veja só, já vão ser pais novamente.
- Reno deve ser um pai muito coruja. – Lenneth falou rindo. – Olha a hora! Vamos chegar atrasados para a aula!

A sexta-feira passou rápido e logo os alunos começaram a seguir para o vilarejo, onde iriam pegar o trem para Sofia.
Em geral, eu e Lenneth passávamos os finais de semana juntos, fossem voltando para casa ou ficando juntos na escola. Mas esse final de semana ela precisava ir para Sofia para alguns testes da escola de música e eu ficaria na escola, pois precisava rever algumas matérias do jornal. Meu irmão também voltaria para casa, assim como todos os meus amigos. Logo eu teria o quarto da república inteiro só pra mim!
Pelo menos foi o que achei.
Abri a porta do quarto e dei de cara com Patrick e Orion. Os dois pareciam discutir, mas assim que me viram ficaram calados. Trocamos olhares tensos e os ignorei, pegando meu notebook e sai. Ainda faltavam umas 3 horas antes do toque de recolher e decidi ir para a livraria de Ferania, apesar de hoje ser meu dia de folga.
No caminho, encontrei Gary e ele me falou que também ficaria na escola esse final de semana, pois precisava estudar alquimia. Eu prometi a ele que poderia ajudá-lo no sábado de manhã e nos despedimos.

Passei a manhã de sábado inteira estudando alquimia com Gary, na biblioteca, e vi que ele tinha aptidão para a matéria, aprendendo rápido. Depois ficamos conversando sobre livros e me peguei contando toda a história da Terra-Média, o que tomou todo o nosso almoço. Logo após o almoço, nos despedimos, pois eu tinha que ir trabalhar na livraria da Fer.
Voltei para a república um pouco antes do toque de recolher, mas ela já estava bem silenciosa, com os poucos alunos que ainda estavam na escola em seus quartos. Abri a porta do quarto que dividia com os garotos e fiquei aliviado ao ver que estava vazio.
Tinha acabado de ligar o notebook novamente e trocar de roupa quando percebi um envelope em cima da minha cama. O olhei curioso e até receoso, mas reconheci a letra de Robbie e o abri.

“Lucian, estive te procurando agora a tarde, mas não o encontrei. Surgiu um imprevisto e precisei ir para Sofia, mas precisava te entregar isto. Chegou hoje de manhã, mas não consegui encontrá-lo para te entregar em mãos. Dentro do envelope está o resultado do teste no sangue que encontrei em seu armário há algumas semanas. Não adianta me perguntar como consegui os materiais para comparação, é segredo jornalístico! Enfim, acho que você deveria ser o primeiro a ver o resultado. Nos vemos amanhã!
Robbie.”

Eu senti meu coração acelerando e minhas mãos suando e abri o envelope rapidamente, ele continha uma lista pequena de nomes, seguida pelo resultado.

“Patrick Lokmov – NEGATIVO
Claus Netherfor – NEGATIVO
Christian Fornost – NEGATIVO
Orion Goulard – POSITIVO”

Quando eu li o resultado para Orion fiquei paralisado, encarando-o. Então fora Orion que arrombara meu armário... Mas por que?!
Isso não significaria, com certeza, que ele era Antaris, mas levantava fortes suspeitas sobre ele.
Tentei me lembrar da época em que houve a tentativa de arrombarem meus armário e me lembrei que nessa época o jornal clandestino não publicou nenhum Conto de Antaris. Lembrei-me de que naquela época tinha pensado que os textos que ele roubara de mim teriam acabado e agora estava sem ter o que publicar. Lembrei também que, pouco tempo depois, Antaris voltou a publicar contos, mas de uma qualidade inferior, ainda usando meus personagens e criações. Isso explicaria porque de Orion tentar arrombar meu armário, se ele fosse mesmo o Antaris, pois poderia esperar encontrar algum texto novo ali.
Decidi então vasculhar as coisas de Orion, deixando de lado qualquer ética ou respeito. Ele não teve respeito por mim ao tentar arrombar meu armário, e menos ainda se foi ele quem roubou meus textos.
Larguei a carta de Robbie em cima da minha cama e comecei a mexer nas coisas de Orion, sem qualquer cuidado. Virei duas de suas gavetas em cima da cama, mas não encontrei nada. Já estava ficando desanimado e me arrependendo do surto de raiva quando bati sem querer com o pé na parte de baixo de sua cama. Percebi que a madeira fez um som oco e ergui uma sobrancelha. Bati novamente e tive certeza que era oco. Fui até a cama ao lado, do Ozzy, e bati embaixo dela também, mas a madeira era maciça. Com suspeitas ainda maiores comecei a apertar a madeira em diversos lugares, mas sem nenhum sucesso. Tentei bater com a varinha e murmurei “Alohomorra”, mas nada aconteceu. Então lembrei das luvas de Reno e coloquei as duas mãos sobre a madeira, fechando os olhos e me concentrando. Deixei minha energia fluir até minhas mãos e me concentrei na madeira, em sua composição e forma. Imaginei um puxador surgindo na madeira e ela cedendo. Quando abri os olhos, uma gaveta estava diante de mim e dentro dela estavam vários papéis, alguns impressos e outros com a letra de Orion. Haviam várias anotações e rabiscos em textos que nunca vi, mas ao final da pilha vi todos os meus textos roubados. Me sentei na cama de Orion olhando para os papéis, enquanto uma raiva me queimava por dentro.
Então a porta se abriu e Orion entrou com um sorriso irônico, falando alguma besteira sobre a república estar quieta, do jeito que ele gostava. Mas seu sorriso morreu quando me viu com os papéis e sua gaveta secreta aberta.
- Como você ousa? – Ele falou, a voz séria e fria.
- Foi você. – Foi só o que eu consegui falar antes de me colocar de pé e disparar um feitiço contra ele com minha varinha.
Orion se protegeu rapidamente e meu feitiço atingiu a cama de Oleg, quebrando um de seus pés. Ele revidou e um jato vermelho voou em minha direção, mas usei as luvas de Reno para absorver a energia do feitiço e o joguei de volta contra ele. Orion foi obrigado a saltar de lado e no momento seguinte eu estava em cima dele e acertei um soco forte em seu rosto. Ele caiu no chão e eu o segurei com o joelho direito, pronto para dar outro soco. Mas então, fui jogado longe por um feitiço e quando olhei, Patrick entrava pela porta acompanhado por mais dois alunos de outra república. Os três apontavam suas varinhas para mim e me cercaram, enquanto Orion se levantava.
Ele cuspiu sangue no chão e me olhou com raiva, apontando sua varinha também. Nessa hora, Gary surgiu na porta, acompanhado por mais um aluno e os dois começaram a disparar feitiços contra os quatro.
- Gary! Saia daqui! – Eu gritei, mas ele me ignorou. Fiquei surpreso com a habilidade com que ele e o outro lançavam feitiços e começamos a revidar o ataque.
Me aproximei de Orion e o soquei mais uma vez no rosto. Ia dar o segundo soco quando senti uma pancada forte em minha cabeça e tudo ficou escuro. Apaguei completamente.