- Não há ninguém para receber um domador de dragões chamuscado e precisando de carinho nesta casa? – Yuri falou alto enquanto eu me atirava em seus braços. Logo ele me soltou e foi para os lados de minha mãe, e a levantou do chão, arrancando gritinhos dela.
- Por que eu insisto em ficar longe destas duas belezas?- ele disse passando os braços por nossos ombros ao mesmo tempo, e dando beijos em nossas bochechas.
- Porque quando você volta, elas o cobrem de mimo?- respondeu a voz grossa de meu pai. Yuri soltou-nos e foi em direção a ele: e se encararam por alguns minutos, antes de se abraçarem.
Nosso feriado de Páscoa estava começando.
-o-o-o-o-o-o
- Milla, será que podemos caminhar um pouco? – perguntou Yuri. Acenei afirmativamente com a cabeça e o segui.
O dia aproximava-se do final, mas estava claro o bastante para um passeio. Saímos de casa e fomos até uma praça que ficava no final da rua, que sempre brincávamos quando crianças. Ao chegarmos lá, sentei-me no balanço duplo e ele sentou-se na minha frente. Ficamos nos olhando por alguns minutos e eu como sempre impaciente, tomei a palavra:
- Aconteceu alguma coisa?
- Porque você está saindo com Iago Karkaroff? – sempre direto.
- Talvez porque ele seja meu namorado. Só isso já é motivo suficiente. - disse cínica.
- É sério Milla, ele não faz o seu tipo.
- Desde quando você conhece o meu tipo? Acho que ficar sozinho com dragões está te deixando "esquisito". – provoquei.
- Não banque a engraçadinha comigo. Você nunca sequer falou sobre este garoto, como que do nada você começa a namorá-lo? E não falou nada desde que cheguei... Você sempre me conta tudo. - falou ressentido.
- O Luka te contou? - perguntei ríspida.
- Talvez...
- Sabia! Só ele mesmo para conseguir te envenenar contra o Iago, sem nem mesmo conhece-lo.
- Escute-me: Luka estava preocupado, e você há de convir que os Karkaroff foram sinônimo de problemas nos últimos anos...
- Mas o Iago não é igual ao pai dele Yuri. Ele é bom e gosta de mim de verdade. Eu sempre soube diferenciar o certo e o errado, não iria me desviar do caminho agora, você sabe disso.
- Eu sei, por isso queria ouvir de você sobre este garoto. Ele deve ser mesmo especial, porque você o defendeu com paixão. Acho que estou com ciúmes. - disse me apertando.
Demos risada e eu perguntei a ele:
- E você com a Irina? Vão se resolver quando?
- Não há nada a se resolver entre nós.
- Ela gosta de você, afinal o seguiu até a Irlanda. E vocês já tiveram algo no passado...
- Foi coisa de adolescentes. E hoje crescido, não sinto este tipo de amor por ela. Ela é uma amiga, e foi até lá porque achou que seria diversão. Mas encontrou trabalho duro, pois a Morgan não confia nela e quer ver se ela é capaz realmente.
- Não seria o Carlinhos que avaliaria isso?- perguntei com um brilho curioso nos olhos, pois estava gostando da animação de meu irmão em falar do trabalho, mas senti um sinal de alerta ao ouvi-lo falar sobre a esposa do amigo dele.
- O Carlinhos não vai contrariar a mulher dele! Não por causa de algum atrevimento da Irina. Nicolai e eu não vamos conseguir trabalhar direito se o Carlinhos for mandado para o nosso alojamento novamente se aquela ruiva brigar com ele. Ele ronca mais que um dragão centenário quando bebe demais, ou então fica resmungando e perguntando quem ela pensa que é. Mas basta um sorriso dela, para ele esquecer tudo. Nunca vi meu amigo mais apaixonado e fico muito feliz por eles. – a sensação de alerta passou.
- Mas você não me chamou aqui só ficar elogiando a Morgan ou falando do meu namorado, não é?- e ele riu.
- Você sabe que após a morte de Alvo Dumbledore, muitas coisas mudaram em nosso mundo, não sabe? Agora foram declarados dois lados: quem está com o Lorde das Trevas e quem está contra ele. Logo esta escolha chegará até aqui. Tenho receio por vocês.
- Você está com quem Yuri? Porque o nosso pai, já disse que vamos ficar do lado do bem, mesmo que isso custe o emprego dele no Ministério, eu e mamãe vamos apóiá-lo.
- Eu sei disso e concordo com nosso pai. Isso me fez tomar algumas precauções.
- Que precauções? – perguntei.
- Conheci algumas pessoas que eram ligadas a Dumbledore e podem ajudar vocês, se correrem algum perigo. E caso precisem de algum lugar seguro, quero que fujam para a Irlanda, Morgan e Carlinhos cuidarão de vocês. Mas isso só em caso extremo, acho que com os contatos que fiz hoje vocês ficarão seguros. - Olhei em seus olhos e ele tinha um olhar travesso:
- Yuri, o que você fez?
- Conversei com Karkaroff hoje e com...
- Por Odin, o que você disse a ele? Você o ofendeu? Eu nunca achei que você fosse preconceituoso Yuri. Você me decepcionou demais, não esperava isso...
- Hei dá pra ficar calma? Quando Luka me falou sobre seu namorado, eu quis conversar com o garoto, de homem para homem.
- Você não fez isso... Diz que não. Olha aqui: Se você ofendeu o Iago, eu juro que enfio o dedo no seu olho. - disse irritada. - e meu irmão riu.
- Apenas perguntei a ele, se devo temer pela sua segurança, se a guerra chegar até nós. E ele me deu a palavra dele que a protegeria.
- Mas ele só tem 16 anos, não pode fazer muita coisa... Pode? – perguntei incerta, começando a respirar mais calma.
- Apesar do péssimo pai que ele teve, Iago aprendeu política desde o berço e sabe como exercer o poder que o nome Karkaroff tem, sem precisar recorrer ás artes das Trevas. Eles ainda são muito respeitados por aqui. Tivemos uma conversa franca e devo admitir que ele me surpreendeu: gostei do que vi nos olhos dele. Para provar que não vou matá-lo se ele beijar você, avisei-o que você estaria aqui em torno desta hora. Acho que ele deve estar chegando, ah olhe lá... - e apontou para o final da praça.
Iago vinha chegando e trazia um embrulho nas mãos. Sorriu quando me viu.
- Eu vou pra casa, não tenho vocação para segurar vela. Não se preocupe, avisarei a mamãe que teremos um convidado para jantar. – disse Yuri e trocou um aperto de mão com Iago antes de ir em direção de nossa casa.
- Seu irmão me convidou e eu não sabia se você queria que eu viesse. Eu senti saudades. – Iago disse incerto.
- Também senti saudades. – e me aconcheguei em seu abraço para vermos o pôr do Sol.
Olhar uma enorme bola laranja sumir no horizonte, foi a única lembrança boa daquele dia.