O teste vocacional com o professor Nicolai, foi no mínimo, rápido! Mal entrei na sala, e ele elogiando minhas notas perguntou que carreira eu queria seguir quando me formasse. Respondi que queria ser medibruxo com tanta empolgação, que o professor me encarou uns instantes antes de dar uma risadinha. Era a primeira vez que o via sorrir.
Sempre quando volto para Dublin, me lembro da minha infância... Tudo bem que eu levava uma vida tipicamente trouxa, mas adorava os festivais públicos. Aquela mistura de cores e músicas nacionais tomando as ruas!
E o dia de São Patrick, que por coincidência também é meu aniversário, não só é feriado nacional, como é comemorado com muita festa, alegria e verde!!! As pessoas saindo com as peças verdes do vestuário, todos de verde nas ruas. É engraçado.
Quando eu e Ricard, que gentilmente aceitou meu convite para passar o feriado conosco, descemos na estação de Dublin, minha família já nos esperava. Pai, mãe, Marcela e Vlade. Ainda não tinha tido oportunidade de falar alguma coisa com ele, mas senti uma raiva crescente quando o vi sorrindo cínico para mim...
Mas o Victor não tinha problemas com a família dele. O que eu achava extremamente mágico. Sério! Sou apaixonada em famílias reunidas. Chego até a ter uma ponta de inveja... Mas isso não vem ao caso. Victor iria viajar para a casa dos avôs maternos para passarem o feriado de Páscoa, e sabendo que minha família iria para Galway, Ricard aceitou de imediato vir.
Galway é sem sombra de dúvidas a cidade mais descontraída da Irlanda! Meus pais às vezes alugavam uma casa para saírem de Dublin por uns dias. Apesar de ser uma cidade grande, tem um estilo de vila, pacato, boêmio. O bom de Galway são os festivais e os pubs.
Na primeira noite do feriado, eu, Ricard, Marcela e Vlade fomos até o principal pub da cidade, que àquela hora do começo de noite, já estava lotado. Marcela logo encontrou alguns amigos trouxas que moravam lá, e foi se sentar com eles. Ricard adora me comparar com meus irmãos, coisa que ele fazia exclusivamente para me irritar!
Marcela é jovem de tudo. Espírito, aparência, atitude. Tem os olhos verdes e os cabelos loiros como eu, mas é mais corada, mais saltitante! Torna-se amiga das pessoas com uma facilidade sobrenatural. Completamente natural, ainda mais do que eu. Fala o que dá na telha e não está nem aí. Ricard tem um encantamento platônico pelo jeito de ela ser... Acho que se ele tivesse ventosas, sugaria um pouco disso para ele.
Vlade, ao contrário, é fechado com grande parte das pessoas. Ele parece viver em um universo paralelo. Não é de demonstrar sentimentos, e nem gosta de jogar conversas fora. Quieto, calado, observador e muito esforçado. Ricard diz que eu sou uma mistura de meus irmãos, mas Vlade consegue me prender mais... O que devo concordar!
LD: Preciso? – comecei com o tom de voz já alterado. – Imagino que você já tenha ido atrás do Nicolai saber...
SV: Vínia eu...
LD: Não precisa se explicar Steven, é sério! Não começa seu discurso outra vez. Foi bom, e o professor Nicolai me incentivou muito a seguir o que eu quero. Estou tranqüila.
SV: Você nunca me chamou de Steven... – disse parecendo assustado e chateado ao mesmo tempo.
LD: E você nunca deixou de se intrometer na minha vida! Daqui pra frente vai ser assim, então. Tratamento informal até você perceber que o que eu quero não é o que você quer para mim.
I’ve been trying hard to reach you cause I don’t know what to do
Oh brother I can’t believe it’s true
I’m so scared about the future and I wanna talk to you
Oh I wanna talk to you
In the future where will I be?
You could climb a ladder up to the sun
Or write a song nobody had sung or do
Something that’s never been done...