Saturday, June 21, 2008

‘Posso entrar?’ – uma voz feminina e bem conhecida perguntou do lado de fora do quarto. Naveen soltou uma exclamação de impaciência e escondeu a caixa e os novos recortes de jornal embaixo da cama bem a tempo de Deborah abrir a porta.

‘O que você quer aqui?’ ele perguntou seco e mal humorado. O sorriso que ela mantinha no rosto, desapareceu.

‘O que aconteceu, Nav? Fiquei te esperando horas naquele restaurante! Está tudo bem?’

‘Estive ocupado. É só isso?’

‘Você não se lembra que dia é hoje?’ ela perguntou controlando uma lágrima.

‘Domingo, 16 de junho. É, acho que me lembro que dia é hoje’

‘É meu aniversário!!!’

Ela desabou a chorar e ele não se impressionou. Nem saiu de onde estava. Observou-a chorar em silêncio, na porta do quarto.

‘Você estava me usando esse tempo todo. Agora que conseguiu tudo o que queria, não precisa mais se passar de “mocinho apaixonado e desiludido” para conquistar aquela menina, não é? Não precisa mais de mim!’ ela falou entre soluços. Ele se levantou e foi até ela, segurando com força os braços dela e a encarando.

‘É isso mesmo. Não preciso mais de você. Mas você me deu uma bonita demonstração de amizade e fidelidade, não vou me esquecer. Me poupe as lágrimas... Você sabia, desde o começo, que não poderíamos ser nada mais do que bons amigos’

‘Sabia. No fundo, eu sempre soube que estava sendo usada. Fui uma burra de acreditar que você sentia alguma coisa a mais... ’ ela puxou os braços das mãos dele com violência, e limpou as lágrimas do rosto, firme. ‘Me esquece. Não quero uma amizade nojenta como essa que você tem para me oferecer. Não quero ser sua cúmplice. Já me enganei tempo suficiente sobre você’

Saiu batendo a porta do quarto e recomeçando a chorar logo em seguida, mas não ia deixar barato. Ele não tinha o direito de machucá-la assim.

--------

Estava em uma espécie de tribunal dentro do Ministério da Magia. Na sala estavam Hilbert Molotov, Igor Neitchez, um escrivão, Victor e professor Mikhail. Um jovem vestido elegantemente entrou na sala segurando um grande livro com a capa de couro preta onde em auto relevo duas varinhas se cruzavam. Reconheci sendo a Constituição. Aproximou-se até a cadeira onde eu estava sentada, muito reta.

- Coloque sua mão esquerda em cima do livro. – Obedeci e ele pigarreou. – Jura dizer a verdade, somente a verdade e nada mais do que a verdade?
- Juro. – respondi tensa trocando um olhar rápido com Victor.

O jovem saiu da sala um minuto depois e Molotov se levantou.

- Seu nome completo?
- Lavínia Durigan O’Lattern. – o escrivão começou a escrever com muita rapidez.
- Data de nascimento?
- 17 de março de 1982.
- Filiação?
- Isadora Durigan e Leopold O’Lattern.
- Confirma ter recebido uma cópia da chave da Estufa Imperial das mãos do professor Mikhail Kalashnikov no início deste ano letivo?
- Sim.
- E desde então, a chave passou o tempo todo com você e você só a usou para as reuniões do Clube de Herbologia Avançada?
- Sim. Não! Quero dizer, eu só a usei para as reuniões, mas ela não esteve o tempo todo comigo...

Igor Neitchez fez um movimento brusco na cadeira e Victor impediu que ele se levantasse, trocando um olhar assustado comigo que logo desviei.

- Explique-se. – Hilbert Molotov disse e respirei fundo antes de começar a contar toda a história. O escrivão passou a escrever ainda mais depressa.

°°°

- Então é isso? Você ficou sem a chave durante um dia inteiro?
- Sim. E alguns dias depois, quando eu e o professor Mikhail fomos até o subsolo plantarmos uma nova muda de Visgo do Diabo, percebemos que a Belladona já havia sido mutilada. E depois de alguns dias saíram os laudos, e depois... aqui estamos nós. Eu não sei o que pode ter acontecido durante esse tempo em que a chave não esteve comigo, mas não tenho culpa em nada!!! Se eu tivesse um bom palpite eu diria, podem ter certeza. – falei depressa e levemente desesperada. Mikhail me encarava sério. Molotov suspirou.
- Eu acredito senhorita Durigan. Não fique nervosa, ok? Ninguém está colocando a culpa em você... Mas você deve concordar que falhou. Era sua responsabilidade tomar conta dessa chave.
- Eu sei, e assumo a minha culpa.
- E agradeço sua atitude. Por enquanto, acho que é o suficiente. Não me vêm mais perguntas para te fazer nesse momento. Obrigado pelo seu depoimento também, Mikhail. Chamarei vocês novamente, se precisar de outras respostas. – Mikhail concordou com a cabeça sério. Molotov bateu um martelinho de madeira na mesa. – Sessão encerrada. Estão dispensados.

Igor Neitchez foi o primeiro a se levantar e sair da sala. Victor fez menção de segui-lo, mas Molotov o impediu.

- Agora não. Deixe que ele fique um tempo sozinho. Temos muito trabalho pela frente...

Victor sacudiu os ombros e quando Molotov saiu, veio em minha direção.

- Você está bem?
- Estou. Me sentindo mais leve. – forcei um sorriso e ele retribuiu. Mikhail se aproximou.
- Vamos voltar para o castelo. Já tivemos o bastante por hoje. – ele comentou enquanto puxava de dentro do casaco um frasco de poções vazio e conjurava uma chave de portal.

--------

- Você não vai contar para nenhum dos dois que esteve grávida? – Ricard perguntou sério.
- Vou. Só preciso tomar coragem.
- Quanto mais você demorar, pior. Naveen tudo bem se não souber, mas Victor...
- Eu sei, e ele vai saber. Só preciso de mais um tempo, ok? Minha preocupação maior no momento é ajudar a desvendarem esse caso o mais rápido possível. Igor ainda está aqui?
- Está. Lá em cima com Victor há horas. Ele realmente está interessado em descobrir se alguém de dentro do castelo teria algum motivo para matar o pai dele.
- Só queria que ele acreditasse que eu não tenho culpa de nada nisso, além de ter perdido a chave...
- Ele sabe Vina, mas você tem de entender o lado dele.
- Eu entendo! Mas o jeito que ele me olha é uma tortura...

Ricard abriu a boca para responder, mas a porta da Osíris se abriu. Deborah, a namorada do Naveen, entrou segurando uma caixa preta nas mãos. O rosto vermelho e a respiração ofegante, como se estivesse correndo um minuto atrás.

- Oi. Preciso falar com Victor, ele está aí?
- Está. – Ricard respondeu se levantando. – Mas não pode esperar outra hora? O primo dele está aqui também...
- Igor Alenxinsky? – ela perguntou rapidamente e Ricard se surpreendeu.
- Isso. Como você sabe?!
- Preciso falar com ele, é urgente e tem de ser agora. E é de muito interesse ao primo dele também.
- O que você quer, hein? – perguntei me levantando e a encarando nervosa de cima a baixo.
- Se estiverem tão interessados em descobrir, me sigam. Não tenho mais nada a esconder agora.

Eu e Ricard trocamos um olhar e a seguimos. Ela já corria sem parar escadas acima. Entrou no quarto de uma vez.

- Debby?! O que você está fazendo aqui? – Victor saltou da cama parecendo surpreso e Igor olhava de ele para ela sem entender.
- Sinto muito pela morte de seu pai, Igor. Não nos conhecemos, mas eu sei quem o matou e dentro dessa caixa tenho provas suficientes para estar falando isso.
- Do que você está falando, Deborah? – Victor perguntou depressa e assustado. A menina abriu o cadeado da caixa e despejou todo o conteúdo em cima da cama dele. Vários recortes de jornais, fotos e folhas de plantas plastificadas.
- Quem matou Johnny Alenxinsky e Tohry Gheorghieff foi Naveen Odebrecth. Meu ex-namorado. – ela disse finalmente e Ricard teve de me apoiar para que eu não caísse.
- Hã?
- Seu ex-namorado também, Lavínia. Sinto muito. Mas ele estava nos enganando o tempo todo, embora de maneiras diferentes. Agora, se quiserem me levar até o Ministério, eu posso contar tudo o que sei para quem vocês quiserem. Só temos de ser rápidos. Se ele sentir falta dessa caixa, vai fugir.

Todos estavam suficientemente chocados com cada palavra que ela dizia para tomarmos uma atitude. Senti que fosse desmaiar a qualquer momento...

--------

MORAL DA HISTÓRIA: “Não há no inferno algo tão furioso como uma mulher rejeitada”.
N.A.: Pode assumir que está orgulhosa da sua padawan, Ju. Mais um texto e eu acabo isso! *____*